CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

3 658 - A posse, há 42 anos, do Governo de Transição de Angola

O Governo de Transição de Angola, liderado pelo Alto Comissário
António da Silva Cardoso, tomou posse a 31 de Janeiro de 1975
Foto do jornal A Província de Angola de 01/02/1975


Johnny Eduardo (FNLA), Lopo do Nascimento (MPLA) e
 José N´Dele (FNLA), membros do Colégio Presidencial
do Governo de Transição de Angola
O Governo de Transição de Angola tomou posse a 31 de Janeiro de 1975, presidido pelo Alto Comissário António da Silva Cardoso. A posse foi no salão nobre do Palácio do Governador, às 16 horas e presidida por António Almeida Santos, ministro da Coordenação Inter-Territorial.
Notícia do Diário de Lisboa de 31 de Janeiro
de 1975, sobre a posse do Governo de Transição
Silva Cardoso, brigadeiro mas para o efeito promovido a general, afirmou na oportunidade que MPLA, FNLA e UNITA são «os únicos representantes do povo angolano» e do Governo de Transição disse que «angolanos e portugueses esperam capacidade para conduzir Angola à independência, num clima de paz e justiça e respeito mútuo».
«Respeitando as provações e o sofrimentos de um assado de luta que tornou possível este momento, há que olhar para o futuro, edificar no presente as esperanças do amanhã e empenhar na construção da paz e do progresso todas as potencialidades do homem», disse Silva Cardoso, acrescentando e precisando «o homem que olvida rancores, que elimina sequelas, que abate barreiras, em suma, irmanado e orgulhoso na obra de redenção e de reconstrução de um país capaz de se impor no concerto das nações».

Johnny Eduardo, Lopo do Nascimento, José N´Dele, NN
(de óculos) e Almeida Santos, que presidiu à tomada
 de posse do Governo de Transição de Angola

A exaltante tarefa
que vos cabe...

Almeida Santos, dirigindo-se aos membros do Governo de Transição, considerou que «é exaltante a tarefa que vos cabe». E porquê? «Porque é honrosa, porque é responsabilizante e porque não é fácil», acrescentou o ministro português da Coordenação Inter-Territorial, sublinhando ainda que «ninguém duvida da vossa honestidade exemplar, da pureza das vossas intenções, da vossa inteligência e capacidade».
O Acordo do Alvor, acrescentou o ministro Almeida Santos, «será o que os angolanos quiserem que ele seja: a primeira Constituição de Angola ou um simples papel tornado letra morta».
Johnny Eduardo, em nome dos três movimentos e do Governo de Transição, afirmou que «estamos encarregados de estruturar as bases de uma sociedade justa, que materialize integralmente as aspirações das massas populares, em cuja essência assenta a luta que permitiu a destruição do sistema colonial».

O Governo de Transição de Angola. Clicar
na imagem, para a ampliar e ler



O Governo
de Transição

O Governo de Transição de Angola era liderado pelo general Silva Cardoso e, da parte portuguesa incluía os ministros Vieira de Almeida (da Economia, mas que só chegou na semana seguinte)
- PORTUGAL: Alto Comissário Silva Cardoso, ministros Albino Antunes Cunha ((Transportes e Comunicações), Manuel Alfredo Oliveira (Obras Públicas, Habitação e Urbanismo), Vieira de Almeida (Economia).
- MPLA: Ministros Lopo do Nascimento (Colégio Presidencial), Manuel Rui (Informação), Saidy Mingas (Planeamento e Finanças) e Diógenes Boavida (Justiça); Secretários de Estado: Augusto Lopes Teixeira (Indústria e Energia), Cornélio Caley (Trabalho) e Henrique Santos (Interior).
- UNITA: Ministros José Ndele (Colégio Presidencial), Eduardo Wanga (Educação), António Dembo (Trabalho) e Jeremias Chitunda (Recursos Naturais); Secretários de Estado: Jaka Jamba (Informação); Manuel Alfredo Coelho (Pescas) e João Waiken (Interior).  
- FNLA: Ministros Johnny Eduardo (Colégio Presidencial), Kabaneu Sauhde (Interior), Samuel Abrigada (Assuntos Sociais) e Mateus Neto (Agricultura); Secretários de Estado: Graça Tavares (Comércio), Hendrick Vaal Neto (Informação) e Baptista Nguvuku (Trabalho).

Cavaleiros atentos
e um ano... antes

Os Cavaleiros do Norte, lá pelas terras uíjanas, seguiam o mais atentamente que podiam, este dia tão relevante da vida angolana.
Um ano antes, precisamente e no Campo Militar de Santa Margarida, o Batalhão de Cavalaria 8423 era alvo de uma visita inspectiva do coronel de Infantaria Paixão, da Inspecção Geral de Educação Física do Exército (IGEFE), no âmbito das «normais inspecções de uma Escola de Recrutas»
O mesmo tinha acontecido uma semana antes, a 23 de Janeiro de 1974, então pelo coronel de Cavalaria Magalhães Correa, da DAC. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

3 657 - BCAV. 8423 com poucos meios; distúrbios e motim em Luanda

O furriel miliciano Américo Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423 (a de Zalala) com
vários combatentes da FNLA. Há 42 anos, em Vista Alegre, no norte de Angola

O furriel António Carlos Letras com crianças de
 uma sanzala de Aldeia Viçosa, onde se
 aquartelava a 2ª. CCAV. 8423

