CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

1 953 - O dia dos 23 anos do Francisco Neto

Viegas e Neto, dois furriéis milicianos no jardim do Quitexe. 
O edifício do que foi o restaurante Pacheco, mesmo em frente à CCS




Há 39 anos, o Francisco Neto fez 23!!!! Alapámo-nos no Pacheco e vai de devorar uns belos camarões, regados a cucas, ou n´golas ou ekas, ou nocais (varreu-se-me a memória), com sobremesa de bife com batatas fritas e ovo a cavalo. Era moda e sabia bem!! 
A Maria do Lázaro, senhora fortalhaça, de meia cor e mulher do Pacheco, tinha mãos de luxo para os pitéus e é muito provável que, sabendo ela a razão da panqueca, nos tenha presenteado com alguma especialidade culinária, condimentada de sabores africanas. Foi isto em 28 de Fevereiro de 1975, na uíjana e saudosa vila do Quitexe.
Um ano depois, feliz da vida, acasamentou-se de amores com a Eunice (a Ni), selando no altar da capela do Beco um amor que se tinha multiplicado pelo tempo de 15 meses da nossa jornada africana do Uíge angolano.
Hoje, hoje mesmo (dia destes anos todos), o Neto andou lá pela vida dele e temos almoçarada marcada para 4ª.-feira, o dia mais próximo que as nossas agendas conciliam. Não vai faltar tropa na sobremesa!
Andávamos lá nós pelo Quitexe, em festa natal e preparando malas para Carmona e, em Portugal, aumentava o preço da bica. Para 25 tostões!!! Ou 3$50, se fosse na esplanada. Uma escandaleira. Já imaginaram???!!! 0,0125 euros!!!! Sandes, torradas e bolos, passaram a preços livres. As sandes tinham de ter pelo menos 30 gramas de queijo ou fiambre. Ou 40 a 50, os croisssants, bolos de arroz, caracóis, este tipo de pastelaria.
Outra novidade, era a hora do fecho das tabernas: às 11,30 horas da noite. A multa, pesava: dois contos! Seriam dez euros, agora!

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

1 952 - A CCS de malas aviadas, para a cidade de Carmona

Um grupo de Cavaleiros do Norte da CCS, essencialmente sapadores e do parque-auto. Reconhecem-se o alferes Ribeiro (de braços cruzados, ao meio) e o furriel Pires (ao seu lado). O furriel Mosteias é o quarto a contar da direita, em baixo. E o Carpinteiro à frente dele, apoiado nas mãos. O Grácio é o quinto, atrás, da esquerda. O sétinmo é o Messejana. À frente do Grácio, está o Florindo. Quem ajuda a identificar os outros?

O fim de Fevereiro de 1975 acelerou  o «fazer de malas» dos Cavaleiros do Norte da CCS. Lá íamos nós para Carmona, para o BC12, em mais uma etapa da nossa viagem de regresso a Lisboa. Para trás, ia ficar a vila quitexana, onde chegáramos a 6 de Junho de 1974. De onde iríamos sair a 2 de Março.
O mês foi de alguma acção disciplinar - que Almeida e Brito, o comandante, não era homem de muitas tolerâncias, nesse capítulo. Da CCS, um soldado apanhou 10 dias de detenção. A 2ª. CCAV. registou três castigos: 15, 10 e 5 dias de prisão disciplinar, para outros tantos militares. O de 5, agravada para 10. A 3ª. CCAV. com um castigo: 15 dias de prisão disciplinar, depois agravada para 20, na ordem de serviço 67 da RMA.
Andávamos nós por lá e nestas calmas, mas, a partir do Lobito, o MPLA denunciava que «os inimigos do povo fomentam as greves», alegadamente provocadas por elementos ligados à UNITA, numa «manobra «divisionista, destinada a criar o caos».
O porto do Lobito tinha sido palco de vários incidentes e o MPLA, em comunicado de faz hoje 39 anos, interrogava-se: «Quem está interessado em fomentar as greves?». Apelava à «vigilância dos trabalhadores contra as manipulações dos inimigos do povo» e acrescentava que «fomentar uma greve, parar as actividades do porto, é trair os interesses dos trabalhadores». Quem diria?! 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

1 951 - O dia em que soubemos que íamos para o Quitexe

O BC12, em Carmona, visto do lado do Songo.
O comandante Almeida e Brito (em baixo)


O dia 26 de Fevereiro de 1975, há precisamente 39 anos!, foi o dia, o dia preciso em que soubemos que íamos para Carmona, para a cidade, para o BC12. Foi um alívio e uma decepção! Por um lado, era mais uma etapa da nossa jornada africana: íamos sair do Quitexe! Por outro, Luanda era o destino mais desejado por alguns de nós. Estava mais perto de Lisboa e de nossas casas!    
A notícia chegou de chofre, levada ao PELREC pelo alferes Garcia: «Sempre vamos para Carmona», contou ele, chamando-me de lado, e ao Neto. «No dia 2!...», acrescentou. Dia 2 de Março, entenda-se. dali a 4 dias! 
O BC12 estava em extinção e era preciso ocupá-lo e continuar a garantir a soberania portuguesa e a evolução do processo de descolonização acertado no Alvor! Era necessário defender pessoas e bens, das ameaças que pairavam no ar, sobre o futuro próximo.
Uma missão, sublinho eu, que nunca foi bem entendida - ora pelos movimentos de libertação, ora pelo povo uíjano. Particularmente, pelo europeu!!!
A mudança, no entanto - e mesmo com as diferenças acima sublinhadas - «foi do agrado geral, para a maioria dos militares», como se lê no Livro da Unidade. Porém, «trazendo, contudo, a responsabilidade de uam zona de intensa politização dos movimentos emancipalistas». Frisava o comandante Almeida e Brito que tal politização «forçosamente virá a trazer-nos responsabilidades, honrosas por um lado, mas extremamente difíceis e complexas, por outro». 
Assim seria, como se soube no futuro!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

1 950 - Reuniões na Zona Militar Norte...


A Homens de Zalala, em momento de boa disposição.
Foto enviada pelo Idalmiro Vargas, o Açoreano

A 25 de Fevereiro de 1975, foi o comandante Almeida e Brito de novo a Carmona, reunindo no comando da ZMN, para «ultimar aspectos da rendição do BC12». Sabemos isso agora, não ao tempo. Em tempo real! A mesma razão já lá o levara a 19 e 20, depois a 26, 27 e 28 do mesmo mês.
Um ano antes, em Lisboa, reuniu a Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas, em casa de Otelo saraiva de Carvalho, com os majores Melo Antunes e José Maria de Azevedo, capitães Vasco Lourenço, Sousa e Castro, Rui Rodrigues. Salgueiro Maia, Heitor Alves, Trigo (CIOE), Silva Ponto, Bação Lemos e Avelar de Sousa (todos pára-quedistas), Balacó e Seabra (ambos da Força Aérea) e Ruivo de Oliveira, mais o tenente-coronel Costa Braz.
O objectivo, sabe-se agora, era analisar documentos da Comissão de Redacção, decidindo-se «auscultar os oficiais envolvidos no movimento» sobre as principais questões.
- FOTO. Alguém pode ajudar a 
identificar os Cavaleiros do 
Norte de Zalala que estão na foto?

