O Diário de Notícias de 12 de Agosto de 1975 dava conta da «situação
mais calma em Angola» e de 29 mortos e 233 feridos numa semana
de violência. E falava do regresso dos colonos de Moçambique e de Angola
Aos 12 dias de Agosto de 1975 os Cavaleiros do Norte continuavam em Luanda (no Grafanil) e soube-se que as confrontações da capital tinha resultado em «pelo menos 29 mortos e 233 feridos, entre brancos e negros», só na então última semana.
O Diário de Notícias, que se edita(va) em Lisboa (e de que reproduzimos parte da página 5) noticiava incidentes em vários locais luandinos.
O furriel Viegas ladeado pelos 1ºs. cabos António Pais (à esquerda) e Emanuel Santos, a mariscar no restaurante Rocha, no Quitexe |
O Bairro do Golfe, por exemplo foi cenário para um grupo de negros impedir a Cruz Vermelha de remover o cadáver de um negro, morto por uma patrulha militar. No Mota, foi incendiada uma residência e apedrejadas viaturas. Na Estrada da Brigada, civis negros assaltaram e roubaram civis brancos e um soldado. Nos Bairros Rangel e Marçal, não houve incidentes mas as forças militares andaram a remover barricadas. No Bairro Lixeira, um civil branco armado foi detido, depois de fazer vários disparos. Também aqui, um civil negro de um grupo de assaltantes fugiu à perseguição de uma patrulha (abandonando uma pistola) e continuou a remoção de barricadas.
Uma patrulha da PSP fez disparos e deteve 4 elementos de um grupo que, entre a Maianga e o Bairro de Alvalade, apedrejou a dita patrulha. Um dos detidos era portador de uma bomba.
O fim de semana, em Lisboa e no aeroporto de Portela, registou movimento inusitado, com a chegada de «numerosos portugueses radicados em Angola». E ao porto da capital, chegou o navio Infante D. Henrique com «cerca de um milhar de colonos de Moçambique».
Cavaleiros do Norte de Zalala: os furriéis milicianos Victor Costa e José Nascimento ladeando o Leão (Trombone) |
O Diário de Lisboa noticiava que «reina a calma a cidade de Luanda, de onde os últimos efectivos da FNLA, que estavam acantonados no Forte de S. Pedro da Barra, foram já retirados». O forte «foi imediatamente ocupado pela tropa portuguesa». O MPLA, ainda segundo o DL, «mantém as suas posições na capital», enquanto da UNITA «também já retirou da cidade», ficando apenas um funcionário que iria para Nova Lisboa.
O dia 12 de Agosto de há 41 anos previa «a evacuação das restantes forças da FNLA» - as que eram nossas «vizinhas» no Grafanil. Por via marítima, tinham sido retirados os 500 combatentes do ELNA que participaram nos recontros do Bairro de Saneamento.
A cidade continuava sem reabastecimentos alimentares assegurados (embora sem «atingir o nível de alarme»), mas faltava café, gasolina e tabaco. Isto, enquanto no sul «a água se torna rara, a carne é difícil de encontrar e o pão inexistente».
Nova Lisboa «assistia» à saída das tropas do MPLA, depois do acordo entre os três movimento, patrocinado pela tropa portuguesa e «depois das violentas confrontações» que o opuseram à FNLA e UNITA, «havendo grande número de desaparecidos (...) saques e destruição de habitações», que o DL atribuía a estes dois movimentos.
A situação era tanto mais grave quanto à cidade afluíam «dezenas de milhares de refugiados diariamente provenientes de outras zonas, aguardando o avião que os repatriará para a metrópole». Até em Sá da Bandeira, «cidade até aqui liberta de quaisquer incidentes armados, se regista um crescente aumento de tensão».
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