CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 31 de março de 2016

3 352 - Luanda e telefonema para casa, medo da guerra civil!

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Férias de há 41 anos. O furriel Viegas (segundo, do lado direito) com o capitão 
Domingues (da ZMN e familiar de Fátima) e a família Resende: Fátima e José 
Bernardino (com duas filhas) e Albano (ao centro)

A Estação dos Correios da baixa de Luanda (foto
da net). Olhando para os automóveis, é relativamente
recente. Daqui, telefonei para a minha vizinha, em
segunda-feira de Páscoa e de visita pascal de 1975, na
aldeia. Há precisamente 41 anos!

Segunda-feira, 31 de Março de 1975! Saímos do Katekero (eu e o Cruz) para o mata-bico na Portugália, ainda não eram 8 horas da manhã e fazia um calor intenso, quase sufocante. A leitura da imprensa do dia ocupou-nos o tempo de matabichar e fazer horas de espera para a chegada do conterrâneo Albano Resende (às 10). Depois, caminhámos pela marginal, embrulhados no bulício de uma baixa que estava longe dos incidentes entre os movimentos - que eram lá para a alta e para os bairros suburbanos. Passámos ao lendário Pólo Norte e, ao darmos de frente com os Correios, ocorre-me a loucura de telefonar a minha mãe, que por aqui (onde agora escrevo, em Ois da Ribeira, município de Águeda) fazia o luto da morte de meu pai (um ano e pouco antes) e da minha jornada africana de Angola, na guerra colonial. Era dia de visita pascal na aldeia!
Telefonar para a Europa, ao tempo, não era vulgar - era quase um atrevimento. Não era como agora, na era dos telemóveis, em que ligamos na hora e na hora falamos. 
Luanda e o Pólo Norte (à esquerda), «templo»
dos bons gelados e de boas e namoradeiras conversas,
lá pelos anos 70 do século XX!
Ao tempo, tínhamos de pedir a ligação à operadora de serviço e aguardar que tal acontecesse. O que poderia levar horas. No caso concreto, a «loucura» não foi bem sucedida, pois a chamada para a vizinha Celeste Tavares não apanhou a mãe em casa. Tinha ido beijar a cruz a casa de familiares. Falei com a vizinha, que me pediu notícias de uma irmã radicada em Luanda e quem fazia tempo não ter notícias - a Benedita (que faleceu já este ano, o de 2016). Naquele tempo, existiam 7 telefones na minha aldeia - público, um deles!
O jornal diário «Liberdade e Terra», afecto à FNLA, dava conta da visita do ministro Almeida Santos a Kinshasa, onde reuniu com Holden Roberto (FNLA) e, depois, com Mobutu, presidente do Zaire. 
A situação político-militar evoluía: «Nas últimas 48 horas, houve violação do acordo entre os três movimentos de libertação e o Governo português, mas estas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou à quase normalidade, embora se pressinta um estado latente de tensão», reportava José António Salvador, o enviado especial do Diário de Lisboa, que citamos.
Almeida Santos, entretanto chegado a Lisboa, ido de Kinshasa, comentava «a possibilidade de novos incidentes» e de estes «degenerarem numa guerra civil» angolana. Admitiu a possibilidade mas manifestou a convicção de «não esperar tal probabilidade» e, por outro lado, «a certeza da neutralidade portuguesa».
O restaurante Floresta, na baixa de Luanda e bem
perto da Sé. Aqui almoçámos (eu, o Cruz e o civil e amigo
Albano Resende) a 31 de Março de 1975. Hoje se fazem 41
anos! Foto dos anos 70 (da net)
«Mas nem sempre a neutralidade é possível, mesmo quando a desejamos», disse Almeida Santos, sublinhando, da actualidade angolana, uma nota positiva: «O modo como, pela primeira vez, a ordem de recolher obrigatório foi prontamente acatada», revelando, assim, «uma escalada de civismo altamente positiva».
O almoço do dia, com o Cruz e o Albano Resende, foi no restaurante Floresta, bem perto da Sé de Luanda e regado de vários «canhangulos» - como por lá se chamava às canecas de cerveja, cada qual pr´aí com um litro da dita. Boas férias, bem começadas! O final da tarde e a noite iam ter o saudoso Alberto Ferreira com «anfitrião». Por Luanda jornadeava ele, com cabo especialista da Força Aérea. 

quarta-feira, 30 de março de 2016

3 351 - Chegada a Luanda para férias na imensa Angola!

Cruz e Viegas, dois furriéis milicianos dos Cavaleiros do Norte em férias 
angolanas, há precisamente 41 anos. De Luanda, a Nova Lisboa, pelo 
Lobito, Benguela, Sá da Bandeira, Gabela...



A mítica Portugália, em, Luanda, um verdadeiro
local de culto dos militares portugueses em Angola. Aqui
almoçaram o Cruz e o Viegas no Domingo de Páscoa
de 1975. Hoje se fazem 41 anos! 


