CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 30 de abril de 2014

2 015 - Tiros de morteiro e canhão em Luanda


Sede da FNLA na Avenida do Brasil (de data incerta). Título do Diário de Lisboa 
sobre os incidentes da 29 de Abril de 1975. O dr. Custódio Pereira Gomes (em baixo)

As razões do «volta-atrás» do avião que nos levaria de Luanda a Carmona, no fim da tarde de 29 de Abril de 1975, vinham ao outro dia explicadas na imprensa. O Diário de Lisboa, de que nos socorremos, titulava «Tiros de morteiro e canhão em Luanda». A cidade, reportava o jornal, «acordou ao som do tiroteio». Durante a manhã de hoje (dia 30) «registavam-se ainda diversos incidentes, que ultrapassavam já os .limites dos musseques». Chegavam às avenidas do Brasil (onde ficava a sede principal da FNLA) e dos Combatentes (onde estava a messe de sargentos das Forças Armadas Portuguesas. 
«Pode dizer-se que Luanda não dormiu. Os disparos de morteiros, os tiros de canhão, as rajadas de armas automáticas e de metralhadoras pesadas perfuraram a serenidade e o sono dos habitantes da capital angolana», acrescentava o jornal, que citamos, em despacho a partir de Luanda. Era quarta-feira e os incidentes vinham já desde a segunda - primeiramente envolvendo FNLA e MPLA (o que nem era novidade...), mas depois também entre a UNITA e a FNLA, na noite da véspera, quando o avião levantou da pista e a ela voltou, a «fugir» da metralha que rasgava os céus de Luanda.
O povo, na manhã de 30 de Abril de 1975, fazia bichas às portas das padarias e as ambulâncias percorriam a cidade, em direcção aos hospitais. Admitia-se que o número de mortos chegasse às várias dezenas.
Nós, finalmente de regresso a Carmona, fizemos conversa, no avião, com o dr. Custódio Pereira Gomes - que lá era advogado e professor. Ao tempo, era viúvo da professora Maria Augusta Tavares, que não conheci mas era minha conterrânea. Conheci-o (a ele) na véspera, precisamente quando o avião voltou para trás e, furando o recolher obrigatório, fomos a um bar perto da Maianga, à procura de comer.
Ver AQUI

terça-feira, 29 de abril de 2014

2 014 - Adeus às férias e incidentes em Luanda

Cartaz com os três presidentes: Holden (FNLA), 
Savimbi (UNITA) e Neto (MPLA). O Hotel Katekero (em baixo) 


A 29 de Abril de 1975, comigo e o Cruz prontos para o voo aéreo para Carmona, Jonas Savimbi reafirmava em Luanda, de arma pendurada no ombro e ladeado por dois seguranças armados, que era «imperativa a  cimeira entre os três movimentos de libertação angolanos, antes de ser demasiado tarde». A iminência de uma guerra civil, para ele, era «uma impossibilidade prática», visto, como frisou, «cada um dos movimentos saber que, de desencadeasse uma guerra civil, teria de enfrentar os outros dois movimentos». Além disso, «nenhum dos vizinhos está interessado nisso».
As forças militares dos três movimentos de libertação disse Jonas Savimbi, deveriam, ficar integrados «numa força verdadeiramente nacional», o mais depressa possível. E nem precisaria de ser um grande exército, «visto não precisarmos de um exército desse género». As intenções pareciam boas, mas sabemos agora que não seria bem assim.
Rosa Coutinho, antigo Alto Comissário, citado pela jugoslava Tanjug, punha achas para a fogueira, denunciando «a influência estrangeira em Angola». «Todos os dias - disse o almirante - um movimento recebe assistência do vizinho Zaire». Referia-se, obviamente, à FNLA - presidida por Holden Roberto, cunhado de Mobutu.
«Trata-se de uma ingerência directa nos assuntos de Angola, o que dificulta o processo de descolonização. Se podemos dizer que há dois movimentos de libertação que se comportam como tal, existe um que se comporta como movimento invasionista, constituindo a ponta de lança do Zaire", disse Rosa Coutinho. Referia-se à FNLA. 
Luanda a 29 de Abril de 1975, continuava com recolher obrigatório e as noites, vistas do alto do Katekero, eram uma panóplia de fogo de guerra. Morteiros rasgavam os seus céus e faziam lutos e dores onde caíam. O tiroteio era indiscriminado, ouvíamo-lo de dentro do Katekero, soando lá de longe - sem se saber de quem e contra quem era. À boca fechada, falava-se por Luanda que estaria para descarregar um barco jugoslavo, atracado no porto e supostamente com armamento para o MPLA
Ao fim da tarde do dia 29, numa reunião da Comissão Nacional de Defesa, Johnny Eduardo, Primeiro-Ministro da FNLA e membro do Colégio Presidencial, declarou que «pedia desculpas por não poder assistir à reunião dado que a guerra recomeçara e que era hábito os dirigentes da FNLA, estarem junto das suas tropas nesta situação».
Cito Rubellus Pertinnus: «Acabou por permanecer, desferindo ataques cerrados aos dirigentes do MPLA que estavam presentes e responsabilizando-os pelo que estava a acontecer e que, aparentemente, não tinha explicação plausível. Lopo do Nascimento, Primeiro-Ministro do MPLA e membro do Colégio Presidencial tinha sido substituído pelo secretário de estado do Interior, Dr. Henrique Santos (Onambwé de seu nome de guerra), que se limitou a afirmar que «o tiroteio se generalizou sem que alguém possa precisar a sua causa e origem; acrescentou ter ouvido tiros um pouco por toda a parte incluindo o disparo de morteiros, em especial nos bairros Prenda e Operário, que se as populações, mulheres e crianças se lançaram contra a caserna do ELNA no Operário, por suporem que era dali que tinham partido os tiros de morteiro". (...)».
A reunião foi às 126 horas, quando eu e o Cruz já nos preparávamos para voar para Carmona. Não chegaríamos lá. Ver AQUI

segunda-feira, 28 de abril de 2014

2 103 - Comandante no Quitexe e férias a acabar

A Casa dos Furriéis, no Quitexe. No mesmo edifício, à direita, era a secretaria. Ao fundo, do lado esquerdo, vê-se a torre da capela. O capitão José Paulo Fernandes e o 1º. sargento Marchã (em baixo)

