CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

3 505 - O último dia de Agosto em Luanda e a UNITA em Lisboa

Três furriéis milicianos de Operações Especiais (Rangers) da CCS dos 
Cavaleiros do Norte, ainda no Quitexe: Neto, Viegas e Monteiro. 
A 31 de Agosto de 1975, foram de Viana para as praias da Ilha de Luanda

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, todos furriéis
milicianos e ainda em Aldeia Viçosa: António Rebelo,
Amorim Martins. Abel Mourato e Mário Matos  

O mês de Agosto de 1975 chegou ao fim e nada de novo «transpirava» no aquartelamento do BIA, no Grafanil,  para matar a ansiedade dos Cavaleiros do Norte: saber a data da partida para Lisboa. E continuava embaralhada a situação, lá por Angola. 

O dia 31 de há precisamente 41 anos foi domingo e folga larga para a rapaziada laurear o queijo pela imensa Luanda, logo pela manhã.
Cavaleiros do Norte de Zalala numa esplanada da ilha
de Luanda, em Agosto de 1975: os furriéis milicianos Plácido
Jorge Queirós e José António Nascimento
Idos directamente da casa de Viana, Monteiro, Viegas e Neto (no carro deste) viajaram para as areias da praia da Ilha de Luanda, com almoço na Barracuda e, já pelo meio da tarde, com obrigatória passagem pelo Amazonas (ou pelo Baleizão?) para refrescar gargantas e antecipar farto jantar no Mutamba.
Os movimentos não se entendiam, todos se acusavam a todos e a UNITA, em Lisboa (na véspera, dia 30 e numa conferência de imprensa), afirmava-se «movimento de libertação tranquilo, em relação ao apoio desfrutado junto do povo e a capacidade de mobilização, politização e organização dos camponeses, operários e intelectuais revolucionários conscientes».
O movimento de Jonas Savimbi fez-se representar por José N´dele  (1º. ministro do Governo de Transição que o Alto Comissário intrino suspendera dias antes), Wilson Santos (do bureau político e comité central) e Paulo Tjipilica (delegado em Luanda) e desmentiu o acordo de cessar fogo com o MPLA e a realização de acções integradas com a FNLA.
Notícia do Diário de Lisboa de 30 de Agosto de 1975
sobre a situação de Angola e a posição da UNITA
«Pensamos, na UNITA, que é uma ilusão que algumas organizações políticas em presença possam dominar Angola pela força, sobretudo através de actuações do tipo anti-popular e anti-nacional», acrescentaram os dirigentes do movimento de Jonas Savimbi, sublinhando também que «nunca aceitaria participar num Governo de balcanização do país» e, por outro lado, que «são inimigos do nosso povo os que preparam, em Portugal e Angola, a quinta coluna que se destinaria a lutar no nosso país ao lado de um dos movimentos de libertação».
«A solução viável para o conflito que grassa em Angola», segundo a UNITA, passaria pelo «diálogo com representantes dos reais interesses do povo angolano com as autoridades portuguesas». E, ainda segundo a UNITA, «parece chegado o momento para as soluções políticas».
Ao mesmo tempo, o MPLA, segundo declarações de um seu dirigente ao Diário de Lisboa, acusava a UNITA de «ter presentemente cerca de 1000 prisioneiros do movimento de Neto, alguns dos quais personalidades muito importantes para o actual processo». Quem eram? Não dizia.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

3 504 - A invasão sul-africana e as acusações do MPLA


Cavaleiros do Norte no Quitexe, homens do Parque-Auto: Canhoto, Miguel,  (mecânico), Gaiteiro e NN. A seguir, Picote (de mãos as ancas e a sorrir), Teixeira (pintor), NN (mais atrás), Serra (de mãos na cinta) e NN (a sorrir), 1º. sargento Aires (de óculos e mãos cruzadas), alferes Cruz (de branco), Frangãos (o Cuba), furriel Morais (de óculos), Joaquim Celestino, NN (mais atrás), Esgueira (?, de braços cruzados) e NN (mãos na cinta). Em baixo, Domingos Teixeira (estofador), Manuel Marques (o Carpinteiro, subitamente falecido a 1 de Novembro de 2011, em Esmoriz), Madaleno (atirador) e Pereira 



