CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sábado, 30 de setembro de 2023

7 311. Acção ofensiva do IN contra madeireiros! O (não) avanço do MPLA para o Uíge!


Cavaleiros do Norte do PELREC. Francisco e Madaleno (à esquerda). De bigode, à frente, o Silvestre, depois o
Aurélio Barbeiro (abaixado), o Florêncio (de bigode), Messejana, Soares e Vicente (ambos de bigode). Atrás 
destes, de cerveja na mão, o Alberto Ferreira. Aqui à frente, o alferes Garcia e o Armindo Gomes (a rir).
Gomes (a rir). O António (com boina no ombro), o Dionísio, dois desconhecidos e o Leal (boina no ombro).
Atrás dele, o Almeida. E os três da direita, lá atrás? 
Cavaleiros do Norte do PELREC em 2010: Augusto Florêncio,
Francisco António (que hoie festeja 71 anos em Abrantes), os
furriéis Neto e Viegas e 1º. cabo Albino Ferreira (já falecido)


A 30 de Setembro de 1974, há 49 anos e há poucos dias regressado ao Quitexe e já depois do incidente da CCAÇ. 209/RI 21 - a companhia do Liberato, que se revoltou -, os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423,  ainda que sempre muito atentos, jornadeavam relativamente tranquilos pelas terras do Uíge angolano.
Os dias do «bem-bom» que eu mesmo tivera nas férias que me levaram a galgar quilómetros pela imensa Angola e por eles ter andado a laurear o queijo, tinham acabado! Por eles me «passeei», sentindo-lhe os cheiros e os sentidos e almofadando abraços ao mar de amigos e familiares que por lá, de Luanda ao Huambo (Nova Lisboa), Silva Porto e Gabela, Lobito e Benguela, faziam pela vida. 
Foi isto há 49 anos! 
Como o tempo passa!!!
Notícias, havia. E frescas. E menos boas: «O IN realizou uma acção ofensiva na área do Liberato, ao atacar madeireiros», leio agora, no livro «História da Unidade». Não era a melhor recepção, até porque também tinha havido uma flagelação a uma viatura da JAEA, na Quinta das Arcas.

A ligação de Luanda a Carmona (Uíge)

O (não) avanço do
MPLA para o Uíge!


Há 48 anos, por finais de Setembro de 1975 e já por esta aldeia das minhas primeiras fraldas e chegado da jornada angolana há menos de um mês, fazia vésperas para retomar o meu trabalho profissional, na Grésil (onde por 16 anos fui quadro) e procurava notícias de Angola. 
Não eram as melhores: a FNLA mantinha-se no Caxito, não se conhecia avanço do MPLA para o Uíge mas era seguro que não desfazia armas para manter a sua supremacia territorial.
Campala, neste dia de 1975, foi cada para a cimeira dos três partidos, a que falou o MPLA. A própria FNLA, a horas da abertura, não tinha confirmada presença; só a UNITA de Savimbi já estava na cidade ugandesa. Para além da delegação portuguesa: tenente-coronel Costa Braz, capitão Rui Castro Guimarães e João Teixeira da Mota. País participantes, foram Argélia, Burundi, Gana, Alto Volta, Quénia e Lesotho, Marrocos, Nigéria, Somália e Uganda. Formavam a Comissão Conciliadora para Angola.
Ao Algarve, chegavam dez das 18 traineiras que, a 4 de Setembro, tinham saído de Luanda, rumo à Europa e a fugir dos dramas da guerra. Fundearam em Vilamoura e Olhão e as restantes navegavam entre Dakar (Senegal) e o Algarve. Em apoio, foram a fragata Pereira da Silva e a corveta Honório Barreto.