A 28 de Abril de 1975, eu e o Cruz preparávamos as malas para voltarmos a Carmona. Lá se iam ido as férias, depois da uma rota angolana que nos levou ao sul e a sítios de que hoje, passados 39 anos, sinto imensa saudade. Onde gostaria de voltar! 
Savimbi tinha chegado a a Luanda no sábado anterior, dia 26, e, vagamente, víramos a sua chegada a um hotel perto da Portugália. Apelou a uma cimeira entre UNITA, MPLA e FNLA - que, disse, «ter a certeza de reduzir a tensão entre os três movimentos de libertação». Da parte do seu, a UNITA,  anunciou que, caso ganhasse as eleições, formaria um governo de coligação. Estivera dias antes reunido com Agostinho Neto, em Lusaka, mas não quis dizer do que falaram.
Em Luanda, não sabíamos, mas estávamos em véspera de graves incidentes na cidade. Que iria afectar a nossa partida para Luanda.O recolher obrigatório estava marcado para as 21 horas.
Os Cavaleiros do Norte, em Carmona, viviam a necessidade de controlar, ou apaziguar, as diferenças entre FNLA e MPLA. Houve necessidade, lê-se no Livro da Unidade, de «fazer intervenção a conflitos diversos», como o que, no diz 13 desse Abril de 1975, implicou uma corajosa intervenção do alferes Meneses Alves - que de resto, lhe valeu um louvor.
A 28 de Abril de 1975, o comandante Almeida e Brito, na continuação das suas visitas às subunidades, esteve no Quitexe, onde aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes. Já lá estivera dois dias antes, neste caso com o capitão José Paulo Falcão (o oficial adjunto).

domingo, 27 de abril de 2014

2 012 - Adesão do BCAV. 8423 ao MFA

Santos e Castro, Governador Geral de Angola a 25 de Abril de 1974 (a vermelho) 
e Soares Carneiro (que o substituiu (a amarelo). Notícia sobre o 25/A, em Luanda (em baixo)



A 26 de Abril de 1974, «todo o Batalhão se sentiu como parte integrante do Movimento das Forças Armadas» - como se lê no Livro da Unidade. Era sexta-feira e, estando previsto fim de semana ao pessoal, o comandante Almeida e Brito reuniu oficiais, sargentos e praças para «explicar o que o MFA pretendia» - em palestras especificamente orientadas para esse fim.
Explicou e não recordo nenhuma reacção especial dos futuros Cavaleiros do Norte, que tinham «datas de embarque marcadas para fins de Maio e princípios de Junho», tal qual veio a acontecer. 
Íamos para Angola! Como estaria Angola, por esse tempo?
Recorro-me do Diário de Lisboa, para citar o vice-comandante chefe interino das Forças Armadas, general Francisco Rafael Alves, que à data ainda não tinha conhecimento oficial da revolução de Lisboa e fez saber que «as Forças Armadas que prestam serviço em Angola têm, como é natural, uma missão a cumprir, no teatro de operações onde actuam».
«No comando-chefe, não foi recebida no dia 25 corrente, nem no de hoje, dia 26, até às 18 horas, qualquer comunicação oficial sobre os acontecimentos das metrópole e que, por via dos órgãos de comunicação, tem vindo a ser difundidos através de noticiário apropriado às circunstâncias e ao progressivo desenvolvimento dos factos ocorridos», lia-se no comunicado assinado por Francisco Rafael Alves.
O Governador Geral Santos e Castro (foto à esquerda), de seu lado, recebeu uma nota de demissão da Junta de Salvação Nacional, às 23,30 horas de 26 de Abril. «Amanhã, sábado, às 12 horas, entregarei o Governo Geral de Angola ao encarregado do Governo que me foi indicado, o excelentíssimo secretário geral», comunicou Santos e Castro - pai do agora deputado Ribeiro e Castro (CDS/PP).
Soares Carneiro era o futuro candidato a Presidente da República, então tenente coronel e que desde Novembro de 1972 exercia essas funções, exactamente com Santos e Castro. Neste ano de 1972, era governador do distrito da Lunda e major de patente militar.

sábado, 26 de abril de 2014

2 011 - Desactivação de Aldeia Viçosa e a Constituinte

Aldeia Viçosa, aquartelamento da 2ª. CCAV. 8423. Foto de Carlos Ferreira, em Dezembro de 2012. Comandante Bundula (FNLA), captães Cruz e Fernandes e alferes Machado (em baixo)


Aos 26 dias de Abril. de 1975, hoje se completam 39 anos, aconteceu a saída definitiva da tropa portuguesa de Aldeia Viçosa, onde os Cavaleiros do Norte tiveram aquartelada a 2ª. CCAV., comandada pelo capitão José Manuel Cruz.  Lá tinham chegado a 10 de Junho de 1974.
Desactivada Aldeia Viçosa, refere o Livro da Unidade que podia «afirmar-Se que só a partir desta data se completou a remodelação do dispositivo, que se julga ser a última, até ao terminar da comissão». A 24, lembremos, a 1ª. CCAV. (a de Zalala e do capitão Davide Castro Dias) abandonara Vista Alegre e Ponte do Dange, indo para o Songo (com um Destacamento em Cachalonde). A 3ª. CCAV. do capitão José Paulo Fernandes, continuava no Quitexe.
Continuar, continuávamos eu e o Cruz por Luanda, já em final de férias e curiosos pelos resultados das eleições da véspera, para a Assembleia Constituinte. 
«O PS à frente» e «Grande maioria para os partidos de esquerda» era como titulava o Diário de Lisboa de faz hoje 39 anos. Ao tempo, a rapidez de contagem dos votos não era a de hoje, mas o jornal de Ruella Ramos (conotado com  esquerda) indicava que o PS teria eleito 73 deputados, conta os 45 do PPD (o actual PSD). Seguiam-se, na projecção, o PCP (com 21), o CDS (7) e MDP (2), sem que os outros partidos elegessem deputados, pelos dados desse dia. 
Tinham sido contados  4 733 666 votos e  ainda faltavam 651 freguesias. Os resultados finais seriam conhecidos dias depois. Os seguintes:
- PS: 116 deputados. Entre eles, eleitos por Aveiro, os meus conhecidos Carlos Candal, Cal Brandão (advogados) e Manuel Santos Pato (engenheiro), este de Águeda. E Manuel Alegre, o poeta, por Coimbra.
- PPD: 80. Meu conhecido, era o advogado Sebastião Dias Marques, aqui da vizinha vila de Eixo. Veio a ser Governador Civil de Aveiro.
- CDS: 16.
- PCP: 30.
- MDP/CDE: 5.
- UDP: 1.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