Cavaleiros do Norte de Zalala, 1ª. CCAV. 8423: furriéis
 milicianos José António Moreira do Nascimento (que
era vagomestre e actualmente está emigrado nos
Estados Unidos) e Manuel Dinis Dias (mecânico-auto,
falecido a 20 de Outubro de 2011, em Lisboa e de doença) 
Luanda, dia 30 de Agosto de 1975. É sábado e a imprensa dá conta de um violento comunicado do MPLA, acusando o Governo português porque «(...) a coberto de uma falsa neutralidade, permitiu que o nosso país fosse invadido pelo Exército do Zaire e pelo da África do Sul» e porque «assistiu impassível aos cromes atrozes prepetrados pela FNLA e pela UNITA». 
O MPLA acusava o Governo português também de «ter consentido o assassínio em massa de angolanos, torturados até à morte e espancados até os canibais imperialistas se sentirem satisfeitos». Retomava uma anterior acusação de canibalismo atribuída à FNLA.
O comunicado de três páginas era o assumir público da ruptura do MPLA com o Governo de Portugal - era «um acto de acusação contra as autoridades de Lisboa e o Alto Comissário português em Angola», segundo o Diário de Lisboa e depois da publicação do decreto-lei com «a suspensão temporária do Acordo do Alvor». Punha em causa (o comunicado) toda a política seguida em Angola pelas autoridades portuguesas.
«Nós, o MPLA, repetimos uma vez mais ao Governo Português que o povo angolano não abdicará dos seus direitos e não hesitará em os defender pela força das armas», sublinhava o comunicado, depois de referir que «nós, o MPLA, assumiremos no fim a total responsabilidade governamental em 11 de Novembro de 1975».
Enquanto isso, forças militares sul-africanas continuavam a ocupar a cidade de Pereira d´Eça, a apenas 40 kms. da fronteira, e, segundo o Diário de Lisboa de há precisamente 41 anos, «avançavam pelo território angolano, numa clara violação à qual apenas se tem oposto o MPLA».
Notícias do Diário de Lisboa de 30 de Agosto
de 1975, sobre a situação em Angola. Há 41 anos!
A força invasora seria formada por 800 homens, entre os quais se encontravam, e citamos o DL, «mercenários portugueses da ex-PIDE/DGS e  ex-comandos moçambicanos, apoiados por meios militares sofisticados, tais como carros blindados, obuses de longo alcance, etc.». 
A véspera desse dia (a 29 de Agosto de 1975) fora tempo de «indícios seguros de que aviões e helicópteros da África do Sul estariam já a sobrevoar Roçadas». O «objectivo dos agressores», e continuamos a citar o DL, seria «não apenas o de assegurar o controle de Pereira d´Eça e Roçadas, prevendo-se que o seu avanço prossiga em direcção a Sá da Bandeira, atacando, no caminho, uma base da SWAPO, que se situa entre a fronteira sul-africana e Serpa Pinto».
O MPLA, a partir de Brazaville, chamava a atenção das autoridades políticas e militares portuguesas para «a responsabilidade que lhes cabe ainda na direcção do país até à declaração de independência». E lembrava palavras de Agostinho Neto, dias antes: «O MPLA não pode aceitar que o país seja dividido em pedaços. Apenas o MPLA pode garantir a integridade territorial e a unidade da população de Angola».
Ainda segundo o MPLA, a invasão sul-africana tinha como objectivo «espalhar as (suas) forças
armadas por várias frentes, para aliviar as tropas dos movimentos fantoches que não conseguem qualquer progresso».
Os Cavaleiros do Norte, neste ambiente de hostilidade, continuavam no Grafanil e a aguardar notícias sobre a data do regresso aos seus chãos natais e aos afectos da família e amigos. Já não faltava muito, pouco mais de uma semana, mas ainda não sabíamos...

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

3 503 - Governo de Transição «fechado» e obras pelas bandas do Quitexe

Major Emílio Silva, Rui Sá (Dibala), general Ferreira de Macedo, Agostinho Neto, comandante Leonel 
Cardoso, Joaquim Kapango, António Augusto Almeida e Hermínio Escórcio. Em baixo, Pedro 
Tonha (Pedalé), Magalhães Paiva (Nvunda), João Caetano (Monstro Imortal), Zacarias 
Tonha (Bolingo), Aristides Van-Dunen e Carlos Pereira e Carlos Rocha (Diloiwa). Há 41 anos, em Angola


Cabrita e Viegas: dois Cavaleiros do Norte da CCS
reencontrados em Cascais, 41 anos depois
de jornada africana do Uíge angolano. Em baixo,
Viegas e Cabrita, há 42 anos, no Quitexe
O Governo de Transição de Angola cessou funções a 29 de Agosto de 1975, por determinação do Alto Comissário interino, o general Ferreira de Macedo - que assumiu todas as essas funções. Foi ele próprio a divulgar a decisão numa alocução transmitida pela rádio e justificada na «impossibilidade em que o Governo se encontrava de assumir integralmente as suas funções».
A medida já tinha sido como que pré-anunciada duas semanas antes, face à impossibilidade de o Governo (criado nos termos do Acordo do Alvor - que assim ficou suspenso) funcionar, depois da expulsão da FNLA e da UNITA da cidade de Luanda . nos primeiros dias do mês de Agosto de há 41 anos. Mas uma medida contestada pelo MPLA, que mantinha os seus ministros em funções.
Ferreira de Macedo assumira o interinato para substituir o general Silva Cardoso, a 2 de Agosto de 1975. Logo foi substituído pelo almirante Leonel Cardoso, o último Alto Comissário de Portugal em Angola - que foi empossado a 26 desse mês, em Lisboa) mas só chegou a Luanda a 31 (ou 1 de Setembro).
Nada disso, naturalmente, alterou o quotidiano dos Cavaleiros do Norte - que continuavam como unidade de reserva, aquartelados no Grafanil e à espera de notícias sobre o regresso a Portugal.
As míticas Portas de Zalala, na picada desta
fazenda para o Quitexe. Em obras, há 42 anos!
Um ano antes, ainda no Quitexe e no «âmbito da contra-subversão», realizou-se mais uma reunião da Comissão Local de Contra Subversão (CLCS). Tal como acontecera já nos dias 1, 9, 14 e 21 desse Agosto de 1974.
Por essa altura, os Cavaleiros do Norte faziam protecção às obras da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), de «arranjo da rede estradal», escoltando os «trabalhos do itinerário de Zalala» (terminados a 23), os da Fazenda do Liberato (começados a 26) e «continuando em curso os da «estrada do café», entre Vista Alegre e Ponte do Dange».
Agora, neste final de Agosto de 2016, foi tempo para dois Cavaleiros do Norte se reencontrarem pelas bandas de Cascais: o (furriel miliciano) Viegas e o Cabrita, que por lá faz vida na pesca, agora de costa (depois de ter ganho a vida na de arrastão). Num dia em que, num concerto de Cuca Roseta e Marisa com umas 20 000 pessoas, «tropeçámos» no Presidente da República, o professor Marcelo de Sousa, que lá estava como espectador e entre a multidão.

domingo, 28 de agosto de 2016

3 502 - Invasão sul-africana a Angola, evacuação de refugiados!

