CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sexta-feira, 31 de maio de 2013

1 686 - O dia dois, da Luanda que não conhecíamos

Cinema Miramar, em Luanda (ao ar livre). Aldeagas, Queirós, 
Cândido Pires e Mosteias numa esplanada, frente à baía
Há 39 anos, o dia de hoje também era sexta-feira, último dia de Maio, e, para nós, jovens Cavaleiros do Norte, tempo de descoberta da cidade imensa, que era Luanda  - que se nos oferecia de largas vistas, grávida de emoções e sensual, muito sensual, quente e generosa para os nossos desejos de sonho, de alma e de corpo!
A mala que daqui foi, com bagagem simples - mais as minhas cassetes com recordações de cá (para lá matar saudades), os meus livros e cadernos -, ficou à guarda no Grafanil e lá fui eu, de pressa nos sapatos, à procura de amigos para quem levava saudades, rojões e chouriços de cá. Feitas as entregas e apertados os abraços, lá fomos nós, cidade fora e já pela tarde adentro, espantando os olhos e a alma, a descobrir a urbe  enorme que se desenhava e se sentia, e vivia, e se apalpava na frente, dos lados e a empinar-se para o céu, no gigantismo dos prédios que por lá medravam como cogumelos.
O dia, vestido de sol e de calor que nos ensopava a roupa, correu depressa: a olhar  e sentir a baía, a baía imensa, a restinga, a ilha que se apontava mar adentro, a fortaleza pendurada lá de cima do morro, como se fosse um altar a beijar a cidade; o turbilhão de gente, gente de todas as cores e raças, que fazia bicha para os machimbombos. Com ordem, como se não tivessem pressa. Com respeito, como se estivessem na missa!! 
Eram também as esplanadas gigantes, plasmadas de gente a dessedentar-se na cerveja e descascando pequenos camarões que nos desassossegavam a gula, nos faziam sentar a beber e a olhar a baía e o mar, e os barcos que aportavam, e os aviões que se faziam a terra, ou ganhavam voo para novas rotas.
Luanda era um sítio de namorados, de mãos e ombros dados, e colos e corpos de cio que nos despertavam desejos e pecados. Era terra de meninos brancos brincando com negros e mães negras, de seios grandes e ao léu, a aleitarem as suas crianças, filhos d´amores torneados e pintados em cores de ébano. 
Há 39 anos, descobrimos um cinema ao ar livre, o Miramar, atirando-se sobre a baía, como que querendo namorar com ela. Aprendemos a conhecer uma Luanda crioula, que não parava do dia para a noite e com esta levedava prazeres alongados para a madrugada. Uma Luanda generosa, moderna e aberta, que nos pareceu definitivamente sedutora, como se tudo por lá fosse eterno, apetecível feliz e o paraíso!
Há 39 anos! 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

1 685 - O dia, de há 39 anos, da chegada a Luanda!!!

Baía de Luanda, à noite (em cima) e de dia, anos 1973/74. Fotos de Jorge Oliveira

Luanda, 30 de Maio de 1974! Arrumada a questão aeroportuária, e na espera do transporte para o Grafanil, a sede apertou para as primeiras cucas de Angola. Prevenido, ia munido de angolares (os escudos de Angola), providenciados no conterrâneo Valdemar, e não demorou a que saboreasse o seu prazer, num bar que se pespegou na frente e onde um velho sargento, de pasta debaixo do braço, se anunciava, discreto, a fazer câmbio ilegal, clandestino. Trocava escudos europeus por angolanos, com vastos lucros.
Os cheiros da terra angolana, o calor que nos abria os poros de suor, o passo acelerado para subir as berliets que nos levaram ao Grafanil, as ruas e avenidas largas e as gruas subindo ao alto dos prédios que se construíam às centenas e com andaimes que nos fugiam de vista, a multidão misturada de gente branca e gente negra, mulata, mestiça e de todas as cores, foram uma babel que nos encheu a alma e matou curiosidades. 
Aí estávamos nós, futuros Cavaleiros do Norte, na Angola de muitas promissões.
Os minutos do voo da chegada, tinham-nos mostrado, do ar, uma cidade gigante e rendilhada de estradas e largas avenidas, coqueiros enormes e sombras que se moviam - que eram, afinal, a gente boa daquela terra farta, que se fazia à vida, na hora madrugadora do dia que nascia: 30 de Maio de 1974. 
Ainda antes, do ar, o olhar refrescou-se sobre a baía, que se fazia de arco-íris, batida pelo sol avermelhado da madrugada angolana. Uma baía a descobrir-se mas a fugir-nos dos olhos, aos mesmo tempo, nas voltas do avião que se fazia à pista e nos roubava a magia e o feitiço desta terra cheia de luz e de espaços largos, para onde íamos em jornada militar. 
Bebidas as cucas, de rápidas goladas, e morta a sede, não demorou a que galgássemos a estrada para o gigante Grafanil, onde acomodámos bagagem e visámos «passaporte» para a cidade enorme. A noite foi de descobertas, olhando, aos pés, a baía vestida de águas mil cores e espelhada dos neons da baixa, soltas dos prédios altos e dos bares, dos restaurantes e da vida nocturna que saciava desejos da alma e da carne. 
Foi tempo de conhecer a Portugália, talvez já o Amazonas, o Paris Versailles, a Mutamba. E, de certo, o aroma da baía, que nos batia na face e deixava ouvir o rebentar da água nas raízes das palmeiras e na pedra e cimento que a separavam da grande avenida. Há 39 anos se viveram estas e outras emoções.  
- CUCA. Marca angolana de cerveja, tão universal que designava a bebida. 
Havia também, pelo menos, a Nocal e a Skol e, mais tarde, a Ngola. 
Ver AQUI

quarta-feira, 29 de maio de 2013

1 684 - A noite de voar de Lisboa para Luanda, há 39 anos!!!