2 010 - O 25 de Abril de 1975 dos Cavaleiros do Norte

Viegas na praia da ilha de Luanda (em 1975) e partidos 
que concorreram (a 25 de Abril) às eleições Constituintes do mesmo ano


A 25 de Abril de 1975, realizaram-se as eleições para a Assembleia Constituinte, nas quais não votámos (eu e o Cruz), nesse dia a vadiar pro Luanda, já nos cabeceiros das nossas angolanas férias. Foi dia de almoçar no Amazonas, com o Albano Resende (o meu conterrâneo civil), que depois nos deixou na ilha, foi à vida dele e voltou, ao final da tarde, para uma mariscada no Barracuda. Vida boa!
Por Carmona, os Cavaleiros do Norte foram a votos, para a Assembleia Constituinte. O BCAV. 8423, «dando colaboração ao processo revolucionário de Portugal», encarregou-se da montagem das assembleias de voto e «verificou-se a ida às urnas de todo o pessoal que o quis fazer». Para tal, como leio no Livro da Unidade, «realizaram-se palestras orientadoras» a 16 e 23 de Abril e, a 24, «já no âmbito das comemorações do 25 de Abril, mais uma outra palestra, orientada por oficiais do CTC e BCAV. 8423, ambos delegados do MFA».
A 25 de Abril, «em cerimónia simples mas singela, realizou-se o içar da Bandeira Nacional, com as melhores honras militares e a presença de todos os oficiais do CTC e Batalhão de Cavalaria 8423». Assim foi o 25 de Abril de há 39 anos! 
- CTC. Comando Territorial de Carmona.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

2 009 - Adeus a Vista Alegre e troca de prisioneiros

Vista Alegre, onde se aquartelou a 1ª. CCAV. 8423 (1975). 
Em baixo, Úcua, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Ferreira)



A véspera do 24 de Abril de 1974, lá por Santa Margarida, foi vivida nas calmas. Acabada a instrução da tarde, lá fomos nós no SIMCA 1100 do Neto, até Abrantes, para um panqueca de frango no churrasco. Um ano depois, foi a vez de eu e o Cruz voarmos do Lobito para Luanda, num avião da TAAG - que nos pregou um susto, quando passámos no céu de Catete, a´«cair» um poço de ar. 
O mesmo dia de há 39 anos (1975) foi o último da 1ª. CCAV. 8423 em Vista Alegre e Ponte do Dange, rodando para o Songo. A 21, aqui estivera o capitão José Diogo Themudo (2º. comandante), preparando a mudança. O mesmo dia em que, sem êxito, se tentou uma troca de prisioneiros, no Úcua - decidida pelo Gabinete Militar Misto. Ainda por lá andaram, por Úcua, os Cavaleiros do Norte da 1ª. e da 2ª. CCAV.´s 8423, dos capitães Castro Dias (os homens de Zalala que jornadeavam por Vista Alegre e Ponte do Dange) e José Manuel Cruz (os de Aldeia Viçosa).
Ao tempo e a partir de Carmona, procurava-se «obter a tal calma aparente e o entendimento entre todos os movimentos» e, por consequência disso, «encontrar soluções para todos os problemas, através de reuniões semanais». Eram estas, segundo leio no Livro da Unidade, «o primórdio do Estado Maior Unificado». Foi de uma delas, a de 22 de Abril de 1975, que se decidiu o patrulhamento a Úcua, para, cito o LU, «fazer-se a troca de prisioneiros».
Já em Luanda, mas a 24 de Abril desse já distante 1975, eu e  o Cruz descemos do TAAG, no aeroporto, e fomos parar à baixa, para uma jantarada no Paris Versailles, com o Rebelo Carvalheira do «A Província de Angola». Guerra? Mas quais guerra?!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

2 008 - Últimos dias do Lobito e suspensão das eleições



Vista aérea da baía do Lobito, em 1974 (em cima, foto da net). 
Viegas em férias, com o porto da cidade ao fundo, em Abril de 1975

A 23 de Abril de 1975, eu e o Cruz andávamos no gandaio turístico por Lobito e Benguela, e Catumbela, onde ele tinha família e eu o amigo Zé Ferreira.
Por lá andámos alguns dias, espraiando-nos nas areias brancas da restinga ou nas esplanadas bem refrescadas de apetitosas sombras e saborosas bebidas e demos, até, uma saltada à SBELL (Sociedade de Bebidas Espirituosas do Lobito, Limitada), produtora local  de wiskyies e outras bebidas da família. Visita bem vivida e melhor regada!!!
A restinga e as douradas areias das praias, eram aperitivo que tornava insaciável o nosso olhar sobre os corpos de ébano, esguios, desnudados, apetitosos, que as serpenteavam e nos «fugiam» da mão, do olhar e do querer de cio das nossas jovens idades. Belos dias, os do Lobito!!! Belas mariscadas nos sítios que o Zé Ferreira nos descobriu, excelentes gastronomias saboreadas em restaurantes de fama, ou mesas da família do Cruz.
A pressa, há 39 anos, era já, porém, a de chegar a Luanda, onde queríamos estar no dia 25 de Abril, o dias das primeiras eleições depois da revolução - as da Assembleia Constituinte.
Por Luanda, o que se anunciava era a compra de dois Boeing 730-200, para a TAAG, que seriam entregues em Janeiro ou Fevereiro de 1976. E um contrato com a mesma Boeing, de 17,3 milhões de dólares, para melhorar o controlo do tráfego aéreo nos 10 aeroportos de Angola.
Pior, bem pior, era a possibilidade, lançada por Agostinho Neto, de serem canceladas as eleições marcadas para Outubro, antes da independência. O presidente do MPLA falava em Dar-es-Salam (na Tanzânia) e lembrava que ainda não estava aprovado o projecto de lei eleitoral, apresentado pelo seu movimento/partido que, sobre isso, exigia «promulgação do Governo de Transição».
Neto, na capital tanzaniana, falou também dos últimos incidentes. 