Cavaleiros do Norte, equipa de futebol dos Sapadores. De pé, Irineu 
(clarim), Afonso Henriques, NN (impedido do comandante?), Sousa (o 
Gordo) e Américo. Em baixo, Amaral (que hoje faz 64 anos), Calçada, 
Grácio, NN e Coelho (que faleceu, de doença, a  13 de Maio de 2007, 
em Penafiel). Quem ajuda a identificar os NN?



Cavaleiros do Norte no convívio de Custóias, a 4
de Junho de 2016: Caixarias, Amaral (que hoje
 faz 64 anos), Serra, César (do BCAV 1917) e 

Francisco Brogueira Dias
Agosto de 1975, dia 28, uma quinta feira: o Batalhão de Cavalaria 8423 - os Cavaleiros do Norte!!! - continua a jornadear pelo Grafanil e Luanda, mas forças sul-africanas, depois de na antevéspera terem passado Santa Clara e Namacunde, em direcção a Chieve, «ameaçaram ontem invadir a cidade de Pereira d´Eça, capital do Cunene, distrito controlado pelo MPLA».
 Alberto Ferreira, 1º. cabo Tomás, NN
(o Lajes?) e Mendes: Cavaleiros
do Norte no Quitexe, em 1974!
A denúncia era deste movimento, em comunicado, recordando que «interpretando correctamente esta realidade dos factos, sempre definiu o imperialismo como inimigo principal do nosso povo» e acrescentando que «o que acontece neste momento na fronteira sul, não difere, na essência, do que vem acontecendo na fronteira norte, nas províncias do Zaire e do Uíge», neste caso fazendo alusão às «ingerências da República do Zaire nos assuntos internos de Angola»O documento do movimento de Agostinho Neto conclui com «uma chamada de atenção acusações às autoridades políticas e militares portuguesas, para as responsabilidades que ainda lhes cabem na condução política do país» e, finalmente, protestou junto da África do Sul, por «esta  violação e agressão», dela exigindo «a retirada imediata de quaisquer efectivos militares que se encontrem abusivamente em território angolano».
A evacuação de refugiados para Lisboa continuava e o aeroporto de Luanda era um verdadeiro acampamento de milhares de pessoas, por todo o lado que podiam, à espera de chamada para um voo. Por lá andei algumas vezes, à procura de familiares, amigos e conterrâneos de quem as famílias, por cá, desconheciam o paradeiro. Sem quaisquer notícias deles.
Notícia do Diário de Lisboa de 28 de Agosto
de 1975, sobre a ameaça de invasão militar
sul africana a Angola
Releio um aerograma de minha mãe, datado de 24 de Agosto: «Veio  cá casa a (...) a perguntar se tu aí não podias saber da irmã e da família dela, que há uns dois meses que não escrevem. Vê lá se isso está ao teu alcance, pois as pessoas andam todas com o coração nas mãos, sem saber dos deles»
Pelas últimas semanas de Agosto de 1975, vários destes pedidos recebi dela, de outras gentes que estavam por Angola, mas nada podia fazer além do que fazia: procurá-los pessoalmente (se estivessem por perto) ou através de um programa da Emissora Oficial de Angola, várias vezes diariamente repetido, através do qual se procuravam pessoas. 

sábado, 27 de agosto de 2016

3 501 - Fuzilamento de 6 FAPLA e Cavaleiros à espera do regresso!

Cavaleiros do Norte no jardim da piscina de Carmona, em Maio/Junho de 1975: o furriel Nelson Rocha (de 
transmissões), o alferes Pedrosa de Oliveira (atirador de Cavalaria) e os furriéis Manuel Afonso Machado 
(que amanhã, 28 de Agosto de 2016,  faz 65 anos, em Braga; mecânico de armamento), José Lino 
(mecânico-auto) e António José Cruz (rádio-montador)


A picada para Santa Isabel, a 15 kms. da mítica fazenda
onde esteve a 3ª. CCAV. 8423. Aqui com um grupo
de combatentes da 3ª. CCAÇ. do BCAǪ. 4211, que
imediatamente antecedeu os Cavaleiros do Norte.
Clicar na imagem (da net) para a ampliar

Os dias de Agosto de 1975 corriam para o fim e nada de os Cavaleiros do Norte saberem de data de regresso. Muito expectada, é verdade, mas nada anunciada. As suas actividades continuavam limitadas aos serviços internos, nas instalações do BIA - que receberam  muito degradadas e, na medida do possível, foram recuperando, para que os seus homens tivessem um mínimo de comodidades.
Victor Faustino, mecânico de Santa Isabel, com a
esposa, emigrante na Austrália. Há 3 anos fez 16 800
quilómetros, desde este país,para participar
no encontro da 3ª. CCAV. 8423 de 2013.
Luanda era um farto campo de especulações e murmurava-se «a formação de uma Junta Militar que assegurar a governação de Angola». Teria funções idênticas às do Alto Comissário, «conferidas pelo Acordo do Alvor», e, no caso de algum ministro do Governo de Transição abandonar o seu lugar, «o cargo será suprimido por um director geral nomeado pela Junta».
Continuava também a falar-se da anunciada e ainda não concretizada cimeira entre o MPLA e a UNITA. Estavam mesmo «a decorrer contactos» entre os dois movimentos e estes «poderão, eventualmente, levar ao estabelecimento de uma plataforma de entendimentos».
O MPLA, nesse mesmo 27 de Agosto de 1975, é que não teve dúvidas em acusar a África do Sul de «violar território angolano», apontando o dia 21 como data de «forças sul-africanas, partindo da Namíbia», terem passado a fronteira «através do posto de Santa Clara, povoação que foi totalmente  arrasada».
Os dirigentes do MPLA apontaram o dedo às autoridades portuguesas, para que «assumam as suas responsabilidades, face aos acontecimentos» e, em comunicado, citaram 26 de Agosto de 1975 como data em que as forças sul-africanas «voltaram a violar Santa Cruz, prosseguindo desta vez a sua marcha através da povoação de Namacunde, em direcção a Chieve».
Notícia do Diário de Lisboa sobre o julgamento
e fuzilamento de 6 elementos das FAPLA
O mesmo MPLA, a 27 de Agosto de 1975, executou seis militares (das FAPLA), julgados em tribunal popular, realizado no Bairro Sambizanga. Acusados de «violarem, roubarem e assassinarem 11 pessoas», foram executados em fuzilamento público.
O Estado Maior das FAPLA, sobre este caso, chamou a atenção de «todos os militantes do MPLA» sob sua autoridade «para a necessidade de cumprirem integral e conscientemente as disposições contidas na lei de disciplina das FAPLA» e reafirmou que «toda a infracção a essa lei será punida com a justiça e a rapidez que ela permite e que a gravidade do caso impuser».
O próprio presidente Agostinho Neto realçou «a disciplinação e normalização da vida nas zonas controlada pelo MPLA».

