CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 30 de novembro de 2014

2 953 - Fim da Junta Governativa e dos Grupos Especiais

A Junta Governativa de Angola terminou funções a 29 de Novembro de 1974: 
capitão-de-mar-e-guerra Leonel Cardoso, brigadeiro Altino de Magalhães, almirante Rosa 
Coutinho, coronel-piloto-aviador Silva Cardoso e o major Emílio da Silva. 
O crachat dos GE´s, do tempo do Quitexe, há 40 anos!




A 29 de Novembro de 1974, foi abolida a Junta Governativa e o seu presidente, o almirante Rosa Coutinho, foi nomeado Alto Comissário de Angola - interinamente, até nomeação definitiva.
A notícia foi divulgada em conferência de imprensa desse dia, cujos ecos, todavia, só chegaram ao Quitexe quando lá apareceu o Província de Angola, jornal diário de Luanda. Menos chegavam, os jornais Comércio e Diário de Luanda. A imprensa de Lisboa, essa, chegava tarde, quando chegava. 
Rosa Coutinho confirmou, também, a realização da cimeira entre MPLA,  FNLA e UNITA, em Lisboa, mas sem anunciar a data. Dela, sairia o Governo de Transição de Angola, que governaria até à independência. Assim se pensou.
A capital Luanda, por esse tempo, era cidade onde proliferavam «panfletos anónimos, convocando a população para uma manifestção da maioria silenciosa, nos dias 8 de Dezembro», para o Largo da Mutamba - um praça central da cidade.
E pelo Quitexe, por Aldeia Viçosa e Vista Alegre e Ponte do Dange - com Santa Isabel a fazer as malas para o adeus a Santa Isabel?
Foram desactivados os GE´s , a 30 de Novembro - hoje se fazem 40 anos!!! «A ineficiência dos GE que se vinha verificando (...) levaram os escalões superiores a prever a sua desactivação, o que se verificou a 30 de Novembro», relata o Livro da Unidade, frisando que «podendo até curiosamente dizer-se que muitos deles enfileiraram de imediato nas forças irregulares da FNLA e também, segundo alguns, nas do MPLA». 
Os GE (Grupos Espediais) era unidades auxiliares, irregulares, formadas em 1968, constituídas por voluntários africanos de etnia local, que operavam adidos às unidades locais do Exército Português, praticamente só operaram na zona leste. No seu auge, em Angola, existiam 99 grupos GE, de 31 homens, cada. O Batalhão de Cavalaria 8423 tinham quatro.
- Quitexe, CCS do BVCAV. 8423: Grupos 217 e 223, com comando atribuído aos furriéis Viegas e Neto.
- Aldeia Viçosa, na 1ª. CCAV. 8423: GE 222, com o furriel miliciano Letras.
- Vista Alegre, na CVAÇ. 4142/7: GE 208. 
OS GE´s nada tinham a ver com os Grupos de Mesclagem, formados por militares da incorporação local - que eram forças regulares do Exército.

sábado, 29 de novembro de 2014

2 952 - Preparativos dos Cavaleiros para o adeus a Santa Isabel

Fazenda Santa Isabel, onde esteve a 3ª. CCAV. 8423. Em baixo, Flora, 
Belo, Fernandes e Ricardo, quatro furriéis milicianos desta Companhia


Os últimos dias de Novembro de 1974 foram, para os Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, tempo de «preparativos para o seu movimento para o Quitexe» - o que se concretizaria a 10 de Dezembro seguinte.
Era a segunda subunidade do BCAV. 8423 a abandonar as suas primeiras posições (já fôra, Zalala e agora Santa Isabel).  Já a CCAÇ. 209 abandonara o Liberato, a  8 de Novembro. A 14 de Dezembro, seria a vez de se abandonar Luísa Maria, onde estava um destacamento.
Ao dia 30, deixou Lisboa o almirante Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa de Angola, com destino a Luanda. Admitia, à partida, «muito provável a realização de um encontro dos três movimentos ainda este ano, em Lisboa». Ao mesmo tempo, anunciava o decreto criador da Televisão de Angola, já «assinado pelo Presidente da República». Tudo dependeria, disse Rosa Coutinho, «da capacidade dos técnicos e também dos administrativos, que têm de constituir a sociedade, cuja maioria de capital tem de ser do Estado».
Nota disciplinar do mês: os 10 dias de prisão disciplinar a Roque Martins, do Grupo de Mesclagem do RI20, atribuído à 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Foi agravada para 20 dias de prisão disciplinar, em ordem de serviço (a nº. 127). A OS nº. 165, porém, rectificou a pena, para 15 dias de prisão disciplinar agravada. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

2 951 - Movimentos dos Cavaleiros de Zalala e a UNITA na OUA

Avenida do Quitexe, no sentido da estrada de Camabatela (em frente). À esquerda, o 
edifício do Comando. Em baixo, foto de Dezembro de 2012, de Carlos Ferreira). A mesma 
avenida, mais ao fundo, para o lado do cemitério e Camabatela.
 A casa da esquerda poderá ser a que era do sr. Guedes