30 de Março de 1975!!! Ups!!! É domingo de Páscoa e saiu-nos (a mim e ao Cruz) uma pequena «sorte grande»: fomos autorizados e pudemos antecipar, por um dia, a nossa ida de férias e voámos de Carmona para Luanda no avião das 10 da manhã. 
A tensão continuava por lá, na capital angolana, e a primeira novidade, ainda no aeroporto, foi a suspensão do jornal «A Província de Angola», de alguma forma substituído pelo «Liberdade e Terra». diário com o mesmo formato e dirigido pela FNLA. FNLA que, lia-se no jornal «O Comércio» desse dia, tinha comprado a Rádio Televisão de Angola, que então estava em fase de instalação e limitada a Luanda. O jornal «A Província da Angola» estava suspenso (não me ocorre a razão) e era o diário que habitualmente nos chegava ao Quitexe. Outros jornais (O Comércio e o Diário de Luanda, por exemplo) normalmente não passavam de Carmona, raramente chegavam à vila-sede do (nosso) BCAV. 8423.
Outra novidade: a edição do jornal «Vitória Certa», afecto ao MPLA, do qual também espreitámos os títulos da primeira página.
Jornal «Liberdade e Terra», órgão oficial
da FNLA. Como se lê em baixo, à direita,
o movimento de Holden Roberto acusava o
MPLAde ter desencadeado «o surto
de violência». Em baixo, o jornal «Vitória
é Certa», do MPLA - edição de 26 de
Junho de 1975
A viagem até ao Katekero, do aeroporto ao Largo Serpa Ponto, foi rápida e o taxista, um europeu branco, percebendo que éramos militares, reportou-nos a manifestação da véspera, em Lisboa, em tom muito crítico - relativamente às autoridades portuguesas. 
«Estão a entregar isto tudo ao MPLA...», afirmou ele, barafustando também contra o Alto Comissário Silva Cardoso. «Qualquer dia, até nos comem e a tropa não faz nada...», expectou o exaltado homem, muito nervoso e excitado, a espumar raiva. Socorro-me do Diário de Lisboa de 31 de Março de há 41 anos, para recordar os slogans dos 2000 manifestantes que marcharam do Rossio até S. Bento, com uma enorme bandeira do MPLA e a fotografia de Agostinho Neto na frente: 
«MPLA, um só povo, uma só nação; Morte à CIA; Governo popular / Abaixo o Colonialismo; Os pides fora de Angola; MPLA a vitória é certa; MPLA, vitória ou morte».
A manifestação visava, segundo o Diário de Lisboa, o «protesto contra as manobras  deter a marcha do povo angolano para a sua libertação total» e foi guardado um minuto de silêncio em memória das vítimas dos combates entre o MPLA e a FNLA.
E Luanda? O que o taxista nos reportou foi um perigoso clima de tensão, sequente dos combates entre MPLA e FNLA. Os três movimentos tinham mandado o acordo de cessar fogo às urtigas e repetiam-se os tiroteios, se bem que, e felizmente, não se registassem vítimas mortais. O recolher obrigatório tinha sido levantado e as emissoras privadas já podiam retomar as suas programações normais - enquanto a Emissora Oficial de Angola apenas podia divulgar os comunicados oficiais.
Na verdade, e na prática, nada nos preocupou nas primeiras horas de Luanda, em dia de Páscoa de 1975. Eu e o Cruz, depois do banho de fim da manhã, no Katekero, descemos à baixa e fomos confortar o estômago no recheado almoço da Portugália. O ambiente era de tranquilidade, com muita gente a circular descontraidamente, sem se ver um militar fardado!  tarde ia ficar por nossa conta, espreguiçando-nos nas areias das praias da ilha, bebericando cuca´s com camarão e esperando a noite de sonhos e cios que expectávamos para este inesperado primeiro dia de férias angolanas!!!

terça-feira, 29 de março de 2016

3 350 - Sábado de Aleluia, em 1975, dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte no Quitexe: o 1º. sargento Marchã (de pé e do lado direito) e 
os furriéis milicianos Fernando Pires (dos Morteiros, atrás, à esquerda), Luís 
Costa (Morteiros), Graciano Silva, António Fernandes, José Carvalho e Nelson 
Rocha (fia de trás), João Cardoso, Grenha Lopes, António Flora (tapado 
pelas mãos do Fernandes) e Viegas (2ª. fla), Joaquim Abrantes (de cachimbo), 
Armindo Reino (?, tapado ela mão do Bento) e Francisco Bento (à frente do 
Viegas). À frente, Ângelo Rabiço e Delmiro Ribeiro 


Homens de Zalala, mas já no Songo: o
Victor Velez e o José António Nascimento,
em trajes de ir para a cozinha!!!
Dia 29 de Março de 1975!!! 
É Sábado de Aleluia, véspera de Páscoa, mas as notícias das vésperas andavam grávidas de matanças pelos lados de Luanda. É para lá que na segunda -feira seguinte eu e o Cruz temos viagem de férias programada, mas nem por um momento se pensa em adiá-la. Viria mesmo a ser antecipada para Domingo de Páscoa, valha a verdade. E lá fomos!
A jantarada de «despedida» foi o Escape, o restaurante de uma das esquinas da Rua do Comércio - ao tempo, a grande «coqueluche» gastronómica carmoniana. « S´aquela m... der para o torto, logo se vê...», comentou-se no grupo de comensais. Mas a convicção era a de que nada nos atemorizando, nada nos impediria das férias tão laboriosamente preparadas e que incluíam uma viagem para o centro/sul de Angola.
As notícias do dia, de Luanda, eram animadoras. O protocolo de cessar fogo assinado na véspera estava a resultar e MPLA e FNLA libertaram os prisioneiros. embora não se soubesse se todos. O ambiente de tensão na cidade descomprimia-se, o que era bom, apesar de se manter o recolher obrigatório das 21 horas. As sedes do MPLA e da FNLA estavam fortemente guardadas, não fosse o diabo tecê-las. A do MPLA, na Vila. Alice, por exemplo, tinha à sua volta «um rigoroso dispositivo de segurança».
A UNITA, de seu lado, assumia uma atitude de (aparente) neutralidade, face aos acontecimento que, de armas na mão, vinham opondo MPLA e FNLA e rejeitando qualquer ligação a esta última (a de presidência de Holden Roberto). Jonas Savimbi, em Dar-es-Salan, rejeitou a ideia de uma guerra civil e embora se aproveitasse das divergências entre os dois movimentos (concorrentes), a verdade é que os exortou a «evitarem por todos os meios a luta fratricida».
Diário de Lisboa de 29 de Março de 1
975: «A ordem regressa a Luanda», titulava-
se ma 1ª. página do dia de há 41 anos!
Jonas Savimbi anunciou mesmo, a esse tempo de há 41 anos e citamos o Diário de Lisboa de 29 de Março de 1975, «um encontro entre os três presidentes, para tratar de assuntos políticos e nomeadamente das eleições». E. sobre estas, defendeu «um Governo de Coligação, em moldes idênticos aos actual, mesmo depois das eleições».
As declarações do presidente da UNITA não seriam de todo inocentes já que, de algum modo, se aproveitava das diferenças entre MPLA e FNLA para afirmar o seu movimento, insistindo nos perigos de uma guerra civil e considerando que «admitir tal hipótese, é inimigo de Angola».
Mal imaginariam todos os trágicos males que iriam acontecer à terra angolana que se preparava para a independência!

segunda-feira, 28 de março de 2016

3 349 - Cavaleiros em viagens no Uíge, cessar fogo em Luanda!!!