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

3 500 - As 3 500 postagens do bloge dos Cavaleiros do Norte!!!

O PELREC no Quitexe e momentos antes da saída para mais uma operação militar. De pé, 1º. cabo Almeida 
(falecido a 28/02/2009, de doença e em Penamacor), Messejana (f. a 27/11/2009, de doença e em Lisboa), José 
Neves , 1º. cabo Soares, Florêncio, António, Marcos, Pinto, Caixarias e 1º. cabo Florindo (enfermeiro). 
Em baixo, 1º. cabo Vicente (f. a 21/01/1997,  de doença e em Vila Moreira, Alcanena), furriel miliciano 
Viegas, Francisco, Leal (f. a 18/06/2007, de doença, no Pombal), 1ºs. cabos Oliveira 
(transmissões) e Hipólito, Aurélio (Barbeiro), Madaleno e furriel Neto


O primeiro post do blogue «Cavaleiros do Norte».
A 9 de Abril de 2009, 3500 posts depois!!! Em baixo,
os furriéis Viegas e Rocha na sua primeira foto de Angola
 e no Quitexe, em Junho de 1974!
O dia de hoje é o do 3 500º. post deste blogue que, desde Quinta-Feira Santa de 2009, aos 9 dias de Abril, se propôs fazer memória da jornada africana do BCAV. 8423 pelo Uíge Angolano - e dos tempos da formação (no RC4) e do mês do adeus (em Luanda e no Grafanil). Ao tempo, longe estávamos de imaginar que o blogue tivesse vida própria e de tal forma alargada no tempo que chegasse esta «idade», tantos dias e 3500 histórias depois, trazendo a este regaço de saudades um enorme mundo de personagens - muitas delas já varridas da memória!
Personagens que, há 41 para 42 anos, foram nossos irmãos na dura e dramática jornada que (n)os levou a Angola e a perceber e sentir na alma quanto a partilha de emoções, os seus momentos mais dramáticos, nos tornaram mais solidários e corajosos, homens maiores e melhores, por termos sido combatentes de uma causa, num tempo em que se fazia um país novo - e que foi tempo de glórias e também de tragédias.
Homens sem estigmas da guerra, sem preconceitos e antigos combatentes de alma lavada e orgulhosa pelo que fizeram na Angola que evoluía para a independência, regando muito do seu chão com o sangue dos seus naturais, lidando com a morte que enlutou milhares de famílias e a dor que fez sofrer muitas e muitas outras.
Há 41 anos, 26 de Agosto de 1975, os Cavaleiros do Norte continuavam aquartelados no BIA, no Grafanil, e eram o já o mais antigo batalhão Português em Angola. 
Borges e Tarciso (com o gelado na mão), de Zalala.
Em baixo, o DL de 26 de Agosto de 1975
A situação, relativamente aos dias imediatamente anteriores - referia o Diário de Lisboa - «mantém-se estacionária», mas alguns observadores admitiam «a hipótese do colapso definitivo da FNLA, em curto espaço de tempo». Tinha capitulado em Sá da Bandeira (com a UNITA) e saído da cidade e do distrito da Huíla. Outras cidades controladas pelo MPLA era General Roçadas, Pereira d´Eça e Humbe, no extremo sul de Angola. O Estado Maior General das Forças Armadas português,
num comunicado das 18 horas da véspera, dava conta da «não alteração da situação militar no Caxito, embora se registe grande movimento de forças do MPLA e da FNLA», o que fazia prever «a possibilidade de confrontações nas próximas horas». E que no Lobito «começou a evacuação das forças da FNLA, para fora da cidade», devendo ser transportadas em navios de guerra para Santo António do Zaire. Tal qual já acontecera às da UNITA, mas neste caso para Moçâmedes, onde «o MPLA controla(va) a situação». Moçâmedes de onde, por isto mesmo, iriam ser evacuados os militares dos outros dois movimentos.
O Luso continuava a ser palco de confrontações entre o MPLA e a UNITA, nos arredores da cidade. Em Nova Lisboa, a coluna militar portuguesa que se deslocou a Catumbela «recolheu cerca de 1200 civis que se encontravam retidos junto à fábrica de celulose», regressando à cidade «sem novidade»
Por Luanda, a Polícia Judiciária autorizou um grupo de jornalistas a visitar o Forte de S. Pedro da Barra, de onde tinham saído 600 homens da FNLA - que ali estiveram semanas acantonados e tinha sido evacuados. A 3 kms., numa falésia de mar, foi «encontrada uma vala comum cheia de cadáveres em adiantado estado de decomposição e juncada de despojos humanos». Outros corpos «estavam empilhados em diversas outras valas, mas não puderam ainda ser exumados visto a FNLA ter minado o terreno».
Assim ia Angola, há precisamente 41 anos e a menos de 3 meses da data anunciada para a declaração da independência - 11 de Novembro de 1975!