A 28 de Novembro de 1974, a UNITA foi reconhecida pela OUA, o que ouro sobre o verde da esperança portuguesa em formar um governo de provisório em Angola.  A UNITA, de Jonas Savimbi, era assim , «desostracizada pelos Estados africanos» e Lisboa poderia, como era seu desejo, formar um governo com representantes dos três partidos: a dita UNITA, o MPLA e a FNLA. Foi isto há precisamente 40 anos!
Ao mesmo tempo, no Quitexe, preparava-se a segunda reunião novembrina da Comissão Local de Contra-Subversão (seria no dia 29; a primeira, fôra no dia 13) e continuava «o arranjo da estrada para Camabatela». Os trabalhos, recordemos, era feitos por equipas da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), sob escolta dos Cavaleiros do Norte, Por lá andou, algumas vezes, o /(meu) PELREC.
A 25, a 1ª. CCAV. 8423 «completou os seus movimentos» de Zalala para Vista Alegre e Ponte do Dange. Nesta data, respigo do Livro da Unidade, «assumiu a responsabilidade da sua nova ZA, ficando deste modo abandonada a Fazenda Zalala». A 8, lembremos, fora a vez da CCAÇ. 209 ter saído da Fazenda Liberato, ficando esta «também sem guarnição militar».
- OUA. Organização de Unidade Africana.
- ZA. Zona de Acção.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

2 950 - Comício do FNLA em Vista Alegre, há 40 anos!

Rodrigues, furriel miliciano da 1ª. CCAV. 8423 (Zalala), com combatentes da FNLA 
em Vista Alegre (em cima). Daniel Chipenda, à esquerda,  e Agostinho Neto, com 
o jornalista argelino Boubakar Adjali Kapiaça (em baixo)




A 26 de Novembro de 1974, realizou-se em Vista Alegre «um comício local de mentalização das populações». Comício da FNLA e, diz o Livro da Unidade (o Batalhão de Cavalaria 8423, os Cavaleiros do Norte), «certamente tendente a procurar anuar a influência local e de área que o MPLA possui».
A imagem mostra o furriel miliciano Américo Rodrigues, de Famalicão, com combatentes da FNLA, em Vista Alegre - em data desconhecida, posterior a 25 de Novembro de 1974.
 O mesmo dia, mas em Kinshasa, foi tempo de assinatura do acordo da FNLA e da UNITA, representadas pelos presidentes Holden Roberto e Jonas Savimbi, respectivamente, «pondo termo às suas divergências» e instaurando «uma cooperação e uma assistência mútua, para fazer frente a qualquer eventualidade extremista, vinda de qualquer lado».
Mário Soares, numa entrevista à France Press do mesmo dia, assegurava que, após ter reunido com estes dois dirigentes, «falamos a mesma linguagem». «Estamos de acordo - disse o ministro português dos Negócios Estrangeiros - quanto à maneira como devem ser abordados os problemas de Angola e encontrei neles compreensão e abertura de espírito».
Também em entrevista, mas na véspera e ao diário fracês «Liberation», Agostinho Neto falou das dissidências internas do partido: «É um problema surgido no exterior». Acrescentou o presidente do MPLA que «internamente, o partido está unido». Sobre Daniel Chipenda e o seu grupo (a Facção Chipenda, ou Revolta do Leste), considerou que «agora trabalham com a FNLA e, por este facto, estão excluídos do Movimento»

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

2 949 - Os dias 24 e 25 de Novembro, da Angola de 1974 e 1975


Aquartelamento militar do Quitexe, visto do lado da Igreja. A primeira caserna, era a do PELREC.
O edifício a branco, à direita, era a sede do Batalhão de Cavalaria 8423. Em baixo, Rosa Coutinho





A 25 de Novembro de 1975, aconteceu o que aconteceu em Portugal e, em Angola «a situação político-militar continua(va) a sofrer profundas alterações, desencandeadas por uma grande ofensiva das forças populares, ao longo das três frentes» de combate.
Na Zona Norte, a que interessava aos Cavaleiros do Norte já então na «peluda», e cito o Diário de Lisboa desse tempo, «uma coluna invasora, que tentou penetrar até à zona de N´dalatando e posteriormente até à cidade do Dondo, abrindo ponte para a Frente Sul, com o objectivo de ocupar a  barragem de Cambambe, foi sustida na região conhecida por “21 curvas”».
A coluna, e cito, «tinha-se deslocado da Samba Caju e sustida na manhã de 24 de Novembro, sendo obrigada a recuar para Camabatela».
Camabatela, recordemos, que era (é) vila muito próxima do Quitexe. Deixou, refere o enviado especial do Diário de Lisboa, «muitos mortos e prisioneiros, bem como grandes quantidades de material de guerra de diverso tipo».
O ataque, ainda segundo o jornal, tinha «tentado romper a barreira defensiva de Lucala e N´Dalatando, desencadeado depois de a coluna agressora ter sido reforçada com efectivos da FNLA, que retiraram nos últimos dias do triângulo de confrontações Caxito-Barra do Dande-Libongo».
As confrontações destes dias terão registado, nas três frentes, pelos menos 80 mortos, dezenas de prisioneiros e a destruição de 8 carros blindados e 6 camiões das chamadas “forças invasoras” - as que combatiam as FAPLA´s, do MPLA.
Um ano antes, pelo Quitexe, havia contactos directos com elementos da FNLA, que se apresentavam às autoridades e até, dentro de certo limite, confraternizavam com a tropa, com evidentes reservas.
Rosa Coutinho, neste mesmo dia desse ano, veio a Lisboa, para participar nos trabalhos da Comissão Nacional de Descolonização. Era o presidente da Junta Governativa e admitia-se a sua nomeação como Alto Comissário - para «preparar um Governo de Transição».
A imprensa do dia, que nós avidamente líamos no Quitexe (tanto quanto isso era possível...), dava conta que o Secretário de Estado da Economia angolano denunciava «diversas manobras, nomeadamente no sector dos transportes, tendentes a paralisar a economia do país».
Assim ia Angola! Há 39 e há 40 anos!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