Grupo de Cavaleiros dos Norte de Zalala, mas já em Vista Alegre: Horácio 
Carneiro (o primeiro, à esquerda) e os furriéis Plácido Queirós (3º.) e Eusébio 
Martins (o primeiro à direita, de bigode, falecido a 16 de Abril de 2014, em 
Belmonte). O último do lado esquerdo, de bigode, é o Afonso Silva (2020).
 Quem ajuda a identificar os outros?

Três Cavaleiros do Norte de Zalala:  1º. sargento
Fialho Panasco e os furriéis milicianos Américo
Rodrigues e Plácido Jorge Queirós

Os comandantes Almeida e Brito (efectivo do BCAV. 84233 e interino da ZMN) e José Diogo Themudo (segundo e interino do BCAV. 8423) estiveram em Vista Alegre e  Ponte do Dange a 28 de Março de 1975. Ali de deu a conhecer o agora coronel aposentado Themudo, apresentando-se aos Cavaleiros do Norte do capitão miliciano Davide Castro Dias - os homens de Zalala.
O dia foi também de rotação de um grupo de combate da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel (mas ao tempo no Quitexe, já desde 10 de Dezembro de 1974), para Carmona e para o BC12 - onde já estavam os Cavaleiros do Norte da CCS (do capitão António Martins Oliveira) e da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa e do comando do capitão miliciano José Manuel Cruz.
E por Luanda, a capital?
Aparentemente, a situação melhorava. Os três movimentos chegaram a acordo, depois de um reunião com os ministros Melo Antunes e Almeida Santos e o Colégio Presidencial, para  cessarem as hostilidades e libertarem todos os presos até ao meio dia desse 28 de Março de 1975. Um grupo de 12 médicos do Exército Português apresentou um abaixo-assinado ao MFA, «protestando energicamente contra a actuação da FNLA», referindo, segundo o Diário de Lisboa, que «os soldados todos falam Francês e muitos deles nem conhecem sequer qualquer dialecto angolano». 
O Diário de Lisboa de 28 de Março de 1975
noticiou o «acordo em Luanda para cessar os
combates» que enlutavam a cidade e perigavam
o Acordo do Alvor
Quanto as vítimas, segundo o comunicado dos médico militares, «eram pessoas de várias origens e etnias, cujo número inicial era superior a uma centena e que foram surpreendidos em diversos pontos da via publica, nos dias 22 e 23 de Março, por elementos da FNLA, acusados de pertenceram ao MPLA ou de terem participado nas desordens entre os civis e a FNLA». E, sobre esta, sublinhavam a sua «bestialidade nazi».
Alguns círculos progressistas de Luanda interrogavam-se mesmo sobre «até que ponto muitos deles não terão pertencido a exércitos convencionais» e, relativamente à FNLA, acusavam o seu «nacionalismo exacerbado, intolerante, que utiliza o terror como arma».
As intimidações do movimento de Holden Roberto, sublinhava o Diário de Lisboa, «continuaram no dia de ontem» - o dia 27 de Março de 1975. E eu e o Cruz a fazer ,alas, exactamente para partirmos para Luanda - onde já tínhamos reserva no Katekero.

domingo, 27 de março de 2016

3 348 - Comandantes no Quitexe e massacres em Luanda

Cavaleiros o Norte no Quitexe, na avenida e em frente à Casa dos Furriéis: o 
tenente João Mora, os furriéis Neto, Viegas e Monteiro, o 1º. cabo Miguel 
Teixeira e os furriéis Armindo Reino (3ª. CCAV. ) e João Aldeagas (1ª. CCAV. 8423)


José Borges Martins, atirador de cavalaria
 da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, com duas
crianças do Quitexe, na Estrada do Café
A 27 de Março de 1975, o tenente-coronel Almeida e Brito (ao tempo, comandante interino da ZMN) e o capitão José Diogo Themudo (comandante interino do BCAV. 8423, justamente substituindo aquele) estiveram no Quitexe - a casa-mãe dos Cavaleiros do Norte e onde ainda se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel.
A visita foi de apresentação do novo oficial (José Diogo Themudo) que, na prática, substituía o major José Luís Ornelas Monteiro - o 2º. comandante do BCAV. 8423 que, nas vésperas do embarque para Luanda, foi «desviado» para o Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, por ordem do MFA.
Era quinta-feira e a imprensa desse dia dava conta de iminência de uma guerra civil em Angola. «Ontem Luanda viveu momentos dramáticos. Soldados da FNLA fuzilaram 50 guerrilheiros do MPLA, numa estrada do arredores da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar. Pioneiros do MPLA também foram massacrados e dois deles foram fuzilados», relatava o Diário de Lisboa de 27 de Março de 1975, acrescentando que «no Hospital de S. Paulo estão internados 16 sobreviventes», para lá levados pela Força Aérea Portuguesa» - depois, para o Hospital Militar e que «ao todos, foram mortos 51 jovens».
A primeira página do Diário de Lisboa de 27 de
Março de 1975, há 41 anos!, sobra a ameaça de guerra
civil em Angola
«A matança foi feita com requintes de crueldade. Os homens foram capturados num ataque de surpresa e mandados subir para um camião, que os levou até um sítio isolado, onde eram abatidos com rajadas de metralhadoras. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os espreitava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga. Porém, o fogo das metralhadoras abateu muitos deles. Alguns conseguiram escapar, fingindo-se mortos. Menos sorte tiveram os que se encontravam gravemente feridos, mas que não podiam disfarçar o seu estado. A esses, era-lhes aplicado o tiro de misericórdia», relataram os sobreviventes acolhidos no Hospital de S. Paulo.
A tensão era elevada e temia-se o pior: uma guerra civil. O recolher obrigatório foi estabelecido pelo Alto Comissário, havia espancamentos e «a casa mortuária do Hospital de Luanda está pejada de cadáveres, vítimas das acções desencadeadas pela FNLA contra a população civil», como reportava o DL.
Eu e o Cruz estávamos a poucos dias de viajar para Luanda, em férias. Mas nem esta instabilidade, este verdadeiro clima de guerra, nos desentusiasmou. Para lá fomos, na mesma!