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

1 949 - Fazendas, povos e mortos em Angola

Alferes Carlos Silva e Jaime Ribeiro, capitão José Paulo Fernandes, comandante Almeida e Brito, dois civis e o alferes Rodrigues, em Santa Isabel, fazenda onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423)




Há 40 anos, estávamos em Fevereiro de 1974 e os praças e quadros milicianos dos futuros Cavaleiros do Norte entraram de férias, depois da Escola de Recrutas e antes da chegada dos especialistas - que se começaram a apresentar a partir de 4 de Março. Isto, a partir do Regimento de Cavalaria nº. 4, em Santa Margarida.
Um ano depois, no Uíge,  faziam-se «muitas visitas a fazendas e povos», o que, lê-se no Livro da Unidade, «levava a percorrer a rede estradal à nossa responsabilidade, com elevada frequência». A imagem é de uma dessas viagens - embora de data anterior a Dezembro de 1974. Foi-nos enviada pelo 1º. sargento Louro, filho do malogrado José Adriano Louro (1º. cabo sapador, já falecido, a 23 de Julho de 2008).
Angola, entretanto e por esse tempo de 1975, «fervia» em sangue e um garrafal título do Diário de Lisboa (foto), de faz hoje precisamente 39 anos, dava conta de «mais mortos em Angola». O despacho era da véspera, do seu correspondente em Luanda, e falava de incidentes em Salazar (N´Datalando), onde o MPLA atacou a delegação da FNLA, aos gritos «abaixo a FNLA imperialista», e disparou sobre os seus membros, fazendo dois mortos civis - um negro e um branco -, para além de vários feridos. Em Nova Lisboa, combates entre MPLA e elementos da Facção Chipenda fizeram um morto.
Agostinho Neto, em Luanda, considerava que a Facção Chipenda (agora integrada na FNLA), por ele rotulada de «forças imperialistas», afinal, «não eram o resultado de uma revolta, e muito menos constitui uma dissidência no seio do MPLA», mas tão só «um corpo estranho, imposto pelo imperialismo, no seio do movimento, para criar confusão política e praticar actos de diversão militar».
«O pedido de protecção à FNLA vem confirmar e clarificar a actuação deste agente imperialista, no seio e contra o MPLA», disse Agostinho Neto
O porto de Luanda estava em greve. Os trabalhadores tinham apresentado um caderno reivindicativo, a 21 de Janeiro e expectava-se, há 39 anos, um acordo entre o Governo de Transição e os sindicatos.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

1 948 - Cavaleiros do Norte em Carmona ou em Luanda?

Alferes Ribeiro, Garcia e Almeida, em frente à Igreja do Quietexe. À esquerda, a caserna do PELREC, seguida da dos sapadores. Do mesmo lado, a sede do Batalhão (edifício branco).À direita, a xitaca e a cobertura de parte da Casa dos Furriéis. Em baixo, o Tomás à saída de Carmona para o Quitexe




Os dias de Fevereiro de 1975 caminhavam para o fim, já íamos a 23 e nada de se saber notícias rigorosas sobre a nossa saída do Quitexe. Ao tempo, aliás - vale a pena lembrar... -, nem certeza havia sobre a nossa ida para Carmona e para o BC12. O Batalhão de Cavalaria 8423, na verdade, era «pretendido pela RMA e solicitado pela ZMN», pelo que, e cito o Livro da Unidade, «manteve-se a expectativa de vir a ter responsabilidades de actuação em Luanda ou em Carmona».
Eram os «nossos" alferes Garcia (principalmente), Ribeiro e Almeida quem nos iam contando algumas novidades sobre este «vai-não-vai», para aqui ou ali. 
O 23 de Fevereiro de 1975 era domingo, como hoje, e, para mim, dia de chegada de jornais de Águeda. Ia o Tomaz a Carmona, ao SPM, lá vinha o correio e, depois de passar pela secretaria do Comando, era distribuído ao pessoal. As noticias de Águeda não eram simpáticas: a FRIPORTUS, a primeira empresa portuguesa a fabricar frigoríficos, paralisava e 80 operários estavam sem salários. Foram, para a estrada (a EN1, mesmo em frente) e, com cartazes, pediam apoio aos automobilistas. Não tinham recebido o mês de Janeiro.
Eram empresários e trabalhadores nossos conhecidos (meus e do Francisco Neto) e lembro que o caso foi tema de farta conversa no bar e messe de sargentos, da situação se presumindo coisas menos boas para o futuro próximo do país. Um ano, quase, depois de Abril, entre as dúvidas de Angola e as notícias de Portugal, dividiam-se as esperanças no melhor que todos queríamos, para todos!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

1 947 - Final da recruta e Chipenda na FNLA


Letras (2ª. CCAV.), Louro e Vitor Costa (1ª) e Brejo (2ª.) no bar de sargentos do RC4, há 
40 anos, tempo de recruta dos Cavaleiros do Norte. Em baixo, por onde andámos na semana de campo

Há 40 anos, hoje se completam, terminaram os exercícios finais da Escola de Recrutas do Batalhão de Cavalaria 8423. Vejam lá como tempo voa! Éramos jovens, saudáveis, esperançosos e somos sexigenários, com as dores e impertinências da idade e com alguns de nós já idos para o além! A Escola de Recrutas dividiu-se entre o Destacamento do RC4, onde se aquartelavam os praças, e a Mata do Soares, galgando-se pelas fronteiras de Malpique, Portela  e Vale do Mestre, S. Miguel de Rio Torto (já de Abrantes). Por lá andámos e por lá ajudámos a formar os jovens mancebos que, como nós, já esavam mobilizados para Angola.
O Batalhão de Cavalaria 8423 «completou, deste modo, a primeira parte da sua instrução, a chamada instrução operacional», lê-se no Livro da Unidade.
Um ano depois, já nós aquartelávamos no Quitexe, em vésperas da mudança para Carmona, Daniel Chipenda anunciou em Kinshasa que os homens da sua Facção se iriam agrupar na FNLA. Seriam 3000, armados, que continuavam sob ordens dos seus oficiais, masn passavam, todavia, a estar «sob o alto-comando do Estado-Maior General da FNLA».
O MPLA (que oficialmente tinha expulso Chipenda) reagiu com um comunicado, dando conta que «renderam-se ao Estado Maior da Frente Leste, no passado dia 16, os comandantes Luehele, Katchukuchucu, Ácido e Muhongo Nabanca, que até sta data se encontravam integrados nas tropas imperialistas de Daniel Chipenda»
As rendições teriam ocorrido na área de Cazombo e sucediam-se, dizia o comunicado do MPLA, às de outros comandantes da Facção Chipenda: Mafuta, Cow-Boy, Pela Virianga e Bala Direita (em Janeiro).