2 948 - Os códigos militares dos Cavaleiros do Norte


O Subsector dos Cavaleiros do Norte, em termos de organização da Zona Militar Norte (ZMN) de Angola, correspondia à letra C. Não me perguntem a razão, que eu não a sei. Sei, todavia, que a denominação foi alterada, relativamente ao Batalhão de Caçadores 4211, que o BCAV. 8423 substituiu, no Quitexe e zona de acção.
Os nomes de código do BCAV. 8423 eram os seguintes:
- CCS, a companhia do Quitexe: Casco.
- 1ª. Companhia, a de Zalala: Crina.
- 2ª. Companhia, a de Aldeia Viçosa: Carga.
- 3ª. Companhia, a de Santa Isabel: Cavalo.
E as subunidades adidas:
- Companhia de Caçadores 209, na Fazenda do Liberato: Canivete.
-  Companhia de Caçadores 4145, em Vista Alegre: Cela.
- Destacamento de Luísa Maria: Cacto.
- Destacamento da Ponte do Dange: Coice.
- GE (Grupo Especial) 208,  de Vista Alegre: Cauda.
- GE 217, do Quitexe: Coelho.
- GE 223, do Quitexe: Cabrito.
- GE 222, em Aldeia Viçosa: Cabra.
Hoje, passados mais de 40 anos, o secretismo dos códigos está completamente ultrapassado. Ao tempo, e com a carga emocional que acarretavam, poderiam significar, para os Cavaleiros no Norte, operações militares, escoltas, colunas logísticas, piquetes, ou meras actividades de rotina. E tantas eram! 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

2 947 - Ofensiva das FAPLA, há 39 anos, para reconquistar o Quitexe


Parada do Quitexe, zona de oficinas, casernas, refeitório e balneários. Não é difícil 
deduzir que, há 39 anos, aqui se terão registado combates. Em baixo, a porta d´armas, 
à direita e edifício do comando dos Cavaleiros do Norte, vendo-se a porta d´armas




 Aos 25 dias de Novembro de 1975, os Cavaleiros do Norte, já em Portugal,  continuavam a assentar arrais nos seus espaços sociais e de trabalho, depois de missão cumprida, e, pelo norte de Angola, o «nosso»  Quitexe era alvo de uma ofensiva das FAPLA. A imprensa do dia dava conta que "esta ofensiva regista ainda avanços das Forças Populares rumo a Pambos e Camabatela".
Forças Populares, entenda-se, eram as do MPLA. Pamboa, nome que não lembro, poderá ser Pumbassai - que fica(va) mesmo nas barbas da vila quitexana, por onde fizemos a nossa jornada angolana de África. Camabatela, era  a vila mesmo ao lado - para onde se ia pela picada/estrada do cemitério. 
O Diário de Lisboa desse dia, que cito, anunciava que «na frente norte, os invasores zairenses e portugueses, enquadrados nas hostes da FNLA, foram forçados a retirar muito para norte dos Quifandongo, tendo as FAPLA reconquistado Úcua, Piri e Quibaxe».
Úcua, Piri e Quibaxe, como os Cavaleiros do Notte bem se lembram destas localidades!!!,  por onde patrulharam e bebericaram, sentindo-lhe o calor e o feitiço e as magias de África.
A frente norte caracterizava-se, ainda segundo o Diário de Lisboa, "por uma contra-ofensiva inimiga na área de Samba Cajú" e pela já referida «ofensiva das FAPLA contra o Quitexe» - a vila-mártir de 1961, agora de novo jorrada de sangue a enlamear o pó vermelho da terra uíjana.
Mais a sul, Novo Redondo foi retomada pela MPLA, já governo de Angola desde 11 de Novembro. E as forças populares estavam «empenhadas em combates mais para sul, com a finalidade de libertarem o Lobito, Moçâmedes e Benguela». A leste, lá mais para os nossos lados uíjanos, Malanje não caía e prosseguiam os combates, a 30 quilómetros da cidade. Porém, referia o MPLA, "a situação continua sob controlo das FAPLA".