sábado, 26 de março de 2016

3 347 - Patrulhamentos mistos em Carmona e granadas no Palácio do Governador

Grupo de militares da FNLA. Alguns deles terão feito parte dos patrulhamentos 
mistos que, há precisamente 41 anos, se iniciaram na cidade de Carmona - a 
capital do Uíge. Foto de Carlos Letras

Agostinho Belo (do Retaxo, em Castelo Branco), Ângelo
Rabiço (de Vila Real, em Guimarães), José Querido
(Odivelas), Victor Guedes (de Lisboa e falecido a 16 de
Abril de 1998) e António Fernandes (Braga),cinco
furriéis milicianos da 3ª. CCAV. 8423 dos
Cavaleiros do Norte,  a de Santa Isabel
Há precisamente 41 anos, de 26 para 27 de Março de 1975, começaram em Carmona os patrulhamentos mistos - envolvendo os Cavaleiros do Norte (as NT da cidade e do Uíge) e ex-combatentes da FNLA e do MPLA, assim se «ensaiando» o (que seria e não foi) futuro Exército de Angola. 
A experiência foi encarada com alguma expectativa: como se iriam dar os homens da FNLA (integrados no ELNA) e do MPLA (nas FAPLA), agora fazendo parte de uma mesma força, com militares portugueses e sob comando destes? Da UNITA (e da suas FALA), não se falava (não existia...) em Carmona. Essa quarta-feira foi tempo de preparação (psicológica) para tais patrulhamentos, basicamente fundamentada na experiência do dia 15 - quando se comemorou o Dia da FNLA, precisamente fazendo segurança aos locais de tais festividades. E tinha corrido bem.
Por Luanda é que as coisas iam de mal a...mal! A imprensa do dia dava conta de a explosão, na véspera, de duas granadas nos jardins do Palácio do Governador, sem quaisquer vítimas. mas também falava do posicionamento de militares da FNLA no cimo de alguns prédios e de, durante a noite, se terem  ouvido disparos de armas pesadas - sem se terem identificado os autores.
Notícia do Diário de Lisboa de 26 de Março de 
1975, sobre os acontecimentos de Luanda, na véspera
A mesma FNLA, segundo o Diário de Lisboa, continuava a «fazer rusgas nos bairros suburbanos» e, em comunicado, convidada os sues apoiantes «a participarem hoje no funeral dos soldados que morreram nos recontros ultimamente registados nesta capital». Mais: o Comando do Sector do ELNA pedia, em comunicado, que «todos os militantes e simpatizantes guardem sangue, que o ELNA está convosco».
O mínimo gesto que se verificar contra os militantes e simpatizantes da FNLA, ou contra o ELNA, será considerado um desafio dos inimigos do povo. A guerra é um profissão. A morte é um destino. Liberdade e terra», concluía o comunicado. 
Silva Cardoso, o Alto Comissário português (que na tarde de domingo anterior visitara a Delegação da FNLA da Avenida do Brasil, «duramente fustigada pelo tiroteio da manhã e tarde desse dia»), emitiu (a 26) um comunicado/apelo aos movimentos de libertação no sentido de «as respectivas forças recolherem aos quartéis, sendo a sua missão de vigilância cumprida através de patrulhas e participação em patrulhas mistas, sob as ordens do comandante operacional de Luanda». Asseverava Silva Cardoso que «as forças portuguesas e as forças mistas actuarão severamente contra todos os civis portadores de armas de guerra, cuja presença vem sendo constantemente notada anos últimos incidentes».  O MPLA reclamava «a retirada imediata, de Luanda, das forças dos movimentos de libertação não incluídas no processo de constituição das forças mistas» e os ministros do Interior (Ngola Kabamgu, da FNLA) e da Informação (Rui Monteiro, do MPLA) pediram «o regresso à calma». Pedir, pediram!

sexta-feira, 25 de março de 2016

3 346 - Calma por terras do Uíge, mais de 20 mortos em Luanda!!!

Grupo de Cavaleiros do Norte, ainda no Quitexe: António Flora, Grenha Lopes, Delmiro Ribeiro (atrás), Armindo Reino (de bigode), Luís Costa Morteiros) e Humberto Zambujo. Depois, José Carvalho (de boina), Francisco Bento e NN (de bigode). À frente, NN (de José Carvalho). Quem identifica os NN?