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

1 946 - Os dias das vésperas de ir para Carmona

Pais, Viegas e Emanuel no bar do Rocha,
 a mariscar e a cervejar. Bons tempos!

Os dias deste tempo de Fevereiro de 75 iam passando, e nós a riscá-los do calendário, expectando-se o que seria a nossa vida na cidade. Para onde iríamos a 2 de Março seguinte. Embora, por esta data desse ano, ainda tal não se soubesse.
Não era despiciendo, tal ponderar. A maioria de nós era rural, sem hábitos urbanos, como seria? Não seria nada de especial, como se veio a ver.
Por estes dias de há 39 anos, já muitos de nós acomodávamos as malas e, nas fugidas à cidade,  procurávamos conhecer o BC12. Por lá já passarinháramos antes, em desenfianços mais ou menos «legais», procurando os prazeres do corpo e da alma. Ir para a cidade, seria bom! E era mais um passo na viagem do regresso a Portugal e às nossas casas.
Pelo Quitexe, como se vê na imagem, passavam-se bons dias, abancando ora no Pacheco, ora no Topete, ora no Rocha. Vida boa, sem preocupações operacionais e riscando dias do calendário. 
Por este mesma altura, em Luanda, FNLA e UNITA, curiosamente, lançaram um apelo à Facção Chipenda, no sentido de «abandonar a sua existência como grupo armado, para se integrar num dos três movimentos». O outro era o MPLA, de que Daniel Chipenda era dissidente. 
Na mesma data, os mesmos FNLA e UNITA, em comunicado conjunto, exigiam a demissão do governador de Moçâmedes, acusando-o de «demasiado parcialismo, a favor do MPLA, em detrimento dos outros movimentos de libertação», para além de «incapacidade manifestada para manter a ordem a paz na área do distrito».
- PAIS. António Lourenço Correia Pais, 1º. cabo radiomontador. 
Empresário do sector eléctrico, mora em Viseu, de onde é natural.
- EMANUEL. Emanuel Miranda dos Santos, 1º. cabo escriturário, 
da Gafanha da Encarnação (Ílhavo). Está emigrado nos estados Unidos.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

1 945 - Os preparativos para o adeus ao Quitexe...

Luis Costa (morteiros) e Farinhas (sapador), dois furriéis do Quitexe

A 19 e 29 de Fevereiro de 1975, o comandante Almeida e Brito reuniu no comando da ZMN, para «ultimar aspectos da rendição do BC12». Íamos, já se sabia, sair do Quitexe, em mais uma etapa da nossa jornada africana de Angola.
«Pensando-se na rotação do BCAV. e das suas subunidades, dado que estavam a braços com grandes problemas no respeitante à suas cargas, não se realizou o comando do BCAV., nas visitas que do antecedente se verificavam, deixando assim liberdade de actuação», lê-se no Livro da Unidade. Liberdade de actuação, entenda-se, aos seus respectivos comandantes: os capitães milicianos Castro Dias (1ª. CCAV.), José Manuel Cruz (2ª.) e José Paulo Fernandes (3ª.).
Ao tempo, mas por outras razões, também se antecipavam as saídas do alferes Hermida e do furriel Farinhas (foto), que se concretizariam já no decorrer do mês de Março. O Farinhas, lamentavelmente, já faleceu - a 14 de Julho de 2005, vítima de doença.
Em Lisboa, neste mesmo 20 de Fevereiro de 1975, realizou-se a primeira reunião do MFA com representantes do PCP, do PS, do MDP/CDE, do PPD (actual PSD) e CDS, com vista à elaboração da Plataforma de Acordo Constitucional (vulgarmente chamado Pacto MFA-Partidos). 
O MFA era representado pela Comissão dos Oitos, composta pelo brigadeiro Vasco Gonçalves, vice-almirante Rosa Coutinho, general Pinho Freire, majores Melo Antunes e José Pereira Pinto, capitão-tenente Carlos de Almada Contreiras e capitães Costa Martins e capitão Vasco Lourenço.
Assim ia a revolução portuguesa e a vida dos Cavaleiros do Norte, pelo Uíge africano de Angola.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

1 944 - O tenente/capitão Luz em vésperas de 85 anos!

Alferes Ribeiro e Garcia e tenentes Luz e Mora, na avenida do Quitexe. O tenente, 
agora capitão Luz, em foto de 2009, no Encontro dos Cavaleiros do Norte de Águeda


Estive hoje à fala com o capitão Luz, o nosso «mais velho». Tenente do SGE no Quitexe, chefe da secretaria do Batalhão de Cavalaria 8423, foi (e é) companheiro amigo, de sempre e para sempre! Em vésperas de fazer 85 anos (lá para o próximo 28 de Março), goza os prazeres da aposentação pela Marinha Grande e a perguntar quando é o encontro deste ano. Nunca falhou e não vai falhar!
A propósito (ou nem de propósito), estão a passar-se 39 anos desde quando, ainda nós respirávamos ares quitexanos, «saiu à ordem» (OS nº. 45) a condecoração que recebeu, a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda «ANGOLA 1963-64-65». 
Disse-me hoje tem de ir «tirar uns ferros» que lhe enfiaram numa perna, por causa de um acidente, há uns tempos. Mas, digo eu, nada que implique alterações substantivas no seu dia-a-dia marinhense. «Temos de nos aguentar com o que temos...», disse-me, com evidente boa disposição.
Por estes tempos de 1975 e em Angola, Agostinho Neto, presidente do MPLA, partiu de Luanda para Brazaville e Ponta Negra, após dois dias no Enclave de Cabinda. Ia entabular conversações com os dirigentes da República do Congo. Sucediam-se passos e diligências, no caminho para a independência de Angola.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

1 943 - Os oficiais com família no Quitexe

Soares (atirador), Oliveira, Pais e Rocha (os primeiros quatro da esquerda), Estrela (ligeiramente à frente e sem boina), Silva (rádio-montador), alferes Hermida (o sétimo,  de bigode e camuflado), Zambujo e furriel Pires, o oitavo (de mãos cruzadas e camisa nº. 2), Abel Felicíssimo (d 1ª. CCAV. atrásI telegrafista da 1ª. CCAV.), Mendes, Soares (trasmissões), NN (mão no queixo) e WilsonEm baixo, Jorge Silva (TRMS da 3ª. CCAV.?), Costa, NN furriel Cruz e Tomás. Quem identifica os outros?