“Em vez de nos alvejarmos uns aos outros, em vez de usarmos a violência, poderíamos discutir os nossos problemas”, disse Agostinho Neto, oferecendo-se para participar numa reunião com os presidentes Holden Roberto (FNLA) e Jonas Savimbi (UNITA). Há 39 anos!
- TAAG. Transportes Aéreos de Angola.

terça-feira, 22 de abril de 2014

2 007 - A morte do tenente João Eloy Mora



O tenente Mora, de oficial dia, os furriéis Neto e o Viegas  (este
 de sargento dia), na avenida do Quitexe, em  frente à secretaria da CCS (1974)

O tenente Mora faleceu há 21 anos, a 21 de Abril de 1993, vítima de doença, em Lisboa, onde residia - na Lapa. Aos 67 anos.
Oficial de carreira, 2º. comandante da CCS dos Cavaleiros do Norte, tornou-se incontornável no quotidiano quitexano e imortal na nossa saudade - pela forma, que respeitosamente recordamos, de exercer a sua missão angolana. Também pelo comportamento, por vezes atípico, sempre, porém, senhorial, cerimonioso e afectuoso, com que fez nossa a sua (também dele) jornada africana de 1974/75.
O tenente Palinhas, assim o baptizámos nós - com respeito (sem dúvida), mas por vezes também com excessiva irreverência -, era daquelas pessoas que, se não existissem, teriam de ser inventadas. Militarista, de alto grau, exigia a palada de continência em qualquer circunstância. Não a batêssemos nós - às vezes por descuido, outras de propósito... -  e, ai, ai..., não escaparia batê-la ele a nós, de tacão a apertar os calcanhares, pescoço levantado e mão direita a esticar os dedos, espalmados, de ar garboso, sério e impenetrável. Sem ter de o fazer, entrou na escala de oficiais de dia (como se vê na foto) e, numa noite, na hora da mudança da luz, faltando a do aquartelamento (até que se ligasse a do gerador, coisa de poucos momentos...), imaginou um ataque e atirou-se  a rastejar na avenida do Quitexe.
“Sabotagem!!!...”, gritou ele.
Não era sabotagem alguma, ou coisa que se parecesse!!! Era assim todas as noites e passou algum tempo para que se convencesse do contrário. Só depois que reabriram a iluminação, a partir do gerador da xitaca.
Era assim o tenente Mora, que era casado com uma senhora indiana, de pose nobre mas relação distante com a guarnição do BCAV. 8423. Cerimoniosamente, tratavam-se por você! Coisas deles!
A 8 de Setembro de 1975, despedimo-nos no aeroporto e não mais nos vimos. Seguiu ele a carreira militar e sei que faleceu a 21 de Abril de 1993, de doença. Ontem se passaram 21 anos. O tempo passa mas não deixa esquecer.
Aqui registamos a lutuosa efeméride, em memória de um Cavaleiro do Norte que é imortal na nossa saudade!

Ver AQUI
- MORA. João Eloy Borges da Cunha Mora, tenente do 

SG e 2º. comandante da CCS dos BCAV. 8423. 
Faleceu a 21 de Abril de 1993, em Lisboa.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

2 006 - Rui Correia de Freitas, do «A Província de Angola»

Cabeçalho do jornal diário «A Província de Angola», em 1974. 
O proprietário e director de então, Rui Correia de Freitas (em baixo)


Victor Correia de Freitas, familiar de Rui Correia de Freitas, que foi proprietário e director do jornal «A Província de Angola», reagiu ao post «2004 - Turismo e notas falsas em Nova Lisboa», no qual é citado.
Assim:
«Toda essa história de Rui Correia de Freitas, foi inventada pelo governo português da época, e que mesmo no que diz respeito ao 28 de Setembro, foi mais uma aldrabice inventada pelo pulha Rosa Coutinho, que o tendo convidado oficialmente, e em nome do presidente Spínola, como um dos representante dos brancos de Angola, viagem que Ruy começou mas que regressou de imediato, no mesmo avião da ida, e que quando chegou a Luanda, começou a ser perseguido pelos tugas...
Há muito para contar e muito está mal contado, mas só quero dizer que, em 1927, meu avô António Correia de Freitas foi preso durante 5 anos para Cabo Verde, por escrever na «Província» que Angola precisava de ser independente!...
Nunca fomos a favor do antigo regime de Salazar, sofrendo sempre ameaças e acções que nos limitaram, mas tão pouco fomos colaboradores com a escória de traidores comunas que substituiu o regime salazarista». 

domingo, 20 de abril de 2014

2 005 - Incidentes no Negage e invasão de Angola

O aquartelamento do Negage (em cima). Notícia sobre a invasão de zairenses



A CCAÇ. 4741/74 era principalmente formada por açoreanos da Ilha Terceira e, a partir de 17 de Março de 1975, passou a depender operacionalmente do BCAV. 8423. A 20 de Abril de 1975, foi visitada pelo comandante Almeida e Brito, que se fez acompanhar pelos capitães José Diogo Themudo (2º. comandante) e José Paulo Falcão (oficial adjunto e de operações).
A razão da visita teve a ver com um incidente no Negage (onde estava por essa altura), que, e cito do Livro da Unidade, «obrigou à realização de uma reunião conjunta com a FNLA, de modo a obter uma mentalização do que deverá ser a missão das NT e dos Exércitos de Libertação, neste período que decorre até à independência».
Grave, bem mais grave, era a denúncia de Agostinho Neto, o presidente do MPLA. Segundo disse na véspera, em Lusaka, «Angola está a ser sujeita a uma silenciosa invasão de soldados vindo do Zaire».

Esses soldados, disse, «são militantes da FNLA e são, por conseguinte, considerados patriotas angolanos» mas, como frisou, «entram em Angola em grande número e muito bem equipados (...) melhor até que estavam durante a guerra contra o domínio colonial português»
A dúvida principal era se seriam mesmo angolanos, ou soldados do Zaire, ao serviço da FNLA. O presidente Holden Roberto, recordemos, era cunhado de Mobutu, o do Zaire, e Neto acusava a FNLA de responsável pelas «recentes confrontações sangrentas em Luanda».
«Os incidentes e massacres de Luanda forma provocados pela FNLA. Na noite de 22 de Março, cercaram as nossas bases de Luanda, começando, assim, os massacres que causaram centenas de mortos», denunciou Agostinho Neto. 
Dias de incertezas, estes que eram vésperas da independência, anunciada para 11 de Novembro de 1975. Neste mesmo dia 20 de Abril de 1975, eu e o Cruz tivemos uma inolvidável experiência no Caminho de Ferro de Benguela, em viagem da Nova Lisboa para o litoral angolano. Para Benguela e Lobito. 

sábado, 19 de abril de 2014

2 004 - Turismo e notas falsas em Nova Lisboa

Viegas (à direita) com os familiares Rafael e Cecília, na barragem do Cuando, perto 
de Nova Lisboa (em cima). Notícia da agressão à consulesa da Holanda em Luanda (DL)