As ameaças de tumultos em Luanda, no dia da posse do Governo de Transição mantiveram algo tensa a cidade. Os Cavaleiros do Norte sabiam destes problemas na capital, principalmente pela imprensa e por notícias de militares amigos lá aquartelados, e comentavam-os com algum distanciamento, mais cuidados que estavam em manter a segurança e a estabilidade pública da sua zona de acção. 
Notícia do Diário de Lisboa
«A actividade das NT, muito limitado por falta de meios humanos, foi quase somente conduzida ao longo do alcatrão, em constantes patrulhamentos, apeados e auto, através dos quais se garante a nossa presença e liberdade de itinerário», lê-se no Livro da Unidade, referindo o mês de Janeiro de 1975.
Os distúrbios que se pré-anunciavam para Luanda eram incitados principalmente junto da população negra, nos bairros populares dos subúrbios da capital angolana e por desconhecidos que a Agência Nacional de Informação (ANI), em serviço de Luanda para o Diário de Lisboa, rotulava «a soldo não se sabe de quem».
A soldo de quem quer que fosse, o objectivo pareceria claro: criar instabilidade social, desconfianças entre os movimentos de libertação e estes e o Governo de Portugal. Havia quem sugerisse que era obra de um movimento reaccionário português que pretenderia fazer um contra-golpe em Lisboa. E, por consequência, pôr em causa o processo de descolonização de Angola. 
Daniel Chipenda (Revolta do Leste), o jornalista argelino
 Boubakar Adjali Kapiaça e Agostinho Neto (MPLA)




Neto e Chipenda 
em Lusaka

As divisões internas do MPLA estariam, a esse tempo de há 42 anos, a caminho de um provável encontro entre Agostinho Neto e Daniel Chipenda, em Lusaka. «Fontes bem informadas», citadas pela Reuters, davam conta dessa possibilidade, citando Chipenda como «o chefe da facção dissidente  conhecida como Revolta do Leste, que foi expulso pelo MPLA e não participou na Cimeira do Alvor».
Tentara dias antes, como aqui se historiou, «entrar no Luso, à frente de um grupo armado, mas foi impedido por forças portuguesas e dos movimentos de libertação». No momento, estava na Zâmbia e um dirigente do MPLA comentou «não acreditar que o dr. Agostinho Neto se aviste com Chipenda».


Motim na cadeia
civil de Luanda

A cidade de Luanda, a do asfalto, a predominantemente habitada pela comunidade branca, «esta(va) calma» na véspera da tomada de posse do Governo de Transição de Angola!
A única significativa alteração a este tranquilo estado teve a ver, ao princípio da noite de faz hoje 42 anos, com um motim na cadeia civil - onde os presos reclamavam «uma amnistia, por ocasião da tomada de posse do Governo de Transição de Angola».
As tropas portuguesas «dispararam para o ar, numa tentativa de dominar o motim» e  patrulhas do MPLA e da FNLA «acorreram ao local, para ajudarem a controlar a situação»Os incidentes foram rapidamente controlados, mas, mesmo assim, dois reclusos «ficaram ligeiramente feridos» e alguns deles «evadiram-se durante a insurreição».

domingo, 29 de janeiro de 2017

3 656 - Instrução em Santa Margarida e José Ndele no Governo

Cavaleiros do Norte de Zalala mas anda em Santa Margarida. À frente, um
radiotelegrafista (?), alferes Lains dos  Santos e furriéis Plácido Queirós e
 Américo Rodrigues. E os que estão atrás, alguém os identifica'

Gruta do Quijoão, em Zalala: os furriéis milicianos
 Jorge Barata (falecido a 11/10/1997, de doença e
 em Alcains), José Louro e José Nascimento

Aos 29 dias de Janeiro de 1974, o BCAV. 8423 fazia a sua instrução no Campo Militar de Santa Margarida, com exercícios divididos pelo Destacamento do RC4, Mata do Soares e arredores.
O objectivo, para além das técnicas militares necessárias para jovens combatentes que se preparavam para actuar nas matas de Angola (e lá se sabia o que isso era, ou seria!...), era também «instituir espírito de corpo ao BCAV., de modo a que se constituísse um todo coeso, disciplinado e disciplinador».
Angola, em Janeiro de 1975: Lúcio Lara (MPLA,
 de fato claro), Johnny Eduardo (FNLA) e José
 N´Dele (UNITA), NN e Almeida e Santos
Um ano depois, por terras do Uíge angolano e já com essas técnicas de combate e sobrevivência bem apreendidas - e nalguns casos aplicadas... -, os Cavaleiros do Norte ficaram a saber que, em Nova Lisboa, o presidente da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, anunciou que José N´Dele «será o representante do seu movimento no Conselho Presidencial do Governo de Transição que tomará posse no dia 31 de Janeiro». 
José N´Dele era natural de Cabinda (nascido a 13 de Agosto de 1940), tinha 34 anos e era licenciado em Ciências Económicas e Sociais (em Genebra, na Suíça), depois de ter feito os estudos primários no Seminário Menor de Luanda e, em 1961, com 21 anos, ter seguido para o Zaire, onde se alistou na FNLA. Era tesoureiro geral da UNITA e participara na Cimeira do Alvor.
A sua indicação para este alto cargo deixava concluir, confirmando, a posição da UNITA sobre as pretensões da FLEC quanto à independência do Enclave: era parte integrante do território angolano. 
José de Assunção Alberto Ndele faleceu a 19 de Abril de 2000, na Suíça e foi sepultado em Cabinda, a 8 de Maio seguinte - depois de homenageado em Luanda, em cerimónia participada pelo presidente José Eduardo dos Santos. Deixou viúva e um filho.