Viegas à janela do quarto, nos primeiros dias do Quitexe (em cima). Avião dos 
TAM, igual (ou o mesmo) ao que nos transportou para Luanda, há 39 anos (em baixo)

Há 39 anos e em fim de uma tarde de muita chuva, mais ou menos por esta hora, viajávamos de Santa Margarida para Lisboa, até andámos em auto-estrada (verjam lá!!...), e chegámos ao aeroporto. Nunca eu na minha vida passara numa auto-estrada e muito menos estivera em Lisboa - cidade que, vista do avião, já no ar, me pareceu esplendorosa. Íamos para Angola, um mês e quatro dias depois do 25 de Abril.
Chovia, e chovia torrencialmente!!!, lá se fez o que se tinha a fazer no aeroporto, «despachámos» malas e entrámos no avião dos TAM. Outra estreia, o andar de avião, certamente para mais de 99% de nós, os futuros Cavaleiros do Norte do Quitexe. Lá fomos, sem sobressaltos, primeiro a descobrir Lisboa pelo ar; e a ver o Tejo e o mar, já noite fora. Depois, já pelas 11 horas de noite e a bordo do Boeing dos TAM, a rasgar as fronteiras da noite e do céu, até que tombámos de sono. Não tanto eu, sem qualquer medo de voar, mas ainda hoje mais para o acordado que dormitado, quando viajo de avião.
Umas duas horas depois, foi-nos dada a indicação de que o clarão que se via do chão, era Bissau  - a capital da Guiné. Acabei por passar pelas brasas, acordando já a ver o céu avermelhado de África, a expectar sobre Luanda e o que seria Angola. E lá chegámos!!! Com um calor enorme, que nos fez, rápidos, tirar o pesado blusão da farda nº. 2.  
Luanda recebeu-nos indiferente. Os nossos olhos, e a nossa alma, é que queriam descobrir tudo. Esperava-nos o Grafanil.
- TAM. Transportes Aéreos Militares. 
- BOEING. A partir de 1971, os TAM passaram a operar com dois Boeing 707-3 F5, substituindo os DC6 nas ligações de Lisboa para Bissau, Luanda e Lourenço Marques. Tinham 46,61 metros de comprimento, 44,42 de envergadura e 12.93 de altura. Transportavam entre 170 e 189 pessoas, mais tripulação (4), com 151 315 quilos de carga máxima. Atingiam a velocidade máxima de 1 050 kms./hora, ou 977 em cruzeiro. A autonomia era de 6 920 kms.(carregado) e 10 650 (leve).

terça-feira, 28 de maio de 2013

1 683 - Os últimos dias de Maio de 1975 em Carmona

O quartel do Songo, em Dezembro de 2012. Anda se vê o escudo português. 
Foto de Carlos Ferreira


Os últimos dias de Maio de 1975, passando-se um ano sobre a nossa partida para Angola (amanhã se fazem 39!...),  eram, por Carmona, vividos em expectativa. E receios!
Já todas (ou quase todas) as capitais provinciais tinham sido palco de combates. Faltava Carmona - não iria demorar muito tempo, pesasse, embora, a diplomacia activa dos nossos comandos militares.
A situação de «calma fictícia» vinha de há semanas e na memória estavam os sucessivos incidentes entre a FNLA e o MPLA. Porém, ainda «permitindo manter-se um dia-a-dia mais ou menos estável, quebrado por um ou outro incidentes» - o que se registava desde Abril.
As NT, porém, leio no Livro da Unidade, «não esmorecendo, expondo os seus problemas, mas cumprindo, começaram a verificar-se desautorizadas e alvo de atropelos». Só, na verdade, «a coesão criada e disciplina vivida», foram, no terreno uíjano, «levando de vencida todas as situações».
Os comandos militares reuniam regularmente com as chefias dos movimentos emancipalistas e, ante o que passava, começaram a tomar medidas preventivas. 
«Disse-se ter-se feito, no mês anterior, uma remodelação de dispositivo que se admitiu como sendo a última, mas o galopar desenfreado dos acontecimentos leva a admitir a necessidade de, pelo menos, fazer vir a 1ª. CCAV. para Carmona, abandonando Songo e Cachalonde, porquanto se interpretam como desnecessários, senão inconvenientes tais guarnições militares», lê-se no Livro da Unidade. 
Ao Songo e Cachalonde tinha a companhia do capitão Castro Dias chegado a 24 de Abril, ida de Vista Alegre e Ponte do Dange. Os incidentes dos primeiros dias de Junho, em Carmona, precipitaram a rotação: começou a sair a 6 e, definitivamente, abandonou aquelas localidades a 12 de Junho de 1975.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

1 682 - A viagem para Angola adiada por dois dias...


Neto, Viegas e Monteiro no Quitexe (1974)


A 27 de Maio de 1974, aí pelas cinco horas da manhã, o SIMCA 1100 do pai do Neto chegou ao largo do cruzeiro, aqui na minha aldeia, para me buscar e nos levar a Santa Margarida, ao RC4, de onde partiríamos para Lisboa e, ao princípio da noite, voaríamos para Luanda, para Angola.
Ir-se-ia confirmar a nossa mobilização - publicada na Ordem de Serviço nº. 286, de 7 de Dezembro de 1973, do Centro de Instrução de Operações Especiais (o CIOE), em Lamego.
A mobilização vinha de trás, da Nota 47 000, de 17 de Novembro anterior, da Repartição do Serviço de Pessoal, da DSP/ME, que «nomeava para servir no ultramar, nos termos da alínea c) do artigo 20º., do Decreto-Lei nº. 49 107, de 7 de Julho de 1969», um vasto número de militares. Entre eles, e destinados ao BCAV. 8423, os 1º. cabos milicianos Monteiro, Viegas e  Neto (CCS). Esses mesmos, os da imagem de cima.
Lá fomos nós, país abaixo, por estradas bem piores que as de hoje, e a horas chegámos a Santa Margarida, onde fomos surpreendidos: afinal, a partida estava adiada por dias duas. Seria (e foi) a 29 de Maio. Muitos dos CCS´s (da partida da CCS se tratava) voltaram a casa (o Neto foi para Lisboa, salvo erro...) mas entendi eu por lá ficar os dois dias de espera, a serenar ideias e a cultivar leituras. Não quis repetir a despedida de minha mãe - que aqui ficara recém-viúva e com duas filhas recém-casadas, sozinha - em pouco mais de um ano sem o conforto e o afecto do marido e de três filhos, estes cada qual para o seu destino.
Foi há 39 anos, hoje se completam. O tempo passa, mas, estou certo, fosse eu ali perguntar-lhe se se lembrava desse dia e, do alto dos seus 92 anos, dir-me-ia ternamente que sim. Foi inesquecível para ambos!  

