CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

terça-feira, 31 de março de 2015

3 075 - Patrulhamentos mistos e véspera de férias angolanas

Cruz e Viegas no separador ajardinado da avenida do Quitexe. Em baixo, estandarte do ECAV. 401








A 31 de Março de 1975, «forças do ECAV. 401 e 2ª. CCAV. 8423 fizeram um patrulhamento conjunto com os movimentos das áreas de Salazar. Quibaxe e Úcua». A situação acontecia depois de, segundo o Livro da Unidade, «contactos a vários níveis» e seguindo a experiência iniciada pelos Cavaleiros do Norte, na sua zona de acção.
A 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, já estava em Carmona, no BC12, desde 11 de Março - depois de um primeiro grupo de combate para lá se ter deslocada a 2, simultâneamente com a CCS.
Em Carmona, eu e o Cruz fazíamos malas para as nossas férias angolanas, viajando de avião para Luanda, na primeira etapa. Luanda onde, neste mesmo 31 de Maço de 1975, se registava «descida de tensão», relativamente aos dias anteriores, mas acontecia «tiroteio na Avenida do Brasil, onde está instalada a sede da FNLA». Era segunda-feira e, no sábado, tinha sido levantado o recolher obrigatório. Porém, segundo o Diário de Lisboa, «nas últimas 48 horas, houve violação do protocolo assinado entre o Governo português e os três movimentos de libertação», se bem que «essas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou quase normalidade, embora se pressinta um estado latente de tensão».
As emissoras privadas de rádio puderam retomar a sua programação normal, continuando a Emissora Oficial de Angola excluída, embora pudesse «difundir as notícias constantes dos comunicados oficiais». Mas não divulgou um comunicado do Comando do Sector de Luanda (sobre os incidentes que tinham terminado às 18 horas de Março) e outro dos médicos do Hospital Militar.
Era para essa Luanda que eu e o Cruz fazíamos malas, para uma primeira hospedagem no Katekero, antes de viajarmos para o sul.

segunda-feira, 30 de março de 2015

3 074 - Grupo de combate na ZMN e apreensões em Luanda

Vista Alegre, onde os Cavaleiros do Norte de Zalala estiveram desde 21 de Novembro 
de 1974 a 24 de Abril de 1975. Em baixo, os furriéis Américo Rodrigues e Plácido 
Queirós  com Augusto, um militar da 1ª. CCAV. 8423 - a de Zalala e Vista Alegre



A 28 de Março de 1975, «concluindo-se pela impossibilidade de garantir os serviços solicitados ao BCAV., houve que deslocar para Carmona mais um grupo de combate, este da 3ª. CCAV., por ser a subunidade que, de momento, tem a sua vida menos sobrecarregada».
O Livro da Unidade reporta este «mudança no dispositivo militar», numa altura em que a 1ª. CCAV., a de Zalala, aguardava mudança de Vista Alegre e Ponte do Dange para o Songo e a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel, do Quitexe para Carmona.
O dia, na guarnição comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias, foi assinalado pela presença do comandante Almeida e Brito, que lá foi apresentar o capitão José Diogo Themudo - o 2º. comandante do BCAV. 8423.
A 30 do mesmo mês - hoje se fazem 40 anos!!! -, Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial,  manifestou-se «confiante mas apreensivo» em relação a Angola. Confiante porque, disse à chegada a Lisboa (ido de Luanda), «o acordo do Alvor resistiu a mais uma dificuldade e funcionou porque o dialogo também funcionou». Apreensivo, «na medida em que há muita dinamite em Luanda e qualquer novo acidente pode detonar um conflito de graves proporções».
Receava, também, que «nos próximos dias, se possam repetir incidentes desagradáveis», já  que, frisava, «o clima de tensão se mantém».
Era para esta Luanda que, despreocupadamente, nos preparávamos para partir: eu e o Cruz. Para as nossas férias angolanas!!!

domingo, 29 de março de 2015

3 073 - Remodelação do dispositivo e libertações em Luanda

Carmona, a cidade no tempo dos Cavaleiros do Norte (foto da net). Em baixo, Monteiro 
e Viegas (à civil) nas traseiras da messe do bairro Montanha Pinto, em 1975. Há 40 anos!!!


Sábado, 29 de Março de 1975. Luanda continua com o recolher obrigatório, às 21 horas, mas «a tensão vai-se atenuando na cidade», depois da assinatura, na véspera, do protocolo entre os movimentos. O MPLA libertou alguns prisioneiros e entregou-os às Forças Armadas Portuguesas. A FNLA também libertou alguns populares.
Os dois movimentos tinham «montado o rigoroso serviço de segurança» à volta das suas sedes. A UNITA, pela voz do presidente Jonas Savimbi, declara-se neutral, negando estar do lado a FNLA, contra o MPLA. A cidade está cheia de slogans em favor do movimento do Galo Negro: «UNITA-Savimbi, igual a paz», é um deles. Outro: «UNITA, a tua segurança».
Os noticiários continuam suspensos, apesar de, como sublinha o Diário de Lisboa desse dia, «a situação estar aparentemente a regressar à normalidade». Esperava-se que Melo Antunes chegasse na segunda-feira a Luanda, depois de passar pela Tanzânia e Moçambique. Em Kinshasa, no Zaire, Almeida Santos garantira que «as eleições em Angola, terão lugar como previsto».
«Desejamos que se estabeleça o diálogo entre os três movimentos angolanos, para uma solução final do problema e o acesso deste país à independência», disse Almeida Santos, no final da audiência com Mobutu Sese Seko, o presidente do Zaire.
O Alto-Comissário, no mesmo dia 29 de Março, condenou a versão da ANI sobre os incidentes de Angola, considerando que «não pode deixar de ser tendenciosa, além de carecida de objectividade».  Além disso, acrescentou, «reveste-se de particular gravidade e denota ausência de consciência profissional do responsável, ou responsáveis, pela suja emissão».
Os Cavaleiros do Norte, no Uíge Angolano, continuavam a aguardar «o programa de continuação da remodelação do dispositivo». O principal problema que se punha era a ocupação, pelos movimentos emancipalistas, das instalações militares portuguesas. Por alguma razão continuavam a 1ª. CCAV. (a de Zalala) em Vista Alegre e Ponte do Dange e a 3ª. CCAV. (a de Santa Isabel) no Quitexe. No BC12. em Carmona, apenas, a CCS e a 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, E alguns grupos de combate das outras companhias.

sábado, 28 de março de 2015

3 072 - Cavaleiros em Vista Alegre e cessar fogo em Luanda

Vista Alegre, em Dezembro de 2012: o que restava do aquartelamento e bombas (foto
de Carlos Ferreira). Em baixo, Vista Alegre no tempo dos Cavaleiros do Norte, há 40 anos!