População incitada
a fazer distúrbios

Luanda, por esse tempo, continuava tensa e, segundo a ANI, «agitadores a soldo não se sabe de quem, andam pelos subúrbios a concitar a população a fazer distúrbios no dia 31 de Janeiro, data da posse do Governo de Transição que há-de levar Angola à independência».
O MPLA, em comunicado, apelou aos seus militantes e simpatizantes para «denunciar os agitadores que consigam identificar» e, por outro lado, aconselhava-os a «não se deixarem arrastar por manobras que só poderão desprestigiar o movimento».
Jonas Savimbi, da UNITA e discursado em Nova Lisboa, também de distanciou destes agitadores e citando «fontes seguras» disse que poderiam estar relacionados com «as forças que se preparam, em Portugal, para um contra-golpe e, quiçá, denunciarem os acordos entre os movimentos de libertação e Portugal»
A FNLA, por seu lado, deu conta que os seus representantes no Governo de Transição iam «chegar a Luanda», mas não foram revelados os seus nomes.
2ª. CCAV. 8423


Jordão de A. Viçosa, 64
anos na Marinha das Ondas

O 1º. cabo Jordão festejou 22 anos a 29 de Janeiro de 1975, quando jornadeava por África e na uíjana terra de Aldeia Viçosa, em Angola.
Licínio da Silva Jordão foi apontador de morteiros a 2º. CCAV. 8423,. voluntário e natural de Cipreste, da freguesia de Louriçal, em Pombal. Aqui voltou, a 10 de Setembro de 1975, no final da comissão dos Cavaleiros do Norte. Vive nas Matas, de Marinha das Ondas, na Figueira da Foz, onde hoje festejará 64 anos. Parabéns!

sábado, 28 de janeiro de 2017

3 655 - Comandante no Sector do Uíge e Savimbi em Nova Lisboa

O furriel miliciano Victor Moreira Gomes da Costa, atirador de Cavalaria, que
  amanhã fez 65 anos, em Queluz), à esquerda, o soldado Leão (Trombone) e o 
 furriel José António Nascimento. Trio de Zalala... E o quarto, lá atrás, quem é?

Comandante Carlos Almeida e Brito,
era tenente-coronel de Cavalaria, 

no tempo do BCAV. 8423

O comandante Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, ao tempo coronel de Cavalaria, deslocou-se ao Comando do Sector do Uíge (CSU), em Carmona, a 28 de Janeiro de 1975. Hoje se passam precisamente 42 anos!
A próxima rotação dos Cavaleiros do Norte foi, seguramente, tema da agenda de trabalhos, num tempo que era subsequente aos acordos da Cimeira do Alvor - que previa alterações no dispositivo militar português.
«A necessidade de estabelecimento de contactos operacionais impôs a ida do comandante do BCAV. 8423 ao Comando de Sector», lê-se no Livro da Unidade, citando os dias 3, 7 e 28 de Janeiro de há 42 anos.
A entrada do Diamante Negro
Os dias da nossa jornada de África por terras do Uíge angolano iam decorrendo nas calmas, tranquilamente, riscando-os nos calendários, a cada um que se passava. Uns saltos a Carmona eram «desafios» para muitos, os financeiramente melhor abonados, para saciar desejos e piscar os olhos às miúdas que se passeavam na Rua do Comércio, ou no jardim do Tribunal, dos CTT, Câmara e ZMN. Ou nas saídas dos portões do liceu e da escola técnica, por onde entravam e saíam as belezas mais jovens da terra uíjana. Ou também para matar a sede nas esplanadas da cidade, no Shop-Shop, no Safari ou no Chave d´Ouro, no Bar do Eugénio, no Escape ou qualquer outro espaço que desse vida ao nosso dia e aos nossos desejos. Ou no Diamante Negro, lá mais para a noite. Ou na Transmontana, a qualquer hora, para «mudar óleos», como se ali fosse uma «estação de serviço». E era...
Chegada de Jonas Savimbi a Nova Lisboa

Jonas Savimbi
em Nova Lisboa

A terça-feira desse 28 de Janeiro de 1975 foi tempo para se saber que Jonas Savimbi, presidente da UNITA, chegara a Nova Lisboa, onde «foi ontem ovacionado por enorme multidão, que alguns jornalistas calculam em meio milhão de pessoas».
Soube-se também que a FNLA tinha libertado o jornalista António Cardoso, da Emissora Oficial de Angola, a pedido da UNITA, já que «os trabalhadores da EOA se recusavam a fazer a cobertura da chegada de Jonas Savimbi a Nova Lisboa».
Cardoso era militante do MPLA e considerado, pela FNLA, como «um anarquista» e foi preso pelo incidente resultante da não divulgação de um comunicado do movimento de Holden Roberto, considerado «insultuoso para o Governo Provisório».

Furriel Victor Costa,
da 1ª. CCAV. 8423,
a de Zalala

23 anos do furriel
Victor Costa

O furriel miliciano Victor Costa fez 23 anos a 29 de Janeiro de 1975, estava ele aquartelado em Vista Alegre.
Victor Moreira Gomes da Costa, de nome completo, foi furriel miliciano atirador de Cavalaria da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Especializou-se na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém - onde, na recruta, fomos companheiros esquadrão de instrução e pelotão. 
Actualmente, está em fase de aposentação, depois de ter trabalhado nas áreas da electricidade, da imobiliária e da segurança. Vive em Queluz, para onde vai o nosso abraço de parabéns, embrulhado no desejo de que repita a data por muitos e bons anos!
Ver AQUI



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

3 654 - Cavaleiros e o assalto à EOA, as Revoltas Activa e do Leste


Cavaleiros do Norte na parada do BC12, em Carmona. O alferes Cruz,
 de oficial dia, passa revista a pessoal de serviço. Reconhecem-se, os clarins
 Irineu (?) e Caetano e furriel Cruz, à esquerda. À direita, está o furriel
 Peixoto e atrás o 1º. sargento Luzia. Quem ajuda a identificar os outros? 