Domingos Teixeira

D. Teixeira, 1º. cabo 
estofador da CCS,
71 anos no Porto !

O 1º. cabo Domingos Augusto Teixeira, estofador de especialidade militar e combatente da CCS do BCAV. 8423, festeja 71 anos a 30 de Setembro de 2023.
Hoje mesmo, neste sábado de sol!
Cavaleiro do Norte do Parque-Auto do Quitexe, comandado pelo alferes miliciano António Cruz,  regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975, no final da sua (e nossa) jornada africana do norte uíjano de Angola.
Regresssou ao seu Bairro do Cerco, na cidade de Porto, por onde fez vida familiar e profissional como funcionário público e, já aposentado, lá continua a morar e para ele vai o nosso abraço de parabéns!
Francisco António

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

7 310 - Os «Rangers» dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 «cursados» há 50 anos!


Os furriéis milicianos Neto, Viegas e Monteiro, da CCS
do BCAV. 8423, que há 50 anos concluíram o curso de
Operações Especiais (Rangers) no CIOE de Lamego e
integraram o PELREC da CCS do BCAV. 8423
O alferes António
Garcia (Rangers)


O 2º. curso de Operações Especiais, os Rangers, de 1973 terminou no Centro de Instruçao de Operações Especoais (CIOE),  em Lamego, a 29 de Setembro, hoje se completam 50 anos.
Passou-se meio século!!!
O curso teve vários futuros Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423, que então
concluíram uma fase de instrução que viria a ser decisiva no nosso futuro militar, em termos físicos e técnicos, também psicológicos. Por

mim, (Viegas) 
Alferes Sousa
Alf. Machado
Alf. Rodrigues
fui 16º. classificado, com 15,33 de média final  - numa classificação (publicada na Ordem de Serviço nº. 234, do CIOE, de 4 de Outubro desse ano) que punha o Cristovão como primeiro (média de 16,58). 
Da futura CCS dos Cavaleiros do Norte e furriéis milicianos foram quinto classificado o José Augusto Monteiro (16,05) e 26º. classificado o Francisco Neto
O António Garcia ganhava os (futuros) galões de alferes miliciano com 14,70 (26º.). Outros Cavaleiros do Norte foram os alferes Mário Jorge Sousa (da 1ª. CCAV., a de Zalala, 25º. lugar de cadetes, com 14,73; faleceu, de  
Furriel C. Letras
Furriel M. Pinto
doença e no Porto, a 26 de Janeiro de 2021), João Machado (da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa, em 24º,. com 14,75) e Augusto Rodrigues (da 3ª. CCAV., a da Fazenda Santa Isabel, com com 14,78)).
O Armindo Reino, que viria a ser furriel miliciano da 3ª. CCAV. 8423, foi instruendo do curso seguinte - o terceiro de 1973.
O dia 29 de Setembro de 1973 foi um sábado e da memória «puxo», em exercício de saudade, a exibição militar do Quartel de Penude, por cadetes e instruendos do curso,  a base de toda a nossa formação militar especializada, e a parada e cerimónia oficiais na parada do quartel-sede, na cidade de Lamego, e o almoço, para a qual foram convidadas as famílias de cadetes e instruendos. E muitas lá estavam. Não a minha, que para tal não tinha meios de transporte e ao tempo vivia o luto recente do falecimento de meu Pai!
O futuro furriel Viegas no
 CIOE de Lamego (1973)

O furriel Monteiro
50 anos depois...


O orgulho de mostrar o
«crachat» dos Rangers !

A memória, recuada estes 50 anos que entretanto se passaram - há meio sécuo!!!... -, faz-me lembrar a minha chegada a Águeda, na boleia do SIMCA 1100 do Neto, já a meio da tarde.
Cansados mas felizes!
O tempo deu para, de sorrisos rasgados, pararmos na esplanada do Zip-Zip (junto à ponte do rio Águeda) para bebermos uns finos e ter subido, eu, a então EN1 até à estação dos caminhos de ferro, onde apanhei o comboio para a casa. 
De camuflado vestido (o que na altura era pouquíssimo vulgar fora dos quartéis) e muito ufano, exibindo a chapa e o crachat dos Rangers - a brilhar nos olhos de quem nos via. E parecia que toda a gente olhava para o brilho da chapa e do crachá dos Rangers!
Naqueles 1000 metros de rua, Águeda acima, e depois no comboio do Vale do Vouga e até chegar a casa - onde neste momento dedilho as recordações desse dia. 
Voou o tempo. Já lá vai meio século das nossas vidas!
Jesuíno Pinto

Jesuíno Fernandes, furriel 
de AldeiaViçosa, faria 
71 anos !