A 28 de Março de 1975, uma sexta-feira, o capitão José Diogo Themudo, comandante interino do BCAV. 8423, deslocou-se a Vista Alegre e Ponte do Dange, onde estacionava a 1ª. CCAV., a de Zalala e do capitão miliciano Davide Castro Dias. Tal qual na véspera, quanto esteve no Quitexe, foi acompanhado do tenente-coronel Almeida e Brito (o nosso comandante), que, por esse tempo e também interinamente, comandava a Zona Militar Norte - a ZMN.
A deslocação terá sido para a apresentação do capitão Themudo, que dias antes tinha chegado a Carmona e ao BC12, para ser o 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte - convidado por Almeida e Brito. 
O BCAV. 8423, recordemos, estava sem 2º. comandante desde as vésperas da partida para Angola - quando o major Ornelas Monteiro, mobilizado para essa função, foi deslocado para a Guiné-Bissau, por incumbência do MFA.
Por Luanda, MPLA e FNLA (e UNITA), mediados por Almeida Santos e Melo Antunes, chegaram a acordo para acabar com os combates. Os movimentos assumiam o
 compromisso de «cessar as hostilidades e libertar, até ao meio dia de hoje, todas as pessoas que prenderam durante os últimos dias»
MPLA e FNLA não paravam de trocar acusações. Mantinha-se o recolher obrigatório (que eu e o Cruz viríamos a conhecer, na nossa chegada e estadia na capital, em férias) e os órgãos de comunicação social estavam impedidos de «noticiarem ou descreverem os acontecimentos». Assim  reportava o Diário de Lisboa dessa 6ª.-feira, dia 28 de Março de 1975. Há precisamente 40 anos!!!

sexta-feira, 27 de março de 2015

3 071 - Cavaleiros no Quitexe e fuzilamentos em Luanda

 Porta d´armas dos Cavaleiros do Norte, no Quitexe, e notícia de fuzilamentos 
em Luanda, há precisamente 40 anos (em baixo)


 
Aos 27 dias de Março de 1975, o comandante Almeida e Brito - ao tempo a comandar interinamente a ZMN - visitou a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes e que estava aquartelada no Quitexe. Lá chegara a 10 de Dezembro de 1974, vinda da fazenda Santa Isabel.
Almeida e Brito fez-se acompanhar pelo 2º. comandante, o capitão José Diogo Themudo, chegado uns dias antes, de Luanda - onde aguardava colocação e onde foi convidado para as novas funções, precisamente pelo comandante dos Cavaleiros do Norte.
O mesmo dia foi de notícias desanimadoras, da mesma Luanda: «Angola: ameaça de guerra civil», titulava o Diário de Lisboa, em despacho da capital angolana. Acrescentava que «ontem, Luanda viveu momentos dramáticos». E que «soldados da FNLA fuzilaram, 50 gerrrilheiros do MPLA, nua estrada proxima da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar».
«Pioneiros do MPLA foram também massacrados e dois deles enforcados», relatava o DL, precisando que «ao todo, foram mortos 51 jovens» e que «a matança foi feita com requintes de crueldade». Foram, acrescentava o jornal, «fuzilados sumariamente no Centro de Instrução Revolucionário Hoji la Henda, por elementos da FNLA». Tinham sido capturados e mandados subir para um camião, que os levou para um sítio isolado, perto de um vala. «Ali, à medida que iam descendo, eram abatido scom rajadas de metralhadora. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os esperava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga».
A UNITA declarava-se neutral e o presidente Jonas Savimbi, em Dar-es-Salan, declarava «não acreditar na possibilidade de uma guerra civil em Angola» e interrogava-se sobre «quem a começaria?».
Como ontem aqui foi dito, era para esta Luanda que eu e o Cruz, furrieis milicianos dos Cavaleiros do Norte, nos preprávamos paa patir, em gozo de férias.

quinta-feira, 26 de março de 2015

3 070 - Patrulhamentos mistos em Carmona e granadas no Palácio do Governador

Militares da FNLA, em Julho/Julho de 1975 (foto de Carlos Letras). Alguns deles 
terão integrado os patrulhamentos mistos iniciados na noite de 26  para 27 de Março 
de 1975, em Carmona. Em baixo, vista área do BC12  e o 1º. Ministro Vasco Gonçalves


Os patrulhamentos mistos, na cidade de Carmona, começaram na noite de 26 para 27 de Março de 1975, integrando forças do EP (os Cavaleiros do Norte), das FAPLA (braço armado do MPLA) e das FALA (idem, da FNLA). A UNITA, ao tempo, não existiam pela terra uíjana.
A 15, e segundo o Livro do BCAV. 8423, «esta actividade militar já havia sido experimentada, aquando da comemoração do feriado da FNLA e exclusivamente ao serviço de segurança dos locais aonde iriam celebrar-se tais comemorações».
Ao tempo, «ensaiavam-se os primeiros passos de actividade operacional em Exército Integrado, com os movimentos emancipalistas», numa altura em que, nos distritos de Salazar e Luanda, que não no do Uíge, «se verificou um deteriorar da situação». 
A situação, em Luanda, é que «voltou a deteriorar-se» na noite da véspera, dia 25. «Duas granadas explodiram nos jardins do Palácio do Governo, não se tendo registado dívidas», noticiava a imprensa de há 40 anos. Acrescentava que «soldados da FNLA, na tarde de ontem, tomaram posições no cimo de alguns prédios  e ouviram-se também tiros de armas pesadas, durante a noite, embora se desconheçam os autores dos disparos».
Era para essa Luanda que, daí a dias, iríamos partir de férias: eu e o Cruz.