António Abrantes e Aniano Tomaz, condutores
da 2ª. CCAV. 8423, na capela d Aldeia Viçosa


O assalto da FNLA à Emissora Oficial de Angola (EOA), a 26 de Janeiro de 1975, um domingo ao princípio da noite, teve repercussões ao mais alto nível e o próprio Almirante Rosa Coutinho, ainda Alto Comissário em Angola e que nesse dia chegou a Luanda (voando de Lisboa), se interessou pelo delicado assunto, declarando, por exemplo, que «já houve contactos entre o Governo Provisório e a FNLA e com outros movimentos».
A notícia do Diário de Lisboa sobre o assalto
 da FNLA à Emissora Oficial de Angola
A notícia chegou ao Quitexe no dia seguinte, suponho que pelo Diário de Luanda, jornal vespertino da capital Angola, e foi observada com alguma estupefacção: como era possível uma coisa destas? Que consequências dele adviriam para o futuro do processo de descolonização de Angola?
«Esperamos que esse incidente seja reduzido às suas proporções, que são pequenas», disse Rosa Coutinho, como que a descansar a população.
A verdade, todavia, é que António Cardoso, o subchefe de redacção da EOA continuava desaparecido e a FNLA tornou público um comunicado, que, segundo o Diário de Lisboa, «levava a crer que aquele trabalhador da Emissora foi raptado por este movimento». O comunicado, a dado passo, concluía que «António Cardoso não é mais do que um nó de uma vasta rede anti-FNLA, à qual pertence, como ele próprio declara».
O Diário de Lisboa precisava que «o ambiente na capital é tenso, mas a libertação provável de António Cardoso poderá repor a confiança». O MPLA, por sua vez,  «repudiou veementemente estes actos de violência e prepotência contra o pessoal daquela emissora» e exigiu «a libertação imediata dos camaradas detidos prepotentemente e, em especial, do camarada António Cardoso».
O movimento de Agostinho Neto também falou de «certas forças nacionalistas pretendem criar este clima de guerra civil, com a aproximação da instalação do Governo de Transição» e acrescentava que «desta campanha habilmente montada não pode dissociar-se a presença repentina de Daniel Chipenda no posto de Ninda, no leste do país (...), com cobertura da imprensa de Luanda».

Mário Pinto de Andrade


Revolta do Leste
e Revolta Activa

A 27 de Janeiro de 1975, confirmou-se que Daniel Chipenda estava no Luso onde, na véspera, deu uma conferência de imprensa, depois de as suas tropas terem entrado na cidade, à segunda tentativa. Na primeira,  foram impedidas de entrar na cidade - entrando apenas após conversações com militares portugueses e de terem entregue as armas, anunciava a Agência Reuters.
Armas que, disse Chipenda, «não foram roubadas, são armas do povo e usadas para combater o colonialismo português».
Quem também chegou a Angola nesse dia foi Mário Pinto de Andrade, um  dos fundadores e presidente da Revolta Activa, também dissidente do MPLA. Com Gentil Viana, um dos principais mentores da facção, entre outros. De Brazaville e no dia seguinte, chegaria Joaquim Pinto de Andrade. Iriam, supunha-se, negociar com Agostinho Neto a reentrada no MPLA.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

3 653 - Comício e atritos entre a FNLA e MPLA em Aldeia Viçosa

Comício em Aldeia Viçosa, a 26 de Janeiro de 1975, na abertura da DELE-
 gação da FNLA. Foi o primeiro na zona de acção dos Cavaleiros do Norte
e a FNLA desentendeu-se com o MPLA, obrigando à intervenção das NT



Apoiantes e militares da FNLA foram à abertura da
 Delegação de Aldeia Viçosa, a 26 de Janeiro de 1975.
Há 42 anos! Fotos do furriel António Letras
Aos 26 dias do mês de Janeiro de 1975, Aldeia Viçosa - onde se aquartelava a 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz... -, foi cenário do primeiro comício da FNLA, assinalando a abertura da sua Delegação local. 
O MPLA também quis fazer um comício, conjunto, mas não se entenderam e a situação obrigou à intervenção da 2ª. CCAV. dos Cavaleiros do Norte, que ali  jornadeava na sua missão angolana.
Capitães José Manuel Cruz e José Paulo Fernandes,
 comandantes da 2ª. CCAV. e 3ª. CCAV. , aqui com o
 alferes João Machado (2ª. CCAV.). Todos milicianos

Actividade política 
dos movimentos

Os movimentos de libertação, por esse tempo «continuavam as suas actividades políticas» na zona de acção do BCAV. 8423 (como noutras, por todo o território angolano) mas enquanto «a área do Quitexe é quase na íntegra da FNLA», acontecia que em Aldeia Viçosa (onde estava a 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz) e Vista Alegre (sede da 1ª. CCAV. 8423, do capitão miliciano Davide Castro Dias e que estivera em Zalala) «se verifica uma mesclagem deste movimento com o MPLA», o que, sublinha o Livro da Unidade, «tem dado aso a situações de atrito entre eles». 
«A mais grave terá sido a 26 de Janeiro, aquando a abertura da Delegação da FNLA em Aldeia Viçosa, aonde os movimentos pretenderam fazer um comício conjunto, mas no qual não conseguiram o entendimento, o que deu origem à intervenção das NT, em situação apaziguadora, o que conseguiu», lê-se no Livro da Unidade.