As notícias, há 39 anos, não circulavam com a velocidade de hoje (quase instantânea) e, comigo e o Cruz já de saída de Nova Lisboa para Lobito e Benguela, soube-se na capital do Huambo que Daphne De Groot, esposa do Cônsul da Holanda em Luanda, tinha alegadamente sido espancada por três militares da FNLA, no decorrer de uma visita ao jornal «A Província de Angola».
A paradiplomata estava no gabinete do director, Rui Correia de Freitas, e terá sido ele, de acordo com o Diário de Lisboa, a chamar os «fnla´s» - julga-se que na sequência do então recentemente anunciado apoio da Holanda ao MPLA.  Rui Correia de Freitas era conotado com «o ex-regime colonialista e fascista» e, sublinhava o mesmo «Diário de Lisboa», «teve papel de relevo no golpe falhado de 28 de Setembro» - razão porque, com mandato de captura pendente, se refugiou na África do Sul, regressando em princípio de Março. O «A Província de Angola» era, ao tempo, conotado com a FNLA.
Eu e o Cruz dávamos os cabeceiros da «operação turística» por Nova Lisboa e arredores, no caso das imagens fotográficas (do dia 15) à missão (em baixo) e barragem do Cuando - que abastecia a cidade e ficava na estrada para o Cuíto. O Cuando fica(va) a uns 20 quilómetros e a missão fora criada por missionários da Congregação do Espírito Santo, por volta de 1910. Na altura, construía-se um novo templo (foto de baixo). A barragem, para além de fornecer água à cidade capital do Huambo e ser atracção turística de região, era também «templo» de pesca, para as comunidades locais.
O dia 19 de Abril de 1974, um ano antes - há 40!!!..., o tempo passa!!! -, relativamente a Angola foi assinalado por dois factos curiosos:
1 - O jornal «A Província de Angola» anunciou a apreensão de 2 milhões de dólares falsos, no Lobito. Em notas de 20. Teriam sido impressas em offset, numa tipografia de Nova Lisboa, sem conhecimento do seu dono. A rede teria ramificações a Lisboa.
2 - O general Tello Polleri partiu para Angola, para visitar as unidades da Força Aérea. Era o Secretário de Estado da Aeronáutica.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

2 003 - Vista Alegre, Quitexe, Luanda e Nova Lisboa...

Machado (furriel) e Cruz (alferes) numa das saídas às companhias operacionais. O capitão Themudo (em baixo)



A 18 de Abril de 1975, o capitão José Diogo Themudo, 2º. comandante do BCAV. 8423 foi a Vista Alegre, de visita à 1ª. CCAV. (a de Zalala), acompanhado do oficial de manutenção auto - o alferes Cruz.
Aproximava-se a rotação da companhia (ia para o Songo), e, naturalmente, era necessário acertar a operação. A presença do alferes Cruz, seguramente, justificava-se na averiguação e manutenção das viaturas que iriam suportar o transporte de homens e equipamentos. Na passagem de regresso, pararam no Quitexe, onde estava  a 3ª. CCAV.
O mesmo 18 de Abril - uma sexta-feira, como hoje... - foi tempo, em Luanda, da mais uma reunião dos Estados Maiores do MPLA, FNLA e UNITA, para análise da situação militar e política. Por Estados Maiores entenda-se, respectivamente, os das FAPLA, ELNA e FALA, que analisaram a formação de forças de prevenção e das forças integradas - para obstar aos «inimigos da independência de Angola», que «não tendo compreendido o momento histórico, persistem em manobrar na sombra, preparando-se mesmo para desencadear conflitos em Luanda, entre 15 e 30 de Abril». estávamos a 18.
os três Estados Maiores, por isso, lançaram «uma advertência solene à reacção, para que cesse imediatamente tais manobras». E apelaram à população para que se mantivesse «calma e vigilante».
Mais a sul, no Huambo, eu e o Cruz continuávamos a nossa operação turística, «acampados» em Nova Lisboa e com «patrulhas» à Caala (Roberto Wiliams), Silva Porto, Alto Hama.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (do MPLA).
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola (da FNLA).
- FALA. Forças Armadas de Libertação de Angola (da UNITA).

quinta-feira, 17 de abril de 2014

2 002 - Santa Isabel para Carmona e ONU em Luanda

Fazenda de Santa Isabel, onde esteve aquartelada a 3ª. CCAV. 8423.  
Holden Roberto (FNLA), Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA)


Aos 15 dias do mês de Abril de 1975, lá por Carmona, a capital do Uíge angolano, a guarnição dos Cavaleiros do Norte foi reforçada com um grupo de combate da 3ª.  CCAV. 8423, a de Santa Isabel e do capitão José Paulo Fernandes. Desde 10 de Dezembro de 1974, estava instalada no Quitexe, de onde a CCS tinha saído a 2 de Março.
A remodelação do dispositivo militar andava para ser feita desde o princípio do mês, mas era sucessivamente adiada por faltarem decisões sobre a ocupação das instalações militares que se iam abandonar e eram desejadas por FNLA e MPLA - a UNITA, por lá mal existia. Contudo, precisava Carmona de reforço, para garantir serviços e segurança de bens e de pessoas, na cidade e vias de acesso.
No mesmo dia, mas à noite, chegou a  Luanda a Delegação da ONU, chefiada por Abdul Farah, assistente do secretário geral Kurt Waldheim. Mas foi recebida  sob «uma verdadeira tempestade de protestos públicos e oficiais», como noticiava o Diário de Lisboa. Abdul  Farah reagiu e afirmou que «todo o mundo deseja a paz em Angola e os movimentos de libertação possuem, sem duvidam, dirigentes conscientes, por isso mesmo estamos cientes que, sob direcção desses dirigentes, a prosperidade angolana é perfeitamente possível». 
Emqunto isso, os presidentes Agostinho Neto, do MPLA (em Lusaka, com Kaunda), Jonas Savimbi, da UNITA (em Lusaka e Dar-es-Salan) e Holden Roberto, da FNLA (no Zaire, com Mobutu, seu cunhado), procuravam apoio para os seus movimentos. Assim ia o processo de descolonização e independência de Angola. há 39 anos!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

2 001 - A morte do Eusébio de Zalala...

Rodrigues, Queirós e Eusébio, em 1974/75 (em cima). Em baixo: Pinto, Eusébio, 
Mota Pinto e Rodrigues (de pé), João Dias, Queirós e Barreto, gente de Zalala, 
em Junho de 2012, em Belmonte - a sua terra natal!