O mês de Fevereiro de 1975 foi tempo do pré-adeus do alferes Hermida, oficial miliciano de transmissões - que pelo Quitexe acumulou com o de acção psicológica. Estava no Quitexe com a esposa, a dra. Graciete (destacados a amarelo, na foto de baixo), e era um dos quatro Cavaleiros do Norte que lá tinham família.
Outro, era o capitão Oliveira, comandante da CCS - com a esposa (no rectângulo verde), uma filha (professora primária) e um neto, filho desta /no seu colo, na inagem). O tenente Mora, estava acompanhado pela esposa - uma senhora de origem indiana (no rectângulo branco. O alferes Cruz, com a esposa (dra. Margarida, ambos no rectângulo rôxo)) e o filho Ricardo. Ainda sobre o Alferes Hermida, foi para o Songo, viajou para Luanda (onde esteve um mês), depois para Nova Lisboa e, finalmente, para o Luso, no leste - antes de voltar a Luanda e a Lisboa.
A 18 desse mês, hoje se fazem 39 anos, Lúcio Lara, o chefe da delegação do MPLA em Luanda, acusou o dissidente Daniel Chipenda de se «vender aos interesses estrangeiros» e de «lançar a instabilidade no nosso país». Salientou que os militares leais a Chipenda eram «veteranos da guerra contra o colonialismo português» e exortou-os «a lutar patrioticamente por uma Angola melhor, mas sem armas, ou pelo menos sem armas que ameacem o nosso povo».
Na mesma Luanda, Ngola Kabangu, ladeado por Samuel Abrigada (Ministro da Saúde) e Hendrick Vaal Neto (Secretário de Estado da Informação), todos da FNLA, pediu ao Governo a dissolução imediata das Comissões Populares de Bairro e testemunhava a rejeição do seu movimento «a qualquer acto susceptível de provocar uma guerra fratricida» e que «não permitirá  a instalação de um clima de insegurança e de anarquia no país».
Agostinho Neto, presidente do MPLA, regressado de Cabinda, a Lisboa, considerou o imperialismo como «o principal inimigo do povo». O imperialismo e «o seus agentes».
Clicar nas imagens, 
para as ampliar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

1 942 - O Quitexe, o futebol e a Facção Chipenda

Futebol no Quitexe, a equipa da CCS: Grácio, Gomes, Miguel Teixeira, Botelho, 
Miguel Peres, Gaiteiro e Soares (de pé), Teixeira (pintor?), Mosteias, Lopes, 
Monteiro e Teixeira (estofador). O Canhoto, em baixo




Os dias de Fevereiro de 1975 lá se iam passando pelo Quitexe, também com futebol à mistura. Jogavam pelotões contra pelotões, Companhias contra Companhias e até militares com civis - nestes casos com muito «rachar de lenha» à mistura.
O melhor que recordo de um desses muitos jogos (em que alinhei a defesa central, o lugar da minha formação futebolística) foi de o Alípio Canhoto me ter emprestado umas botas e de ter como adversário directo um possante civil, com rótulo de craque e fama de marcador de golos, que me deu baba pela barba mas que  exemplarmente «sequei», não sem levar e dar uma valentes pantufadas.  
A história foi-me lembrada pelo Canhoto, que vive em Belmonte (de onde é natural) e lá trabalha numas bombas de gasolina. «Pedi-as ao meu irmão, para você jogar...», recordou-me ele. 
Irmão era, o José, atirador de cavalaria da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel - ambos, como se vê, Cavaleiros do Norte, embora de Companhias diferentes (juntas a partir de 10 de Dezembro, no Quitexe).
O processo de descolonização clontinuava, entretanto, com os três movimentos a tentarem mobilizar a população para os seus ideários. Mas vivia um outro problema, particularmente o MPLA: a Facção Chipenda, que tinha sido expulsa de Luanda (pelo mesmo MPLA)
Miguel Nzau Puna, da UNITA, falando em Cabinda, não punha objecções à integração do grupo no seu movimento. Ou mesmo na FNLA. Esta, na voz do presidente Holden Roberto, dava conta que «as dissidências deixaram de ser um problema do MPLA, para se transformarem num problema nacional». Disse também que «o problema deve ser resolvido de forma fraterna e através do diálogo» e anunciou-se disposto «a fazer diligências pessoais nesse sentido».
- CANHOTO. Alípio Canhoto Pereira, soldado 
condutor da CCS, residente em Belmonte.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

1 941 - O jornal de parede dos Cavaleiros do Norte

Estrela, Medeiros, Miguel Teixeira, Damião Viana e Vasco Vieira, Cavaleiros do Norte em folga. 
Capa do Jornal comemorativo ao 1º. aniversário do BCAV. 8423 e poema de João Estrela

Fevereiro de 1975 foi tempo de um jornal de parede no Batalhão de Cavalaria 8423, editado pelo gabinete de acção psicológica. 
«Teve a melhor adesão dos militares, seus únicos colaboradores e a maior aceitação da sua parte», sublinha o Livro da Unidade.
A primeira página que reproduzimos é já de Junho, da edição comemorativa do primeiro aniversário dos Cavaleiros do Norte em Angola. É dela que reproduzimos um poema de João Estrela, intitulado 

ORAÇÃO A ANGOLA

ANGOLA cheia de graça / a razão é convosco / a vontade não foi nossa / de manter a guerra colonial  /\  Esta terra que era vossa, bendita sejas como província / província do alvoroço / bendito o fruto do eu ventre / que luta por altos ideais, santificado seja a tua gente / que lutou contra animais  /\ Venha a vós... o vosso reino / seja feita a vossa vontade, perdoai-nos o desleixo /desleixo de verdade, por subjugar Angola / ao capricho da vaidade, mas... / livrai-nos do mal
ESTRELA
- ESTRELA. João Francisco Lavadinho Estrela, 1º. cabo 
operador-cripto, da CCS. Natural de Campo Maior,
 é quadro da REMAX. na Amadora.
  

sábado, 15 de fevereiro de 2014

1 940 - Fotos de Angola, Daniel Chipenda e futebol...