domingo, 26 de maio de 2013

1 681 - Cavaleiros da 1917 encontraram-se em Elvas


Os Cavaleiros da 1917 no Encontro de Elvas, a 25 de Maio de 2013

O Batalhão de Cavalaria 1917 esteve ontem reunido em Elvas, fazendo memórias e saudades dos seus tempos uíjanos. Jornadeou por Angola entre 17 de Maio de 1967 e 22 de Julho de 1969 - exactamente 5 anos antes da nossa chegada ao Quitexe.
A CCS e o comando do batalhão aquartelaram precisamente no Quitexe - onde também esteve o Pelotão de Morteiros 1064, do RI 12. Esteve a CCAV. 1705 na Fazenda Santa Isabel, a CCAV. 1706 em Zalala e a CCAV. 1707 em Aldeia Viçosa e Fazenda Liberato.
Há um pormenor, curioso e bem interessante, que vem ao caso lembrar: é que o tenente-coronel Almeida e Brito (comandante dos Cavaleiros do Norte) foi, como major, o oficial de operações do BCAV. 1917. Entre 30 de Janeiro e 17 de Dezembro de 1968.
O cerimonial de Elvas incluiu o descerramento de uma lápide no Museu local, que foi visitado durante o encontro.
As fotos e vídeo do encontro do BCAV. 1917 podem ser vistos AQUI

sábado, 25 de maio de 2013

1 680 - Vésperas do adeus, que vou para Angola...



Viegas e Rocha, na primeira foto 
de Angola, já no Quitexe,
a 6 de Junho de 1974


O dia 25 de Maio de 1974, como hoje, foi um sábado. Saíria eu de casa na madrugada de 27, a segunda-feira seguinte, para o RC4, em Santa Margarida - de onde, a meio da tarde, iríamos  para Lisboa e, daqui, voaríamos para Luanda. Saí a 27, mas o resto foi adiado para dois dias depois, a 29.

O sábado de hoje se fazem 39 anos foi tempo de despedidas e de passar pelas propriedades da família.
Dos amigos mais próximos, um a um, tive o abraço do adeus embrulhado em desejos de que tudo corresse bem pelo meu lado e que, por Angola, não demorasse muito tempo. O 25 de Abril tinha sido um mês antes e os ventos revolucionários também chegavam à minha aldeia, pela TV, comas sugestões gritadas nas manifestações de Lisboa. Nomeadamente, a de mais nenhum soldado ir para a guerra colonial. Mas fomos!
Os amigos, nas despedidas, todos me despejavam votos de sorte, muita sorte!!! Eu sentia-me seguro, sereno, tranquilo e bem preparado - física, mental e tecnicamente. Preparado para o ir e voltar.
O país, por esse tempo, vivia greves atrás de greves e, nesse dia,terminou a suspensão da emissão da Rádio Renascença. Lisboa assistiu a mais uma manifestação, do Rossio para S. Bento e daqui para a Estrela. Uma concentração, junto ao Hospital Militar Principal exigia o fim da guerra colonial. Milhares de estudantes do ensino secundário exigiam a revogação dos exames! O Partido Social-Democrata Independente (PSDI) apresentou o seu manifesto e  Mário Soares Ministro dos Negócios Estrangeiros), com Almeida Bruno e Jorge Campinos e José Neves, iniciaram a segunda ronda de negociações com a delegação da Guiné-Bissau - formada pelo comandante Pedro Pires, comissário José Araújo, comandantes Umaru Djaló e Lúcio Soares, Gil Fernandes e Júlio Soares.
A Junta de Salvação Nacional anunciou que os desertores e refractários amnistiados teriam de cumprir o serviço militar em condições iguais aos demais cidadãos.
Por Angola, Daniel Chipenda da 3ª. Região Militar do Leste e dirigente da Revolta do Leste, assinou, em nome do MPLA, um acordo de cooperação com a UNITA e a FNLA. Em Lusaca, Holden Roberto (presidente da FNLA) reuniu-se com os presidentes Kenneth Kaunda (Zâmbia) e Mobutu (Zaire) para debater a independência e futuro de Angola.
Foi neste cenário que fui, por cá, fazendo  as despedidas e recebendo incentivos e pedidos para escrever. 
«Escreve, pá!...», foi, na verdade, a sugestão mais repetida por aqueles e aquelas que, mais próximos ou mais distantes, eram gente da minha horta de amigos e de afectos. Faz hoje 39 anos, andava eu entre os 21 e os 22 (que faria em Novembro).

sexta-feira, 24 de maio de 2013

1 679 - O 1º. cabo Jorge Pires da secretaria da CCS

Miguel, João Pires e Pinho, 1º.s escriturários da CCS dos Cavaleiros do Norte

João Pires foi 1º. cabo escriturário da CCS e louvado pelo capitão António Oliveira, comandante da companhia, que lhe enfatizou a «grande eficiência e zelo» no desempenho das suas funções, «nunca se poupando a esforços para que todos os serviços de que foi encarregado estivesse prontos o mais rapidamente possível», por isso se tornando «um óptimo colaborador».
O 1º. cabo Pires era discreto - e vê-se que eficiente, no trabalho que desempenhava na secretaria da CCS, chefiada pelo 1º. sargento Luzia -, e dele tenho a ideia de ser um homem sereno, tranquilo e de elevado civismo, sem criar conflitos ou diferenças sociais entre a guarnição.
«Militar correcto e disciplinado, granjeou a estima dos seus superiores e camaradas, pelo que o considero merecedor do presente louvor», lê-se no louvor proposto pelo capitão Oliveira.
- OLIVEIRA. António Martins de Oliveira, capitão do SGE e comandante da CCS. Já falecido. Atingiu a patente de major (pelo menos) e neste posto foi o responsável,o pelo Distrito de Recrutamento Militar (DRM) de Aveiro, onde o encontrei nos anos 80 do século XX.
- PIRES. João Manuel Martins Pires, 1º. cabo escriturário da CCS. Residirá na área de Lisboa.
- MIGUEL. Miguel Soares Teixeira, 1º. cabo escriturário da CCS. Aposentado e residente na Senhora da Hora.
- JORGE. Jorge Manuel de Sousa Pinho, 1º. cabo escriturário a CCS, do Porto. Faleceu a 10 de Abril de 2003, aos 51 anos, vítima de doença.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