A notícia chegou-nos hoje: morreu o Eusébio!
A morte é sempre brutal e trágica! O luto da alma sempre nos mexe e leveda emoções, nos torna mais pequenos e inquietos, inseguros, mortais. A notícia da morte do Eusébio, chegada pelo seu telemóvel, em mensagem do filho, chocou e surpreendeu: morreu a 1 de Abril de 2014, de paragem cárdio-respiratória.
As vésperas de carnaval deste ano foram o tempo da nossa última conversa. Telefonou-me! De quando em vez, nos intervalos da sua vida, dava-me esse gosto de falarmos dos nossos dias, das nossas coisas, das nossas glórias e dramas, ele ultimamente muito preocupado com a iminência de perder a segunda perna. Por causa dos malditos diabetes, que já lhe tinham levado a esquerda.
Aposentado, tinha sonhos para as vida dos dois filhos, para quem queria abrir uma loja de artesanato e um bar, na sua (deles) Belmonte natal. A vida traiu os seus sonhos e nós, Cavaleiros do Norte, aqui lhe prestamos a nossa homenagem. Com o abraço solidário para sua mulher e dois filhos!
Até um destes dias, Eusébio amigo!
- EUSÉBIO. Eusébio Manuel Martins, furriel 
miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, 
a de Zalala. Funcionário público aposentado,  
nasceu (a 15 de Agosto de 1952) e vivia em Belmonte.
- Ver «O Eusébio de Zalala»

terça-feira, 15 de abril de 2014

2 000 - Aos 2000 chegarás, dos 2000 passarás!

O blogue Cavaleiros do Norte / Quitexe chegou aos 2000 artigos. 
Sempre a falar da nossa jornada angolana e das nossas vidas de 1974 e 1975!

O post que hoje aqui se lê é o 2000 (!!!) da "saga editorial" do blogue Cavaleiros do Norte. Quem diria?!
Ainda há dias aqui pus os foguetes da festa dos 5 anos completos da narrativa da nossa jornada africana de Angola e, hoje mesmo, dou comigo a olhar para este número mágico : 2000!!!! 
Assim se conclui que, por (mais) de 2000 vezes, aqui se pensou, aqui se falou, aqui se fez memória e história dos Cavaleiros do Norte!!! Aqui se verteram emoções e evocaram bons e maus momentos da missão que, na flor da nossa juventude, nos levou a milhares de quilómetros para cumprir o que o país nos confiou. E nos honra.
Quer isto dizer, meus preclaros amigos, que, duas vezes "milionários" da palavra, a devemos continuar - como fio condutor da nossa memória e da nossa história comum. Aos 2000 chegámos, dos 2000 vamos passar!!!
Há 39 anos, neste dia 15 de Abril, continuava eu por Nova Lisboa (com o Cruz) e os Cavaleiros do Norte por Carmona, Quitexe, Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange - no Uíge angolano. Controlando os acontecimentos que diferenciavam e separavam os movimentos, garantindo a segurança das populações e bens!
A ONU e a OUA, na véspera (dia 14 de Abril de 1975) anunciaram desistir de intervir no conflito entre o MPLA e a FNLA. “A situação política está excluída”, garantiu o chefe da missão, que na véspera chegara a Luanda, com representantes da OUA - vindos de Dar-es-Salan e para uma visita de 10 dias.
O objectivo era “estudarem as necessidades de Angola, no campo social e económico”, mas o  MPLA, no sábado anterior (dia 12), já manifestara oposição à presença da delegação da ONU/OUA para “investigar as recentes confrontações armadas entre o MPLA e a FNLA, em Luanda”. Lúcio Lara, chefe da Delegação do movimento de Agostinho Neto, afirmou mesmo que a considerava “contrária aos interesses nacionais».  
Abdulrabih Farah era o chefe da Delegação, enquanto assistente do secretário geral da ONU para as Questões Políticas Especiais.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

1 999 - Reforços em Carmona e emoção em Nova Lisboa

Viegas, em Nova Lisboa, com Isolina Neves (madrinha) e as netas 
Fátima e Idalina, a 14 de Abril de 1975. Em baixo, o emblema do BCAç. 5015
 
A 14 de Abril de 1975, a guarnição militar de Carmona foi reforçada com um grupo de combate do BCAÇ. 5015, que tivera CCS na Damba e aquartelamentos em Chimacombo (1ª. Caç.), Mucaba (2ª.), e Quivuenga e Cachalode (3ª.). Ao tempo, já a maior parte do Batalhão estava em Luanda, para regressar a Portugal. Eram os «Conscientes e Decididos».
A razão do reforço era simples, leio no Livro da Unidade: «Os incidentes de Luanda e Carmona vieram de ressaca até Carmona, dando origem a que houvesse que fazer intervenção a conflitos diversos». O mais grave tinha sido precisamente na véspera (ver post de ontem) - quando se registou uma acção de fogo, entre a FNLA e o MPLA. Situação que motivou o louvor ao alferes Meneses.
Isto enquanto, lá  pelo planalto do Huambo, eu e o Cruz flautiávamos a vida, «aquartelados» no Bimbe Hotel, da minha familiar Cecília Neves e onde vivia minha madrinha Isolina (foto), ao tempo já viúva de meu padrinho Arménio Tavares. Era mãe de Cecília e de Mário - este na Gabela, onde eu tinha estado em Setembro de 1974 e, ao tempo, também viviam Cecília e família.
A nota do verso da foto faz-me avivar a memória: neste dia fui visitar os irmãos Manuel e José Pires Viegas, que eram primos direitos de meu pai e com quem vivi, em situações separadas, momentos muito emotivos. Tinham sido muito amigos e era a primeira vez que nos encontrávamos, depois da morte de meu pai (em Agosto de 1972). A recordação encheu-nos a alma, que não chorou, mas encheu-nos as memórias de saudades e emoção. 

domingo, 13 de abril de 2014

1 998 - Incidentes em Carmona e louvor a Meneses

Rua do Comércio em Angola. Ao fundo, à esquerda, vê-se a placa do Hotel Apolo. 
Em baixo, o saudoso alferes Meneses, que há 39 anos, heroicamente, justificou um louvor militar 