De Lisboa, também chegavam notícias da posse do novo Governo - o quarto Governo Provisório,  depois do 25 de Abril e ainda não tinha passado um ano.
- 1º. Ministro: Coronel Vasco Gonçalves (foto ao lado).
- Ministros sem Pasta: Álvaro Cunhal, Mário Soares, Pereira de Moura e Magalhães Mota.
- Negócios Estrangeiros: Major Melo Antunes.
- Justiça: Salgado Zenha.
- Trabalho: Major Costa Martins.
- Comunicação Social: Comandante Jesuíno Correia.
- Defesa: Comandante Silvano Ribeiro.
- Equipamento Social e Ambiente: Coronel José Augusto Fernandes.
- Coordenação Interterritorial: Almeida Santos.
- Planeamento Económico: Mário Murteira.
- Finanças: José Fragoso.
- Indústria. João Cravinho.
- Agricultura: Fernando Oliveira Baptista.
- Transportes e Comunicações: Veiga de Oliveira.
- Administração Interna: António Metelo.
- Educação  Cultura: Major José Emílio da Silva.
- Comércio Externo: Silva Lopes.
O elenco ministerial de Vasco Gonçalves governou até 8 de Agosto do mesmo ano (1975).
- EP: Exército Português.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de 
Libertação de Angola (do MPLA).
- FALA. Forças Armadas de Libertação 
de Angola (da FNLA).

quarta-feira, 25 de março de 2015

3 069 - Tiroteios, granadas e mortes na cidade capital de Angola

A baía de Luanda, em foto recente (da net). Furriel Viegas e o seu conterrâneo
Albano Resende (à direita), na ilha (Restinga) de Luanda, em Abril de 1975

Eu e o Cruz estávamos com férias marcadas e, em Luanda, local primeiro da nossa mesada turística, o mais que havia eram problemas: «Mais de 20 mortos entre as forças do MPLA e da FNLA», noticiava a imprensa do dia 25 de Abril de 1975.
«Os incidentes iniciaram-se na madrugada do dia 23, nalgumas zonas dos subúrbios, e afectaram, seriamente a boda da população», sublinhava o Diário de Lisboa desse dia, acrescentando que «há certas áreas interditas à normal circulação de pessoas e viaturas, como é o caso do bairro do Cazenza, onde durante toda as manhã e parte da tarde de ontem se ouviram constantes disparos de armas automáticas». E também rebentamento de granadas.
O bairro do Calemba também tinha sido palco de incidentes entra a FNLA e o MPLA, mas, na chamada «cidade do asfalto», curiosamente, ou talvez não, «a calma não tem sido perturbada».
«A vida decorre serenamente, a calma não tem sido perturbada. A vida decorre serenamente,. embora se note apreensão no rosto das pessoas», dava conta o Diário de Lisboa,
Certamente por isso, nos afoitava o nosso amigo Albano Resende - conterrâneo civil de Luanda -, que me fazia notar que, pela capital angolana, não havia guerra nenhuma. E, na verdade, como viemos a confirmar, a cidade abriu-nos portas e janelas, a noite e o dia, para uns bons pares de dias de grande afoiteza turística.
Quais incidentes, quais quê?
Quanto aos 20 mortos, noticiava o Diário de Lisboa de há 40 anos: «Calcula-se em 18 o número de baixas entre os soldados da FNLA, enquanto não há a registar baixas entre as forças do MPLA». O Diário de Lisboa acrescentava que «alguns civis foram também atingidos pelas balas e duas crianças, morreram devido ao tiroteio». 
Assim ia o processo de descolonização, com os Cavaleiros do Norte pelo Uíge, a medirem terreno e a conseguirem manter a segurança e paz mínimas. A que custo!!!

terça-feira, 24 de março de 2015

3 068 - Comandante José Diogo Themudo e 11 mortos em Luanda


O capitão José Diogo Themudo (à direita), com o alferes João Machado (da 2ª. CCAV., à 
esquerda) e o capitão José Paulo Falcão, na varanda do edifício do comando do BC12, em Carmona. 
O comandante Almeida e Brito (em baixo)



A 24 de Março de 1975, o tenente-coronel Almeida e Brito passou a comandar a ZMN. Interinamente. O capitão José Diogo Themudo, que uns dias antes tinha chegado a Carmona e ao BCAV. 8423, passou a comandar os Cavaleiros do Norte. Interinamente, também.
Pouco simpáticas iam as coisas por Luanda, para onde, dentro de menos de uma semana, iríamos partir o Cruz e eu. De férias. O MPLA e a FNLA trocaram tiros nos bairros do Cazenga, Marçal, Sambizanga e Vila Alice. Já desde a noite de 22, o sábado anterior. Os recontros já tinham provocado 11 mortos (civis, dois deles) e, na manhã de 24, segunda-feira (hoje se fazem 40 anos) ouvia-se «tiroteio intenso em toda a zona suburbana, a partir da avenida do Brasil». Isto, depois de, na noite da véspera, domingo, os dois movimentos terem acordado tréguas,
As NT não intervieram e o tenente coronel Heitor Almendra, comandante do Sector de Luanda, disse à imprensa local que «os incidentes são entre os movimentos de libertação», recusando-se, por isso, «a interferir», o que, segundo o Diário de Lisboa desse dia, «poderá fazer perigar o cumprimento do Acordo do Alvor».
- THEMUDO. José Diogo da Mota e Silva Themudo, 
capitão de cavalaria. É coronel aposentado, fará 74 anos 
a 19 de Setembro e reside em Lisboa. Ver AQUI

segunda-feira, 23 de março de 2015

3 067 - Férias de Abril de há 40 anos e refugiados no norte de Angola

Cruz e Viegas, furriéis milicianos da CCS dos Cavaleiros do Norte na Rua de Baixo
(avenida) do Quitexe. Atrás, reconhecem-se o bar dos praças e a cobertura que serviu
de sala das Aulas Regimentais. Em baixo, Viegas e Cruz e Lisboa, 40 anos depois