domingo, 23 de novembro de 2014

2 946 - A companhia de «cabeludos» e Zalala para Vista Alegre


 
Vista Alegre, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Ferreira). O que resta(va) 
das bombas e do quartel. Em baixo, a entrada da vila, do lado do Quitexe  e Carmona
Também se vê o aquartelamento (des)ocupado pelos Cavaleiros de Zalala


Os anos fizeram-se, estavam feitos e festejaram-se, e passou-se à frente do 21 de Novembro de 1974, que a jornada uíjana dos Cavaleiros do Norte era para outros cometimentos e obrigações. 
A 21 de Novembro de 1974, «começou a processar-se a saída definitiva da CCÇ. 4145/72 para Luanda», abandonando Vista Alegre. Os «caçadores» da 4145 tinham chegado a Angola em Fevereiro de 1973 e, depois de uns dias em Luanda, marcharam para aquela vila, que era a segunda posição militar após o Rio Dange, na estrada do café - a uns 60 kms. do Quitexe.
O comandante era o capitão Corte Real, já aqui lembrámos os alferes Fonseca, Rosa, Adão Moreira e Aguiar e acrescentamos-lhe os dos furriéis Sequeira e Faustino. Este, da zona de Coimbra, aquele de Setúbal e já falecido.
O alferes Fonseca, agora advogado em Lisboa, lembra-se de lá ter chegado «uma companhia de cabeludos»,  que, estava ele de oficial de dia, mandou «formar e ir toda a gente para o barbeiro». Quanto tempo lá esteve a 4145/74, a tal companhia que chegou, ele não se lembra. Continuará, assim, por esclarecer esse pormenor. Dando fé no Livro da Unidade, «saiu do subsector a 22 de Novembro», ontem se fizeram 40 anos.
Data certa, é a da chegada dos Cavaleiros do Norte de Zalala (a 1ª. CCAV. 8423) a Vista Alegre. «Tornando-se necessário o ocupação de Vista Alegre e Ponte do Dange, previamente teve início a rotação da 1ª. CCAV. para estes locais, a qual completou os seus movimentos em 25 de Novembro, data em que assumiu a responsabilidade da sua nova ZA», lê-se no Livro da Unidade.

sábado, 22 de novembro de 2014

2 945 - Os mimos da casa e do nosso querido tenente Luz

Chegaram prendas, senhores! De diversos sabores!! O de 
cima, tem cheiros e mãos da família, cá de casa. O de baixo, 
é uma generosidade, em forma de texto, do nosso tenente Luz.  
Na imagem de baixo,  o capitão Luz e esposa (a cortar o 
bolo), com o Viegas (atrás). Que se perdõem os excessos!!!


__________
ACÁCIO LUZ

Para o meu caro amigo Celestino Viegas, vão os meus parabéns por este dia do seu aniversário, 21 de Novembro, em que faz 62 primaveras!!!
Faço votos para que este dia seja de muitas felicidades e que se repita por muitos e muitos mais, na companhia da esposa e dos dois filhos, dos quais é merecedor e que muito enriquecem a sua vida e a sociedade.
Acresce o facto do Celestino Viegas ser alguém que sempre fez chegar aos outros as suas capacidades de trabalho e intelectuais (Deus protege e ajuda esses!), bem patenteadas no legado que deixou, e vai continuando a deixar, aos Cavaleiros do Norte, através do blog, onde já está contida uma história muito rica sobre a vida do BCAV. 8423, em terras de Angola, assim como a evolução daquele país, durante e à volta da sua independência.
Todos nós, estou certo, militares do BCAV. 8423 - os Cavaleiros do Norte!!! - lhe estamos muito gratos por esse seu trabalho, aliado ao dinamismo que tem colocado na realização dos encontros-convívios das companhias do Batalhão, que tanto contribuem para manter uma amizade mútua e sólida entre nós, porque assenta em momentos difíceis, comuns a todos, em terras angolanas, e que comemoramos agora com alegria e rejuvenescimento.
Desejo-lhe a melhor saúde e por tudo, muito obrigado.
O Celestino merece.
ACÁCIO LUZ
   
 - LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente do SGE, chefe de 
secretaria do Batalhão de Cavalaria 8423, de 85 anos.
 É capitão aposentado e reside na Marinha Grande.
*  NOTA: O nosso querido Tenente Luz, agora capitão 
aposentado, o nosso maior Cavaleiro do Norte, o nosso «mais 
velho», fez questão de publicar o que acima fica. 
Não o faria, normalmente. Mas a honorável figura deste nosso 
grande oficial do Quitexe assim obriga.
Sublinho-lhe a gentileza e agradeço-lhe a cortez atenção.
Modestamente, sinto-me lisongeado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

2 944 - Fazer 22 anos, há 40 que foram passados...