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

3 499 - Combates diários e uma guerra para 2 ou 3 anos...

Cavaleiros do Norte na parada do Quitexe: 1ºs. cabos Soares, Oliveira e 
Pais, furriel Rocha (de boina), 1º. cabo Estrela (de braços cruzados), 
Silva, alferes Hermida, Zambujo, furriel Pires (de braços cruzados), 
Felicíssimo, Mendes, Soares, 1º. cabo Pires (Fecho-Eclair) e  NN. Em 
baixo, NN,  1ºs. cabos Mendes e Salgueiro, furriel Cruz e 1º. cabo Tomás 


José António Nascimento. José Lino e
Plácido Queirós: três cavaleiros do
Norte num momento de boa disposição

O confiante MPLA declarou, a 25 de Agosto de 1975 e através de um seu alto dirigente, que «a guerra durará ainda talvez mais uns dois ou três anos, mas venceremos no terreno».
Os combates, referia o Diário de Lisboa, prosseguiam «diariamente entre os movimentos rivais, sem nunca se apresentar um vencedor definitivo». Os recontros, acrescentava o jornal da capital portuguesa, «deslocam-se no mapa do território e todos os dias de dissipa mais a eventualidade de um acordo de cessar-fogo». Por outro lado, «os movimentos vão procurando obter armas, segundo as suas alianças, e treinam os seus combatentes como que a preparem-se para lutar por vários anos».
Furriéis milicianos José  Pires e Neto na
rampa da messe de sargentos (ex-oficiais)
 do Bairro Montanha Pinto em Carmona
Luanda, por onde (no Grafanil) continuavam os Cavaleiros da Norte, aparentava a calma de que temos falado, mas sempre sob a iminência do ataque que a FNLA anunciava a partir do Caxito. A cidade estava controlada pelo MPLA e o mesmo passou a acontecer em Sá da Bandeira, depois de um acordo com a UNITA - que implicou a saída deste movimento, e da FNLA, da cidade. Todo o distrito do Lubango ficou sob controlo das forças de Agostinho Neto.
O acordo tinha referência específica à Facção Chipenda (ao tempo aliado da FNLA), admitindo que «os seus homens poderão ingressar no MPLA, se assim o desejarem».
Pior, bem pior, iam as coisas por Nova Lisboa - de onde eu continuava sem notícias dos familiares e amigos que por lá faziam pela vida. A cidade (actual Huambo) estava em polvorosa: «As perseguições a militantes e simpatizantes do MPLA atingem enorme violência. Tropas e muitos militantes daquele movimento refugiaram-se nos quartéis portugueses, aguardando agora que um contacto entre o MPLA e a UNITA possa estabelecer a sua retirada da cidade e a troca de prisioneiros». 
A cidade estava a receber dezenas de milhares de refugiados, oriundos de várias partes do território angolano: «O êxodo em direcção à capital do Huambo continua, agora a partir de Sá da Bandeira, fazendo aumentar constantemente o número de refugiados, que poderá atingir em breve os 150 000», referia o Diário de Lisboa, acrescentando que «as evacuação de Nova Lisboa para Portugal estão, nesta altura, a processar-se na ordem das 4000 pessoas por semana, esperando-se que este número possa ser em breve aumentado para o quádruplo».
A agravar a situação huambana, notava-se «a falta de electricidade, carência de produtos alimentares e deficiente assistência médica».
Enquanto isso,
Uma página do Diário de Lisboa
de 25 de Agosto de 1975, há 41 anos,
com notícias de Angola
prosseguiam os contactos entre o MPLA e a UNITA, para a realização da cimeira que tinha estado marcada para o dia 21 (na Base Aérea nº. 9) e foi adiada, porque os dirigentes deste último movimento (o de Jonas Savimbi) alegaram não terem protecção em Luanda - a cidade do encontro.
O Diário de Lisboa (ver a imagem ao lado) desse dia 25 de Agosto de 1975 considerava que «o cancelamento não significa o fim dos contactos entre os dois movimentos», admitindo até que nos próximos dias se poderia vir a realizar «em outro local de Angola, ou até mesmo em Lisboa»

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

3 498 - Manifestação de 2 000 brancos e aviões com armas em Carmona

A família Resende - o casal Fátima e José Bernardino, com as filhas e o 
irmão Albano Resende - o furriel Viegas e o capitão Domingues, em
Luanda, há 41 anos. A comunidade civil queria ser transportada para Lisboa

João Marcos (que hoje festeja 64 anos,
no Pego, em Abrantes) e Raúl Caixarias: dois
Cavaleiros do Norte do PELREC, ainda
no Quitexe e em 1974 