O furriel miliciano Jesuíno Fernandes Pinto, Cavaleiro do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, faria 71 anos a 29 de Setembro de 2023. Infelizmente, faleceu a 3 de Maio de 2017.
Atirador de especialidade militar, chegou à vila uíjana em Agosto de 1974, em rendição individual, e regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, a Parada de Gatim, em Vila Verde. Por lá viveu sempre, ligado ao movimento associativo e à rádio, falecendo de doença.
Hoje o recordamos com saudade. RI
P!!!
Rui Cardoso


Cardoso de Zalala
faleceu há 5 anos!


O soldado Rui Manuel Miranda Cardoso, Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a da Fazenda de Zalala, faleceu há precisamente 5 anos, no dia 29 de Setembro de 2018.
Atirador de Cavalaria de especialidade militar, regressou a Portugal no dia 9 de Setembro de 1975, fixando-se no Bairro do Cerco do Porto, da freguesia de Campanhã, na cidade do Porto. Lá viria a falecer, vítima de doença e aos 66 anos - que tinha completado a 27 de Maio desse mesmo ano de 2018.
Aqui e hoje dele fazemos memória, recordando-o com saudade! RIP!!!

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

7 309 - Cavaleiros do Norte em Portugal e manifestações contra o fascismo e a social-democracia!


Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 no jardim das piscinas de Carmona, todos milicianos:alferes Pedrosa de Oliveira
e furrieis Manuel Machado, José Lino (que hoje festeja 71 anos, no Fundão), Nelson Rocha e António Cruz

O alferes miliciano Lains dos Santos ladeado pelos falecidos furriéis 
 Jorge Barata (a 11 de Outubro de 1997) e Américo Rodrigues (a
 30 de Agosto de 2018), ambos vítimas de doença e os três da
da 1ª. CCAV. 8423, a Fazenda de Zalala
O tempo de há 48 anos, a 28 de Setembro de 1975 e com os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 já há mais de duas semanas em Portugal, cumprida a sua jornada africana do Uíge angolano, realizaram-se manifestações da Frente de Unidade Revolucionária (FUR) em Lisboa, Viana do Castelo, Vila Real, Aveiro, Évora, Beja e Faro, «contra o fascismo e a social-democracia (...), a exigir o Poder Popular e repudiar o avanço da social-democracia e da direita».
Era este o país que os Cavaleiros do Norte, então debutantes na democracia que levedava de norte a sul, por esse tempo aprendiam a conhecer!
Por Angola, o aeroporto de Luanda continuava congestionado, cheio de (próximos) desalojados. Nós mesmos, semanas antes, por lá procurando familiares e amigos, tínhamos visto as condições desfavoráveis em que aguardavam a viagem para Lisboa, ou Porto. E a Luanda começavam a chegar deslocados de Nova Lisboa, Sá da Bandeira e Moçâmedes, Lobito, Benguela Pereira d´Eça, Novo Redondo e outras localidades - alguns até lá viajando de barco. Curiosamente, na documentação que agora consultámos, raramente aparecem referência a desalojados do norte. Do «nosso» Uíge, de Carmona, do Quitexe, de Aldeia Viçosa, de Vista Alegre, do Songo e do Negage. Por onde e como andaria aquela nossa boa gente?!
José Rodrigues Lino

Lino, furriel de Santa
Isabel, faz 71 anos no
Fundão!

