O furriel Viegas de férias em Nova Lisboa, há 41 anos. Aqui, com a madrinha
Isolina, ao tempo já viúva do padrinho (de baptismo) Arménio Tavares
A 12 de Abril de 1975, um sábado e depois de uma manhã no jardim zoológico e de um salto ao bairro de Santo António - a convite de Orlando Rino, agora em Rio Grande, no Brasil... -, fomos ao miradouro da Senhora do Monte, perto da Caála, e fizemos refeição por ali perto, farta e bem regada, com marisco chegado do Lobito e num pic-nic preparado pela Cecília e marido - o Rafael. Um grande luxo, para os tempos de então!!! Férias eram férias e Nova Lisboa, a bela Nova Lisboa!!!, oferecia-nos bem-estar, qualidade vida
O furriel Viegas no miradouro da Senhora do Monte, perto de Caála e numa estrutura a 40 metros de altura. A cidade de Nova Lisboa fica(va) ao fundo |
O que não acontecia tanto por Luanda, onde embora «restabelecida a calma», noticiada pelo Diário de Lisboa desse dia, dirigentes do MPLA e da FNLA continuavam a trocar acusações, cada qual responsabilizando a outra parte pelos incidentes dos dias e semanas anteriores. Também mo Luso, no leste angolano, se tinham registado «incidentes graves na terça-feira». dia 8, e que nos tinham passado despercebido, «empoeirados» nos de Luanda e coincidentes com nossa viagem (minha e do Cruz) de Luanda para Nova Lisboa.
«Está restabelecida a calma no Luso (...), onde se deram incidentes graves (...), envolvendo forças do MPLA e da FNLA, que duraram cerca de 12 horas», anunciou um comunicado do Alto Comissário, sublinhando que «os incidentes originaram muitos prejuízos materiais de certa monta nalguns edifícios da cidade» e que «morreu um civil e houve vários militares e civis feridos».
O Diário de Lisboa de 12 de Abril de 1975 noticiou o fim dos incidentes em Luanda e o registou incidentes no Luso, no leste de Angola |
Por Carmona, através do telefone civil da messe de sargentos (antiga de oficiais) do Bairro Montanha Pinto), sabíamos nós (eu e o Cruz) da calma local, embora temperada dos já habituais incidentes entre MPLA e FNLA, ambos a quererem marcar terreno no chão uíjano - onde, recordemos, o movimento de Holden Roberto tinha larga predominância.
A noite foi de jantar em casa do primo Manuel Viegas, onde a mulher Ondina nos presenteou com comida daqui (da nossa aldeia), embora com alguns condimentos angolanos - o que resultou numa apetecível refeição, acompanhada de vinho tinto (o Teobar). Falámos do futuro e o meu «conselho» foi no sentido de se prepararem para o regresso a Portugal. Mas por Nova Lisboa ninguém acreditava que a luta fratricida do norte e do leste, de Luanda e de outras cidades, alguma vez chegasse ao planalto huambano.
«A nossa terra é aqui!!!... Ficamos!!!...», por várias vezes exclamou Manuel, indiferente à recomendação do jovem militar de 22 anos, filho de seu primo e procurador, meu pai! A noite e a viagem de regresso ao Hotel Bimbe (onde nos levou) foi de memórias da nossa aldeia e das nossas gentes! «E fulano? E beltrano?!...», perguntava ele, matando as saudades com as respostas que lhe oferecia à sua curiosidade. Há 41 anos!
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