A 23 de Março de 1975, eu e o Cruz fazíamos contas para o dia da partida para férias - que tínhamos combinado gozar por Angola, em Abril, conhecendo a beleza das suas terras e a alma das suas gentes. Por Luanda, Nova Lisboa, Lobito e Benguela e outras localidades do sul, por onde mourejavam familiares e amigos. E que tínhamos planeado visitar de surpresa. Assim foi!
Os Cavaleiros do Norte, aquartelados no BC12, continuavam a sua jornada uíjana e a imprensa trazíamos notícias: confirmava-se o repatriamento de angolanos refugiados no Zaire - seriam uns 400 0000!!!..., segundo a ONU; ou dois milhões, na versão da FNLA. A operação começara já em Setembro de 1974 e, agora, pretendia-se que esses refugiados fossem instalados em 20 campos de alojamento, ao longo da fronteira angolana e zairense.
A revista Afrique-Asie noticiava que «esses campos são dotados de equipamentos colectivos, fornecidos pelo exército do Zaire». A terceira fase dessa operação ainda segundo a revista, consistiria em «transportar e instalar esses refugiados em diferentes centros de permanentes, alojando-os em tendas de 7 pessoas», que se destinariam a ser «aldeias fortificadas (...), dotadas de equipamentos que permitem controlar as populações».
A operação custaria 20 milhões de dólares e seria financiada pelo Zaire, cujo presidente, Mobutu Seze Seko, era cunhado de Holden Roberto, presidente da FNLA. Zaire que, já agora, «estaria com dificuldades financeiras», porque «o FMI lhe recusou um empréstimo».
Adiantava a revista:«Consta que certas empresas mineiras e fazendeiros do Norte de Angola, que têm serias dificuldades de recrutamento de mão de obra, estariam dispostos a financiar a operação». A ser assim, concluía a revista, «Holden Roberto mataria dois coelhos da mesma cajadada: poderia recrutar no Zaire um exército para ocupar o norte de Angola e para apoiar os seus projectos de domínio do Governo de Luanda».

domingo, 22 de março de 2015

3 066 - Polícia Militar em Carmona e refugiados no norte de Angola

Prédio do Kiatomo, em Carmona (foto de cima). Notícia de há 40 anos: «FNLA 
recruta refugiados no Zaire, para as sua Forças Armadas». no Diário de Lisboa (imagem de baixo)



Há 40 anos, davam-se os primeiros passos da Polícia Militar, na cidade de Carmona e logo se viu que a tarefa não ia ser nada fácil. A tropa era hostilizada pela comunidade civil europeia - os brancos!!!, vá lá saber-se porquê!!!... - e aconteciam pequenos incidentes. Não era excepcional, bem pelo contrário, apelidarem-nos de cobardes, de traidores, de fascistas, sei lá mais do quê.
Avisadas estavam os grupos que faziam PM: não reagir. Amortecer reacções!!! Não conflituar!!! Zelar pela boa conduta dos militares: quando ao comportamento, quanto ao atavio, quando à serenidade. O Livro da Unidade, como por aqui já dissemos e quanto à missão da PM, recorda «procurar, através deste meio, prever a resolução das múltiplas quezílias existentes entre a população civil e as NT, devido à animosidade que aquela tem a estas».
O que na altura se especulava por Carmona era a possibilidade de a zona norte de Angola (onde nós estávamos) vir a ser «invadida» por refugiados no Zaire, militantes e parte deles prováveis combatentes da FNLA. 
A leitura, agora, do Diário de Lisboa, permitiu confirmar esse facto - a que daremos pormenor  no post de amanhã. 

sábado, 21 de março de 2015

3 065 - As vésperas de ir para Angola e o livro de Horácio Caio

«Menina de 18 anos, violada e assassinada no dia 15 de Março de 1961, numa fazenda
dos arredores do Quitexe. O cadáver desnudo tem um pau aguçado espetado no sexo» 
- legenda do livro «Angola: os dias do desespero», de Horácio Caio, cuja capa se vê abaixo




Mobilizados para Angola e já a gozar a Licença de Normas, importava aos Cavaleiros do Norte saber notícias de Angola. E delas sabíamos pela leitura da imprensa do tempo, com as limitações que teria. Outra fonte informativa, no que a mim dizia respeito, era o contacto, sempre demorado (pelas dificuldades de comunicação desse tempo), com familiares e amigos que faziam vida pela Angola «14 vezes maior que Portugal».
Outra, era a leitura que se «apanhava». E um livro fundamental, de Horácio Caio: «Angola: os dias do desespero». Uma apaixonante e dramática narrativa dos primeiros dias da guerra colonial, que também reportava o Quitexe - mal sabendo nós que lá seria o chão do nosso aquartelamento.
Ainda adolescente, mostrado por meu pai - que o tinha recebido de seu tio Joaquim Viegas (estabelecido em Nova Lisboa) -, já tinha lido o livro de Horácio Caio. Que voltei a ler quando, há 41 anos, fazia vésperas de partir para Angola.
A imagem deste post é uma das várias que ilustram o livro de Horácio Caio e que pode, com outras, ser revista AQUI.
A importância dos portos de Angola (e de Cabo verde e Moçambique) foi salientada num estudo do Institut For Conflit Studies, de Londres, de há precisamente 41 anos, dando ênfase  à sua localização «estratégica para para o abastecimento de petróleo à Europa e Américas».
O mesmo relatório, reparemos nesta curiosidade (e cito o Diário de Lisboa de 22 de Março de 1974), «elaborado por um grupo de especialistas ligados à navegação marítima», salientava também «ser inteiramente destituída de fundamento a afirmação  generalizada de que existem, nos referidos territórios portugueses, áreas em poder dos chamados movimentos de libertação».

sexta-feira, 20 de março de 2015

3 064 - Aviões para Angola e dois mortos em Lamego


 Furriéis milicianos Neto, Viegas e Monteiro, Rangers da CCS dos Cavaleiros do Norte, 
na avenida do Quitexe, em 1974. Em baixo, crachás das Operacionais Especiais



 Os Transportes Aéreos de Angola (TAAG) assinaram, a 19 de Março de 1974, o contrato para a aquisição de três Boeing´s 737-200 Advanced, o último modelo de fabrico. Os dois primeiros seriam entregues em Julho e Dezembro de 1975 e o terceiro em finais de 1976. Os dois primeiros tinham um custo de 515 000 contos.
A notícia foi lida no Diário de Lisboa desse dia, uma 3ª.-feira, estavam os (futuros) Cavaleiros do Norte em gozo da Licença de Normas, cada qual no seu chão natal. Na véspera, no mesmo jornal, soube de um acidente no Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) - onde, no 2º. turno de 1973,  tínhamos acabado o curso de Ranger´s, eu, o Neto e o Monteiro (furriéis milicianos) e o alferes Garcia (da CCS, aquartelada no Quitexe), o alferes Mário Sousa e o furriel Manuel Pinto (da 1ª. CCAV., a de Zalala), o alferes João Machado e o furriel António Carlos Letras (2ª. CCAV., de Aldeia Viçosa) e o alferes Augusto Rodrigues e o furriel Armindo Reino, este do terceiro turno (3ª. CCAV., a de Santa Isabel) .
O rebentamento de uma granada, no dia 16 e na instrução de explosivos, minas e armadilhas, provocou dois mortos e 14 feridos. Morreram o aspirante a oficial miliciano Telmo Augusto Pinto Mesquita, que era o instrutor - natural de Ribalonga, concelho de Carrazeda de Ansiães. E o soldado cadete Victor Manuel Ramires Pereira, do Lavradio (Barreiro).
O aspirante Pinto Mesquita tinha sido, como soldado cadete, do 3º. turno de instrução de 1973 - o mesmo do furriel miliciano Reino. Que se seguiu ao nosso (o dos restantes Rangers dos Cavaleiros do Norte). Na trágica tarde de 16 de Março de 1974 e no decorrer da instrução de explosivos, sendo ele especializado neste tipo de instrução, procedia à demonstração do funcionamento do sistema de seguramça de uma armadilha montada com uma granada de mão defensiva, com anel de fragmentação.