Carmona ia escapando a incidentes mais complicados, exceptuando umas e outras escaramuças, conflitos diversos e mais ou menos facilmente controláveis, entre FNLA (a «senhora» do Uíge) e o MPLA. Mas, como avisadamente ia sublinhando o comandante Almeida e Brito, «um dia, vamos ter problemas». Os Cavaleiros do Norte estavam preparados para isso. Técnica e mentalmente.
A 13 de Abril de 1975, «confronto entre elementos de dois movimentos emancipalistas, com o uso de armas de fogo, na via pública» levou a necessária e corajosa intervenção das NT, no caso um grupo de combate comandado pelo alferes Meneses, da 2ª. CCAV. 8423.
«Actuou de forma rápida, decidida e enérgica, não deixando dúvidas quanto à determinação do pequeno núcleo de tropas que comandava, com o que conseguiu a detenção de dois dos elementos em confronto», refere o louvor ao alferes Meneses, sublinhando ainda o facto de que tal intervenção «de imediato ter feito abortar a referida manifestação».
A manifestação, vale da pena recordar, «não fora autorizada superiormente».
- MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes miliciano atirador de 
cavalaria. Integrava o BCAÇ. 4519, em Cabinda, e foi transferido para 
a 2ª. CCAV. em Fevereiro de 1975. Empresário do sector das carnes, 
faleceu em Leiria a 15 de Maio de 2013, vítima de doença.

sábado, 12 de abril de 2014

1 997 - Cavaleiros do Norte, há 5 anos!!!

A 9 de Abril de 2009, há 5 anos!!!!, aqui comecei a «recruta» do blogue Cavaleiros do Norte, sem imaginar que a «especialização» chegaria até aos dias de hoje! Nem nas melhores previsões - que, de resto, não existiram... -, alguma vez imaginei que por aqui andasse, ainda agora, 1997 postagens depois, a falar dos Cavaleiros do Norte, dia a dia, sempre actual e actualizando, contando, evocando e fazendo histórias da nossa histórica jornada angolana. Mas assim é!
Este 5 anos e 1986 posts, diários e irrepetidos, permitem que deles façamos uma verdadeira enciclopédia de memórias das 4 companhias do Batalhão de Cavalaria 8423. Muitas outras histórias haverá para contar. E aqui as contaremos, se nos chegarem. Precisamos que no-las façam chegar e logo as editaremos.
É a promessa que fazemos, 5 anos depois de os Cavaleiros do Norte terem nascido. Enquanto pudermos e soubermos.
O primeiro post dos
Cavaleiros do Norte

1 996 - Dias de Nova Lisboa e Carmona, há 39 anos!

Dias de férias, em Nova Lisboa, há precisamente 39 anos. 
Saudade, Fátima, Idalina, Viegas e Valter, com Rafael (de joelhos)

Luanda acalmava, aparentemente, mas as labaredas incendiavam ânimos noutros locais de Angola. O Luso, era exemplo: dias antes do 12 de Abril de há 39 anos (a 8, uma 3ª.-feira), MPLA e FNLA envolveram-se em confrontos armados que duraram 12 horas e resultaram em vários feridos (civis e militares) e um morto, civil.
“Incidentes graves”, foi como os classificou um comunicado do Alto-Comissário - citando “prejuízos materiais de certa monte em vários  edifícios da cidade”.
O Cruz e eu, por este tempo, já vadiávamos por Nova Lisboa, instalados no Hotel Bimbe, da minha familiar Cecília (e marido Rafael). Ela, filha de Arménio, meu padrinho de baptismo - que, poucos anos antes, um acidente de viação fez jaer no cemitério da Gabela.
Foi de lá que, via telefone (coisa excepcional, a esse tempo) para a messe de sargentos do Montanha Pinto, soubemos das primeiras notícias de Carmona: “Tudo controlado, mas há umas escaramuças, os tipos não se entendem...”, disse-nos o Neto. 

Sem incidentes com a tropa, que fossem para além das já costumadas bocas de insulto com que nos brindava a população - nomeadamente a branca, europeia. Mas se já éramos das poucas capitais de província sem incidentes, todos os dias eram vésperas.
As forças mistas faziam patrulhamentos e FNLA (a “dona” do Uíge) e MPLA faziam pela vida, querendo conquistar as almas e os futuros votos do povo.
Não era pêra fácil, fazer os patrulhamentos mistos. Não era raro que os militares/militantes de FNLA e MPLA se quezilassem e era a tropa portuguesa que tinha de aclamar os ânimos. O que, valha a verdade, bem sempre era fácil e... pacífico. Sempre ficavam ódios a remoer e  vinganças a cozinhar-se na alma daquela gente que queria a independência.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

1 995 - Caçadores dos Açores, jornais e incidentes...

Peixoto, Neto e Viegas no Quitexe (1974). Edição Jornal A Província de Angola que noticiou o 25 de Abril



A 11 de Abril de 1975, Almeida e Brito, o tenente-coronel que comandava os Cavaleiros do Norte, foi ao Negage, onde se aquartelava a CCÇ. 4741/74.
A companhia tinha sido formada em Angra do Heroísmo, nos Açores, no Batalhão Independente de Infantaria, e era a do Peixoto, furriel miliciano que, por razões disciplinares, foi transferido para o Quitexe e ainda nos acompanhou para Carmona. Foi companheiro de quarto, meu e do Neto, na Casa dos Furriéis do Quitexe. 
A CCAÇ. 4741/74 chegou a Angola em Agosto de 1974 e foi instalar-se em Santa Cruz de Macocola (agora chamada Milunga), a nordeste de Carmona. De lá, passou para o Negage e, a 17 de Março de 1975, ficou adida ao BCAV. 8423. 
Almeida e Brito fez-se acompanhar pelos capitães José Diogo Themudo (2º. comandante) e José Paulo Falcão (ofcial-adjunto).
O dia assinalou, em Luanda, a suspensão do jornal “A Província de Angola” publicava-se em Luanda. Não era a primeira vez que tal acontecia e, desta, também foi multado em 100 contos - por ter publicado um artigo em que acusava o MPLA de “ter morto soldados da FNLA com metralhadoras recebidas da União Soviética”. O que, noticiava o Diário de Lisboa desse dia, “não tem qualquer  fundamento”.
As últimas 24 horas da capital angolana não tinham registado  quaisquer incidentes - o que era uma boa notícia. Mas Jorge Valentim, destacado dirigente da UNITA, dava conta que “confrontações recentes, entre a FNLA e o MPLA” resultaram em 200 mortos. Número já aqui falado.
A UNITA, por sua vez e Jorge Valentim o  disse, ia “formar comités de paz e organizar um sindicato nacional”, para, explicou, “suster a violência em Angola” - intenção que observadores políticos de Luanda entendiam como «manobras contra o MPLA».
Assim ia, com estes e outros pequenos e grandes incidentes, o processo de descolonização de Angola, há precisamente 39 anos.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

1 994 - Aeroporto de Luanda e viagem para o Huambo...

