O dia 30 de Abril de 1975 foi o do regresso dos furriéis Cruz e Viegas a Carmona, depois do adiament da véspera, quando o avião que os levaria de Luanda teve de regressar à pista, pouco depois de levantar voo e por causa dos bombardea-mentos que, após uma meia hora de voo sobre os céu da capital angolana, por onde troavam morteiros, canhões e rajadas de metralhadoras ligeiras e pesadas, dos combates entre movimentos.
O voo não seguiu e, nessa noite de 29 de Abril, fomos «despejados» numa pensão, sem comida - que tivemos de procurar já depois do recolher obrigatório e com todos os perigos que isso representava.
A cada momento, podíamos ser alvejados. Ou presos. Agredidos sem quaisquer explicações. O que «funcionava» era a lei selvagem da noite! A lei das armas, no meio do caos! A do mais forte, a da sobrevivência! Era a luta dos movimentos, apanhando gente inocente no meio da metralha assassina!
Reencontro de forças
do MPLA e da FNLA
O Diário de Lisboa do dia seguinte (dia 30 de Abril de 1975) noticiava «um reencontro entre forças da FNLA e da UNITA, que já vinham de segunda-feira» - dia 28, apesar de a edição do dia 30 referir que «não estão determinadas as forças envolvidas nos recontros», embora fosse certo que «os primeiros incidentes registaram-se entre o MPLA e a FNLA».
«(...) as ambulâncias percorreram as ruas da cidade em direcção aos estabelecimentos hospitalares, desconhecendo-se, no momento, o número de mortos e feridos, não sendo de excluir que ande já pelas dezenas», reportava o Diário de Lisboa.
A manhã desse dia 30 de Abril ainda foi tempo para o Cruz e o Viegas descerem à Mutamba, à procura de almoço e tempo, também, para «alguns incidentes, que ultrapassaram já os limites dos musseques». Houve, aliás, tiroteio nas Avenidas do Brasil (próximo da sede da FNLA) e dos Combatentes - onde ficava a messe de sargentos (portuguesa).
A cidade, de resto, acordara ao som de tiroteios, de variadas origens e com armas de diversos calibres. «Pode dizer-se que ninguém dormiu», reportava o Diário de Lisboa desse 30 de Abril de há 42 anos.
A cidade, de resto, acordara ao som de tiroteios, de variadas origens e com armas de diversos calibres. «Pode dizer-se que ninguém dormiu», reportava o Diário de Lisboa desse 30 de Abril de há 42 anos.
Bem o sabiam, o Cruz e eu (Viegas), mas lá fomos para o aeroporto, onde nos reencontraram o dr. Custódio Pereira Gomes - professor e advogado em Carmona, ao tempo já viúvo de minha conterrânea Maria Augusta Tavares, que em Carmona fora professora. Na véspera, indo no mesmo avião, também voltou a terra e por essa altura nos identificámos, quando, em período de recolher obrigatório nos vimos obrigados a «furá-lo», para procurarmos comida.
Américo Oliveira |
Os 65 anos do sapador
Américo Oliveira
O soldado Américo da Silva Oliveira, da CCS dos Cavaleiros do Norte, fez 65 anos a 30 de Abril de 2017.
Militar do Pleotão de Sapadores comandado pelo alferes Jaime Ribero, era natural do Alto do Vilar, em Valongo, e lá regressou a 8 de Setembro de 1975. Para ele vai o nosso abraço de parabéns!