quinta-feira, 19 de março de 2015

3 063 - Anos de «zalalas» e palavras de Holden Roberto

O furriel miliciano Manuel Dinis Dias, em destaque, com Cavaleiros do Norte de 
Zalala. Em baixo, outro «zalala», mas já em Vista Alegre: o 1º cabo Carlos Ferreira. 
Ambos  fizeram 23 anos a 19 de Março de 1975



A 19 de Março de 1975, dois «zalalas» fizeram 23 anos: o furriel miliciano Manuel Dinis Dias e o 1º. cabo Carlos Ferreira. Ambos da 1ª. CCAV. 8423, que estava aquartelada em Vista Alegre. 
O Dias era o mecânico dos Cavaleiros do Norte comandados pelo capitão Castro Dias. Oriundo de família de Oliveira do Hospital, radicou-se em Lisboa - onde sempre fez vida na área da mecânica. Vítima de doença, faleceu a 20 de Outubro de 2011, deixando viúva (Júlia) e uma filha (Ana Filipa).
Carlos Ferreira, de Albergaria, foi meu contemporâneo na então Escola Industrial e Comercial de Águeda mas, curiosamente, nunca nos (re)encontrámos na jornada africana. Nem sequer na formação do Batalhão, há 41 anos, em Santa Margarida. Foi este blogue que nos aproximou, em princípios de 2013, pouco depois de ele ter voltado às terras do Uíge - em Dezembro de 2012. E de lá nos ter enviado inúmeras fotografias.
Holden Roberto, presidente da FNLA, declarava, no mesmo dia e ao Diário de Luanda, que o objectivo era «ganhar as eleições». «A FNLA - acrescentou - implanta-se em todas as camadas populacionais com sucesso que ultrapassas as previsões. Nós estenderemos, nos próximos meses, a nossa audiência por todo o país». 
Sobre o ELNA, a sua força armada, comentou que «é um exército disciplinado e poderoso». «Um exército - acrescentou Holden Roberto -  composto dos filhos do povo que combateram as forças colonialistas durante 14 anos». Assim respondia às acusações feitas ao ELNA, sobre «certos incidentes que por vezes ocorrem» e pelos quais era responsabilizado.

quarta-feira, 18 de março de 2015

3 062 - Cavaleiros do Norte em licença e racismo em África


Carmona, a entrada na cidade, do lado do Quitexe (foto 
da net, recente). Marcelo Caetano (em baixo)





Aos 18 dias do mês de Março de 1974, há 41 anos, os então futuros Cavaleiros do Norte entraram na chamada  Licença de Normas, os 10 dias que os militares mobilizados gozavam antes da partida para o ultramar. Se bem que, ao tempo, sabendo que iríamos para Angola, não conhecíamos a data!
A licença seria de 18 a 28 de Março mas a verdade é que «acabou por ser aumentada, de tal modo que só em 22 de Abril. de voltou a reencontrar todo o pessoal do Batalhão». E, como recordo do Livro da Unidade, para «dar efectivação à Instrução Operacional» - o famoso IAO.
Os quadros do BCAV. 8423 (oficiais e sargentos milicianos) foram algumas vezes chamados a fazer serviços, mas logo regresssavam a casa e foi num dessas vezes que, estado eu, o Monteiro e o Neto por lá, se apresentaram os dois homens das transmissões, o Pires (de Bragança) e o Rocha - ao tempo, 1ºs. cabos milicianos, como nós.  
O 16 de Março tnha sido dois dias entes e Marcelo Caetano, o presidnete do Cosnelho, em declarações ao jornal francês «Le Point», afirmava «jamais concordar com o abandono das províncas ultramarinas». «Portugal - disse - está a lutar em África em defesa de uma sociedade multirracial e contra movimentos racistas que pretendem expulsar os brancos de África».
«Estamos a lutar pelo direito que têm todos os homens de viverem juntos na África e, acima de tudo, em defesa da sociedade multirracial que lá formámos.  Pelo contrário, os chamados movimentos de libertação são racistas. O seu objectivo é a expulsão dos brancos. Primeiro dos postos de comando, depois da África», disse Marcelo Caetano.
Angola era tema, nesse dia, nos jornais portugueses: uma operação de coração aberto, realizada num hospital de Nova Lisboa, coroada de êxito e realizada por uma equipa chefiada pelo médio Ivo Botelho. Os Bispos diocesanos anunciaram, para 30 de Junho, uma cerimónia colectiva e comemorativa do Ano Santo, com uma peregrinação a Massangano, a mais antiga paróquia do interior de Angola.
Assim ia o «nosso» mundo pré-angolano!
- IAO. Instrução de Aperfeiçoamento Operacional. Ou
Instrução de Adaptação Operacional. Ou ainda
Instrução Altamente Operacional.   

terça-feira, 17 de março de 2015

3 061 - Caçadores a depender dos Cavaleiros do Norte


Furriel Peixoto, Cavaleiro do Norte na parada do BC12, em Carmona, há 40 anos. Reconhecem-se os clarins Irineu (?) e Caetano, o furriel Cruz (os três primeiros, da esquerda e por esta ordem), o 1º. sargento Luzia (atrás), todos em continência ao alferes miliciano Cruz, de oficial de dia. Em baixo, mapa do norte de Angola, com localidades citadas no texto