Viegas e Neto, dois furriéis Cavaleiros do Norte
As notícias de Luanda, a 25 de Março de há 41 anos (1975), não eram nada agradáveis, sequentes dos combates entre a FNLA e o MPLA: o o número de mortos já passava dos 20 (não se sabia quantos, ao certo) e havia áreas da cidade que continuavam interditas à circulação de pessoas e viaturas. 
O Conselho Nacional de Defesa decidiu-se por uma intervenção com forças mistas e mais um bairro era palco de tiroteios, nas últimas 48 horas: o Calemba.
As forças mistas tinham o objectivo de assegurar a «manutenção da ordem», mas «no Cazenza, na  manhã e tarde de ontem», como noticiava o Diário de Lisboa, citando a ANI, «ouviram-se constantes disparos de armas automáticas e rebentamento de granadas».
Mortos, eram «18 entre soldados da FNLA e três do MPLA» - pelo menos -,  a que se juntavam duas crianças. Mas era «difícil determinar o número de baixas», sabendo-se, todavia, que «alguns civis foram também atingidos pelas balas». Os incidentes levaram a que o Conselho Nacional de Defesa (presidido pelo Alto-Comissário Silva Cardoso) e os Estados Maiores do MPLA e da FNLA ordenassem «o regresso das tropas dos dois movimentos aos seus aquartelamentos».
O Cruz e eu estávamos cada vez mais próximos da desejada viagem de férias, mas interrogávamos-nos sobre o momento luandino. «Vamos daqui para a porrada?!...», perguntava-me ele, mas ambos desejosos que os dias que faziam fronteira para o passeio se passassem bem depressa. 
Carmona: estrada da cidade para o BC12
O Uíge - que tinha sido palco sangrento de combates entre as NT e os movimentos de libertação, desde 1961! -, embora com os já habituais incidentes entre MPLA's e FNLA´s e a continuada hostilidade de boa parte da comunidade civil europeia para com a tropa portuguesa, continuava mais ou menos sossegado. Assim como Carmona, o Quitexe, Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponte do Dange, chãos dos Cavaleiros do Norte, ainda que, vamos lá..., com um  sossego e uma paz mais ou menos dissimuladas. As instruções que tínhamos eram claras: não reagir a essa visível hostilidade e, acima de tudo, garantir a segurança de pessoas e bens! E olhem que, em alguns momentos, não foi nada fácil.

quinta-feira, 24 de março de 2016

3 345 - Comandantes A. Brito (ZMN) e Themudo (BCAV. 8423)

Cavaleiros do Norte: Soares e Oliveira (1ºs. cabos), Pais, Rocha (furriel), 
Estrela (1º. cabo, de braços cruzados), Silva, Hermida (alferes(, Zambujo, Pires 
(furriel), Felício (3ª. CCAV.), José Mendes, Soares, Pires (Fecho-eclair?, de 
mão no queixo, 1º. cabo). Em baixo, NN, Costa, Salgueiro, Cruz (furriel) e Tomás (1º. cabo)

O capitão José Dioho Themudo (à direita), com o
alferes miliciano João Machado (da 2ª. CCAV. 8423) e
o capitão José Paulo Falcão (oficial de Operações do
BCAV. 8423), na varanda do edifício do comando
do BC12, de costas viradas para a parada 



Aos 24 dias de Março de 1975, o capitão José Diogo Themudo assumiu o comando interino do Batalhão de Cavalaria 8423, substituindo o tenente-coronel Almeida e Brito que, também interinamente e nessa data, foi assumir o comando da Zona Militar Norte (ZMN) e para esta deslocado.
Os Cavaleiros do Norte, aquartelados no B12, continuavam a sua missão, adaptando-se aos novos desafios - os que a cidade oferecia. Cumprido serviços internos, garantindo a segurança de pessoas e bens - na cidade, nas zonas urbanas e nos itinerários - e procurando as coisas boas da vida. 
Ao fins de tarde de Carmona, galgavam-se as sombras que tingiam as casas das cores do pôr-do-sol e nós lá íamos piscar os olhos para a Rua do Comércio, palmilhar a avenida Portugal e a praça principal da cidade (da Câmara. da ZMN, do Tribunal e dos CTT...), a cheirar cios e encher as esplanadas da nossa sede de vida.
A Transmontana era outro «poiso» dos meios de tarde e noites carmonianas, entre a «janta» e uma provável ida ao cinema. Não era taro, bem pelo contrário, devorarmos um bom bife com ovo a cavalo no Escape - restaurante de moda, ao tempo!... -, ou darmos uma saltada ao Shop-Shop, ao Chave d´Ouro, ao Arouca, ao Bar do Eugénio ou ao Safari (entre outros), entre outros dos muitos bares, restaurantes e esplanadas da cidade.
O restaurante Escape, na esquina ao
fundo, do lado esquerdo. Era local de
culto gastronómico de Carmona (actual
cidade do Uíge), há 41 anos!
Somavam-nos vida e prazer! Ou ir ao Diamante Negro, bem pertinho do estádio do Recreativo do Uíge, por onde nos (des)fazíamos em rolos de carne cor de ébano! Bons tempos!!!
Bem mais complicadas iam as coisas por Luanda, onde, na madrugada dessa segunda-feira de há 41 anos (24 de Março de 1975), continuavam, desde sábado anterior (dia 22)  os tiroteios entre MPLA e FNLA, nos bairros do Cazenga, Sambizanga, Marçal e Vila Alice. Nessa madrugada, houve intenso tiroteio bem perto da Avenida o Brasil e já se contavam 11 mortos (dois civis, entre eles) e dezenas de feridos. Com uma agravante: a tropa portuguesa recusava-se a intervir, alegando o tenente-coronel Almendra (comandante da Zona Militar de Luanda) que era uma questão entre os dois movimentos.
Assim ia o processo de descolonização de Angola, com o Acordo do Alvor claramente em risco!! Como o tempo confirmaria!

quarta-feira, 23 de março de 2016

3 344 - Adeus de Hermida e Farinhas, futebol em Carmona!