Daniel Chipenda, Holden Roberto (presidente)
e Hendrick Vaal Neto, dirigentes da FNLA

Emissora Oficial
assaltada pela FNLA

O dia 26 de Janeiro de 1975 foi um domingo e, em Luanda e ao princípio da noite, a FNLA invadiu as instalações da Emissora Oficial de Angola (EOA) «paralisando-a, após a destruição de algum material e agressão ao locutor de serviço».
A força militar do movimento de Holden Roberto era comandada por Hendrick Vaal Neto e agiu, segundo o Diário de Lisboa, como «represália pela suspensão da leitura, na rádio, de um comunicado da FNLA, onde se faziam graves acusações ao Governo Provisório e à Junta Governativa».
A decisão de «proibir a leitura» fora da responsabilidade do comandante Correia Jesuíno, Secretário de Estado da Comunicação Social, e «secundada pelos trabalhadores da Emissora».
Durante a madrugada desse domingo de há 42 anos, «tinha sido raptado de sua casa» o subchefe de redacção da EOA, António Cardoso, que era «militante do MPLA» e se encontrava «em local desconhecido».
O problema só no dia seguinte seria resolvido.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

3 652 - Alto Comissário Silva Cardoso e tensão no Leste de Angola

Cavaleiros do Norte da CCS, no Quitexe: Madaleno e Moreira, furriéis Mosteias e Neto, Gomes, furriel
 Pires (TRMS), 1º. cabo Florindo, furriéis Rocha e Pires (sapador), 1ºs. cabos Soares e Almeida (?), Fe-
licíssimo (1ª. CCAV.) e alferes Hermida e Ribeiro. Em  baixo: NN, 1º. cabo Tomás, NN (sapador?),  1º.
cabo Tomás, NN (sapador?), 1º. cabo Pais, furriel Cruz (de bigode), Silva, Cabrita,  1º. cabo Emanuel
 (?),  Couto Soares  (?, TRMS), NN e NN. à frente, Zambujo (de bigode), Costa, 1º. cabo Coelho (Bura-
quinho, de calções), NN e Salgueiro (?). Quem ajuda a identificar os NN´s?

O brigadeiro Silva Cardoso (à direita) substituiu o almi-
rante Rosa Coutinho (à esquerda) como Alto Comissá-
rio de Portugal no Governo de Transição de Angola


A 25 de Janeiro de 1975, a Comissão Nacional de Descolonização (CND), reunida em Lisboa, confirmou que o brigadeiro António da Silva Cardoso ia mesmo ser o Alto Comissário de Portugal no Governo de Transição de Angola. 
O dia era um sábado e a imprensa dava conta que o oficial da Força Aérea «assume funções na próxima terça-feira, de manhã, em Belém». Acrescentava que «nesse mesmo dia, viajará para Luanda». Dia 28 de Janeiro de há 42 anos.
Daniel Chipenda, líder da Revolta
 do Leste, dissidente do MPLA
Silva Cardoso, vale a pena recordar, já tinha feito parte da Junta Governativa de Angola (acumulando com as funções de comandante da 2ª. Região Aérea) e participado nas negociações do Alvor, entre o Governo de Portugal e os três movimentos de libertação - MPLA, FNLA e UNITA. Quem abandonava o cargo, que exercia na dita Junta Governativa de Angola, era o almirante Rosa Coutinho - que no dia seguinte (domingo) iria voar para Luanda, onde chegaria já na segunda-feira (dia 27 de Janeiro de 1975).
Silva Cardoso exerceu as funções de Alto Comissário entre 28 de Janeiro e 2 de Agosto de 1975 - quando foi substituído pelo almirante Leonel Cardoso. Natural de Tomar (1928), serviu a Força Aérea e a Marinha e atingiu a patente de general. Faleceu a 13 de Junho de 2014, em Lisboa, aos 86 anos e vítima de doença prolongada. Escreveu dois livros: «Angola - Anatomia de Uma Tragédia» e «25 de Abril: A Revolução da Perfídia».

Chipenda provoca
tensões no Leste

Os Cavaleiros do Norte, lá pelo chão uíjano, mantinham o seu quadro habitual de serviços e a curiosidade sobre a evolução do processo.
O Uíge estava sereno, sem incidentes, mas do Leste angolano chegavam notícias da chegada de Daniel Chipenda ao Luso. Era o líder da chamada Revolta do Leste (ou Facção Chipenda), que era dissidente do MPLA.
O jornal «O Comércio», em Luanda, adiantava mesmo que «uma companhia do batalhão que a Revolta do Leste tinha em Ninda deslocava-se desde anteontem em direcção ao Luso, com instruções para se encarregar dos serviços de segurança, durante a permanência de Chipenda na cidade». À frente da força, estavam «os comandantes Kilimanjaro e Rosa, entre outros chefes militares da Revolta do Leste» - Revolta que anunciava a realização de um congresso em Ninda, no qual Daniel Chipenda, ainda segundo o jornal «O Comércio», salientou «a determinação em não provocar um conflito armado».
Preocupação principal deste dirigente era «a integração das suas forças no futuro Exército de Angola, ao abrigo de acordos que garantam a sua participação no futuro do país».
Ninda, no Leste de Angola. onde há 42 anos Daniel Chi-
penda tinha aquarteladas as tropas da Revolta do Leste