A
Avenida do Quitexe, ou Rua de Baixo, zona das instalações militares. À 
esquerda, a antiga casa da Madame Van der Schaf -  a Casa Guerreiros. Na esquina, 
o restaurante Pacheco, onde há 40 festejei os meus 22 anos. Ficava em frente 
à secretaria da CCS e Casa dos Furriéis - foto de Carlos Ferreira, em Dezembro 
de 2012. Em baixo, eu mesmo, na mesma avenida, há 40 anos. O Pacheco ficava atrás, 
do lado esquerdo da foto




A 21 de Novembro de 1974, estava eu no uíjano Quitexe, na nossa angolana jornada africana. Fiz 22 anos e, creio bem, foi a primeira vez que dei alguma importância a tal dia. Cá por casa, pouca importância se dava a efemérides deste tipo, os meios não eram fartos, era modesta a família, e crescíamos com o desejo e gosto de receber um par de meias como prenda, quando muito! Lá pelo Quitexe, foi diferente!! Talvez porque o moínho da saudade nos fazia mais nostálgicos, porque mais e melhor levedava o sentido de paixão e afecto pelas nossas gentes mais próximas, mas que estavam a milhares e milhares de quilómetros e nós em teatro de guerra.
O dia correu bem, pois a sementeira de cumplicidades do grupo era grande - e a colheita maior!!! - e todos nos sentíamos irmãos, família e "amantes", diria! Neste fim de tarde de hoje, aqui em casa e quando se faz tempo para o jantar de família (desconfio que me está a chegar uma prenda de Lisboa!!!...), voltei a reler algum correio da data, recebido pelos dias mais próximos desse tempo de 1974, e dou conta que alguns amigos, por esta ou outras razões, "desapareceram" do nosso palco diário. É a vida! Não que falecesse a amizade e o carinho, mas as fronteiras do mundo separaram os nossos dias.
Há 40 anos, fiz a festa com amigos Cavaleiros do Norte e, hoje, na hora do almoço, esteve o Francisco Neto a representá-los, refrescando a memória para a jantarada desse dia, no Pacheco, com os apaparicos gastronómicos de D. Maria Lázaro, a cozinheira cabo-verdeana que fabricava sabores novos com as especiarias de lá.
O dia, em Luanda, foi de mais 6 presos, «com as mãos atadas atrás das costas, alguns deles feridos e apresentados à imprensa estrangeira» pelo MPLA. Tinham sido capturados pelas Comissões de Vigilância do partido de Agostinho Neto, nos musseques. Um deles, acusado de assassínio; outro, de extorquir dinheiro em nome do MPLA; os restantes,  de roubos - «todos acusados de se intitularem, falsamente, militantes do MPLA».
A FNLA, do seu lado da barricada, denunciava que «19 pessoas foram forçadas, recentemente, a abandonar os seus lares, no (bairro do) Catambor». Estavam «protegidas pelas Comissões da FNLA» e os seus dirigentes deixavam entender, segundo o Diário de Lisboa, que «teriam sido forçadas a abandonar as residências, na semana passada, por aderente armados de um movimento rival - cujo nome não quis revelar». A Forças Armadas Portuguesas, por sua vez, anunciaram «um africano morto a tiro» e também «dois negros e dois brancos feridos com armas de fogo, na segunda e terça-feira» - dias 17 e 18.
As negociações em Argel, entre Melo Antunes e Agostinho Neto, decorriam em «clima de autêntica fraternidade», como disse o ministro sem pasta de Portugal.
Foi assim o meu dia de 22 anos. Há 40!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

2 943 - Anos do Quitexe, prisões em Luanda e Nova Lisboa


Viegas e Pires, do Montijo, na sanzala Talambanza, à saída do Quitexe, para Carmona. Em 
baixo, a avenida do Quitexe, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Alberto Ferreira, de Zalala)

A 20 de Novembro de 1974, andei eu a ponderar sobre os meus então viçosos quase 22 anos, que faria no dia seguinte. Tivemos uma escolta a uma fazenda, comemos lá peixe seco - o que, se me lembro bem, era uma estreia gastronómica para mim!!!... -, e não gostei!!! E voltámos à nobre vila quitexana, onde aquartelávamos e nos esperava o banho da praxe - para limpar a lama do corpo, amassada de suor e pó das picadas. E o correio, que agora reli, com uma mão cheia de recados de afecto, pelas 22 vezes que fazia anos.
Agora, que os re(re)li, deixei-me emocionar pelo aerograma do Alberto Ferreira, o meu amigo cabo especialista da Força Aérea, que estava na Base Aérea de Luanda: «Estás aí para o norte e certamente com mais sossego que nesta m... de cidade, onde há porrada todos os dias. Nós agora é que estamos na guerra (...). Espero que sobrevivas a esse tédio e festejes os teus 22 anos com a alegria que todos merecemos, pois andamos por cá a dar o lombo ao manifesto, sem saber para quê. Grande abraço, pá!, não te esqueças de uma wiskada por mim".
O Alberto, com quem dividi bancos de escola (em Águeda) e noitadas de Luanda, por sítios de prazer e de gosto, foi um amigo de sempre, licenciou-se em economia, foi vereador e candidato a presidente da Câmara de Águeda e faleceu, de doença, há quase 9 anos. Fui dos últimos amigos a falar com dele, dias antes do seu triste passamento. «Acabei, pá!!!...», disse-me, sem um qualquer nó de garganta, sentindo-se próximo do seu fim, mas sereno e corajoso.
Andava pelo Minho, a despedir-se da vida - assim me disse, sem amargura, ou um lamento, sem quaisquer lutos de alma. 
Luanda, ao tempo, fervilhava em problemas de segurança, com muita gente civil armada, não se sabia (???) como nem por quem. A imprensa de 20 de Novembro de 1974, há 40 anos!!!, ufff!!!!... -, dava conta que «as Forças Armadas Portuguesas e as milícias populares do MPLA continuam a patrulhar os bairros suburbanos da capital angolana, assegurando o rápido reestabelecimento da ordem».  Não sei se seriam bem assim. Na véspera, tinham sido presos três homens que «em nome do MPLA, saqueavam um estabelecimento comercial». Confessariam, noticiava o Diário de Lisboa, que cito, «serem provocadores a soldo da reacção». O MPLA não dizia quem seria tal reacção, mas o jornal deixava entender «estarem ligados a outro movimento de libertação». Qual? Diria eu que a FNLA. A UNITA pouco aparecia.
Havia problemas em Cabinda, onde a FLEC reinvidicava a independência do enclave e, pelo MPLA, era acusada de ser «um bando de fantoches a soldo do imperialismo, como apoio de um país vizinho", referindo-se ao Zaire de Mobutu.
Mais a sul, no planalto central do Huambo, em Nova Lisboa, a PSP deteve 7 cidadãos brancos e apreendeu-lhes um Land Rover. Os presos foram transferidos para a Casa de Reclusão de Luanda.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

