Cinema Miramar, em Luanda (ao ar livre). Aldeagas, Queirós,
Cândido Pires e Mosteias numa esplanada, frente à baía
Há 39 anos, o dia de hoje também era sexta-feira, último dia de Maio, e, para nós, jovens Cavaleiros do Norte, tempo de descoberta da cidade imensa, que era Luanda - que se nos oferecia de largas vistas, grávida de emoções e sensual, muito sensual, quente e generosa para os nossos desejos de sonho, de alma e de corpo!Cândido Pires e Mosteias numa esplanada, frente à baía
A mala que daqui foi, com bagagem simples - mais as minhas cassetes com recordações de cá (para lá matar saudades), os meus livros e cadernos -, ficou à guarda no Grafanil e lá fui eu, de pressa nos sapatos, à procura de amigos para quem levava saudades, rojões e chouriços de cá. Feitas as entregas e apertados os abraços, lá fomos nós, cidade fora e já pela tarde adentro, espantando os olhos e a alma, a descobrir a urbe enorme que se desenhava e se sentia, e vivia, e se apalpava na frente, dos lados e a empinar-se para o céu, no gigantismo dos prédios que por lá medravam como cogumelos.
O dia, vestido de sol e de calor que nos ensopava a roupa, correu depressa: a olhar e sentir a baía, a baía imensa, a restinga, a ilha que se apontava mar adentro, a fortaleza pendurada lá de cima do morro, como se fosse um altar a beijar a cidade; o turbilhão de gente, gente de todas as cores e raças, que fazia bicha para os machimbombos. Com ordem, como se não tivessem pressa. Com respeito, como se estivessem na missa!!
Eram também as esplanadas gigantes, plasmadas de gente a dessedentar-se na cerveja e descascando pequenos camarões que nos desassossegavam a gula, nos faziam sentar a beber e a olhar a baía e o mar, e os barcos que aportavam, e os aviões que se faziam a terra, ou ganhavam voo para novas rotas.
Luanda era um sítio de namorados, de mãos e ombros dados, e colos e corpos de cio que nos despertavam desejos e pecados. Era terra de meninos brancos brincando com negros e mães negras, de seios grandes e ao léu, a aleitarem as suas crianças, filhos d´amores torneados e pintados em cores de ébano.
Há 39 anos, descobrimos um cinema ao ar livre, o Miramar, atirando-se sobre a baía, como que querendo namorar com ela. Aprendemos a conhecer uma Luanda crioula, que não parava do dia para a noite e com esta levedava prazeres alongados para a madrugada. Uma Luanda generosa, moderna e aberta, que nos pareceu definitivamente sedutora, como se tudo por lá fosse eterno, apetecível feliz e o paraíso!
Há 39 anos!
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