Aeroporto de Luanda, no tempo da administração 
portuguesa. O Forte de S. Pedro da Barra (em baixo) 


Luanda, aos dez dias de Abril de 1975. Eu e o Cruz estamos de malas aviadas para Nova Lisboa, num voo da TAAG, que lá nos pôs em pouco tempo. Quem nos levou ao aeroporto foi um taxista branco (europeu e antigo soldado da guerra colonial), muito preocupado com a situação e crítico dos governos - o de Luanda e o de Lisboa. E acusando a tropa de nada fazer para salvar a pele da comunidade branca, europeia.
Já estamos habituados, desde o Quitexe (menos) e Carmona (bem mais), a este tipo de acusações e críticas. Não lhe damos importância.
A FNLA, entretanto e em Lisboa, era acusada pelo Comité de Acção 4 de Fevereiro (do MPLA), de controlar o aeroporto: “Todas as aproximações dos finais das pistas estão sob “controlo” anti-aéreo da FNLA, quer através do Forte de S. Pedro da Barra, quer da sua delegação da Estrada de Catete, onde estão montadas armas pesadas anti-aéreas, no terraço do edifício, acompanhadas com as respectivas munições”, leio, agora, no DL de 10 de Abril de 1975.
Assim, concluía-se que o aeroporto de Luanda “está temporariamemte ameaçado por forças militares que escapam ao controlo do Governo de Transição e da Comissão Nacional de Defesa”.
O forte tinha sido “unilateral e inexplicavelmente cedido à FNLA, por ordem de N´gola Kabungu», ministro do Interior (indicado pelo movimento de Holden Roberto) e “contra a vontade do ministro das Obras Públicas”, que Alfredo Resende de Oliveira (nomeado pelo Governo Português).
O forte, acusava o Comité 4 de Fevereiro, “também ameaçava seriamente a entrada na barra e o porto de Luanda”, para além de ”ter servido de prisão e lugar de torturas do povo angolano e daí partirem os prisioneiros que foram chacinados no Caxito” - chacina que, e reporto do Diário de Lisboa de 10 de Abril de 1975, “esteve na origem do protesto dos médicos das Forças Armadas Portuguesas”.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

1 993 - Aviões, ataques, restaurantes e viagens

Albano Resende e sobrinha, Viegas e capitão Domingues (em cima). Notícia do
Diário de Lisboa sobre os incidentes de Luanda, com o avião sul-africano (em baixo)


Luanda, 9 de Abril de 1975: «O avião sul-africano foi atingido por acaso». É este o título da 1ª. página do Diário de Lisboa, em despacho da capital angolana. Atingido (o avião) na sequência de tiroteio entre o MPLA e a FNLA, na estrada de Catete e no Bairro Popular, que fica(va) no enfiamento do aeroporto. Avião que voava para Londres e, por isso, regressou a Joanesburgo.
O problema era mais grave, porém, e dele me lembro bem agora, acordado na memória da conversa com Rebelo Carvalheira: é que se pensou que tivesse sido um ataque de engano, supondo-se que era da TAP o avião e que este levaria Agostinho Neto e dirigentes do MPLA, para Lisboa e a caminho da Bélgica e da Holanda. Agravante: na mesma altura, tinham sido disparados roquetes e morteiros sobre o aeroporto.
Esta, era a Luanda de guerra, atingida num seu ponto nuclear: o aeroporto.
A outra Luanda, a que eu e o Cruz continuávamos a descobrir, era de todo diferente: quente, sensual, ardente, ciosa, oferecida, de neons a brilhar na noite, de apetites que nada tinham a ver com as saladas de sangue que se vertiam pelos chãos vermelhos dos bairros periféricos.
Foi num destes dias que o Resende me levou (e ao Cruz, com o capitão Domingues), ao encontro do conterrâneo Neca, que fizera vida no Úcua e mudara para Luanda, trabalhando num restaurante do centro. Restaurante de casa cheia, em dois pisos, largas dezenas de refeições servidas, onde jantámos em ambiente descontraído e festivo, como se por perto não se desagasalhassem os dramas da guerra e os lutos que enviuvavam as almas e os sonhos.
Já fazíamos malas para Nova Lisboa, Lobito e Benguela, para o sul de Angola que eu mesmo, em Setembro de 1974, já começara a aprender a conhecer.
Férias eram férias! Não eram intervalos de guerra!

terça-feira, 8 de abril de 2014

1 992 - Saudades do Jorge Barata de Zalala!

Jorge Barata, Lains dos Santos e Américo 
Rodrigues, Cavaleiros do Norte de Zalala (1974/75)

O Barata faria hoje 62 anos, mas há já mais de 16 anos que é uma saudade dos Cavaleiros do Norte, em particular dos de Zalala. Furriel miliciano atirador de cavalaria, fez especialidade na Escola Prática de Santarém e lá foi mobilizado para Angola, passando antes por Santa Margarida, no RC4 - a nossa unidade mobilizadora.
O Barata faleceu a 11 de Outubro de 1997, vítima de um enfarte de miocárdio, na sua natal terra de Alcains - onde era contabilista e foi futebolista do clube local. Na véspera, ainda deu um treino, sentiu-se mal, foi levado ao hospital, mas não resistiu à violência do enfarte. Deixou viúva e dois filhos - um casal!
Um destes dias nos reencontraremos, amigo Barata!
Há 39 anos, por este dia, os Cavaleiros do Norte jornadeavam pelo Uíge e, em Luanda, foi atacado um avião sul-africano, um Boieng 747 que preparava aterragem no aeroporto. Voava sobre o Bairro Popular e estrada de Catete e  chegou a ser atingido, mas aterrou sem problemas para os seus 287 passageiros. No entanto, indo em viagem para Londres, regressou a Joanesburgo, pois os buracos abertos na fuselagem deram origem a uma despressurização no interior da cabine
Outra novidade, bem melhor, foi a da suspensão da censura - decretada pelo Alto Comissário Silva Cardoso e pelo Colégio Presidencial, logo depois dos sangrentos incidentes registados na cidade. Só era permitida a divulgação dos comunicados oficiais.
Ver AQUI