O furriel miliciano José Rodrigues Lino, da 3ª. CCAV. 8423 do BCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel, festeja 71 anos no dia 29 de Setembro de 2023.
Cavaleiro do Norte com a especialidade de mecânico-auto, foi, nessa qualidade, louvado pelo Comando do BCAV. 8423, por proposta do capitão José Paulo Fernandes. Concluída a sua (e nossa) jornada africana do norte de Angola, regressou a Portugal no dia 11 de Setembro de 1975, fixando-se na sua natal cidade do Fundão. Por lá fez (e faz) vida profissional, trabalhando nas áreas industriais das madeiras e da camionagem e também depois de algumas experiências em Espanha.
Foi, sem nunca lhe faltar grande dinamismo e maior entusiasmo, organizador vários encontros dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel. Por exemplo, o de 2019, o último de antes da pandemia COVID 19. Parabéns!

Graciano Queijo em festa de anos no 
Lar Padre Tobias, em Samora Correia

Graciano Queijo, clarim 
da CCS, faria hoje 
71 anos !

O soldado Graciano da Purificação Queijo, clarim dos Cavaleiro do Norte da CCS do BCAV. 8423, faria hoje 71 anos, dia 28 de Setembro de 2023. 
Faleceu em 2013.
Natural de Vilarelhos, freguesia do município de Alfândega da Fé, regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975, após a sua comissão militar angolana - onde também serviu como ajudante de cozinheiro, no Quitexe e em Carmona.
Teve uma vida algo errante, certamente nómada, até que, já bastante doente e muito debilitado, foi acolhido no lar da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia. Foi lá que, rodeado de todos os cuidados e afectos, viveu, feliz, os seus últimos dias e faleceu a 30 de Outubro de 2013 - aos 61 anos.
Hoje o recordamos com saudade! RIP!!

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

7 308 - A revolta da CCAÇ. 209/RI 21 do Liberato na memória dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423!

j
Uma coluna da CCAÇ. 2019/RI, a subunidade da Fazenda do Liberato e subunidade do BCAV. 8423, numa progressão
auto-transportada numa picada do Uíge angolano. Companhia formada, maioritariamente, por militares
angolanos e que se revoltou  27 de Setembro de 1974. Há 49 anos!

A esposa e capitão Victor Correia, comandante da CCAÇ.
209/RI 21, com o furriel José Oliveira e dois militares de
 identidade desconhecida (o de cima, à direita, e
o de baixo). Quem serão?
Grupo de «liberatos»



A guarnição do Quitexe viveu, a 27 de Setembro de 1974 - há 49 amos!!!... - um dos seus dias mais difíceis e dramáticos: o da revolta da Companhia do Liberato. Tais momentos já foram aqui suficientemente narrados (ver nos links abaixo), mas faltava a associar o dia exacto. 
Qual foi ele, qual não foi, como foi? Pois, foi 27 e foi um sábado de Setembro muito encalorado e de muitos suores e temores.
O livro «História da Unidade» faz-lhe referência: «Em 27 de Setembro, na sequência de outros incidentes internos, processaram-se na CCAÇ. 209 graves problemas disciplinares, os quais passaram ao controlo do Comando do Sector do Uíge!»A CCAÇ. 209 era a do Liberato e, sobre os incidentes, nada mais diz. 
Ao tempo e passado o susto que nos poderia ter enlutado a alma e o corpo, eu tinha regressado de férias, de laurear o queijo pela imensa Angola e, se me lembro bem, a gravidade do assunto andou em bolandas opinativas durante largos dias. E o aquartelamento em prevenção que não nos descansou o físico.
Na véspera e no dia seguinte, por coincidência, o comandante Almeida e Brito 

O furriel Viegas em 2012, com dois «liberatos»:
o condutor Nogueira e o furriel Oliveira (à direita)
esteve reunido em Carmona, no Comando do do Sector do Uíge. Já estivera a 21 e 23, «sempre acompanhado por oficiais da CCS do BCAV.», precisamente para «contactos necessários aos bom andamento dos trabalhos militares».