O alferes José Leonel Hermida e a esposa Graciete, no Quitexe. A seguir, o casal
 Margarida e alferes Cruz e a esposa do tenente Mora (em frente). Aqui, à esquerda 
e de cigarro na mão, o sargento ajudante Machado, o neto e filha do capitão 
Oliveira, NN, esposa do capitão Oliveira, NN, e tenente Mora. Atrás, sentados, 
o capitão José Paulo Fernandes, furriel Reino, comandante Almeida e Brito, 
Armando Mendes da Silva (3ª. CCAV.) e capitães José Paulo Falcão (meio 
encoberto) e António Oliveira


O furriel Joaquim Farinhas e
as suas leituras, na messe de Carmona,
há precisamente 41 anos! Faleceu a
14 de Julho de 2005, em Amarante

O mês de Março de 1975 foi tempo de saída do alferes miliciano José Leonel Hermida (transmissões) e do furriel miliciano Joaquim Farinhas (sapadores), ambos da CCS dos Cavaleiros do Norte. A ordem de serviço nº. 69 deu conta dos motivos (disciplinares) que os levaram a sair do Batalhão de Cavalaria 8423.
O alferes Hermida acumulava com as funções de oficial de acção psicológica e sua esposa, a dra. Graciete, foi professora primária numa das sanzalas do Quitexe. Actualmente, reside na Figueira da Foz - depois de uma carreira dedicada ao ensino, de que é aposentado, como professor de Física e Matemática. Tem formação académica na área da engenharia e goza os prazeres da reforma com a sua «mais-que-tudo» de sempre: a dra. Graciete. Saído dos Cavaleiros do Norte, esteve algum tempo no Songo e Luanda, antes de, já em Maio de 1975, estar colocado em Nova Lisboa. Daqui, e depois de alguns conturbados incidentes envolvendo os movimentos de libertação, ainda esteve no Luso, no leste angolano, onde, como nos contou, ainda passou mais momentos - no período final da soberania portuguesa 
O Farinhas, de volta a Portugal, esteve algum tempo emigrado nos Estados Unidos e, mais tarde, fez carreira na Guarda Florestal. Infelizmente e vítima de doença, faleceu a 14 de Julho de 2005,  na sua Amarante natal. Pelo Quitexe, foi companheiro de fartas e discordantes conversas, que algumas vezes politicamente se estremaram. Tinha as suas ideias, pouco coincidentes com as da maioria (politicamente impreparada) dos frequentadores da nesse e bar dos sargentos, mas isso não afastou sensibilidades ou camaradagem. Era um bom companheiro!
Campo do Futebol Clube do Uíge, na saída
de Carmona para Quitexe e Luanda e visto da messe
de oficiais do bairro Montanha Pinto .
Foto de Jorge Oliveira (1973)
A 23 de Março de 1975, um domingo, hoje se passam 41 anos, pode ter sido o dia de alguns problemas no campo do Futebol Clube do Uíge, à saída de Carmona para o Quitexe - onde decorreu um dérbi local e aconteceram alguns incidentes, que levaram a PM a interromper o jogo (logo recomeçado). Foi dia de correio e, chegado este e distribuído no BC12, releio o aerograma do Alberto Ferreira (que estava na base Aérea de Luanda), dando conta do pasto de saias que, por lá lhe (e nos) endrominava o juízo e o desejo. De Portugal, chegaram recados de saudades, lidos e relidos de um fôlego - e mais tarde mais atentamente, saboreando o gosto das palavras de incentivo que nos chegavam!!!
Há 41 anos!!!


terça-feira, 22 de março de 2016

3 343 - Convite ao capitão Themudo e refugiados angolanos no Zaire

Amorim Martins (mecânico), Abel Mourato (vagomestre) e Mário Matos 
(atirador de Cavalaria), três furriéis milicianos dos Cavaleiros do Norte da 
2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa

O capitão José Diogo Themudo
foi 2º. comandante do BCAV. 8423

A 22 de Março de 1955, o tenente coronel Almeida e Brito (comandante do Batalhão de Cavalaria 8423) encontrou-se em Luanda com o capitão José Diogo Themudo. Tinha chegado um mês antes, em rendição individual para uma companhia entretanto desmobilizada, e ficou-se pela messe de oficiais. Não sabia, ninguém sabia, mas viria a ser o 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte.
«Cheguei a Luanda a 22 de Fevereiro e ali estava a aguardar colocação», recordou agora, 41 anos depois, já aposentado, com a patente de coronel e residente em Lisboa.
Era sábado e se por Carmona as coisas iam minimamente tranquilas, com a PM em serviço permanente na cidade - assegurando o cumprimento das NEP´s e «prevenindo quezílias entre a população civil e as NT» -, por Luanda iam mais quentes. Lá chegavam notícias de que a FNLA queria o repatriamento de refugiados (no Zaire) e, entre eles recrutar militares para o seu exército - o ELNA. Seriam na volta dos 400 000 e a revista Afrique-Asie dava conta que a operação teria três fases. 
Notícia do Diário de Lisboa de 22 de Março
de 1975, sobre o recrutamento, pela FNLA, de
refugiados angolanos no Zaire
A primeira já decorrera em Setembro de 1974 (com 4 grandes acampamentos de concentração, no Zaire), ao tempo (Março de 1975) decorria a segunda (dirigindo as populações para 20 campos de alojamento, ao longo da fronteira com Angola) e a terceira, ainda estava sem data marcada (para instalar os refugiados angolanos em Angola, em centros permanentes).
A operação custaria 20 milhões de dólares e seria apoiada pelo presidente Mobutu, do Zaire (que tal não fez, por dificuldades de tesouraria e recusa de um empréstimo do FMI). O Ministro da Saúde (Samuel Abrigada) pedira apoio a Igrejas reformistas americanas, mas também estas recusaram. Que aparentemente estaria disposto a financiar seriam empresários mineiros e fazendeiros do norte angolano - ao tempo, com dificuldades em recrutar pessoal). A ser assim, concluía o Diário de Lisboa desse dia (de que nos socorremos), «Holden Roberto mataria dois coelhos da mesma cajadada: poderia recrutar no Zaire um exército para ocupar o norte de Angola e ara apoiar o seus projectos de domínio do Governo de Luanda».

segunda-feira, 21 de março de 2016

3 342 - Um novo médico em Carmona e incidentes em Luanda

Cavaleiros do Norte da CCS no Quitexe. O Gaiteiro (à direita), seguido do 
Serra, NN (boina no ombro e de pé) e Aurélio (Barbeiro). A olhar de frente 
e de bigode, o Monteiro (Gasolinas), Cabrita e Calçada (mão na boca). O sétimo, 
é o Florêncio (de bigode). Quem identifica os outros?