A 17 de Março de 1975, hoje se fazem 40 anos, a CCAÇ. 4741/74 e a 1ª. CCAÇ. do BCAÇ. 4911 passaram a «depender operacionalmente do BCAV. 8423»
A CCAÇ. 4741/74 estava estacionada no Negage, chegara a Angola em Agosto de 1974 e regressou em Setembro de 1975. Aquartelou em Santa Cruz de Macocola - agora Milunga -, a nordeste de Carmona (Uíge). 
O furriel miliciano João Domingos Peixoto - que durante meses foi Cavaleiro do Norte, no Quitexe e em Carmona - era desta Companhia de Caçadores, que tinha sido formada no Batalhão Independente de Infantaria (BII) de Angra do Heroísmo, nos Açores. 
A 1ª. do BCAÇ. 4911 estava aquartelada em Sanza Pombo.
O dia 17 de Março de há 40 anos foi tempo para Paulo Jorge, das Relações Exteriores do MPLA, acusar «elementos da Forças Armadas de violarem o Acordo do Alvor». O dirigente «mpla» em Argel falava em Lisboa, a caminho de Havana, e acusava esses elementos de «sistematicamente tomarem atitudes discriminatórias  em relação ao MPLA», o que, sublinhou, «a continuar, poderá comprometer a cooperação que nós desejamos manter com as forças progressistas portuguesas».

segunda-feira, 16 de março de 2015

3 060 - Cavaleiros nas Normas e Revolta das Caldas

A coluna da Revolta das Caldas, a caminho de Lisboa. 
Em baixo, notícia do Diário de Notícias de 17 de Março de 1974



O dia 16 de Março de 1974 foi um sábado e o dia seguinte do fecho da nossa instrução operacional, em Santa Margarida. A 18, segunda-feira seguinte, iniciaríamos (e iniciámos) a chamada Licença de Normas - os 10 dias de férias para quem estava mobilizado para um dos teatros de guerra.
Mal sabíamos, mas foi o dia da Revolta das Caldas, também referida como Intentona das Caldas, ou Golpe das Caldas. Foi uma tentativa de golpe de Estado frustrada, ocorrida em 16 de Março de 1974. 
O golpe foi descrito como "uma tentativa de avançar com o golpe que não foi devidamente preparada" , tendo sido precursor da Revolução dos Cravos que, a 25 de Abril seguinte, derrubou o regime ditatorial do Estado Novo Português. É referido, por vários autores, como o catalisador que aglutinou o oficialato em torno do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Ao tempo, o velocidade de comunicação não era a de hoje e as restrições informativas também tinham o seu peso. Só à noite, em notícia de telejornal, de tal se soube - com as limitações de pormenor que se podem imaginar. A imprensa escrita só no dia seguinte se referiu ao assunto. Já era domingo.
Ver AQUI

domingo, 15 de março de 2015

3 059 - Inspecção de Instrução Operacional do BCAV. 8423

Santa Margarida, com o RC4 em primeiro plano, de vista aérea, à direita. 
Em baixo, a porta d´armas do quartel, em foto de Agosto de 2010


O coronel tirocinado Lobato Faria fez, a  15 de Março de 1974, a primeira inspecção de Instrução  Operacional ao Batalhão de Cavalaria 8423 que, a esse tempo, jornadeava por Santa Margarida. Era Inspector de Região Militar de Tomar.
O dia era o dos 13 anos do levantamento armado do povo angolano do norte de Angola, particularmente no Quitexe - que iria ser o nosso poiso, do início da nossa missão. »mal imaginávamos...
O general Joaquim da Luz Cunha foi nomeado Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas - substituindo Costa Gomes (Chefe), exonerado pelo Governo de Marcelo Caetano, assim como António de Spínola (vice-chefe). Tinha sido comandante da Região Militar de Angola, em 1972.
O Clube de Teatro de Angola anunciou nesse dia que iria realizar espectáculos de rua, na marginal de Luanda - para comemorar o Dia Mundial do Teatro. A notícia era do jornal A Província de Angola, que também adiantava a deslocação do encenador Norberto Barroca, para «apoiar o trabalho que o Clube se propõe fazer».
A Comissão de Descolonização da ONU, nesse mesmo dia 15 de Março de 1974, aprovou ia moção «exigindo o termo da luta mantida pro Portugal contra os chamados movimentos de libertação». A moção foi apresentada pela Etiópia e subscrita por Tanzânia, Congo Costa do Marfim, Mali, Síria e Tunísia. 
Foi isto há 41 anos, quando os Cavaleiros do Norte se preparavam para a jornada angola do Uíge!

sábado, 14 de março de 2015

3 058 - Véspera do primeiro patrulhamento misto em Carmona

Comando da Zona Militar Norte (ZMN), em Carmona, vendo-se a bandeira portuguesa 
o sentinela. Em baixo, a Câmara Municipal, na mesma praça da cidade uíjana




Angola estava no futuro próximo dos futuros Cavaleiros do Norte e, a 14 de Março de 1974 - há precisamente 41 anos!!!... -, em Santa Margarida e no Destacamento do RC4, prosseguia a sua preparação operacional, já com os especialistas que, a partir do dia 4 do mesmo mês, «completaram os efectivos do batalhão».
Íamos para Angola e era de Angola que queríamos saber notícias, pelo que não era de estranhar que as procurássemos na imprensa da época. O «Diário de Lisboa» de há 41 anos, por exemplo, dava conta de que «a cidade de S. Salvador foi fustigada por um tornado que causou prejuízos diversos, nomeadamente no bairro Joaquim Oliveira, onde perto de 20 habitações ficaram parcialmente danificadas».
S. Salvador era capital da província do Zaire, no norte de Angola, e era para o norte que iríamos - só não sabíamos para onde. Seria para o Uíge, província vizinha  - ambas no norte angolano, metralhado pela guerra, desde os dramáticos momentos de 1961.
Outra notícia, vinha de Luanda, onde, no porto, um cargueiro brasileiro (o «Orange») colidiu com o português «Congo», no momento em que atracava. E, de seguida, abalroou o sueco «San Blas». As consequência foram várias, com largos prejuízos em cada um deles, nas sem danos humanos.
Lá por Carmona, antecipávamos o primeiro patrulhamento misto, que seria no dia seguinte - por ocasião do aniversário da FNLA. O patrulhamento envolveria (envolveu) forças portuguesas e dos três movimentos: o ELNA (exército da FNLA), as FAPLA (do MPLA) e a FALA (da UNITA).

sexta-feira, 13 de março de 2015

3 058 - Presos do 11 de Março e a descolonização de Angola

Carmona, a Rua do Comércio e o popular sinaleiro, 
no cruzamento que 
dava para a praça dos edifícios públicos. Em baixo, notícia do Diário de
Lisboa sobre o 11 de Março de 1975