2 942 - O adeus a Vista Alegre e à mítica Zalala...

Vista Alegre, vista da vila,  com o aquartelamento militar em grande
 plano. Em baixo, a mítica Zalala, «a mais rude escola de guerra»


Sabem os amigos  Cavaleiros do Norte, o que se passou há 40 anos, lá pelas bandas do Uíge e na ZA do BCAV. 8423? A 19 de Novembro de 1974? Os zalala´s da 1ª. CCAV. 8423 faziam malas para a viagem que os levaria para Vista Alegre. Arrumavam as quitangas para o adeus definitivo à mítica «mais rude escola de guerra».
Vista Alegre, justamente nesse dia, recebia a Companhia de Caçadores 4145/74, comandada pelo capitão Gabriel Gomes, um oficial do Grupo das Caldas (16 de Março), que pouco tempo lá esteve. Ia substituir a CCAÇ. 4145/72 e, segundo o que leio no Livro da Unidade, «saiu do subsector a 20 de Novembro». Apenas um dia em Vista Alegre? Deve haver alguma confusão, que talvez algum dia possamos esclarecer.
Sobre a 4145/72, a companhia independente dos nossos companheiros de Vista Alegre, contou (o seu alferes miliciano) Adão Moreira que era comandada pelo capitão Raúl Alberto Sousa Corte Real. Mobilizada pelo RI1, da Amadora, partiu para Angola em Março de 1973 e de lá regressou em Dezembro de 1974.
Adão Moreira, o alferes miliciano «mais velho», comandou-a durante os períodos de doença e férias do capitão Corte Real e, neste dia de há 40 anos, já estava em Luanda.
«Fui mais cedo, com cerca de 50 homens da incorporação angolana, para processar a desmobilização deles», disse o antigo oficial miliciano de Vista Alegre - que por lá jornadeou com os também alferes Rosa (que comandou o 1º. pelotão), Fonseca (o 3º.) e Aguiar (o 4º.).
Já agora, Rosa, de Setúbal (como Adão Moreira), substituiu o alferes Dias (despromovido a furriel) e é aposentado das Finanças. Fonseca, é advogado em Lisboa. Aguiar, provavelmente também residente na capital, substituiu alferes Damas - que conseguiu a desmobilização, ainda em Portugal.
A 19 de Novembro de 1974, em Luanda, aguardava-se a chegada de Melo Antunes para, segundo a imprensa do dia, «criar uma frente comum, para acelerar, de forma pacífica, o processo de descolonização». As diferenças entre os três movimentos/partidos acentuavam-se e a FNLA, «dona» das terras uíjanas por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte e, ao tempo, já com «dezenas de de homens armados em Luanda», era acusada de não ter perdido «as características tribalistas e racistas que se reconheciam na UPA, de que é originária».
O MPLA, a braços com dissidências internas - de que eram exemplo a Facção Chipenda e a Revolta Activa, de Pinto de Andrade - assumia-se politicamente e em comissões de bairro, nos musseques luandinos. A imprensa do dia dava conta que «tem contribuído para uma acentuada melhoria da situação na capital angolana».
A UNITA aguardava «a chegada de um contingente armado (...), para colaborar na segurança da delegação» e  Wilson Santos (o chefe da dita), em conferência de imprensa num luxuoso hotel da cidade, «sugeria a possibilidade de eleições entre Maio e Agosto» de 1975.
Melo Antunes era esperado em Luanda mas, nesse memso 19 de Novembro de 1974, estava em Argel, a negociar com Agostinho Neto.
Negociavam o quê? A formação de um governo de transição, com  os três movimentos. Mas havia diferenças. Por exemplo, o MPLA negava-se a colaborar com a UNITA, que acusava de «cumplicidade com o exército colonialista português». Muito menos com a FUA, que Agostinho Neto considerava «um movimento representativo dos sectores mais reaccionários da população branca de Angola».
A norte, o BCAV. 8423 riscava dias no calendário, fazendo contas para o regresso. Que só aconteceria em Setembro de 1975.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