Furriéis milicianos da 3ª. CCAV. 8423, a de
 Santa Isabel: Grenha Lopes (atirador),
Agostinho Belo (vagomestre) e Graciano
Silva (atirador, à frente)

O mês de Março de 1975, para os Cavaleiros do Norte, foi tempo de chegada de um novo médico: o alferes miliciano Carlos Augusto Monteiro da Silva Ferreira. Pertencia aos quadros do Hospital Militar de Luanda e juntou-se ao também alferes miliciano António Honório de Campos - que «operava» principalmente nas companhias de Aldeia Viçosa e Santa Isabel, até que, no Quitexe, substituiu o capitão médico Manuel Leal, em Novembro de 1974. 
A chegada do alferes Carlos Augusto passou quase despercebida no meio militar pois, principalmente, prestava serviço no Hospital de Carmona, à comunidade civil (e à militar, naturalmente). Infelizmente, não conseguimos saber notícias dele. Actualizadas.
Os tempos desse tempo uíjano continuavam expectantes, com os repetidos pequenos incidentes entre os movimentos que se instalavam na cidade de Carmona e região - nomeadamente entre a FNLA e MPLA. Que, todavia e felizmente, não atingiam grandes proporções e eram, no geral, atenuados pela intervenção das NT.
O Livro da Unidade, a propósito desse relacionamento, refere que «teve a maior receptividade das forças militares dos movimentos».
Por Luanda, não iam as coisas tão simples e pacíficas: na véspera, o ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA) destruiu as instalações dos Pioneiros do MPLA e a retaliação  não demorou. Na verdade, as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, exército do movimento presidido por Agostinho Neto) «deram troco» imediato e capturaram José Pedro Sebastião, chefe da Delegação da FNLA, agredindo-o de tal forma que teve de entrar nas urgências do Hospital de S. Paulo, em estado crítico. E os incidentes repetiram-se nos dias seguintes. Por exemplo, na madrugada de 23 - quando as FAPLA atacaram as instalações da UNITA (com um morto) e da FNLA (quatro).
Era para esta Luanda, com espaço reservado no Katekero, que eu e o Cruz preparávamos a partida - para lá iniciar o périplo de férias que, então (e já lá vão 42 anos!!!...), nos levou a conhecer boa parte do imenso território de Angola.
A guerra também nos trazia estes paradoxos!

domingo, 20 de março de 2016

3 341 - Cavaleiros de Zalala em Pombal e 2 mortos no CIOE de Lamego

 Momento musical em Zalala, com os «artistas» Victor Cunha (1º. cabo auxiliar de 
enfermagem) e Mota Viana (furriel miliciano atirador de Cavalaria). Quem 
sabe se não levarão a(s) viola(s) para o encontro de 4 de Junho de 2016, 
em Pombal!!! Estilo, não lhes falta! Faltará é repertório!

O vagomestre José Nascimento e o
«ranger» Manuel Pinto, furriéis de
Zalala «disfarçados» de enfermeiros,
no Songo e em 1975


A 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, vai realizar o seu terceiro encontro, marcado para 4 de Junho de 2016, no Manjar do Marquês, perto de Pombal, no actual IC2 (antiga EN1). Por coincidência, no mesmo dia dos Cavaleiros do Norte da CCS, este ano nos arredores do Porto.
A reunião preparatória dos «zalalas» decorreu a 25 de Fevereiro, no Porto e envolvendo (o ex-capitão) David Castro Dias e (os ex-furriéis milicianos) João Dias e Américo Rodrigues. A ementa está a ser «negociada», mas sabe-se já que a concentração está marcada para as 12 horas, seguindo-se o convívio de abraços e memórias, até ao almoço. Não faltarão, seguramente, histórias e momentos para contar e evocar, da jornada africana de Angola.
Crachá da 1ª. CCAV. 8423
dos Cavaleiros do Norte,
a de Zalala
Os interessados em participar devem inscrever-se até 20 de Maio, junto de João Custódio Dias, para residentes do centro e sul do país (pelos telefones 249313067 e 962551238 e e mail joaocustodiodias@gmail.com) e  Américo Joaquim da Silva RODRIGUES, grande Porto e Norte (pelos nºs. 252311282 e 933962492 e email rodrigues54americo@hotmail.com)
Há 43 anos, a 20 de Março de 1975, estavam os Cavaleiros do Norte no terceira dia da Licença de Normas, era 4ª.-feira e soube-se de um acidente no Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego (já no dia 16), no qual morreram dois militares, vítimas da explosão de uma granada - o oficial miliciano Telmo Mesquita, instrutor (de Carrazeda de Ansiães) e o soldado-cadete Vitor Ramires, do Lavradio (Barreiro). Registaram-se ainda 14 soldados feridos, evacuados para o Hospital Militar do Porto. O CIOE tinha sido, recordemos a unidade de formação operacional e graduação militar dos alferes milicianos António Garcia (CCS), Mário Sousa (1ª. CCAV. 8423), João Machado (2ª. CCAV.) e Augusto Rodrigues (3ª. CCAV.) e dos furriéis milicianos Monteiro, Viegas e Neto (CCS) e, respectivamente das restantes CCAV´., o Manuel Pinto, o António Carlos Letras e Armindo Reino. Todos Cavaleiros do Norte!