1 678 - O «nosso» capitão José Paulo Falcão

Furriel Reino, tenente coronel Almeida e Brito, um soldado e capitão Falcão, na ceia de 
Natal de 1974. De costas, o capitão Oliveira. O capitão Falcão, na actualidade, já tenente coronel

O comandante Almeida e Brito chegou a Luanda há precisamente 39 anos. Com o capitão Falcão e o alferes miliciano Hermida, como aqui falámos ontem. Hoje, falamos do agora tenente coronel Falcão, que foi oficial adjunto e de operações dos Cavaleiros do Norte, o Batalhão de Cavalaria 8423, que teve CCS no Quitexe.
A gentileza de sua esposa, senhora D. Maria do Carmo Gaivão, permite-nos avivar a memória, com uma imagem da ceia de Natal de 1974 - na qual se vê o então jovem capitão, na sua terceira comissão militar e a segunda em África. Já passara por terras angolanas em 1967, era o ainda mais jovem alferes. Esteve depois no longínquo Timor, nos primeiros dois anos da década de 70. E foi Cavaleiro do Norte, em 1974 e 1975!
Após a jornada africana de terras do Uíge, comandou a Polícia Militar (no Porto e em Coimbra), seguiu para Santa Margarida e foi 2º. comandante do Regimento de Cavalaria de Braga. Seguiu para  Estremoz, esteve em Lisboa e, finalmente, em Coimbra - onde reside. Passou à reserva em 1996, pois «já se sentia doente e cansado».
Maria do Carmo Gaivão - o amor da sua vida, mãe do seu casal de filhos -, confidenciou-nos que se «encontra muito doente», na sequência de vários pequenos AVC´s, sofridos nos últimos quatro anos.
Confraternizou connosco no Encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995 - na primeira vez que fizemos memória da nossa jornada africana, 20 anos depois do regresso de Angola, na Estalagem da Pateira. É desse dia a foto de ontem. Julgo que também esteve no de 1996, a 1 de Junho, quando as quatro companhias do batalhão se juntaram em Leiria.
O blogue estima a melhor saúde e o melhor de tudo para «o nosso capitão Falcão!». Agora tenente coronel aposentado e a residir em Coimbra.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

1 677 - A chegada dos primeiros Cavaleiros do Norte a Angola

Temente-coronel Almeida e Brito e capitão José Paulo Falcão, a 9 de Setembro de 
1995, em Águeda. Alferes Hermida, em foto de 1974 (em baixo) 


A 22 de Maio de 1974, hoje se completam 39 anos, chegaram a Luanda o tenente-coronel Almeida e Brito, o capitão Falcão e o alferes miliciano Hermida, respectivamente comandante, oficial adjunto e oficial de transmissões do batalhão de Cavalaria 8423. Viajaram nos TAM e anteciparam a chegada da CCS, a 30 desse mês - com dois dias de atraso.
O desembarque foi no AB9 e, logo após a sua chegada, «finalmente teve o BCAV. conhecimento do seu local  de destino», o Quitexe - que o Livro da Unidade aponta como «terra promissora de Angola, capital do café e vila-mártir de 1961». Seria no local, lê-se o mesmo livro, «onde o BCAV. 8423 iria estabelecer-se em Sector, com vista a dar consecução ao problema de paz que o MFA pretende obter».
A CCS deveria partir a 27 de  Maio, mas só embarcou a 29. As três companhias tiveram a viagem igualmente adiada por dois dias.
Almeida e Brito, em Luanda, teve diversos contactos, ora no Quartel General da RMA, ora no Comando Chefe das Forças Armadas de Angola. A 27 de Maio, em avião da Força Aérea e com o capitão Falcão, voou para a Base Aérea do Negage - onde foi recebido pelo comandante do BCAÇ. 4211 (que nós íamos substituir). Passaram pela ZMN e CSU e foram ao Quitexe, onde «os primeiros contactos, que foram muito superficiais» para o comandante Almeida e Brito, «uma vez que ali fora oficial adjunto do BCAV. 1917, em 1968».
Os futuros Cavaleiros do Norte, por cá, faziam malas e iam fazendo as despedidas. Estava muito próxima, muito próxima, a partida para Angola.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima Almeida 
e Brito, tenente-coronel e comandante do BCAV. 8423. 
Faleceu a 20 de Junho de 2003, de doença súbita, com a patente de general.
- FALCÃO. José Paulo Montenegro de Mendonça Falcão, capitão 
de cavalaria e oficial adjunto e de operações.
É tenente coronel e reside em Coimbra.
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes 
miliciano de transmissões. Engenheiro e professor aposentado, 
mora na Figueira da Foz.
- TAM. Transportes Aéreos Militares.
- MFA. Movimento das Forças Armadas.
- RMA. Região Militar de Angola.
- ZMN. Zona Militar Norte.
- CSU. Comando do Sector do Uíge.

terça-feira, 21 de maio de 2013

1 676 - As gentes da «rude escola de guerra» de Zalala...

Aquartelamento militar de Zalala, em cima. As Portas de Zalala, em baixo, com Salsicha e NN  (atrás). NN, Raposo, enfermeiro (??), Vitor Costa (furriel) e Nemo, na fila do meio. Júlio, Grilo, Zé Maria e Fernandes

As gentes de Zalala jornadearam na chamada «mais dura escola de guerra», até partirem para o quartel de Vista Alegre destacamento de Ponte do Dange, depois para o Songo e Carmona. 
A foto de cima (de menor qualidade) mostra os armazéns do café - onde se localizavam enormes e barulhentas máquinas de descascar da fazenda e, no espaço envolvente, os respectivos terreiros para a seca.
À direita, a serração desactivada e ao centro, em baixo, um outro edifício que não servia para nada - a não ser de prisão, por vezes. Estava devoluto, no tempo dos Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423. «Quem não conheceu Zalala, até pode pensar que tínhamos um grande aquartelamento, mas nós, a 1ª. Companhia, só o  espaço da parte superior, dentro do espaço vedado a arame farpado», recorda o (ex-furriel) Rodrigues, sublinhando que «esta foto significa muito para mim».
«Faz-me recordar todo o tempo de Zalala, a baixa do Mungage e os outros locais envolventes, de que só  tenho «retratos» em memória e, por isso, não posso partilhar-lhos», concluiu o Rodrigues.
A foto de baixo mostra um grupo, nas chamadas Portas de Zalala. Quem pode ajudar a identificar o pessoal?