2 941 - Confrontações em Luanda e calma (?) no Quitexe


O Quitexe, em 2010, entrada do lado de Luanda. Reconhece-se 
o antigo bar do Rocha, tal qual na imagem de baixo, bem mais antiga



 Os tempos de Luanda, há 40 anos, não eram os mais pacíficos e a imprensa local dava conta de que «os novos incidentes agravam a impressão de insegurança que reina entre a população branca da capital». 
Isso era aum facto e testemunhavam, real e sentidamente, alguns amigos (civis) que lá moravam. Uma família amiga, por exemplo, mudou-se de um bairro da estrada de Catete para a esperada segurança de um prédio localizado perto da praça de touros.
A tropa sentia-se presa entre dois fogos: acusada pela, população branca de «não assegurar protecção adequdada»  e pela negra, que se insurgia contra o que consideravam «uma repressão excessiva sobre as desordens».
O Quitexe, na calma com que o mês passava, também não deixava de apontar alguns dedos à tropa, de algum modo camuflados mas que se sentiam. Mas era em Luanda, a capital angolana, que se temiam «novas confrontações raciais, se o MPLA, a FNLA e a UNITA não conseguirem dominar os elemetos criminosos» - como referia a imprensa.
 Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa, já dias antes lançara um apelo à calma, através da rádio e lembrou que «as buzinas dos automóveis não são uma voz política». Referia-se à forma com  a população se manifestava nas ruas da cidade. O jornal A Província de Angola, em editorial, sublinhava o apelo dos três movimentos para «a calma e a ordem».
«Quem está, então, a causar estas provocações?», perguntava o editorialista.
O dia 18 de Novembro de 1974 foi mais um de «contactos operacionais» do comandante interino do BCAV. 8423 - o capitão José Paulo Falcão - no Comando de Sector do Uíge, em  Carmona, que por essa altura se reunia no BC12, a nossa futura «casa», a partir de 2 de Março de 1975.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

2 940 - Zalalas´s na Póvoa do Lanhoso e Angola há 40 anos...


 Zalala na Póvoa do Lanhoso: o casal Horácio Carneiro, Mota Viana, Famalicão,
Pinto, Barreto, Rodrigues e Queirós. Em baixo, o Rodrigues, há 40 anos, 
em Vista Alegre (Angola), com combatentes da FNLA



 
Há 40 anos, faziam-se vésperas da saída dos Cavaleiros do Norte de Zalala - os da 1ª. CCAV. 8423 -, para Vista Alegre e Ponte do Dange - no âmbito do plano de rotação do batalhão, que apontava para o abandono das posições não urbanas. Pois bem,  40 anos depois, alguns zalala´s juntaram-se pelas bandas da Póvoa do Lanhoso, para «bater» um cozido à portuguesa.
O Rodrigues, que por lá (Angola) jornadeou, é quem nos da conta da «operação», que o juntou com o Horácio Carneiro, o Mota Viana, o Famalicão, o Pinto, o Barreto e o Queirós, a bebericar o tinto  da região, tradicionalmente servido em tijela.
Conta o Ropdrigues, lá ido direitinho de Famalicão, que «foram umas boas horas de serviço para dar cabo da dura tarefa em que todos se empenharam, cada um na sua especialidade, com  as recordações de Zalala, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona».
«Depois destes anos todos, o convívio é sempre possível», rematou.
Não se lembraram, obviamente, mas há 40 anos, precisamente, preparavam-se eles para rumar a Vista Alegre e Ponte do Dange, deixando Zalala. E muito menos que o ambiente luandino foi agravado, a 17 de Novembro de 1974, com a prisão de duas figuras conhecidas: os empresários Corte Real (gerente da Sorel) e Fernandes Vieira, figuras relevantes da economia angolana e «despachados» para Lisboa, às ordens de Rosa Coutinho, o Alto Comissário. Eram acusados de «sabotagem económica, visando instalar o caos económico em Angola», como reportrou o Diário de Lisboa.
A conferência de imprensa foi convocada de urgência, para o princípio da noite de faz hoje 40 anos, e Rosa Coutinho comentou que «isto tinha de ser feito e foi feito para evitar o agravamento da situação». Os suspeitos iam ser interrogados em Lisboa e por Luanda especulava-se sobre uma tentativa de «um golpe de força ou simplesmente tactear a situação», da parte de forças que se identificavam com a FUA e o PCDA - que, e citamos o Diário de Losboa, «teria como objectivo preparar emocionalmemnte a opinião pública para um golpe de força».
Ao tempo, havia vários partidos angolanos. De memória e para além do PCDA e da FUA, recordo a FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, que operava militarmente pela independência daquele território), o MOPUA (Movimento Popular de Unidade Angolana), a UNA (Unidade Nacional de Angola) e a FRA (Frente de Resistência Angpolana). Talvez outros!
- FUA. Frente Unida de Angola.
- PCDA. Partido Cristão-Democrata de Angola.