sábado, 19 de março de 2016

3 340 - Clima de paz em Carmona e FNLA a...ganhar eleições

Cavaleiros do Norte de Zalala, como furriel miliciano Manuel Dinis Dias em destaque, faria hoje 64 anos 
mas faleceu a 20 de Outubro de 2011, em Lisboa e vítima de doença. Atrás, Rocha (?), Espinho (?), Fião, 
Romão, Tarciso, Aprumado, Mora, Mamarracho e Pereira. À frente, Azevedo, Rego, Orlando Oliveira (?), 
Lopes, Dorindo e Manel Dinis Dias

Alferes Carlos Silva, da 3ª. CCAV. 8423
A actividade operacional do BCAV. 8423, aquartelado em Carmona desde 2 de Março de 1975 - e já íamos no dia 19! -, caracterizou-se, entre outros pontos de relevante interesse (que tinham a ver, principalmente, com a segurança de pessoas e bens, actividade muito discreta mas eficiente, se bem que pouco valorizada pela população), caracterizou-se por intensos contactos com os dirigentes dos movimentos. Eram diários e, como refere o Livro da Unidade, verificava-se «uma boa aceitação das medidas militares tomadas», de tal modo que «têm sido a origem do clima de paz que se vive no distrito». 
A paz na ZA dos Cavaleiros do Norte (o enorme Uíge angolano...) era real, de verdade, embora à custa do enormíssimo esforço da guarnição. Nunca regateado, mas que se multiplicava no dia-a-dia, noite-a-noite, enfrentando as dificuldades que medravam mas que não se equivaliam às vividas em outras regiões e cidades da imensa Angola.
Notícia do Diário de Lisboa de 19/03/1975

A19 de Março de 1975, Holden Roberto, presidente da FNLA, afirmava em Kinshasa (Zaire), peremptoriamente e sobre os incidentes que se iam sucedendo em Angola, que «temos um exército disciplinado e poderoso (...) composto dos filhos do povo, que combateram as forças colonialistas durante 14 anos».
O líder da FNLA concedera uma entrevista ao Diário de Luanda, citada pela ANI, e aproveitou para  sublinhar que o seu movimento se implantara «em todas as camadas populacionais com um sucesso que ultrapassa as previsões». De tal modo que, acrescentou, «estenderemos, nos próximos meses, a nossa audiência por todo o país».
«O nosso objectivo é ganhar as eleições», frisou Holden Roberto, precisando que depois delas «analisaremos os resultados e precisaremos, depois, a nossa posição (...), não sendo contra a formação de um governo de união nacional», tudo dependendo, porém, «das nossas relações com os outros partidos».





sexta-feira, 18 de março de 2016

3 339 - Cavaleiros do Norte a gozar a Licença de Normas

Grupo de Cavaleiros do Norte da CCS. NN, Domingos Teixeira (1º. cabo, de 
tronco nu, atrás), João Monteiro (1º. c abo, o Gasolinas), Américo 
Gaiteiro e Porfírio Malheiro (1º. cabo, sentados), Alípio Canhoto (com 
arma) e António Clara Pereira (à direita e de pé)


Atirador Alberto Ferreira e rádio-montador
Rodolfo Tomás (1º. cabo), dois Cavaleiros do
Norte no Quitexe, já 42 anos
A 18 de Março de 1974, hoje se fazem 42 anos, os (futuros) Cavaleiros do Norte entraram «a gozar a chamada Licença de Normas», até ao dia 28. O período de 10 dias correspondia, na linguagem do tempo, às férias que antecediam o embarque para o ultramar, para a guerra colonial, mas, no caso concreto, ainda não era conhecida a data de partida para Angola. E muito menos o local onde iríamos jornadear.
A dita Licença de Normas, de resto e conforme anotamos do Livro de Unidade, «acabou por ser aumentada, de tal modo que só a 22 de Abril se voltou a reencontrar todo o pessoal do batalhão, para dar efectivação à instrução operacional».
O dia, uma segunda feira, foi tempo para anúncio do investimento, pelo Grupo Quina, de 700 000 contos no sector de pescas de Angola, numa parceria com o Banco de Crédito Comercial e Industrial de Angola, Companhia Portuguesa de Pesca e Sociedade de Armadores de Pesca de Moçambique. O objectivo segundo o Diário de Lisboa desse dia, era «a captura, processamento e comercialização de crustáceos e outras espécies que abunda na costa de Angola».
Tempo também para se saber que os Bispos de Angola preparavam as comemorações do Ano Santo, indicando o dia 8 de Junho como data para uma cerimónia colectiva, em Luanda. E 30 de Junho para a peregrinação a Massangamo, a mais antiga paróquia do território.
O furriel Freitas Ferreira, da 2ª. CCAV. 
8423, a de Aldeia Viçosa, num 
momento de divertimento musical
Um ano depois, a 18 de Março de 1975, e com os Cavaleiros do Norte no seu 10º. mês de comissão, a jornada prosseguia no Uíge, com a guarnição cada vez mais expectante quanto ao futuro. De Luanda, via Emissora Oficial de Angola, chegavam notícias de protestos de populares de Ambrizete, contra o que consideravam, e citamos a ANI (Agência Nacional de Informação, a actual Lusa), «as graves arbitrariedade que tem sido cometidas por um comissário político de um dos movimentos de libertação, que incluem atentados à dignidade feminina e espancamento de familiares que tentam sair em defesa das suas mulheres e filhas». Queixavam-se, igualmente, da «imposição de pertencerem a um determinado movimento de libertação», exigindo que o Governo de Transição tomasse «medidas, de fora a permitir aos angolanos a escolha democrática do seu partido».
Não temos memória de, em Carmona, ou no Quitexe e Vista Alegre, algo parecido ter acontecido. Pelo menos, que tivesse chegado ao conhecimento dos comandos e homens do Batalhão de Cavalaria 8423. O futuro, os dramáticos primeiros dias de Junho desse ano, seria tempo para outros tempos - quando MPLA e FNLA terçaram razões através das armas.