segunda-feira, 20 de maio de 2013

1 675 - O sacrifício do pequeno efectivo militar de Carmona

Rua do Bairro da Piscina (em cima), em Carmona, e quartel 
do BC12, onde esteve o BCAV. 8423, de 2 de Março a 4 de Agosto de 1975

O patrulhamento dos centros urbanos era permanente, por estes tempos de Maio de 1975. A cidade de Carmona, a toda a hora, era «batida» pelos velhos unimogs, com militares de Portugal e das forças mistas. Carmona, a cidade (actual Uíge) era o pólo de atenção, noite e dia, o que «sacrificava o pequeno efectivo existente».
Mas exigente se tornou quando foi necessário estender os patrulhamentos aos principais itinerários.O objectivo era claro: «salvaguardar a liberdade de circulação», periclitada pela acção extemporânea da grupos armados. «As NT colaboraram nessas «barreiras», com vista a salvaguardarem a sua liberdade», anota o Livro da Unidade.
Registaram-se variados incidentes, entre esses grupos armados e minimanente organizados, com adequada intervenção militar. Os Cavaleiros do Norte eram «a única autoridade militar constituída» e, intervindo e pacificando as situações geradas neste cenário de imprevistos, mais não fazia que assumir «a razão de estar na zona de acção».

domingo, 19 de maio de 2013

1 674 - Os meados do mês de Maio de 1975

O major Melo Antunes, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, afirmou em Lisboa, a 16 de Maio de 1975, que «o destino de Portugal está ligado a Angola», como se lê em título principal da primeira página do jornal «Diário de Lisboa», dessa data.
A mesma capa, dava conta de realização de uma manifestação a favor do MPLA, marcada para as 18,30 horas, e de que «30 000 portugueses pretendem sair de Angola». Viriam a ser muitos mais, como se sabe. Falou-se, ao tempo, de 500 000, na célebre ponte aérea. 
A 14 de Maio, dois dias antes, tinha chegado a Lisboa uma vaga de refugiados, por causa da agudização dos conflitos armados, entre os movimentos de libertação
A 17 de Maio de 1975, em Luanda, o alto comissário Silva Cardoso (general) acusou os partidos - MPLA, FNLA e UNITA - de «sobreporem os interesses partidários ao interesse maior de Angola», também denunciava «a imaturidade de certos responsáveis políticos e militares» e , com a  boca no trombone, alertava para «a corrida às armas» e para «a interferência de forças estranhas» ao processo de descolonização, como razões para a situação que por lá se vivia.
Por Carmona, os Cavaleiros do Norte «amargavam» as consequências de o Uíge «a bem ou a mal, ser terra da FNLA» e, por isso, «não ser bem aceite no seu solo qualquer outra opção política».
Aproximavam-se dos dramáticos primeiros dia de Junho.


sábado, 18 de maio de 2013

1 673 - O 1º. cabo Soares do PELREC


O 1º. cabo Soares, assinalado a amarelo, em 1974. Messejana, Dionísio, Soares, Florêncio e Silvestre (em cima), Vicente, Viegas, Francisco e Leal. Soares, a 17 de Maio de 1975 (em baixo)  


O 1º. cabo Soares era de reconhecimento e informação e «alinhou» como atirador, no PELREC da CCS do BCAV. 8423, no Quitexe e Carmona. É um dos Cavaleiros do Norte que procurávamos, desde que, em 1996, nos achámos de saudades, no encontro de Leiria. Ajudou-nos o Nogueira da Costa, que foi condutor do Liberato e se deu à missão de o procurar. E encontrou.
O Soares vive no Laranjeiro, na banda de lá do Tejo, e fez vida como serralheiro da SOREFAME. Antecipou a reforma há 3 anos, por razões de saúde. «Problemas do coração», disse-nos ontem, quando o Nogueira da Costa nos pôs de ouvidos ao telemóvel. Não podia trabalhar e fez «o que tinha de ser feito», embora o que mais desejasse fosse «continuar no serviço».
A vida foi-lhe madrasta, nesse ano de 2010. A mulher de toda a sua vida faleceu em vésperas de Natal, no da 23, vítima de doença. «Uma hepatite e perdia-a...», contou o Soares, que senti emocionado, pelo luto que sente na alma e pela mistura de sentimentos feita no momento, com a surpresa de «falar com o furriel»: «Ó Viegas, pá..., ó Viegas, bons tempos do Quitexe..., o Quitexe!!!».
O Nogueira da Costa pô-lo a ver o blogue e «perderam-se» na tarde, a «matar» saudades da jornada africana. «Eh pá, aquela malta toda, conheço-os todos. É porreiro estar a ver estas coisas...», disse o Soares, ao fim da tarde. 
Tem um filho (único), de 37 anos, que trabalha na área da restauração e, de momento, está  em França. «A crise também a ele obrigou a emigrar», disse o Soares, com visível desalento, a despedir-se ontem, com a pressa de «ir fazer a sopa», pois, como fez questão de sublinhar, «um homem tem de se desenrascar». Então, desenrasca-te, ó Soares. E força, Cavaleiro do Norte!!!
- SOARES. Fernando Manuel Soares, 1º. cabo de Reconhecimento e Informação, atirador do PELREC. Aposentado, vive no Laranjeiro (Almada). Ver AQUI
- NOGUEIRA DA COSTA. João Luís Nogueira da Costa, soldado condutor da CCAÇ. 209/RI 21, da incorporação local, aquartelada na Fazenda do Liberato. Natural de Leiria e residente em Tomar. Obrigado pela colaboração, Nogueira da Costa.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