O Liberato em Águeda,
na «casa» dos CdN !


Os anos passaram-se e, a 1 de Dezembro de 2012, muito inesperadamente, fui visitado em casa por dois militares da Companhia do Liberato: o (furriel vagomestre) José Oliveira e o condutor Nogueira.
O furriel Oliveira é natural do Caramulo e foi meu companheiro de turma na Escola Industrial e Comercial de Águeda - onde reside e vive a sua reforma de funcionário bancário. Para mim é, eternamente, o Zé Marques.  
José Luís Nogueira da Costa foi condutor da CCAÇ. RI/21 e nasceu em Tomar, partindo para Angola aos três anos. Por lá cresceu e fez vida, lá cumprindo o serviço militar e, rgressando a Portugal pela altura da descolonização.
Aqui aparecessem eles agora, e de novo, e teríamos de abrir espumante, enquanto refrescaríamos a memória sobre este dia de 1974.
Joaquim Catuna



Catuna Santos de Zalala
faz 71 anos em Albufeira!


O soldado Catuna dos Santos foi atirador de Cavalaria a 1ª. CCAV. 8423 e festeja 71 anos a 27 de Setembro de 2023, em Albufeira.
Joaquim José do Nascimento Catuna Santos, de seu nome complto, era residente em Albufeira, no Algarve, e lá regressou a 9 de Setembro de 1975, no final da sua jornada africana do Uíge angolano. 
O furriel João Dias (TRMS) informou-nos que, em data desconhecida, emigrou para o Brasil, onde trabalhou na área da restauração. Regressou a Portugal e sabemos que trabalha na mesma área e estabelecido no Mercado Municipal dos Calilos, em Albufeira. 
Os nossos parabéns!
1 - A revolta da Companhia do Liberato 1 /// Clicar AQUI
2 - A revolta da Companhia do Liberato - 2 \\\ Clicar AQUI
3 - A revolta da Companhia do Liberato - 3 /// Clicar AQUI
4 - O comandante do Liberato \\\ Clicar AQUI
5 - Dois «liberatos» em minha casa /// Ver AQUI

terça-feira, 26 de setembro de 2023

7 307 - O desarmamento dos regedores dos povos angolanos. A FNLA no Morro da Cal, em 1975!

Cavaleiros do Norte da Fazenda Santa Isabel, a da 3ª. CCAV. 8423, com milícias (?) armadas 
da sua ZA. Reconheço o furriel miliciano Agostinho Belo (terceiro a contar da direita, de pé) e 
o 1º. cabo Fernando Simões (o primeiro da direita, de pé
Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423: o Freire 
e o Oliveira, de Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423)

O desarmamento previsto pelos acordos de Portugal com os movimentos de libertação de Angola não tinha sido bem aceite pelos povos e, a 26 de Outubro de 1974, há precisamente 49 anos, realizou-se no Quitexe «uma reunião com todos os regedores, aos quais foi feito ver a necessidade de entregarem o armamento das milícias».
O plano de desarmamento tinha começado já no dia 21 (uma semana antes) e os povos das áreas do Quitexe e de Aldeia Voçosa, principalmente, temiam que a sua defesa ficasse fragilizada, face ao que o livro «História da Unidade» chama «defesa às acções de depradação e exigência do IN» - que, na área, era principalmente a FNLA de Holden Roberto (e o seu ELNA) - mas qualquer outro poderia ser, a UNITA, de Jonas Savimbi (as suas FALA) e o MPLA de Agostinho Meto ) as suas FAPLA´s).
O desarmamento «veio a suceder, voluntariamente, a partir de 28 de Outubro», memoria o livro «História da Unidade».

O coronel Santos e Castro, oficial português,
e Holden Roberto, presidente da FNLA,
no Ambriz (em 1975)
 

Angola em vésperas
da independência !