Grupo de Cavaleiros do Norte da Secção Auto - os «Ferrugens».
O Gasolinas, ali à esquerda, sentado. O Gateiro parece ser o 
de pernas esticadas. As outras caras são conhecidas, mas «falta»
lembrar os nomes. Quem pode ajudar? 
Daniel Chipenda, em baixo


A calmaria dos dias de Fevereiro de 1975, mesmo desconhecendo-se o seu destino próximo, foi, para os Cavaleiros do Norte, tempo de colher imagens para o futuro. Como a que aqui fica reproduzida, à porta da caserna e com oito homens do parque-auto. 
Estas fotos de circunstância - esta e milhares e milhares de outras -, foram embrulho de muitas promessas de amor enviadas em carta para Portugal. Ou como garantias de que, por lá, tudo ia bem, sem quaisquer problemas. Um familiar, uma mãe, um pai, uma namorada, uma esposa, um amigo, recebia(m) a(s) fotografia(s) e ficava(m) certo(s) que não havia mesmo problemas. 
A 15 de Fevereiro de 1975, Agostinho Neto foi a Cabinda fazer um comício do MPLA, que presidia. Em Luanda, estavam suavizados os embates armados entre militares do mesmo MPLA e da Facção Chipenda. Forças militares mistas (tropa portuguesa, do MPLA, da FNLA e da UNITA) ocuparam instalações da Facção Chipenda. O Hospital de S. Paulo, onde estavam internados homens de Chipenda, era guardado por FNLA e UNITA e desconhecia-se o paradeiro de Chipenda. Já teria abandonado Angola, segundo refere o Diário de Lisboa de há 39 anos.
Chipenda, expulso do MPLA, tinha entrado um mês antes em Angola e admitia-se que, em Luanda, teria 3000 homens armados. Luanda, onde «ocupou várias instalações».
O dia de sábado, o hoje de Fevereiro de 1975, era véspera de um FC Porto-Benfica, para o nacional de futebol da 1ª. divisão. Comandavam os encarnados, com 34 pontos, seguidos dos portistas, com 32 - ao fim de 21 jornadas e quando a vitória valia dois pontos, um o empate e zero a derrota. O relato foi ouvido através da onda média da Emissora Nacional, com golos de Victor Martins e Moínhos (2-0 ao intervalo) e Toni (no 3-0 final). 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

1 939 - Cavaleiros nas Quedas do Duque de Bragança

Almiro Maciel,  (furriel) João Dias, (alferes) José Lains, Évora Soares, Carlos Coelho e Famalicão (de pé), Carlos Costa e Fernando Sila, Cavaleiros do Norte de Santa Isabel. Em baixo, José Pires, da CCS, nas Quedas do Duque de Bragança

Os meados de Fevereiro de 1975, pela área operacional dos Cavaleiros do Norte, foram de tranquilidade, na fronteira do possível - entre a missão que por lá nos fazia jornadear e as tarefas políticas dos movimentos, que por lá se pretendiam politicamente implantar.
O facto de, a partir do dia 7, se terem deixado de fazer escoltas na estrada do café deu mais tempo para o lazer, o desporto e o recreio. Por exemplo, para passeios turísticos às Quedas do Duque de Bragança, local de notável beleza, para os lados de Malanje - bem perto do Quitexe, se pensarmos na dimensão territorial de Angola. Era como ir... ali e vir já.
Organizaram-se excursões, em viaturas militares (bem entendido), de que é exemplo o grupo da 3ª.- Companhia, a de Santa Isabel (na foto de cima) - por este tempo já aquartelada no Quitexe, onde dividia espaço e tarefas com os Cavaleiros da CCS.
A iniciativa estendeu-se por várias jornadas, normalmente de fins de semana - esticando, nalguns casos, para o Cacuso e até para Salazar - a actual Ndatalando. «Foi do maior agrado e teve extensão a todas as nossas subunidades, servindo de molde a outras unidades da ZMN», sublinha o Livro de Unidade.   

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

1 938 - Comando de Sector do Uíge, Neto e Savimbi...

Comando do Sector do Uíge, em Carmona. O (furriel) Rodrigues, na parada das traseiras 


A 13 de Fevereiro de 1975, foi extinto o Comando de Sector do Uíge (CSU), em Carmona, e o Batalhão de Cavalaria 8423 passou a depender directamente da Zona Militar Norte (ZMN). Nada que mudasse os procedimentos normais das suas guarnições. No Quitexe, em Aldeia Viçosa e Vista Alegre, mais o destacamento da Ponte do Dange.
A 1ª. Companhia, ao tempo aquartelada em Vista Alegre, para ali se mudaria entre os dias 6 e 12 de Junho - ida do Songo. Songo para onde fora a 24 de Abril anterior. A imagem, com o (furriel) Américo Rodrigues é da parada, situada na rectaguarda do CSU/ZMN.
O mesmo dia 13 de Fevereiro de 1975, em Luanda, foi o do regresso do director do jornal A Província de Angola, Rui Correia de Freitas, que em Outubro anterior fugira para a África do Sul, «escapando-se» de uma iminente prisão, que terá sido ordenada por Rosa Coutinho, o Alto Comissário. Na mesma Luanda e dia, Agostinho Neto, presidente do MPLA, admitia a integração dos irmãos Pinto de Andrade e Gentil Viana (da Revolta Activa), mas atacava a denominada Facção Chipenda (a Revolta do Leste) - por estar armada e «poder ser origem de conflitos armados».

E falou do Poder Popular e Comissões Populares de Bairro, que o seu movimento implantava em Luanda e outras cidades. «Para nós, com o povo no poder, é que pode haver verdadeira democracia. Se assim não for, será como no tempo do colonialismo», disse Agostinho Neto, acrescentando que «o povo angolano, que lutou de armas na mão durante 14 anos, não vai consentir agora mais qualquer tipo de opressão».
A sul, era Jonas Savimbi, presidente da UNITA que denunciava a presença de elementos políticos da Namíbia «activos na propaganda junto das populações» próximas da fronteira com a África do Sul. Igualmente denunciou o tráfico de armas e divisas na fronteira de Angola com o Sudoeste Africano, como divulgava a Agência France Press.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

1 937 - Alferes Meneses chega de Cabinda...