O dia 13 de Março de 1975 foi tempo, no tempo dos Cavaleiros do Norte do Uíge angolano, para o MPLA dar conta do seu «apoio solidário ao MFA» e, em Lisboa, era noticiada a prisão de «reaccionários civis, por suspeita de estarem envolvidos no golpe de 11 de Março». Entre eles, 5 elementos da família Espírito Santo, do actual BES: José Manuel Espírito Santo Silva, Carlos António Espírito Santos Silva Melo, Manuel Ricardo Pinheiro Espírito Santo Silva, Jorge Manuel Pinheiro Espírito Santos Silva e Maria Borges Coutinho Espírito Santo Silva.
Todos eles foram para o reduto norte da Cadeia de Caxias e, com eles, também José de Jesus Madeira, Quirino Madeira (redactor da Constituição de 10933), Domingos Samarino Pina, Tomás de Aquino Rodrigues Ciríaco, Manuel Gomes do Couto, António Luís  Ricciardi, José Luís Parreira Halireau Roquete e Manuel Sarrinha Marrecos Duarte. Também a de  José Carlos Champalimaud e José de Mello (do Grupo CUF).
A lista é bem mais longa, incluindo, segundo o Diário de Lisboa de há precisamente 40 anos, «dezenas de reaccionários presos pelo COPCON». Lista que pode ser vista AQUI
O apoio do MPLA ao MFA tinha a ver com os acontecimentos de 11 de Março e Paulo Jorge, da Comissão para os Assuntos Exteriores do MPLA, falando em Argel, afirmava a sua «inquietação pela tentativa de golpe de Estado das direitas, em Portugal». «Felizmente - sublinhou o dirigente do MPLA - que o Movimento das Forças Armadas pôde derrotar esta tentativa e salvar, assim, as conquistas da revolução do 25 de Abril e assegurar o processo de descolonização em curso».

quinta-feira, 12 de março de 2015

3 057 - Os Cavaleiros souberam do 11 de Março de 1975


O Cine Moreno, em Carmona, ficava numa praça em frente ao Rádio Clube do Uíge (em 
cima). O pavilhão desportivo e o cinema do Clube Recreativo do Uíge (CRU)




A 12 de Março de 1975, chegaranm tarde a Carmona os ecos da contra-revolução em Lisboa - na véspera. A Emissora Oficial de Angola, no noticiário das 20 horas, deu «ampla reportagem do acontecimento» e, imediatamemnte antes, o Alto Comssário Silva Cardoso «fez um pequeno relato dos acontcimentos» - precisando que «a situação estava perfeitamente controlada pelas Forças Armadas».
Só ao outro dia, ou talvez depois, chegou ao Quitexe o «Diário da Luanda» - jornal da tarde luandina, dando conta da «intentona reccionária que eclodiu em Lisboa». O general António de Spínola estava em fuga, assim como outros cabecilhas - provavelmente para Espanha. As fronteiras foram encerradas e alguns oficiais revoltosos foram presos no Quartel do Carmo. O 1º. Ministro Vasco Gonçalves advertia que «minoria de criminosos lançou militares contra o MFA».
Isto incomodou, ou de algum modo preocupou, os Cavaleiros do Norte?
Nada, do que me lembro. A adaptação à cidade continuava tranquila, sem dificuldades - apesar da animosidade da maioria da comunidade civil branca. Dela estavamos avisados. Para a não reagir a bocas, a insultos ou a cuspidelas para o chão quando passávamos nas ruas, frequentávamos cafés, bares e restaurantes, ou cinemas - o Moreno, o do Clube Reacreativo do Uíge -, ou casas nocturnas e de prazeres abertos ao apetite dos jovens Cavaleiros do Norte. 
Uma coisa era certa e segura, entre a guarnição: disciplina total, sentido e prática de dever e de honra, aprumo e atavio, dedicação e interesse. Virtudes que, um ano antes, nos ensinaram em Santa Margarida, no período de preparação para a jornada africana de Angola.

quarta-feira, 11 de março de 2015

3 056 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa apresentados em Carmona


Militares de Aldeia Viçosa, reconhecendo-se o furriel Matos - o primeiro da esquerda, de 
pé. Em baixo, o capitão José Manuel Cruz, comandante da 2ª. CCAV. 8423, aquartelada nesta 
localidade uíjana, de onde saiu há precisamente 40 anos. Com o capitão José Paulo 
Fernandes (3ª. CCAV.) e alferes João Machado (em baixo) 


A 11 de Março de 1975, há 40 anos, a 2ª. CAV. 8423 concluiu a sua rotação para Carmona, onde, passou a integrar a força militar do BC12. No dia 2, já tinha rodado um seu grupo de combate, com a CCS, a do Quitexe.
Os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa eram comandados pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, de Esmoriz (Ovar), e que, se me lembro bem, era atleta internacional de voleibol.  É, nos dias de hoje, professor de educação física aposentado, para além ex-empresário comercial.  Ali tinham chegado a 10 de Junho de 1974, directamente do Campo Militar do Grafanil - onde tinham aquartelado a 4 do mesmo mês, idos do Regimento de Cavalaria 4 (RC4), no Campo Militar de Santa Margarida, no Portugal Europeu. A subunidade do BCAV. 8423, esta de Aldeia Viçosa, teve associado o Grupo Especial 222 (GE´s). 
A colocação em Aldeia Viçosa fôra decidida a 27 de Maio de 1974, aquando da deslocação do comandante Almeida e Brito, do capitão José Paulo Falcão (oficial adjunto) e do alferes José Leonel Hermida (oficial de operações), para, segundo o Livro da Unidade, «os primeiros contactos, os quais foram muito superficiais» e depois de reuniões de trabalho em Carmona, na Zona Militar Norte (ZMN) e no Comando do Sector do Uíge (CSU).
Os três oficiais tinham viajado de Luanda, via Negage, em meios da Força Aérea Portuguesa. Já no Quitexe, foram recebidos, nesse 27 de Maio de 1974, pelo comandante do BCAÇ. 4211, «batalhão que iria ser substituído na ZA pela nossa unidade», como relata o Livro da Unidade.