O dia de domingo, 24 de Agosto de 1975, foi tempo, na cidade de Luanda, de uma manifestação de «cerca de 2 000 brancos, na praça do mercado municipal», para, noticiava o Diário de Lisboa, «pedir maior rapidez a evacuação de refugiados e pessoas desalojadas para Portugal». Algumas, acrescentava o vespertino da capital portuguesa, «estão há mais de três meses à espera de partir».
Os manifestantes mostravam cartazes «pedindo que fossem destacados mais aviões e navios para a operação» e, ainda segundo o DL, «apesar do seu visível desespero, portaram-se ordeiramente e sem violência».
Aeroporto de Carmona em 1975
O Governo de Lisboa tinha anunciado, fazia algum tempo, o transporte de 300 000 pessoas, na ordem das 90 000 por mês, «antes de o território se tornar independente», mas este números estavam longe de se concretizarem.
Ao mesmo tempo, o MPLA sublinhava a acusação de «aviões do tipo Skymaster, provenientes de bases americanas na Alemanha Federal, estarem  a efectuar um vaivém entre Kinshasa (Zaire) e Carmona (norte de Angola), onde estão concentradas importantes tropas da FNLA».
Carmona, a nossa Carmona, de onde os Cavaleiros do Norte tinham saído 20 dias antes. Esses aviões, e a acusação já nem era só de agora, «estariam a fornecer armamento, incluindo canhões de longo alcance».
A acusação foi desmentida pelas autoridades norte-americanas e o MPLA acrescentava a esta acusação a de «200 instrutores chineses estarem a uns 80 quilómetros a norte de Luanda, perto do Caxito» e uma outra: a de «mercenários do Zaire, da Tunísia a afro-americanos combaterem ao lado da FNLA».
Notícia do Diário de Lisboa sobre a
manifestação de 2000 brancos em
Luanda, a 24 de Agosto de 1975
O Diário de Lisboa desse dia de há 41 anos comentava que «este movimento pelo seu lado, estigmatiza o auxílio militar concedido ao MPLA, especialmente pela URSS e países do leste». Aliás, na altura circulavam rumores, não desmentidos pelo partido de Agostinho Neto,  sobre «a próxima chegada ao porto do Lobito de um navio polaco transportando armas». O Gabinete de Informação do MPLA, aliás, até admitia que «temos efectivamente apoio dos países amigos», embora sem precisar o tipo de apoio - se era militar, ou não.
Acusava era a UNITA de «estar a ser materialmente apoiada pela Zâmbia», e, mais que isso, de «misteriosamente (...) munida de armas portuguesas». Sabe-se lá!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

3 497 - Holden Roberto em Carmona e tréguas em Sá da Bandeira

Grupo de Cavaleiros do Norte na porta da messe e bar de sargentos 
do Quitexe: os furriéis milicianos António Flora, José Grenha Lopes, 
Agostinho Belo, Francisco Manuel Bento e Joaquim Cardoso

Holden Roberto, presidente da FNLA, terá
chegado a Carmona há precisamente 41 anos,
num avio da Air Zaire

Carmona e o Uíge andavam «desaparecidos» dos mapas noticiosos, mas surgiram em força a 23 de Agosto de 1975. E com que força: Holden Roberto, o presidente da FNLA, tinha desembarcado no aeroporto da cidade, chegado de Kinshasa, a capital do Zaire.
«Viajando num avião da Air Zaire, acompanhado de Johny Eduardo, que desempenhou as funções de 1º. Ministro do Colégio Presidencial do Governo de Transição, não deu qualquer explicação para a sua reentrada em território angolano, mas a viagem coincide com uma recuperação, pelo MPLA, que empurrou a FNLA para norte do rio Dande e, na zona de Lucala, quase até Samba Caju», noticiava o Diário de Lisboa.
Simultâneamente e também na capital do Zaire, o secretário dos Negócios Estrangeiros da UNITA (Jonas Macumbo), negou «a existência de qualquer acordo coma  FNLA», mas o Jornal de Angola desse dia 23 de Agosto de 1975 noticiava que «se crê em Luanda que a a reunião magna da UNITA poderá decidir oficialmente uma aliança com a FNLA, contra o MPLA». O mesmo jornal acrescentava que o MPLA e a FNLA contavam cada qual, com «o apoio tribal de mais de 40% da população total de Angola», pelo que «ambos estariam interessados em associar-se à UNITA».
UNITA de Jonas Savimbi que, a crer na opinião de fontes diplomáticas do tempo, «limitar-se-á a uma aliança militar táctica».
O casal Isaurinda e António
Carlos Letras, há 40 anos! E 40
anos depois, em 2016 (em baixo)!
Ao mesmo tempo, os americanos negavam «o envio de armamento, a partir da Alemanha, para Carmona e o Negage» e em Sá da Bandeira, na véspera, «houve várias confrontações entre as forças em presença».
Os responsáveis dos três movimentos de libertação reunido com o Governador e o comandante militar portugueses, tendo acordado «cessar as hostilidades, recolher as forças aos respectivos quartéis, passar a cidade a ser patrulhada exclusivamente pelas nossas tropas (as portuguesas) e continuar a reunião hoje» - dia 23 de Agosto.
Um ano depois, mal se imaginaria, mas (a 22 de Agosto de 1976) o então já ex-furriel miliciano António Carlos Dias Letras (da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa) consorciou-se com Isaurinda - a mulher de toda a sua vida, que lhe «deu» um casal de filhos. Filho de gente alentejana de Vila Nova da Baronia, no Alvito (o pai) e Baleizão, de Beja (a mãe), nasceu António Carlos na Barragem da Venda Nova, quando por lá a família ganhava a vida. 
O dia da paixão maior aqui fica recordado, não sem lembrar que o casalinho, agora já livre de responsabilidades profissionais, vai dividindo o seu tempo por frequentes férias, a correr o país,  e (ele) em altas pescarias, caminhadas e convívios sociais. Vidas de lordes! Parabéns!!!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

3 496 - Ataque da UNITA a militares portugueses e aviões com armas no Negage

Os 1ºs. cabos Joaquim Rama Breda, condutor, que hoje faz 64 anos na Barosa, 
em Leiria (já aposentado),  e Victor Manuel da Cunha Vieira (o Sacristão),  
da Vidigueira, num  momento musical no Quitexe


Fernandes (3ª. CCAV. 8423) e Viegas (CCS), dois
furriéis milicianos Cavaleiros do Norte na Avenida
do Quitexe, em Janeiro de 1975