A 26 de Setembro de 1975, um ano depois e com o dia da independência cada vez mais próximo, Angola continuava a ferro e fogo.
A 9ª. Brigada do MPLA, nesse dia, travou o avanço do FNLA, no Morro da Cal, a escassos 20 quilómetros de Quifangondo, para norte. Holden Roberto, por carta, queixou-se que as Forças Armadas Portuguesas «vigia(va)m sistematicamente as posições da FNLA» naquela área e informou que, a partir desse dia, «qualquer avião que sobrevoasse seria inapelavelmente abatido».
Leonel Cardoso, o Alto Comissário de Portugal, rejeitou a acusação e, por não aceitar o ultimato da FNLA, mandou-lhe recado, para o caso de algum aeronave portuguesa ser alvejada: «Sujeita-se o ELNA às consequências».

Condutores da CCS: António Picote, Manuel
Alves e Alípio Canhoto (irmão de José)

Canhoto, CAR de Santa
Isabel, faria 74 anos !


O soldado José Canhoto Pereira, da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, faria 74 anos a 26 de Setembro de 2023.
Irmão de Alípio, condutor da CCS, a Companhia do Quitexe, estava emigrado para França e, numa das visitas de férias, foi «apanhado» para o serviço militar. Cumprida a jornada africana, voltou a Colmeal da Torre, em Belmonte, a 11 de Setembro de 1975, e logo depois voltou a França e por lá fez vida. 
Casou, teve duas filhas e separou-se, casando-se de novo - em Chaves. Faleceu «há uns 10 ou 11 anos», vítima de doença cancerosa, disse-nos o Alípio, sem conseguir precisar a data.
Hoje o recordamos com saudade! RIP!!!

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

7 306: O 25 de Setembro de 1974, fim de férias em Angola e notícias de Lisboa!

 


O furriel Viegas e o amigo (civil) e
conterrâneo Albano Resende. Há 49
anos e na restinga/ilha de Luanda
O «Diário de Lisboa» de 25 de
Setembro com notícias da Angola
 de 1974. Há 49 anos!


Setembro de 1974. Luanda! Dia 25! 
Já lá vão 49 anos e estava já de mala aviada para regressar ao Quitexe e às minhas obrigações como Cavaleiro do Norte do BCAV. 8423. À CCS!
Aproveitei as últimas horas de borga para me espraiar pelas praias da restinga, na ilha!.., almoçar marisco, depois o convencional bife com ovo a cavalo, com o meu amigo e conterrâneo Albano Resende e esperar pelo meio da tarde, quando o Alberto Ferreira saíria da Base Aérea e nos encontraríamos na baixa.
Estava combinada uma boa frangalhada num dos Florestas - restaurantes que ficavam perto do estádio dos Coqueiros, atrás da Sé -, uma frangalhada bem molhada, regada à fartura, com uns fartos canhângulo, para afogar o gindungo e a sede que medrava no calor luandino. 
Depois, depois logo se via..., pelos caminhos da baixa luandina, onde a noite escondia desejos e cios, onde a juvenil saciedade dos jovens militares não se intimidava nas aventuras em que os segredos da vida nocturna eram favorecidos, e desafiados, pela sensualidade da sua gente, jovem e atraente, que se achava na baixa, entre dois dedos de conversa e mais um copo para animar o momento e acelerar o enlace, o desejo, os prazeres da vida!
Mal imaginaria, ao tempo, que 45 anos depois viria a pisar o chão de Angola e voltar ao Quitexe e Carmona - onde dormi de 24 para 25 de Setembro de 2019. A Luanda, à Ponte do Dange, Vista Alegre e Vila Viçosa. Depois, a Nova Lisboa (Huambo), Lobio, Benguela e Gabela, Alto Hama, Caala, Porto Amboim e Novo Redondo, Viana e Grafanil! 
O furriel Viegas, de férias e na praia
da Restinga, ilha de Luanda, há 49
anos, em Setembro de 1974

As notícias de Portugal
que vinham de Lisboa !