Daniel Chipenda (à esquerda) e Agostinho Neto (à direita) com um 
jornalista argelino (em cima). O alferes Manuel Menezes Alves (em baixo, foto recente)


O alferes Menezes chegou a Aldeia Viçosa por estes dias de Fevereiro de 1975. Vinha de Cabinda, do BCAÇ. 4519, e viria a destacar-se em Carmona, durante incidentes que envolveram MPLA e FNLA, de tal forma que foi louvado.
Oficial miliciano, regressou a Portugal e tornou-se empresário do sector das carnes, em Cortes (de Leiria), de onde era natural e onde residia e faleceu a 15 de Maio de 2013, vítima de doença
Ao dia 12 de Fevereiro de 1975, sabia-se por Angola que uma delegação da UNITA se deslocou a Ninda (no leste), onde Daniel Chipenda se aquartelava, na perspectiva de sanar as diferenças que tinha com o MPLA. Liderava uma das facções dissidentes, depois de contestar a liderança de Agostinho Neto e ser expulso do movimento. Em Luanda, e já desde o dia 4, estavam Mário Andrade, Joaquim Pinto de Andrade e Gentil Viana, da Revolta Activa - outra facção dissidente do MPLA, que também discordava da orientação de Agostinho Neto.
A conciliação, admitia-se na altura, segund a imprensa, era tida como «possível nos próximos dias» e saudada pelos meios políticos luandenses «como um factor positivo na etapa final que levará à independência de Angola, no próximo dia 11 de Novembro».
- O Adeus ao alferes miliciano Menezes

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

1 936 - O guião e o emblema dos Cavaleiros do Norte

O emblema do BCAV. 8423 e o autor, (alferes) Mário Simões (em baixo)


Há 39 anos, a 11 de Fevereiro de 1975, era dia de Carnaval. Por todo o mundo e também pelo Quitexe, por Aldeia Viçosa e Vista Alegre, no Uíge angolano, por onde, ao tempo, jornadeavam os Cavaleiros do Norte. Um ano antes, precisamente um ano antes, mas em Santa Margarida (Portugal), foram dados a conhecer o guião e o emblema do Batalhão de Cavalaria 8423, criado pelo talento do então aspirante a oficial miliciano Mário Simões.
«Sabia o comandante Almeida e Brito que eu estava ligado às artes gráficas, deu as ideias e desenhei-o», contou, agora, o (então futuro alferes) Mário Simões, dando conta que trabalhou algumas maquetes «a partir de um galhardete» mostrado por Almeida e Brito, com um cavalo em fuga.
O trabalho, feito em curtíssimo espaço de tempo, foi, disse, «exaustivo mas desafiante» e, aprovada a maquete, lá se mandaram fazer crachás, autocolantes e galhardetes. Creio que nunca o Batalhão chegou a ter estandarte e/ou guião. Não me lembro.
O trabalho de Mário Simões foi feito «em plena identificação com a unidade mobilizadora» - o Regimento de Cavalaria 4, de Santa Margarida, e, dentro desse contexto e servindo o lema «Perguntai ao Inimigo Quem Somos», assim «nasceu o guião e o emblema», em fundo preto (o do Batalhão), com outras cores para cada companhia operacional: a vermelha (para a 1ª. CCAV., que se iria a instalar em Zalala), a azul (para a 2ª. CCAV. , em Aldeia Viçosa) e a castanha (para a 3ª. CCAV., em Santa Isabel).
Foi isto há precisamente 40 anos, vejam lá como o tempo passa!
- SIMÕES. Mário José Barros Simões, alferes miliciano 
atiradr de cavalaria. Natural de Tomar e residente nas 
Caldas de Raíha, onde é professor.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

1 935 -O Peixoto, do Quitexe a Carmona e Cabinda...

Monteiro e Peixoto na rampa da Messe de Sargentos do Bairro Montanha Pinto, em Carmona (1975)

O Peixoto fez anos a 7 de Fevereiro (62!!! e vivó velho!!!!...) e, no dia, através destas modernidades que são os telemóveis, pusemo-nos à conversa. Olha lá, como vais, como não vais, como está a saúde e a família, então esses ossos, o reumatismo, os colesterol?!!! Essas coisas próprias de sexiiiiiiigenários.

O Peixoto, já vos digo, está avô e de boa saúde. Recém-aposentado, fez vida como professor, andou nas lides sindicais e lá continua por Braga, a pensar no que fazer quando se levanta, já com o dia ganho! E quem era o Peixoto da nossa jornada africana?
O Peixoto apareceu na CCS, no Quitexe, por transferência disciplinar, ido da CCAÇ. 4741/74, formada nos Açores, na Ilha Terceira. «Acampou» no meu quarto e do Neto.
 «Chegámos a Luanda a 3 de Agosto de 1974, depois de passar por Santa Margarida», lembra-se ele. 
Antes de chegar ao Quitexe, já tinha estado com o Mota Viana (de Zalala), em Sanza Pombo, transferido pelos mesmos motivos.
O Peixoto, que ali vemos (na foto) todo repimpado, na messe de sargentos (antiga messe de oficiais) do Bairro Montanha Pinto, em Carmona, foi depois transferido para um Batalhão de Artilharia, em Landana, no Enclave de Cabinda. 
«Passado um mês ou dois, já não me recordo bem, regressei a Luanda, a bordo de uma fragata da marinha, e a minha antiga companhia, a CCAÇ. 4741/74, embarcou em finais de Julho», contou o Peixoto.
- PEIXOTO. João Domingos Faria Taveira de Peixoto. 
Dos Taveira de Peixoto, de Braga. Furriel miliciano e, 
agora, professor aposentado. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

1 934 - Os amigos da tropa e o carnaval do Quitexe...

 Mortágua (CCS),  Jorge Pinho (Porto), Pagaimo (Morteiros) 
e Rocha, de Transmissões do Comando Sector Uíge (Arouca), em 1975

O Pelotão de Morteiros aquartelou com os Cavaleiros do Norte entre 6 de Junho de 1974 (dia da nossa chegada ao Quitexe) e os primeiros dias de Janeiro de 1975, quando partiu para Carmona - onde nos voltámos a cruzar. 
A imagem, enviada pelo Pagaimo, testemunha a partilha de espaços e emoções entre os militares das várias subunidades. É posterior a 2 de Março de 1975, quando nos deslocámos para o BC12, em Carmona, e, já nesta cidade, os Cavaleiros do Norte das transmissões se juntaram aos que operavam no comando do Sector do Uíge. Lá reencontraram o Pagaimo. E este Mortágua? Quem é mesmo? O Rocha, o da direita, também era de Transmissões, no Comando Sector do Uíge. «Provavelmente, após a sua extinção, esteve no BC12,  convosco, e era natural de Arouca», diz o Pagaimo.
Faz hoje 39 anos, era domingo de Carnaval e, no Quitexe, deu para ver como era a tradição, diferente do que era por cá. No Domingo Gordo, nem demos por ele, na vila. Demos, na 3ª. feira, quando o PELREC regressava dos lados de Camabatela e, já perto da aldeia do Cazenza, ouvimos batuques e alguns mascarados que dançava e gritavam (ou cantavam?), sacaroteando-se o(a)s mais novo(a)s, alguns de caras pintadas, outros(as) com máscaras muito simples, mas todos espelhando grande alegria.
Já na vila, ainda vimos alguns miúdos a correr pela avenida, com tambores e danças que faziam, parando das suas corridas,  e olhando para nós, que entrávamos de UNIMOG, devagar, devagarinho, a olhar para os pequenos entrudos e mortinhos pelo banho que nos retemperava a alma e limpava os corpos sujos do pó vermelho de Angola, suados na picada.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