Reunião a três mas...
sem resultados

A companhia de Daniel Chipenda deslocava-se em direcção ao Luso, mas, noticiava o mesmo jornal luandino, «forças do MPLA e tropas portuguesas tinham tomado posição na estrada de acesso à capital do Moxico, estabelecendo uma barreira para impedir a entrada das forças de Chipenda».
Um oficial português (o major Soares), em reunião entre as três partes (Portugal, MPLA e Revolta do Leste), propôs a Kilimanjaro e Rosa «a entrega das armas, para poderem entrar na cidade». O que foi recusado, «a menos que as forças do MPLA procedessem da mesma forma». Mesmo assim, o comandante Kilimanjaro ordenou que a sua unidade «recuasse para uma distância de três quilómetros».
O MPLA, por essa altura, tinha estabelecido «um círculo em volta da Revolta do Leste, das forças portuguesas e da polícia». Mas, noticiava «O Comércio», «numa periferia mais ampla, duas companhias de para-quedistas estavam prontas a actuar».
O momento era, pois, de tensão!
A FNLA, pelo seu lado, fez sair uma unidade do Luso e, reportava o jornal de Luanda, «começou a movimentar-se nas proximidades do local onde estacionavam as força de Chipenda». Simultâneamente, «as forças do MPLA regressavam à capital do Moxico».
A Revolta do Leste, por esse tempo de há 42 anos, tinha «forças estacionadas nas localidades de Bon, Ninda e Ivungo», noticiava o jornal «O Comércio».

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

3 651 - Os Cavaleiros do Norte e o Governo de Transição de Angola

Furriéis milicianos da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: António
 Rebelo (TRMS), Amorim Martins (atirador de Cavalaria), Abel Mourato
 (vagomestre, que hoje faz 65 anos!) e Mário Matos (atirador de Cavalaria)

Cavaleiros do Norte de Zalala: NN, Campos, alferes
 Santos, furriel Nascimento e Casimiro Martins (que
 hoje faz 65 anos). Em baixo, NN e Ruizinho


Os tempos de finais de Janeiro de 1975 eram de muita expectativa sobre o futuro próximo de Angola e, entre as várias guarnições dos Cavaleiros do Norte, do Batalhão de Cavalaria 8423, murmurava-se e especulava-se sobre quem iria fazer parte do Governo de Transição - que era um dos grandes objectivos decorrentes do Acordo do Alvor e do processo de independência de Angola. O maior!
Furriéis milicianos António Carlos Letras e Abel
Ribeiro Mourato, que hoje faz 65 anos!
As poucas informações que por essa altura chegavam à vila do Quitexe (sede do BCAV. 8423 e onde se aquartelavam a CCS e a 3ª. CCAV. 8423), a Aldeia Viçosa (localidade da 2ª. CCAV.) e a Vista Alegre e Ponte do Dange (1ª. CCAV., a que fora de Zalala) eram as veiculadas pela imprensa - fosse escrita, fosse falada (através da rádio, pois ainda por lá ainda não havia televisão...) e quase nada, ou nada mesmo adiantavam. 

Silêncios dos movimentos
e êxodo dos colonos

A falar verdade e com rigor, confundiam, até, o mais prevenido e interessado ou politicamente esclarecido cidadão - fosse ele angolano ou fosse português, de qualquer cor ou credo religioso e/ou político, fosse civil ou militar, mais ou menos intelectual, ou social ou culturalmente evoluído.
«A vida política angolana centra-se, neste momento, nas tentativas de adivinhação no que respeita à futura constituição do Governo de Transição», lia-se no vespertino Diário de Lisboa desse dia.
A 24 de Janeiro desse ano, uma sexta-feira,  da parte do MPLA «nada de oficial ou com carácter de segurança transpirou». Vaal Neto, da FNLA, dava conta que os membros dos seu movimento «ainda não foram designados». Da UNITA, referia a imprensa do dia, «também nada se sabe». 
Por falar em imprensa e órgãos de comunicação, o MPLA era alvo de «acusações veladas», que apontavam no sentido de que «manipularia alguns desses órgãos». Mas, referia o Diário de Lisboa, «a verdade é que pelo menos três desses órgãos de informação fazem essa acusação, o que demonstra a sua oposição ao MPLA»
Ao tempo, esse tipo de acusações era muito normal - de movimentos para movimentos. Nota do dia era também para «o êxodo dos colonos», que, referia a imprensa, «continua, embora a um ritmo menos acelerado». E para «a falta de cerveja e de refrigerantes e uma contínua alta de preços».
Casimiro (que hoje faz 65 anos) e Maia (Padeiro), dois
Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala
 

Mourato e Casimiro,
23 anos em Angola
  
O dia 24 de Janeiro de 1975, no uíje angolano, foi data de festa, pelos 23 anos de dois Cavaleiros do Norte: o furriel miliciano Mourato e o soldado Casimiro. Ambos hoje fazem 65!!!
Abel Maria Ribeiro Mourato foi vagomestre da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Regressou a Portugal e a Portalegre (a cidade de nascimento e residência, ao tempo) no dia 10 de Setembro de 1975 e fez carreira profissional na função pública - nas Finanças. Aposentado, mora em Vila Viçosa.
Casimiro da Silva Martins foi soldado atirador de Cavalaria da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, e por lá foi também responsável pelo depósito de géneros. A 9 de Setembro de 1975, voltou à sua natal terra de Sobradelo da Goma, na Póvoa do Lanhoso, e aqui vive, agora já aposentado.
Parabéns para ambos, pelos 65 anos que hoje festejam!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