terça-feira, 10 de março de 2015

3 055 - Manifestação em Luanda e Cavaleiros em Carrmona

A parada do BC 12, vista da varanda do edifício do Comando. Vê-se o icónico depósito 
de água e, ao fundo, a cozinha e o refeitório (à esquerda) e as oficinas-auto (à direita). 
Furriéis Pires de Bragança Neto na rampa de saída da messe de sargentos 
do Bairro Montanha Pinto (em baixo)




O Alto Comissário Silva Cardoso assistiu, a 10 de Março de 1975, à manifestação que, em Luanda, se realizou frente ao Palácio do Governo, de «apoio à reabertura do programa radiofónico «Kudibanguela», suspenso pela direcção da Emissora Oficial de Angola, por ter feito a transcrição de parte do livro de Marcelo Caetano, em que o antigo chefe fascista alude à UNITA e ao dr, Jonas Malheiro Savimbi» - como acabo de ler no Diário de Lisboa desse dia.
O general Silva Cardoso estava acompanhado dos ministro Lopo do Nascimento (MPLA) e Rui Monteiro (da Informação) e os manifestantes, pela voz de Manuel Bento, aproveitaram para «exprimir em  nome do povo, a sua discordância com algumas medidas tomadas ultimamente pelo Governo de Transição», nomeadamente «a mobilização do pessoal dos portos de Luanda e Lobito» e, entre outras coisas, a nova lei de regulamentação das greves.
O Ministério da Informação, sobre isto, emitiu um comunicado, dando conta que «serão tomados em conta os pedidos dos manifestantes». 
O presidente Agostinho Neto (MPLA), no mesmo dia, em extensa entrevista, afirmava que Daniel Chipenda, agora na FNLA, «traiu o nosso movimento e traiu o nosso povo e é considerado um agente do imperialismo que se encontra em Kinshasa, é um elemento que tentou destruir o nosso movimento, com a ajuda de alguns países vizinhos». 
Os Cavaleiros do Norte, por esse tempo, continuava a adaptação à vida urbana da cidade de Carmona (a actual Uíge) - onde os três movimentos (MPLA, FNLA e UNITA) tinham delegações. Os serviços de escala preenchiam as nossas ocupações diárias, no quartel do extinto BC12 - que era agora a nossa casa operacional. Oficiais e sargentos tinham as respectivas messes, na cidade.
* PS: A entrevista com Agostinho 
Neto poder lida AQUI

segunda-feira, 9 de março de 2015

3 054 - O moral das tropas e 27 militares portugueses mortos

Rua Agostinho Neto (em cima), antiga rua capitão Pereira
(em baixo), na cidade de Carmona. O general Luz Cunha



Aos dias nove de Março de 1974, no Destacamento do RC4, em Santa Margarida, faziam os Cavaleiros do Norte a sua preparação para a missão que (n)os levaria a Angola. Eram vésperas da chamada Licença de Normas - os dez dias de férias que habitualmente antecediam a partida para a guerra colonial.
O mesmo dia, em Luanda, foi tempo para o Comandante Chefe, o general Luz Cunha, fazer um balanço da actividade operacional da província e, nesse âmbito, dar conta do aparecimento de um novo movimento: a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - a FLEC. 
«Mais um movimento anti-português», disse o general, também dando conta, sobre os homens de Agostinho Neto, que «o MPLA tem vindo a executar, por vezes com certa intensidade, nas faixas fronteiriças com a Zâmbia e em Cabinda, no norte da província, acções esporádicas, caracterizadas quase exclusivamente pela implantação de engenhos explosivos». Enquanto isso, a UNITA (de Jonas Savimbi) «apenas se revelou em acções violentas de pequeno significado»
Não disse o mesmo da FNLA de Holden Roberto, de que fala como UPA, citando-a como, «o grupo terrorista que mais se tem revelado nos últimos meses». A ponto de, e cito o Diário de Lisboa, «com a designação de Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), ter sede própria em Kinshasa, mas «cujas guerrilhas, contudo, se têm limitado a reagir às Forças Armadas Portuguesas».
As baixas sofridas pelos movimentos independentistas, no então último meio ano, chegava às 322. Militares portugueses, morreram 27, no mesmo período. 
«O moral das tropas portuguesas em Angola é perfeitamente satisfatório», disse o general Cruz Cunha, há precisamente 41 anos.

domingo, 8 de março de 2015

3 053 - Cavaleiros de Zalala à espera da rotação para o Songo


 Aquartelamento de Vista Alegre. O que dele resta(va) em Dezembro de 2012 (foto 
de Carlos Ferreira). Em baixo, o (furriel miliciano) Américo Rodrigues com elementos da 
FNLA, naquela localidade uíjana, há 40 anos. Mais abaixo, 
o capitão Davide Castro Dias, comandante da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala




Os Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, por estes dias de Março de há 40 anos (1975), continuavam em Vista Alegre (e Ponte do Dange), aguardando ordens para a rotação para o Songo.
Os comandados do capitão miliciano Davide Castro Dias ali tinham chegado em Novembro de 1974, completando a rotação de Zalala no dia 25, «data em que assumiu a responsabilidade da sua nova ZA», assim, sublinha o Livro da Unidade, «ficando deste modo abandonada» a mítica fazenda - «a mais dura ecola de guerra», como era identificada. Aonde tonham chegado a 7 de Junho do mesmo ano de 1974 -  «de acordo com  a ordem de movimento do Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas de Angola».
A 8 de Março de 1975, dois dos 12 jornalistas detidos pela Comissão Nacional de Descolonização, em Luanda, chegaram a Lisboa. Um, de certeza, era João Fernandes, o director da revista «Notícia». Outro, seria Sousa Oliveira, redactor da mesma publicação; ou Penteado dos Reis.
O COPCON não deu informações sobre tal, nem sequer sobre qual seria o seu futuro; ou de quando, a Lisboa, chegariam os restantes detidos. Em Luanda, entretanto, a Associação de Jornalistas de Angola (o sindicato da classe) manifestou-se contra as detenções - assim como da suspensão da revista «Notícia». 
Os jornais Comércio e A Província de Angola, em notas editoriais, discordaram das detenções, mas, a favor, manifestaram-se 47 trabalhadores da área da informação, reunidos na capital Luanda. Assim como jornalistas e colaboradores do jornal ABC e da Emissora Oficial de Angola. E 83 profissionais da Neográfica - a proprietária da revista.
Eram notícias que, ao tempo, demoravam a chegar a Carmona, ao Quitexe e a Vista Alegre (e Ponte do Dange), onde se aquartelavam os Cavaleiros do Norte.