1 672 - O encontro dos Caçadores da 3879 do Quitexe


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ANTÓNIO CASAL DA FONSECA

O tempo parece correr depressa e aproxima-se o dia do almoço/convívio da CCS do Bat. Caç. 3879, os Rápidos e Audaze, que, por terras quitexanas e ambrizetanas, cumpriram escrupulosamente a sua missão, sempre com grande espírito patriótico. Espírito que, aliado a uma amizade que rapidamente se alicerçou, muito contribuiu para que se conseguisse ultrapassar com sucesso a dura luta com que fomos confrontados. Sem a preparação adequada, devo dizer, face ao cenário exigente, mas que o espírito de entreajuda e respeito entre patentes, tudo superou. São valores que hoje realçamos nos nossos encontros, que nos uniu até aos dias de hoje e, ocorre-me dizer, até nos envaidece! Bom, ter vaidade nos amigos não é defeito!
Sendo este blogue visto por camaradas d’armas que se têm “distraído” e não comparecido aos convívios, e sabendo eu que têm o meu contacto, podem ligar-me a qualquer hora (do dia), apesar de não pertencer à organização. Esta, está a cargo do Leonardo, que foi 1º. cabo rádio-montador, e do Torres, também 1º. cabo, o homem que tomava conta do armamento e fez a comissão quase sem dar por ela!
Ambos eram dados à culinária, principalmente o Leonardo. Das suas mãos saíam autênticos pitéus, com base na carne de frango que, vá lá saber-se como e porquê, em vida entravam em fila indiana no pátio dos valorosos militares! Que dividiam com as visitas femininas, no quarto e em estreita intimidade, num esforço heróico de aproximação à população negra, que merecia ter sido louvado. Não ficou o reconhecimento, ficaram os actos!
O esperado almoço/convívio será realizado na Malaposta, no dia 25 de Maio de 2013, no restaurante Casa de Sargento, antigo Restaurante O Zé, junto às bombas da BP, na Estrada Nacional Nº.1.
O ponto de encontro será junto à Rotunda da Vinha, na Mealhada, de onde se partirá para uma visita guiada às Caves Messias.
Os contactos são 231503009, 967059905 e 966163944.
Todos sabemos que os tempos são troikanos, como fez questão de frisar o Oliveira, que me despertou do sono dos justos, mas não o são os nossos convívios, embora os possa limitar. Bem no centro do país, na Mealhada, estão o Leonardo e o Torres de braços abertos e o sorriso que todos lhes conhecemos, prontos para receber os amigos e familiares. Será um grande dia, disso estou certo!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
1º. cabo de transmissões da CCS do BCAÇ. 3879

quinta-feira, 16 de maio de 2013

1 671 - O adeus ao alferes miliciano Meneses

Meneses, foi o alferes miliciano Cavaleiro do Norte que, a 13 de Abril de 1975, corajosamente, «actuou de forma rápida, decidida e enérgica», pondo termo a uma manifestação não autorizada em Carmona, «onde se verificou confronto entre elementos de dois movimentos emancipalistas, com uso de armas de fogo, na via público».
O determinação do pequeno núcleo de tropas que comandava «não deixou dúvidas», conseguiu «a detenção de dois dos elementos em confronto» e abortou a manifestação. Por tal, foi louvado, em  ordem de serviço (nº. 90).
Voltou a Portugal e às Cortes, em Leiria - onde laborou e fez vida na área das carnes, com dois talhos e uma empresa de embalagens (a Nova Funcar). A saúde abalou-o, ultimamente - assim nos disse da ultima vez que falámos. Com problemas pancreáticos, os médicos optaram por não efectuar qualquer cirurgia. Sabendo-se doente, por duas vezes «convocou» os amigos para a despedida. 
Ultimamente, dirigia os negócios a partir do interior da viatura, junto às áreas comercias de que era proprietário. «Foram tempos muito penosos, dizem os amigos», relatou-nos António Casal da Fonseca, por lá vizinho (de Marrazes).
Faleceu ontem, aos 60 anos, deixando viúva Cidalina Maria Pedrosa dos Reis Alves e 4 filhos: Cláudia Sofia, Ana Patrícia, Catarina Alexandra e António Manuel. O funeral foi hoje, às 17.30 horas, para o cemitério de Cortes, em Leiria.
Até um destes dias, Meneses.
- MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes 
miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Empresário do sector das carnes, em Cortes (Leiria).

quarta-feira, 15 de maio de 2013

1 670 - A morte do (ex-alferes miliciano) Meneses...


O (ex-alferes) Meneses faleceu hoje, às 11,30 horas, no Hospital de Leiria. 
O Manelzito, como era carinhosamente tratado pelos amigos, sentiu-se mal e foi encaminhado para o hospital, onde veio a falecer horas depois.“Deve ter feito das boas, lá por Angola…faço ideia!”, dizia um amigo, visivelmente emocionado e "brincando" com o espírito sempre rebelde do Meneses, mas sempre realçando a sua capacidade  empreendedora e a de um homem que fazia muitos amigos, nunca os dispensando da sua vida. 
A notícia chega-nos via António Casal da Fonseca, dando conta que o Meneses, ao saber que a sua doença não seria fácil, organizou um jantar de despedida, com um grupo de amigos. Jantar que, muitos meses depois, viria a repetir - quando as coisas se tornaram a complicar.
O Meneses, alferes miliciano da 2ª. CCAV. 8423, foi louvado, devido à sua corajosa  intervenção durante incidentes em Carmona - ver AQUI e também AQUI. Em Leiria, na cidade, ficou célebre quando descarregou uma vaca na avenida principal e tentou entrar com ela no café mais “in” e badalado. 
“Não me podem impedir… A minha vaca de quatro patas tem tanto direito a entrar no café como as de duas que lá estão a encher o salão!”, argumentou ele. 
«Era assim o Meneses, de quem muito se falava e fala. Partiu, é a vida!...», recorda António Fonseca.
O funeral, amanhã (dia 16 de Maio), às 17 horas, terá  missa de corpo presente, na igreja das Cortes, de onde sairá para o cemitério local. 
Até um destes dias, amigo!

terça-feira, 14 de maio de 2013

1 669 - Turismo militar, às Quedas de Duque de Bragança...

