Baía de Luanda, à noite (em cima) e de dia, anos 1973/74. Fotos de Jorge Oliveira
Luanda, 30 de Maio de 1974! Arrumada a questão aeroportuária, e na espera do transporte para o Grafanil, a sede apertou para as primeiras cucas de Angola. Prevenido, ia munido de angolares (os escudos de Angola), providenciados no conterrâneo Valdemar, e não demorou a que saboreasse o seu prazer, num bar que se pespegou na frente e onde um velho sargento, de pasta debaixo do braço, se anunciava, discreto, a fazer câmbio ilegal, clandestino. Trocava escudos europeus por angolanos, com vastos lucros.
Os cheiros da terra angolana, o calor que nos abria os poros de suor, o passo acelerado para subir as berliets que nos levaram ao Grafanil, as ruas e avenidas largas e as gruas subindo ao alto dos prédios que se construíam às centenas e com andaimes que nos fugiam de vista, a multidão misturada de gente branca e gente negra, mulata, mestiça e de todas as cores, foram uma babel que nos encheu a alma e matou curiosidades.
Aí estávamos nós, futuros Cavaleiros do Norte, na Angola de muitas promissões.
Os minutos do voo da chegada, tinham-nos mostrado, do ar, uma cidade gigante e rendilhada de estradas e largas avenidas, coqueiros enormes e sombras que se moviam - que eram, afinal, a gente boa daquela terra farta, que se fazia à vida, na hora madrugadora do dia que nascia: 30 de Maio de 1974.
Ainda antes, do ar, o olhar refrescou-se sobre a baía, que se fazia de arco-íris, batida pelo sol avermelhado da madrugada angolana. Uma baía a descobrir-se mas a fugir-nos dos olhos, aos mesmo tempo, nas voltas do avião que se fazia à pista e nos roubava a magia e o feitiço desta terra cheia de luz e de espaços largos, para onde íamos em jornada militar.
Bebidas as cucas, de rápidas goladas, e morta a sede, não demorou a que galgássemos a estrada para o gigante Grafanil, onde acomodámos bagagem e visámos «passaporte» para a cidade enorme. A noite foi de descobertas, olhando, aos pés, a baía vestida de águas mil cores e espelhada dos neons da baixa, soltas dos prédios altos e dos bares, dos restaurantes e da vida nocturna que saciava desejos da alma e da carne.
Foi tempo de conhecer a Portugália, talvez já o Amazonas, o Paris Versailles, a Mutamba. E, de certo, o aroma da baía, que nos batia na face e deixava ouvir o rebentar da água nas raízes das palmeiras e na pedra e cimento que a separavam da grande avenida. Há 39 anos se viveram estas e outras emoções.
- CUCA. Marca angolana de cerveja, tão universal que designava a bebida.
Havia também, pelo menos, a Nocal e a Skol e, mais tarde, a Ngola.
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