A 22 de Agosto de 1975, uma sexta-feira de há precisamente 41 anos, chegaram a Luanda ecos de uma frustrada tentativa de golpe militar em Lisboa. Golpe que por lá, sem grande informação, não entendemos muito bem, ou mesmo nada. Relatava o Diário de Lisboa, através do seu correspondente na capital angolana, que «aparentemente estava despoletada (...) uma das crises mais perigosas da vida política nacional dos últimos tempos».
Base Aérea ao Negage, em foto dos anos 70 (tirada
da net). Há 41 anos, a FNLA estaria  ali a receber
armamento americano pesado, a chegar do Zaire
Ia tomar posse o VI Governo, presidido por Vasco Gonçalves, e por Luanda, um informador do MPLA segredou a Diário de Lisboa que «tinham sido abatidos elementos brancos tidos como mercenários, provavelmente americanos» nos combates da zona do Caxito, entre FNLA e MPLA. Abatidos pelo MPLA, entenda-se.
A ser verdade, e ainda segundo o DL, «tal facto apenas vem confirmar diversos boatos que falam da presença de americanos e chineses na orientação das forças da FNLA que actuam naquele sector».
Outra notícia do dia tinha (relativamente algo) a ver com os os Cavaleiros do Norte, mais propriamente com a base do Negage, onde, segundo o MPLA, estariam a pousar aviões que «transportam material de armamento, entre o qual canhões, provenientes de bases americanas da Alemanha». Estariam, não estariam?
«Há uma ponte aérea entre Kinshasa (Zaire) e Negage, no norte de Angola, para transportar as armas destinadas à FNLA», denunciava o MPLA. 
A UNITA e a FNLA, em Nova Lisboa, divulgavam um comunicado sobre «os graves desmandos cometidos por certos destacamentos das FALA contra unidades das Forças Armadas Portuguesas que eram evacuadas para Nova Lisboa», que tinham ocorrido «no decurso da última semana e princípio desta», nomeadamente em Cela, Nidugo, General Machado e Chicala.
Notícia do Diário de Lisboa sobra o abate
de mercenários nos combates do Caxito
Os dirigentes da UNITA e da FNLA apresentaram «sinceras desculpas» às autoridades portuguesas e as FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola, o braço armado da UNITA) disseram «estar em vias de apurar os acontecimentos, para que não se repitam jamais e, também, para que os responsáveis de tais desmandos sejam punidos».
Enquanto isso, o MPLA conquistou Lucala (importante nó rodoviário da estrada entre Luanda e Malange) e em Sá da Bandeira «recomeçaram ontem as confrontações, opondo o MPLA à nova FNLA/UNITA».
Os Cavaleiros do Norte aquartelavam-se no Grafanil e asseguravam os serviços internos - embora sempre na expectativa de poderem intervir a qualquer momento. O que, felizmente, não voltou a acontecer.

domingo, 21 de agosto de 2016

3 495 - Cavaleiros no Grafanil e FNLA no Quifangondo !

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Cavaleiros do Norte 1ª. CCAV. 8423, a da fazenda Zalala, na gruta 
do Quijoão, em 1974: furriéis milicianos Victor Costa, José Louro (?) e 
José António Nascimento


Peixoto, Neto e Viegas: trio musical
de furriéis milicianos no Quitexe


A 21 de Agosto de 1975, uma quinta-feira, especulava-se em Luanda que nesse mesmo dia se realizaria uma cimeira entre dirigentes do MPLA e da UNITA - que poderia ser no Lobito ou mesmo na capital angolana. Mas, ao certo nada se sabia, nem mesmo se conheciam os resultados de um encontro da UNITA, que na véspera teria decorrido em Silva Porto.
Notícia do Diário de Lisboa de 21 de Agosto de 1975
O Diário de Lisboa desse dia, de que nos socorremos, dava conta que «a situação militar em Luanda, ontem, não sofreu grandes alterações», mas, acrescentava, «há pelo menos a registar alguns incidentes originadas pela presença de força de fuzileiros em serviço de segurança no porto de Luanda» - onde se registavam greves atrás de greves, que punham em perigo a fragilizada economia angolana.
Os Cavaleiros do Norte continuavam aquartelados no BIA, ao Grafanil, e muito embora fossem «unidade de reserva» de Angola, a verdade é que não interviam no dia a dia. O que competia a outras unidades, ora do exército, ora da aviação ou da marinha.
Luanda aparentava essa calma, mas a intervenção do MPLA no porto levou a novas greves do pessoal e nova paralização, numa altura em que a cidade (e o país) estava(m) carentes de abastecimentos. E havia fala de bens de primeira necessidade.
A FNLA  não esmorecera o seu plano de conquista da capital e, estacionada no Caxito, chegara a avançar até Quifangondo, onde foi rechaçada pelas forças do MPLA e obrigada a recuar 15 quilómetros. Mantinha-se a situação do Caxito e no Lobito «a noite foi calma e a vida tende a voltar à normalidade», relatava o Diário de Lisboa, acrescentando, relativamente a Salazar, que «a zona de confronto situa-se entre Banda e Cacuso».

sábado, 20 de agosto de 2016

3 494 - A morte do cavaleiro Manuel Barreiros de Santa Isabel

A Fazenda Santa Isabel, onde esteve aquartelada a 3ª. CCAV. 8423, os
Cavaleiros do Norte do capitão José Paulo Fernandes. Entre 11 de Junho
e 10 de Dezembro de 1974. Foi a última unidade portuguesa ali estacionada