O Alberto Ferreira era cabo especialista da Força Aérea e trabalhava na Base luandina. 
De lá sempre trazia notícias de Lisboa, vindas de avião e em forma de jornal: ficou a saber-se que o Presidente Spínola convidou os directores dos jornais «A Província de Angola» (Ruy Coreia Freitas) e «Notícias» (António Joaquim Ferronha), para além do secretário geral do Partido Cristão Democrático de Angola, do presidente da Liga Nacional Africana e do escritor Domingos Vandunen, para uma reunião em Lisboa. De fora, e dando título à notícia do jornal, ficava o Movimento Democrático de Angola e a Frente Socialista de Angola - organizações que na noite da véspera se reuniram, manifestando estranheza por não terem sido convidados por Spínola.
Nada que nos preocupasse! Era lá coisa deles, da política, dos políticos!
A mim, que voaria para Carmona dentro de algumas horas, seguindo para o Quitexe, o mais importante era viver a noite que sonhávamos atraente, sensual e de cio, no Diamante Vermelho, que ficava um pouco acima do Largo Serpa Pinto e do Katekero onde me acomodava. Por lá, fazia noites uma amiga comum, que outras nos trouxe, sentando-se e bombaleando-se nos colos dos nossos desejos. Queríamos lá saber dos partidos, dos jornais, das notícias, dos movimentos, da democracia, das negociações! Foi isto, há 45 anos!!
O tempo voou e a saudade de Angola vejo-a, hoje e aqui, sentada na memória.

Norberto Morais

Morais, furriel da CCS,
faz 72 anos em Elvas !


O furriel miliciano 
Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, da CCS do BCAV. 8423, a Companhia do Quitexe, festeja 72 anos a 25 de Setembro de 2023.
Mecânico-auto de especialidade militar, integrou a equipa do Parque-Auto, no Quitexe e em Carmona, e que era comandada pelo alferes miliciano António Albano Cruz - que ontem festejou 78 anos, em Santo Tirso.
Regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975 e fixou-se em Nisa - a sua terra natal... -,  posteriormente se radicando em Elvas, onde fez carreira como técnico superior do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, de que reformou em Janeiro de 2013, fazendo parte dos quadros do Instituto Nacional de Recursos Biológicos.
É prticipante habitual dos encontros da CCS, provavelmente quem mais quilómetros galga, desde o seu Alentejo para onde se juntam os CCS´s para partilhar memórias.
Parabéns, grande Morais!

domingo, 24 de setembro de 2023

7 305 - O regresso ao Quitexe, 44 anos depois! «Muitos mortos» na Fazenda Além-Lucunga!

O furriel Viegas na Avenida do Quitexe e em frente ao que, a 24 de Setembro de 2019, sobrava do edifício do
comando do CV. 8423. Ao fundo e à esquerda, a Igreja de Santa Maria de Deus
A placa de entrada no Quitexe, na Estrada do Café e do lado
de Luanda, a 24 de Setembro de 2019, hoje se fazem 4 anos!

O dia 24 de Setembro de 2019 foi tempo do regresso ao Quitexe, em viagem de saudade e memória e 44 anos depois de lá termos saído - a 2 de Fevereiro de 1975.
A chegada a Luanda tinha sido a 19 e todos estes dias foram de fartas emoções e grávidos de memórias, sentindo os cheiros da terra uíjana e «matando» a saudade de um tempo irrepetível e imortal da nossa vida: o da jornada que, como militares, nos levou ao norte, ao Quitexe e a Carmona - agora cidade do Uíge.
A mim, levou-me, também e como civil de férias militares, às huambanas Nova Lisboa, Silva Porto e Caala, à quanzana Gabela, às litorais Benguela, Catumbela e Lobito. E pela grande metrópole que já era Luanda, à sua baixa e locais de culto da tropa, à restinga e às praias, ir ao Mussúlo e contemplar a baía. E Viana, Catete, o Dondo, Quibala, Alto Hama, Cubal, Porto Amboim, Novo Redondo. De passagem e para o norte, o Cacuaco, o Piri, Úcua, Ponte do Dange, Vista Alegre e Aldeia Viçosa! Quantas terras mais?! Quantas gentes, tão diferentes e tão iguais!
Há 4 anos, por Setembro e Outubro de 2019 adentro, deixei levedar o meu feliz e quase infantil entusiasmo, galgando as mesmas rotas, as mesmas estradas e caminhos, para reviver esses tempos que fizeram nascer um novo País: Angola!
Não sabia, quando parti de Lisboa para Luanda, mas soube quando voltei: não morreria completo, não partiria eu «todo» para o outro lado, se não tivesse voltado a Angola.
Fui e voltei feliz!
Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV.
 8423, milicianos: o furriel Agostinho 
Belo e o alferes Carlos Silva - que
 também foi a Além Lucunga