1 933 - Medalha para o tenente Luz e espectáculo em Carmona

O tenente Luz, ladeado pelos alferes Ribeiro e Garcia (à esquerda) e tenente Mora, na avenida do Quitexe. Atrás, o edifício do comando do BCAV. 8423, vendo-se a bandeira portuguesa hasteada

A 8 de Fevereiro de 1975, um grupo de Cavaleiros do Norte assistiu, em Carmona a «um espectáculo de soldados e para soldados», na ZNM. «Causou impacto positivo no estado psicológico das tropas», nota o Livro de Unidade. 
Não tenho grande memória deste espectáculo, porventura por estar de serviço no Quitexe, ou porque não entrasse (não entrei) no grupo de «eleitos». Fosse lá pelo que fosse. Em Carmona, no pavilhão do FC do Uíge, recordo-me  de um espectáculo, participado por militares - sendo o capitão José Paulo Fernandes um deles, a tocar viola (ou guitarra). Mas isso foi, seguramente, depois de 2 de Março, pois os Cavaleiros do Norte já estavam aquartelados mo BC12, idos para Carmona precisamente nesse dia.
A Carmona, por estes dias de 1975, chegaram notícias de uma condecoração ao Tenente Luz, com a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda «Angola 1963-64-65». Foi publicada na Ordem de Serviço nº. 45..
- LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente do SGE e chefe da 
secretaria do Comando do BCAV. 8423. Aposentado, com a 
patente de capitão, faz 85 anos a 28 de Março e mora na Marinha Grande.
- MORA. João Eloy Borges da Cunha e Mora, tenente e adjunto do 
Comandante da CCS. Faleceu a 21 de Abril de 1993, com 67 anos.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações 
Especiais (Rangers). Faleceu a 2 de Novembro de 1979, em acidente de 
viação, ao serviço da Polícia Judiciária.
- RIBEIRO. Jaime Rodrigues Picão Ribeiro, alferes miliciano sapador. 
Professor aposentado, mora no Tramagal.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

1 932 - Fim das escoltas e o acidente do Ferreira

Os patrulhamentos dos Cavaleiros do Norte chegavam ao
 Quibaxe e ao Piri, na estrada do Café, de Carmona para Luanda



Aos sete dias do mês de Fevereiro de 1975, os Cavaleiros do Norte deixaram de fazer patrulhamentos (ou escoltas) na Estrada do Café, serviço que desde toda a nossa comissão foi executado - às vezes a Úcua. Era um serviço «assaz desgastante», como sublinha o Livro da Unidade. E nós que o digamos, que quantas vezes galgámos aqueles todos quilómetros de alcatrão, foi parte rodeado de mata.
O Ferreira, furriel miliciano da 2ª. CCAV. 8423, feriu-se num desses patrulhamentos/escoltas, após despiste do UNIMOG , a 1 de Julho de 1974 - ainda todos nós éramos «maçaricos» na terra angolana. Despistou-se por volta do meio dia, numa curva do Quibaxe, onde se cortava para a fazenda/aquartelamento de Maria Fernanda.
«Atravessou a estrada e caiu por uma ravina, bem alta», recorda-se o Ferreira, que pela ravina rebolou, até ao fundo, tal qual o condutor do UNIMOG. Ambos ficaram bastante maltratados. Ele, com uma perna e uma clavículas partidas.
O fim das escoltas, há 39 anos, foi um alívio para a guarnição, nomeadamente para os operacionais, que as tinham de cumprir, por vezes em horas seguidas de tensão - ora de dia, ora de noite. Alívio para o pessoal e para as viaturas, sem que tal actividade operacional «conduzisse a qualquer finalidade prática».
- FERREIRA. José Maria Freitas Ferreira, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Foi reclassificado como amanuense, na sequência deste acidente - embora contra o seu desejo. Vive em Costa (Guimarães), onde é profissional de contabilidade, consultadoria fiscal e auditoria.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

1 931 - O 2º. comandante e os mortos de Luanda

Porta d´armas dos Cavaleiros do Norte, no Quitexe (à direita). Vê-se 
a bandeira portuguesa no edifício do comando do Batalhão de Cavalaria 8423

A 4 de Fevereiro de 1974, em Santa Margarida, apresentou-se o major de cavalaria Ornelas Monteiro, que seria o 2º. comandante do Batalhão de Cavalria 8413. Seria, porém, por pouco tempo. Na verdade, «por motivos imperiosos de serviço» foi solicitado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) e não seguiu para Angola. 
Acabou por ser «deslocado nas vésperas do embarque» para o Comando Chefe das Forças Armadas de Guiné (Bisau). 
Um ano depois, a 6 de Fevereiro e no Quitexe, sabíamos que o Alto-Comissário de Portugal em Angola, responsabilizou o MPLA pelos incidentes do bairro de S. Paulo, no dia 3 - nos quais morreram o capitão Rodrigo Pinheiro e o alferes José Santos.
“Um numeroso grupo de elementos da população pretendeu assaltar e saquear o estabelecimento de um comerciante, acusado de ter morto, na véspera, dois civis negros”, lê-se no comunicado, acrescentando que (o comerciante) foi retirado do local pelas FAP e FAPLA e que «um posterior  aglomerado de pessoas e concretização do assalto levou a nova intervenção das FAP e  das FAPLA mas também do ELNA, que contiveram os ânimos, com alguns disparos para o ar, sem consequências”.
O facto de “um civil ter sido retirado do local numa viatura das FAP levou a população a tomá-lo pelo comerciante, chegando a apedrejar os militares que o acompanhavam”, refere  o comunicado.
Foi nesta altura que “começaram os tiros, inicialmente para o ar e de seguida com pontaria baixa, atingindo mortalmente um capitão e um alferes das FAP, um sargento do ELNA e 5 elementos civis», ferindo ainda um capitão das FAP (Manuel Guilherme Figueiredo), dois militares do ELNA e 9 civis.
O comunicado do Alto Comissário Silva Cardoso cita o relatório da comissão de inquérito para concluir:
1 - Que se admite que os disparos que provocaram as baixas foram feitos por elementos das FAPLA.
2 - Que não ficou provada a intenção de provocar vítimas.
3 - Que não ficou provado que o desencadeamento da acção de fogo tenha sido ordenada.
O Comité Central do MPLA, sobre o incidente, ordenou à suas chefias militares a abertura de um inquérito para “esclarecer a verdadeira identidades dos autores dos disparos”.
- FAP. Forças Armadas Portuguesas.
- FAPLA. Forças Armadas Poplares de Libertação de Angola (MPLA).
- ELNA. Exército Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

1 930 - O nosso amigo e saudoso Mosteias...