domingo, 16 de novembro de 2014

2 939 - Contactos com a FNLA e patrulhas em Luanda

Quitexe, em imagem de 2012. Ao fundo, a secretaria da 
CCS. Em baixo, o quartel de Vista Alegre, a 20/07/2010 (foto By 
Bembe). Mais abaixo, o administrador Galina


A 16 de Novembro de 1974, no Quitexe, «voltou a haver um encontro» de elementos da FNLA com as autoridades locais, militares e civis. Dele não tenho memória e dele pouco fala o Livro da Unidade, para além de referir que acontecia, com «elementos dispersos, agora já nas categorias elevadas da sua chefatura».
A administração civil, se bem me recordo, estava ia tempo interinamente entregue a um sr. Galina (foto), que sucedera a Octávio Pimentel Teixeira.  

Ao mesmo tempo, decorriam contactos em Vista Alegre - onde, por estes dias, ainda estava a CCAÇ 4145/72, substituída pela CCAÇ. 4145/4, que acabou por sair logo depois, para lá indo a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, comandada pelo capitão Davide Castro Dias - que, de vez, lá chegou a 25 de Novembro.
As «coisas» iam bem piores por Luanda, onde os desentendimentos entre os movimentos/partidos eram evidentes, trocando acusações. As Forças Armadas Potuguesas receberam instruções para  «abrir fogo, sem aviso prévio, sobre quem for encontrado a praticar actos de banditismo ou violência». A cidade era patrulhada por militares e os civis eram aconselhados a «limitar a circulação de viaturas, só em caso de comprovada urgência» e que, nestas condições «obedeçam prontamente às ordens ou indicações das patrulhas militares, sob o risco de serem algo de fogo dessas forças».
O jornal «O Comércio» deste dia, de há 40 anos, dava conta da chegada a Luanda de «mais um contigente armado da FNLA, facto que estaria ligado à constituição de uma unidade militar na capital», para «intervir  nas tarefas de repressão à onda de crimes e violência que tem havido». O MPLA, de sua vez, mostrou-se favorável à formação de «uma força armada dos diferentes movimentos de libertação, para ajudarem as Forças Armadas Portuguesas em tais tarefas».

sábado, 15 de novembro de 2014

2 938 - Dias calmos no Quitexe, incidentes em Luanda

 Rua de ligação da Estrada do Café (Rua de Cima) à avenida (Rua de Baixo), onde se localizavam as principais instalações militares do Quitexe. Ao fundo (seta cor de laranja) era a casa do comandante Almeida e Brito. A enfermaria que se vê na foto de baixo era a casa apontada a amarelo

Os tranquilos dias quitexanos de há 40 anos eram a antítese das situações de conflito que se viviam e multiplicavam na capital Luanda, onde já tinham chegado os três movimentos de libertação: MPLA, FNLA e UNITA. Cada qual com a(s) sua(s) força(s) e ambições.
Os Cavaleiros do Norte prosseguiam as tarefas de prepararação da sua própria rotação e apoiavam a JAEA na recuperação do troço de estrada entre o Quitexe e Camabatela, depois do de Aldeia Viçosa a Ponte do Dange - a estrada do café.
O Diário de Luanda de 15 de Novembro de 1974, há 40 anos, dava conta de um comunicado da FNLA, que apelava à «assumpção de posições actuantes e racionais, para podermos contribuir, sem ambiguidades, para uma total e definitiva separação das forças construtivas das descontrutivas» e sublinhava que «a neutralidade, neste momento, não serve a ninguém, nem à própria Angola».
O documento era «um velado ataque à Junta Governativa e ao MPLA, explorando alegadas divisões neste movimento». De que era exemplo a Facção Chipenda. O matutino «O Comércio», também de Luanda e da terça-feira anterior, atacava um eventual governo de coligação e sugeria que «somente sob a autoridade de um governo de partido único - a FNLA - se poderá resolver o probema angolano».
O MPLA, por sua vez, afirmava acreditar nas intenções de Rosa Coutinho, o Alto Comissário, e do Governo Português, prontificando-se «a colaborar na segurança dos musseques» - zonas onde se repetiam problemas e sucediam problemas e mortes.

A UNITA, de Jonas Savimbi, essa, citando o Diário de Lisboa, «tem-se remetido a um prudente silêncio, evitando ataques e críticas ao MPLA e à Junta Governativa».
Lúcio Lara, do MPLA, denunciava «provocações de pessoas que, em Luanda, vivem na zona no asfalto» - a população branca. E criticou «um ataque contra pessoas instaladas na tribna do estádio do Futebol Clube de Luanda, durante um comício do MPLA». Pediu a dissolução de forças para-militares, dando o exemplo da OPVCCA.
- JAEA. Junta Autónoma de Estradas de Angola.
- OPVDCA. Organização Provincial de 
Voluntários da Defesa Civil de Angola.