O Cavaleiro do Norte Manuel José Montez
Barreiros (nas fotos de cima e de baixo),
falecido, de doença, a 20 de Agosto de 1975,
 em Angola. Hoje se fazem
41 anos. RIP!!!
O dia 20 de Agosto está infelizmente associado à morte de um Cavaleiro do Norte de Santa Isabel, da 3ª. CCAV. 8423, o soldado atirador Manuel José Monteiro Barreiros. Ainda em Angola e de doença.
O (ex-furriel miliciano) Agostinho Belo era daquela Companhia e lembra-se de, já em Luanda, portanto já depois 4 de Agosto de 1975, ter sido chamado ao Hospital Militar para identificar um corpo - que seria o de Manuel Barreiros. Corpo que foi trasladado para Portugal no mesmo avião em que viajou a 3ª. CCAV, a 11 de Setembro de 1975. E, na verdade, está enterrado no cemitério de Aldeia de Além, em Alcanede, de onde era natural Manuel Barreiros.
A ser assim, teria falecido já em Luanda.
O Alfredo Coelho (Buraquinho) tem uma versão diferente, sugerindo que faleceu ainda em Carmona e vítima da febre tifóide. Diz mesmo que «morreu junto a mim, no hospital civil», onde ele mesmo estaria a «substituir enfermeiros civis que tinham abandonado o hospital».
A ser como diz Alfredo Coelho, teria falecido em Carmona e depois (não se sabe quando) levado para o Hospital Militar de Luanda - onde o Agostinho Belo foi reconhecer o cadáver. Só que o Belo não se lembra da identidade do corpo - que também poderia ser o de Jorge Custódio Grácio (o Spínola), também Cavaleiro do Norte da 3ª. CCAV. 8423 e falecido em Julho desse ano, vítima de acidente de viação. 
Alfredo Coelho (Buraquinho) foi quem nos forneceu as fotos deste post, portanto conheceria bem o atirador Manuel José Montez Barreiros. E de perto. Mas o registo oficial da morte aponta a data de 20 de Agosto de 1975 - logo já não poderia ter sido no Hospital de Carmona, cidade de onde tínhamos saído mais de duas semanas antes. 
Hoje recordamos a data de 20 de Agosto de 1975, fazendo memória deste nosso companheiro da jornada africana do Uíge Angolano. Saudades!!! RIP!!!
- BARREIROS. O registo da data da morte de Manuel 
José Montez Barreiros pode ser visto AQUI

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

3 493 - Cavaleiros em reserva e transporte de retornados


Cavaleiros do Norte num momento de pose fotográfica, no Quitexe: 
Mendes (?) e Domingos Teixeira, o estofador (atrás), João Monteiro 
(Gasolinas), Américo Gaiteiro e Porfírio Malheiro (sentados), Alípio 
Canhoto (com a arma na mão) e António Pereira (à direita)

O furriel miliciano Viegas (à direita) com familiares dos
Neves Polido, em Abril de 1975 e em Nova Lisboa:
Idalina, Fátima, Octávio Valter e Rafael
A 19 de Agosto de 1975 soube-se em Luanda de um comício em Lisboa, no qual os retornados exigiram «a intensificação do transporte de angolanos para a metrópole, através de todos os meios, incluindo (...) o fretamento de outras unidades e estudar, com urgência, a colocação dos desalojados nas respectivas empresas, formação de escolas ou criação de turnos especiais nas escolas e liceus para os filhos dos desalojados»
Transporte e carga de caixotes de retornados
no porto de Luanda, no  verão de 1975


Estas e outro tipo de situações tardiamente (e mal) chegavam ao conhecimento dos Cavaleiros do Norte e, na verdade, até pouco nos interessavam. Digamos que nos eram relativamente indiferente - muito embora cada um de nós por lá tivesse uma «bateria» de pessoas a pedir ajuda, nomeadamente para mandar património para Lisboa: mobiliários e equipamentos domésticos, automóveis, outro tipo de bens, tudo o que fosse riqueza pessoal. 
O BCAV. 8423 continuava como unidade de reserva da RMA, já por uma vez tínhamos sido chamados a intervir num problema no bairro do Saneamento (perto do Governo Geral de Angola), mas o essencial para nós, ao 14º. mês da jornada africana de Angola, era, na verdade, saber a data do nosso regresso. Quando seria?
Notícia do Diário de Lisboa de 19 de
Agosto de 1975, sobre o transporte de
desalojados (e carga) de Luanda para Lisboa
Coincidentemente, ou não, o Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais (IARN) já tinha aberto uma delegação em Luanda e preparava «acções de retorno de 300 000 cidadãos portugueses residentes em Angola», como noticiava o Diário de Lisboa desse dia. Inscrições até ao dia 31 de Outubro. E poderiam ser bem mais, admitia o jornal, citando o IARN, que informava estar «prevista uma margem de segurança para que aquelas acções possam, no mesmo período, atingir 350 000 pessoas».
O IARN adiantava, também, estar «planeado para o mesmo período um programa de transporte, por via marítima, de 170 000 metros cúbicos de carga pertencente aos referidos desalojados».
A esse tempo de há 41 anos, a grande «indústria» que se desenvolvia em Luanda (e porventura por toda a Angola) era a da construção de caixotes, nos quais, com mais ou menos cubicagem, os colonos procuravam enviar para Lisboa os seus bens - de que acima falamos. Muitos terão conseguido, outros nem tanto.
Por mim e também por esse tempo, procurava saber de familiares, conterrâneos e amigos espalhados por Angola: os Resendes, a Cândida, o José Martinho, o João Lopes e o Mário Coelho e a Benedita, a Fernanda (em Luanda), Clemente, Anacleto e Mário Neves (na Gabela), Cecília e Rafael Polido, Manuel, Abílio e José Viegas, os Mirandas, o Orlando Rino (em Nova Lisboa), Higino Reis (em Sanza Pombo), a Maria Rosa e o Manuel (Sá da Bandeira) e outros que a memória agora não lembra. Eram mais de uma centena de conterrâneos espalhados pelo imenso território de Angola!
Felizmente, por uma ou outra vias, todos regressaram a Portugal e à nossa aldeia. Muitas vezes, nas ocasionais conversas do dia-a-dia, nos lembramos destes dias de há 41 anos.