3 650 - Inspecção do BCAV. 8423 e o Alto Comissário de Angola

Grupo de Cavaleiros do Norte no jardim da piscina de Carmona, todos
 milicianos: furriel Nelson Rocha, alferes Pedrosa de Oliveira e furriéis
 Manuel Machado, José Lino e António Cruz

Atiradores de Cavalaria da 2ª. CAV. 8423,
 a de Aldeia Viçosa: António Soares, Vito-
rino Branco e Abílio Delgado


A 2ª. Companhia de Cavalaria 8423, a da uíjana Aldeia Viçosa e comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, anfitrionou o comandante Carlos Almeida e Brito, a 23 de Janeiro de 1975. Razão da visita: a «necessidade de estabelecimento de contactos operacionais».
Ao tempo, a esse tempo de há precisamente 42 anos, uma quinta-feira, vale a pena recordar que cada vez mais se murmurava, entre os Cavaleiros do Norte, sobre a possível (e muito desejada) rotação do BCAV. 8423 para a cidade de Carmona e para o BC12 e, muito provavelmente, essa possibilidade esteve na ordem de trabalhos de há 42 anos, em Aldeia Viçosa.
O brigadeiro Silva Cardoso à chegada a Luanda,
em Janeiro de 1975, como Alto Comissário
O dia foi também tempo para, em Lisboa e da parte da manhã, reunir a Comissão Nacional de Descolonização que, entre outros pontos de agenda, «debateu problemas decorrentes das resoluções tomadas na cimeira luso-angolana» - a Cimeira do Alvor  -, para além de, como reportava o Diário de Lisboa desse dia, que citamos, «outros assuntos ligados à política de cooperação com os novos Estados de expressão portuguesa».
Quem tomou parte na reunião foi o brigadeiro António da Silva Cardoso, que era o comandante da 2ª. Região Aérea (a de Angola) e era apontado como o próximo Alto Comissário. A nomeação, reportava o Diário de Lisboa, «parece assegurada». E assim foi.
Porta d´armas do RC4, em Santa Margarida

Inspecção ao BCAV. 8423
em Santa Margarida

Um ano antes, o BCAV. 8423 estava em Santa Margarida e no Destacamento do RC4, onde foi «inspeccionado pelo coronel de Cavalaria Magalhães Correa», oficial da DAC.
Os futuros Cavaleiros do Norte estavam, na altura, em plena Escola de Recrutas, iniciada a 8 de Janeiro, ainda que «o encontro da maioria do pessoal» - oficiais, sargentos e praças, exceptuando os especialistas - tenha acontecido na véspera.
O BCAV. 8423, a esse tempo, formava o seu próprio espírito de grupo, com «instrução e mentalização de todo o pessoal», como sublinha o Livro da Unidade, precisando que «foi sempre distribuído a todos os militares um documento, versando precisamente essa mentalização»

domingo, 22 de janeiro de 2017

3 649 - Cavaleiros em apoio às populações e Neto a sair de Lisboa

Cavaleiros do Norte do Pelotão de Sapadores, da CCS, prontos para mais
um patrulhamento ou escolta, a partir do Quitexe e para as redondezas

 uíjanas - a zona de acção dos Cavaleiros do Norte

Os condutores Vicente e Gomes juntaram-se
para conviver e matar o porco, regando-o
com (o bom) vinho de Vila de Rei


Aos 22 dias de Janeiro de 1975, os Cavaleiros do Norte continuavam a sua jornada africana na maior  da serenidades, cumprindo tarefas de serviços nos respectivos aquartelamentos - no Quitexe, em Aldeia Viçosa e em Vista Alegre/Ponte do Dange. Mas muito limitados, em termos de pessoal.
O Livro da Unidade, de resto, enfatiza este facto: «A actividade das NT, muito limitada por falta de meios humanos, foi quase somente conduzida ao longo do alcatrão, em constantes patrulhamentos, apeados e auto, através das quais se garante a nossa presença e liberdade de itinerário».
Diário de Lisboa de 22 de Janeiro de
 1975: «Agostinho Neto deixou Lisboa e
 regressa este mês a Luanda»
As excepções tiveram a
ver com solicitações de fazendeiros e povos das sanzalas, pedidos aos quais os Cavaleiros do Norte «acudiam» muito regularmente - ora para assegurar transporte de mercadorias, ora de pessoas e estas normalmente para consultas médicas ou para mercarem as suas produções agrícolas e adquirirem produtos de uso doméstico.

Agostinho Neto
deixou Lisboa

Expectava-se muito sobre os desenvolvimentos do processo de independência de Angola - após o Acordo do Alvor -, mas a verdade é que as notícias que lá chegavam não eram muito pormenorizadas e suscitavam até algumas (muitas) dúvidas.
Sabia-se que Agostinho Neto, nesse mesmo dia, ia voar de Lisboa para a Argélia e, daí, seguindo para a Tanzânia e a Zâmbia, antes de chegar a Luanda - até ao final do mês. À saída de Lisboa e já no aeroporto, afirmou ter verificado que «o Governo, as forças portuguesas e o povo português, em geral, desejam, sinceramente, o estabelecimento de uma efectiva cooperação e amizade entre Portugal e Angola».
O presidente do MPLA disse também que «o entendimento entre os movimentos de libertação era indispensável para a formação de um Governo de Transição», entendimento que, sublinhou, «o MPLA defenderá sempre».
Vicente e Gomes em Vila de Rei: matou-se o
porco, comeu-se e bebeu-se em honra da
 «melhor companhia do ultramar»