Companhia de Intervenção
com muitos mortos por
rebentamento de mina!

O dia 23 de Setembro mas de 1974 foi tempo de um grupo de combate da 3ª. CCAV. 8423 se apresentar na Fazenda do Além-Lucunga, onde estava uma Companhia de Intervenção (CI), comandada por um capitão miliciano que era arquitecto paisagista e do mesmo curso dos capitães Castro Dias, José Manuel Cruz e José Paulo Fernandes, dos Cavaleiros do Norte, oficiais dos Cavaleitros do Norte.
E que tinham sido emboscada, com «muitos mortos», no rebentamento de uma mina.
«Eu fui na viatura da frente e o que encontrámos foi um terreno descampado, num fazenda abandonada à pressa, algo inóspita e despovoada, sem ninguém mas com valas e trincheiras abertas, que felizmente nunca precisámos de usar. A Companhia que pedira ajuda recuou para o Songo e esperámos por ataques que felizmente não acontecerem», recordou-nos o capitão José Paulo Fernandes.

Trincheiras que, felizmente, nunca tiveram de usar. De humano, apenas um homem que lhes pediu boleia na picada.
«Esperávamos ataques, mas nada disso aconteceu. Avisaram-nos que iríamos encontrar problemas, mas felizmente não tivemos», lembra-se José Paulo Fernandes, puxando pela memória desses dias de tensão permanente e de medos que a coragem venceu.
A fazenda, que até aí muita riqueza produzira, era bastante grande mas estava estranhamente vazia, com muitos porcos à solta, às varas enormes, e galinhas por lá perdidas, que se foram abatendo e comendo. 
«Grandes banquetes, por lá fizemos...», disse o «nosso» capitão Fernandes.
Um dia, elementos da OPVDCA foram-lhe dar conta que iriam abandonar o posto, por lá próximo situado, mas os Cavaleiros do Norte continuaram em Além Lucunga. Até 8 de Novembro de 1974, quando regressaram a Santa Isabel.
Furriel Américo
J. S. Rodrigues

Rodrigues, furriel de
Zalala, faria 71 anos!


O furriel miliciano Américo Joaquim da Silva Rodrigues, Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a da mítica Fazenda de Zalala, faria 71 anos a 24 de Setembro de 2023. Hoje mesmo! Infelizmente, faleceu de doença, a 30 de Agosto de 2018.
Atirador de Cavalaria de especialidade militar, foi também vagomestre na jornada africana do nortenhom Uíge angolano, função que exerceu com farto agrado da guarnição comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias que, de resto, o louvou em Ordem de Serviço do BCAV. 8423 (a nº. 165).
Regressou a Portugal no dia 9 de Setembro de 1975, 15 meses após a partida para Angola, e fez vida profissional e familiar em Vila Nova de Famalicão, o seu chão natal.  oi desde sempre grande incentivador e animador dos encontros anuais da 1ª. CCAV. 8423 e prestativo e regular colaborador deste blogue de memórias. 
Hoje o recordamos com saudade! RIP!!!