Alferes João Machado na entrada das Quedas do Duque de Bragança. 
As majestáticas quedas, em cima, foto dele próprio

Os dias de Maio de 1975 iam levedando as nossas esperanças de voltar a Lisboa. Lá por Carmona, a capital do Uíge!! «Pareceria que o fim tácito de vários anos de guerra traria como consequência situações de acalmia em todo o território», admitia o Livro da Unidade.
Operações militares, tinham acabado. A rotina dos operacionais passava pelos serviços de ordem, nos aquartelamentos; pela garantia de segurança no tráfego rodoviário (desimpedindo troços onde, algumas vezes, se assaltava e roubava, agredia e ameaçavam pessoas, se destruíam bens e se despejavam ódios mal  curados), pelos patrulhamentos na cidade e, no meu caso, também de serviços de PU.
O tempo era também de turismo... militar.
As unidades do BCAV. 8423 organizavam excursões em berliets e o destino mais desejado e procurado eram as majestáticas Quedas do Duque de Bragança. Também por la cirandei passeios, ainda jornadeava pelo Quitexe. 
O (ex-alferes) Machado e a sua gente dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, também por lá vadiaram passeios turísticos, neles afogando as saudades da família, das namoradas, das mulheres e dos amigos, dos seus chãos natais. Aqui o vemos, em data indeterminada e em pose hollyoodesca, aperaltado e mostrando-se junto à placa da entrada de Duque de Bragança. A foto de cima (a das Quedas) é de sua autoria.
Assim iam os dias da jornada uíjana dos Cavaleiros do Norte, pelos tempos de Maio de 1975.
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). Aposentado da administração fiscal, mora na Amadora.
- PU. Polícia da Unidade (a tradicional PM, Polícia  Militar).

segunda-feira, 13 de maio de 2013

1 668 - Os refugiados de Carmona para Luanda...

O capitão Falcão, com um oficial do BCAV. 8423, de costas, na varanda do BC12 para a parada. Vê-se um autocarro que iria transportar refugiados para Luanda. Em baixo, o alferes Ramos, em Luanda (1975)



 Voltamos hoje ao alferes Fernando Ramos, que se fez Cavaleiro do Norte em Maio de 1975 - quando se apresentou na 2ª. CCAV. 8423, a que era de Aldeia Viçosa e ao tempo já se aquartelava em Carmona.
«Dei uma vista de olhos pelo blogue e vejo, recordo, que foi a 1 de Junho de 1975, que acordei na messe de oficiais de Carmona com a guerra fratricida dos beligerantes locais», diz o agora advogado em Vila Nova de Foz Côa.
A imagem de cima (que ele nos enviou) mostra um momento de saída de civis (dos que se refugiaram no BC12) e iam para Luanda, depois desses amargos e épicos dias carmonianos.
«Lembro-me de, como oficial-dia, passar o dia todo no refeitório, porque quando acabava o pequeno almoço da última vaga de refugiados, já estava na hora de servir o almoço das tropas e, assim, sucessivamente até à noite», recorda Fernando Ramos.
Assim era e a memória não falha se recordar que, ao tempo, a padaria esteve uma semana consecutiva a fabricar pão, tanta eram as bocas para matar a fome. Milhares!!!
O Almeida, 1º. cabo atirador do meu pelotão, «notabilizou-se» então, como encarregado da padaria, sendo por isso louvado. «Foi especialmente notório o seu esforço durante os dias em que foi prestado serviço aos refugiados dos incidentes de Carmona, trabalhando dia e noite, para apoiarão elevado número de pessoas», lê-se no louvor.
- FALCÃO. José Paulo Montenegro Mendonça Falcão, capitão e oficial de operações do BCAV. 8423. (Tenente)Coronel na reserva, residente em Coimbra. 
- RAMOS. Fernando António Morgados Ramos, alferes miliciano atirador de infantaria. É advogado e residente em Vila Nova de Foz Côa.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador de cavalaria, do PELREC (CCS). Faleceu, de doença, a 28 de Fevereiro de 2009, em Penamacor, de onde era natural e residente.

domingo, 12 de maio de 2013

1 667 - O pulso falso do furriel Costa, que era do Dias...



O Dias teve um acidente e fracturou um pulso (foto de cima). Mas foi o Costa (em baixo) a mandar a foto para Portugal, com o pulso do Dias. O caso só foi esclarecido 38 anos depois. Há poucos dias...


Aí por 12 ou 13 de Maio de 1975, no Songo - far-se-ão 38 anos, hoje ou amanhã... -, o Dias das transmissões, quis sair pela parte lateral à cancela da entrada do aquartelamento mas, desconhecendo que o capim escondia arame, deu um bruto de um trambolhão, que lhe provocou uma fractura de um dos ossos do pulso esquerdo. 
O enfermeiro Barreto, atento e pressuroso, logo o assistiu no quartel, mas no dia seguinte teve de ir ao hospital de  Carmona, onde lhe imobilizaram o braço.  
A fotografia de cima mostra o Dias, no local do «crime» - do acidente, melhor dizendo.... -, uma semana depois.
A história é esta, igual a muitas outras. Estava para vir a outra - a que envolve o Costa.
O Costa, numa daquelas brincadeiras da idade e da época, resolveu tirar uma fotografia com o braço do... Dias. É a que se vê aqui ao lado. 
«Tratou-se de um arranjo, na tomada de vistas, porque na altura desconhecíamos  as técnicas laboratoriais de manipulação  fotográfica e de fotografia digital nem sequer se falava», recorda o Dias.
O certo é que o Costa, por brincadeira que se viria a tornar complicada, enviou a fotografia aos pais « e teve, depois, dificuldade em convencê-los de que o braço não era o dele.  E não convenceu!!!
A dúvida só foi esclarecida na semana passada, 38 anos depois!!!, quando o Dias se encontrou com o Costa, em Odivelas, e o «caso» foi lembrado. «Conheci a mãe do Costa, a sra. D. Blandina, foi recordada a história e confirmado o episódio e, de uma vez por todas, confirmada a realidade», disse o Dias.
- DIAS. João Custódio Dias, furriel miliciano de transmissões, da 1ª. CAV. 8423, a de Zalala. Aposentado da Polícia Judiciária, vive em Tomar.
- COSTA. Vitor Moreira Gomes da Costa, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Pré-refomado, vive em Queluz. Ver AQUI