Cavaleiros e condutores
a «matar o porco»

Ontem, foi dia de dois condutores da CCS dos Cavaleiros do Norte conviverem na tradicional matança do porco: o Vicente e o Gomes.
Vicente José Alves era dos Cucados, de Vila de Rei, e lá voltou em 1975. mas a Estevais. Empresariou na área da construção civil pelas bandas de Além-Tejo e voltou à terra natal - quando a vida o aproximou da reforma e por lá se dedicando a tarefas agrícolas. Foi lá que ontem recebeu José António de Sousa Gomes, que lá foi ter desde Geufães, da Maia, para conviveram e reforçarem a amizade tão afectuosamente construída durante a jornada africana do Uíge angolano.
Matou-se o porco, e comeu-se bem e bebeu-se melhor, com os bem dispostos Vicente Alvres e José Gomes a «brindarem pela melhor companhia do ultramar». Justamente, a CCS do BCAV. 8423 - os Cavaleiros do Norte do Quitexe!

sábado, 21 de janeiro de 2017

3 648 - Cavaleiros em espectáculo do MFA em Carmona

Grupo de Cavaleiros do Norte do PELREC, 4 deles já falecidos: 1º. cabo Hipólito, furriel Monteiro (à ci-
 vil), 1ºs. cabos Joaquim Figueiredo Almeida  (f. a 28/02/2009) e Jorge Luís Domingos Vicente (f. a 21 de
 Janeiro de 1997, hoje se passam 20 anos). Em baixo, alferes António Manuel Garcia (f. a 02/11/1979, de aci-
dente de viação), Manuel Leal da Silva (a 18/06/2007, de doença), furriel Neto e Aurélio Júnior (Barbeiro)

Cavaleiros do Norte do PELREC, momentos antes de mais
 uma saída operacional: Messejana (falecido a 27/11/2009,
 de doença), Neves, 1º. cabo Soares, António  e Florêncio.
Em baixo, 1º. cabo Vicente (f. a 21/01(1997, há 30 anos!),
furriel Viegas, Francisco e Leal (f. a 18/06/2007) 

O Clube Recreativo do Uíge encheu-se, há 42 anos, dia 21 de Janeiro de 1975, para um espectáculo cultural do MFA, no âmbito da «acção psicológica».
Actores, cantores, declamadores e outros artistas foram todos das unidades do Comando do Sector do Uíge (no qual se incluía o BCAV. 8423) e a memória faz lembrar, em particular, a actuação de um grupo musical em que brilhou o capitão José Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel mas, ao tempo, já aquartelada no Quitexe (desde 10 de Dezembro de 1974). 
Capitão José Paulo Fernandes
Tocou viola e cantou o capitão Fernandes - e que bem cantou ovacionados fados de Lisboa e de Coimbra!!!, entre outras números e versões.
«Tocava umas coisas de viola e fui apanhado para aquilo», lembrou José Paulo Fernandes, agora engenheiro aposentado e a morar em Torres Vedras, mas «esquecido de pormenores» de uma noite em que brilhou no Uíge
O espectáculo era especialmente dedicado à comunidade militar, mas foi aberto à população civil - que literalmente encheu o pavilhão desportivo do Clube Recreativo do Uíge (CRU), em Carmona, nas bancadas e no espaço de jogo.  Outros artistas (militares) brilharam nessa noite de ribalta cultural e do Quitexe foi vasta embaixada, para ver, surpreender-se e aplaudir a qualidade artística dos Cavaleiros do Norte. Alguns debutantes nas artes dos palcos, outros já mais experientes!, mas valeu a pena! Se valeu!!!

1º. cabo Jorge Vicente
Jorge Vicente, 1º. cabo,
faleceu há 20 anos!

O 1º. cabo Vicente, atirador de Cavalaria do PELREC, faleceu há precisamente 20 anos - no dia 21 de Janeiro de 1997.
Jorge Luís Domingos Vicente era dos que não recuavam a qualquer perigo, não era homem de medos, no comando da sua Secção, sempre que saíamos em missões operacionais, pelas matas e trilhos de perigos que tantas vezes tivemos de galgar. Ou em simples patrulhas ou escoltas, ou serviços de ordem!
Regressou à sua Vila Moreira, em Alcanede, e era um entusiasta dos encontros anuais da CCS dos Cavaleiros do Norte. Quantas horas passámos ao telefone, sempre que ele queria matar as saudades da Angola quitexana, e de Carmona, que ele também aprendeu a amar!!!
Morreu de doença cancerosa, a 21 de Janeiro de 1997, há 20 anos, e hoje aqui o recordamos com saudade! RIP, grande Vicente!

Agostinho Neto
em Portugal

O presidente Agostinho Neto, do MPLA, continuava em Portugal e, na manhã de 21 de Janeiro de 1975, visitou o PPD (actual PSD), sendo recebido por Pinto Balsemão, Magalhães Mota, Sá Borges, Alexandre Betencourt, Alfredo Morgado e  Jílio castro Caldas. Ia acompanhado de Iko Carreira e Caros Rocha (do Comité Central) e Paulo Jorge (das Relações Exteriores).
A tarde (hora de saída do Diário de Lisboa, de que nos socorremos) foi tempo para receber a comissão Centra do MPD/CDE e à noite foi homenageado na Associação Portuguesa de Escritores.