Mosteias e Viegas na avenida do Quitexe, em frente à secretaria da CCS (1974)

O Mosteias partiu há um ano, deixando dores que o tempo não cicatrizou. O Mosteias era daqueles que estão sempre e nunca se esquecem. Era homem grande e companheiro maior. Entre todos! Por todos e com todos. O Mosteias é nome e gente das nossas memórias de todo o tempo. 
Os Cavaleiros do Norte têm presente o seu (bom) humor, a sua sátira critica, a sua bondade, a partilha com que se dava, se dividia, se mostrava, se fazia templo de cumplicidades, sempre generoso nos dias em que connosco se deixou medrar para a vida e para os sonhos.  
O Mosteias morreu há já um ano, que hoje se passa!
Impossível, seria não lembrar como fomos cúmplices, solidários e amigos, no tempo que comungámos há 40/41 anos, desde logo pelas terras de Santa Margarida, depois pelo chão angolano do Uíge, onde fizemos comissão,  partilhámos mesa, palavra e sensibilidades, semeámos e cultivámos esperanças de um futuro melhor.
Interpreto fielmente a emoção dos Cavaleiros do Norte ao recordar, hoje - o dia em que se faz um ano da última viagem do Mosteias para o sítio de paz onde nos espera - recordar a sua proverbial calma, a sua imensa serenidade, o seu imortal talento para ser diferente e igual! Sempre amigo e sempre companheiro!
Até um destes dias, grande Mosteias!
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

1 929 - Dia do MPLA e oficiais portugueses mortos

A chegada de Agostinho Neto da Luanda, foto do jornal A Província de Angola. Em baixo, o capitão miliciano Ramiro Pinheiro, morro a 3 de Fevereiro de 1975, na praça de S. Paulo em Luanda, com o alferes Santos. 

A 4 de Fevereiro de 1985, Agostinho Neto chegou a Luanda. Era o Dia do MPLA  e ele o seu presidente. "Vamos o mais rapidamente possível construir a nossa Nação independente, construir a democracia para o povo e redistribuir as riquezas do País", disse ele, para quem o ouviu, em banho de enorme entusiasmo.
Entusiasmo que, em relação ao MPLA, não era igual pelas bandas do Quitexe e na generalidade do Uíge, onde predominava a FNLA. «Foi comemorado o 4 de Fevereiro, o feriado oficial do MPLA, sem grande expressão na área do Batalhão», lê-se no Livro da Unidade.
O Governo de Transição, em despacho assinado pelo Alto Comissário Silva Cardoso, deliberou que o dia era feriado nacional em Angola - o que, pelo Uíge, passou completamente despercebido. Mas era um dos três primeiros feriados nacionais angolanos, por, nesse dia de 1961, se ter realizado o ataque às prisões de Luanda, dirigido pelo MPLA. 
Os outros eram os dias 15 de Março - por, em 1961, se ter realizado o ataque generalizado da UPA (a futura FNLA, de Holden Roberto) às populações brancas do norte uíjano. E 25 de Dezembro - o dia de, em 1966, se ter realizado o ataque da UNITA (de Jonas Savimbi) a Teixeira de Sousa.
Na véspera, dia 3 e no bairro de S. Paulo, em Luanda, incidentes tinham provocado 10 mortos - entre eles um capitão e um alferes miliciano (foto ao lado) portugueses, para além de outro capitão português ferido. O Governo de Transição ordenou «um rigoroso inquérito».
O capitão miliciano era Ramiro José Amaro de Azevedo Pinheiro, assistente do Instituto Superior Técnico e jogador de andebol do Sporting. O alferes era José Domingos dos Santos. Ferido, gravemente, ficou o capitão miliciano Manuel Guilherme Carvalho Figueiredo - todos eles da 1ª. CART. 6323.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

1 928 - Dias de anos e luto nos Cavaleiros do Quitexe

O Madaleno, assinalado a  amarelo, do PELREC. Também, atrás, 
Viegas (furriel), Marcos, Pinto, Caixarias a e Garcia (alferes) e Oliveira, 
Hipólito, Aurélio (Barbeiro), o Madaleno e o Neto (furriel)


Quitexe, 3 de Fevereiro de 1975. O PELREC tem um companheiro de festa, o Madaleno, que faz 23 anos. E fez (o pelotão) uma escolta à Fazenda do Pumbaloge, na estrada para Carmona, pela manhã. Viemos carregados de cachos de bananas, dados pelo administrador da fazenda. Escapa-nos o nome, varrido na memória pelo tempo de 39 anos que passou, mas está bem presente a sua inquietação: «O quer é que vai ser disto?».
Isto, era... Angola! O futuro da Angola independente, com Governo de Transição empossado dias antes.
A tarde foi para outra escolta, a camiões de longo curso, até Aldeia Viçosa. Ao fim, banho tomado, foi tempo de fartas e frescas cervejas, a molhar o bife com batatas fritas e ovo a cavalo do Topete.
A graça dos anos do Madaleno é que os fez ( e faz) por duas vezes: nasceu a 1 de Janeiro, mas só foi registado a 3 de Fevereiro de 1952. Eram outros, os tempos! Pela sua Covilhã e Portugal! 
O dia, na guarnição, foi também de anos do Cardoso, 1º. cabo sapador. E do Mendes, 1º. cabo de transmissões. Cavaleiros do Norte de outros pelotões.
Em Lisboa, Rosa Coutinho dava extensa entrevista ao Diário de Lisboa e, entre outras coisas, afirmava que «Angola é o antigo território português com melhores condições económicas». «O que é preciso - sublinhou o ex-Alto Comissário - é que não se enfeude a um determinado grupo de interesses, mantendo a sua capacidade de país independente e negociar com todos eles para salvaguarda dos interesses do povo».
- MADALENO. Francisco José Matos Madaleno, 
soldado atirador do PELREC. Aposentado, mora na Covilhã.
- CARDOSO. Silvério Teixeira Cardoso, 1º. cabo sapador.
 Mora em Alfornelos, na Amadora.
- MENDES. Carlos Alberto de Jesus Mendes, 1º. cabo da 
CCS. Faleceu a 21 de Abril de 2010, nos Prazeres, em Lisboa.