sábado, 11 de maio de 2013

1 666 - A 4741 que não foi «caçadora" dos Cavaleiros do Norte

Companhia de Caçadores 4741 na despedida dos Açores

A Companhia de Caçadores 4741/72 esteve em Angola, mas não esteve «adida» ao BCAV. 8423, contrariamente ao que referimos no post de 13 de Março. O ex-furriel Carlos Marques (assinalado na foto, a amarelo), fez questão de nos esclarecer o que confirmámos: os «caçadores» açorianos estiveram em Angola de 1972 a 1974, logo não poderiam passar à dependência operacional do BCAV. 8423 a 17 de Março de 1975. 
Outra companhia açoriana foi, seguramente, mas falta saber exactamente qual - o que não conseguimos descobrir. Chegou a conviver connosco, no BC12 (Carmona, agora Uíge) e regressou a Portugal antes de nós.
O Livro da Unidade (dos Cavaleiros do Norte) refere-se à CCAÇ. 47/41, aquartelada no Negage, exactamente nas páginas 20 e 22. Na primeira, citando a passagem à dependência operacional. Na segunda, anotando duas visitas do comandante Almeida e Brito, nos dias 11 e 20 de Abril de 1975, à mesma 4741.
A página 26 dá conta do «pedido das armas da CCAÇ. 4741», pela FNLA, a 13 de Julho - dia do «cerco do quartel das NT no Negage».
Que Companhia de Caçadores seria esta? Pois, não conseguimos desfazer o mistério.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

1 665 - Levar vinho para beber no restaurante...

Os últimos Dias de Carmona forma vividos grávidos de críticas da comunidade branca, que não entendia - ou não queria entender... -, o papel de neutralidade que, ao tempo, era atribuído às forças armadas portuguesas. Eram frequentes as quezílias e os dedos apontados, os insultos, o descrédito lançado sobre a tropa.
Os patrulhamentos (mistos) na cidade eram muitas vezes verbalmente agredidos, ora nos de dia, ora nos nocturnos - principalmente nestes. A guarnição, cumprindo as suas tarefas diárias nas unidades, garantindo a  segurança do tráfego rodoviário, protegendo a população dos incidentes que repetiam entre a FNLA (a «dona da guerra» do Uíge) e o MPLA, era, porém, invectivada por muita boa gente.
Mas seguia os seus dias para além dos deveres militares, povoando a cidade, os bares e os restaurantes, fazendo despedidas. A imagem, tirada e cedida pelo ex-alferes miliciano Machado, mostra-nos um momento de lazer gastronómico, no conhecido restaurante Escape - muito em moda, por lá! 
Aqui , do lado direito, conhecem-se o alferes Garcia, o capitão Fernandes e os alferes Ramos, Capela e Carvalho (ao fundo). Do lado esquerdo, apenas se vê uma cara, supostamente a do alferes Meneses, da 2ª. CCAV. 8423. Será?
O Machado diz que «estava no Comando do Sector Norte» e que «era um sujeito impecável», aliás, sublinha, «como fomos todos». 
A imagem é dos nossos últimos dias de Carmona, no restaurante Escape. «Para beber vinho, tínhamos de o levar, porque lá já não havia», lembra o antigo oficial miliciano.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

1 664 - Encontros de Artilheiros e Cavaleiros do Quitexe


CCS do BART. 786  (em cima) e BCAV. 1917 (em baixo) nos seu encontros de 2012

A CCS do Batalhão de Artilharia 786, que nos antecedeu no Quitexe, vai reunir-se em Anadia, a 8 de Junho. Por lá esteve entre 1965 e 1967, por certo em tempos mais conturbados que os dos Cavaleiros do Norte.
A organização é de João Alexandre S. Lopes e pode ser contactado pelo telefone 917 512 475. «Mais uma vez,  iremos matar saudades e recordar bons e também maus momentos passados no Quitexe», disse José António Lapa, um dos artilheiros que tem lugar certo no encontro do Restaurante Nova Casa dos Leitões, no Peneireiro, de Aguim - entre Anadia e Mealhada, em plena (antiga) EN1, o actual IC2.
Dias antes, já a 25 de Maio, é a vez dos Cavaleiros do BCAV. 1917 formarem na «parada» de Elvas, no seu 21º. Encontro.
Estiveram no Quitexe entre 1967 e 1969 e os contactos poderão ser feitos directamente com (o ex-alferes miliciano) Escarduça Ventura, pelos telefones 268985642 e 966423642.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

1 663 - O alferes Ramos da 2ª. Companhia do BCAV. 8423


ALFERES RAMOS, da 2ª. CCAV. 8423, apresentou-se em Carmona, na 2ª. CCAV. 8423, em Maio de 1975, há 38 anos!
É advogado em Vila Nova de Foz Coa.


Alferes Ramos, quem é?  Quem foi? O Livro da Unidade dá-nos conta que se apresentou na 2ª.CCAV. 8423, em Maio de 1975, há 38 anos, já no BC12, em Carmona. Apresentou-se, sabemos agora e de boca própria, depois de «uma tropa muito repartida», que, em companhia independente, o fez jornadear pelo Luvo, por Mamarosa e Damba. E Luanda, onde integrou as Tropas Mistas. 
Quem é, quem não é?, pois descobrimos o (ex)alferes Ramos, na sua histórica Foz Coa, onde advoga e foi surpreendido pelo blogue: «Gostei da surpresa, de falar com alguém da minha tropa. Não me lembro de ter falado com alguém desses tempos».
A jornada angolana do (ex)alferes Ramos foi, ele nos disse, «muito repartida, numa companhia independente, em jeito de carro-vassoura, entregando as terras aos seus donos, desde lá de cima, na fronteira com o Congo».
Um castigo, em Luanda, «tão guerreiro como castrense», pô-lo de mala feita e guia de marcha, no machimbombo e direitinho para Carmona, em Maio de 1975!
Dava-se o caso de por lá ter afinidades familiares e até calhou bem. Mas por lá esteve pouco tempo: «Em Julho, vim de férias para Luanda e já não voltei, ficando com recordações fortes de Carmona e do BC12». E não sem deixar marcas escritas no jornal comemorativo do 1º. aniversário do BCAV. 8423.
- RAMOS. Fernando António Morgado Ramos, alferes miliciano atirador de infantaria, da 2ª. CCAV. 8423. Advogado em Vila Nova de Foz Coa, onde reside e é membro da assembleia geral dos Bombeiros Voluntários.
-MACHIMBOMBO. Autocarro, em Angola.