CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

1 485 - Malas feitas em Santa Isabel e o furriel Guedes

Chegada da 3ª. CCAV. 8423 a Santa Isabel, a 11 de Junho de 19974. O furriel Victor Guedes (em baixo)



Os últimos dias de Novembro de 1974 foram tempo de «fazer malas», da parte dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel - onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, do comando do capitão miliciano José Paulo Fernandes.
A companhia ali chegara a 11 de Junho, proveniente do Campo Militar do Grafanil, nos arredores de Luanda, onde «estagiou» desde o dia 5 anterior, chegada de Lisboa e do Campo Militar de Santa Margarida. A imagem é do dia da chegada, na objectiva do Agostinho Belo - companheiro que por lá furrielou na área da alimentação.
A fazenda estava militarmente ocupada desde data indeterminada de meados de 1961 e lá se chegava por uma picada de alguns medos, a partir da estrada do café, asfaltada - que ligava Carmona a Luanda. Cortava-se à direita (para quem ia do Quitexe) e, com mais ou menos pó e matas, galgava-se aquela dezena (??) de quilómetros, sempre de olho vivo e dedo no guarda-mato do gatilho da G3. A qualquer momento, poderia surgir um perigo, uma rajada sobre o pelotão, uma mina a rebentar na picada, uma emboscada que nos atormentasse a coragem. E, apesar de estarmos em tempo de paz, não era negociável a total segurança - para mais podendo qualquer ataque surgir de gente destrambelhada, sem controlo e sem comando, mas com uma arma na mão, um rastilho para atear uma bomba, ou uma granada para lançar sobre a tropa que passava, uma raiva que cuspisse morte!
A 3ª. CCAV. 8423 viria a ser a última guarnição militar portuguesa de Santa Isabel. Muitos dos amigos que nasceram deste tempo de missão africana eram desta companhia. Alguns deles já falecidos, como é o caso do Guedes (foto). Que aqui fica citado, nele evocando todos quantos, nossos companheiros de Santa Isabel, já partiram e nos esperam! 
- GUEDES. Victor Mateus Ribeiro Guedes, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423 (a de
Santa Isabel). Faleceu a 16 de Abril de 1998, há já 14 anos, vítima de doença.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

1 484 - Afonso Henriques, o 1º. sapador do Quitexe

Afonso Henriques de Sousa foi  soldado sapador, do pelotão do comando do alferes Ribeiro, e, pelo que fez e não fez em terras do Quitexe e Carmona, foi militar louvado pelo capitão António Oliveira, comandante da CCS, que lhe testemunhou elogio em Ordem de Serviço, com o nº. 168.
«Militar muito educado e respeitador, nunca se mostrou descontente com as tarefas que lhe foram atribuídas», refere o documento , que cito do Livro da Unidade. Diz mais. Diz que «no desempenho da sua especialidade, sempre trabalhou com  maior boa vontade, tudo fazendo para que o seu serviço fosse cada vez mais rendoso, o que do mesmo modo se sentiu nos trabalhos que lhe foram destinados fora do seu pelotão, nos quais sempre deu o maior do seu esforço e saber».
O  Afonso Henriques esteve no encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 2009 (foto). 
«Afonso Henriques, o primeiro!!!», assim se declarou ele, no momento da apresentação, falando na primeira pessoa e suscitando largos gargalhadas na plateia «cavaleira do norte».
Foi companheiro de quem não esquece e mora por Mortágua, no Freixo, na Rua da Senhora do Mundo. Do mundo, como ele foi senhor - pelas terras africanas, companheiro de sempre e com amizade do tamanho dele. Do mundo! Tudo de bom por aí, ó Afonso Henriques!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

1 483 - A guarnição «cavaleira» em Vista Alegre e Ponte do Dange

A vila de Vista Alegre, onde aquartelou a 1ª. CCAV. 8423 dos Cavaleiros do Norte

Os Zalala´s aquartelaram em Vista Alegre, de vez, a 25 de Novembro de 1974, ficando também com a responsabilidade operacional do destacamento de Ponte do Dange - na fronteira com os Dembos. Zalala foi a segunda subunidade a ser abandonada, depois da Fazenda do Liberato - a 9 de Novembro.
A rotação do BCAV. 8423 vinha a ser preparada desde há semanas, numa altura em que «elementos dispersos da FNLA começaram a estabelecer contactos com as autoridades portuguesas», agora, por Novembro adentro, «já nas categorias elevadas da sua chefatura».
Em Vista Alegre, iam de tal forma adiantados os contactos que, no dia 26 de Novembro de 1974 - hoje se completam 38 anos!!!, como tempo passa!!!... -, «até permitiram a realização de um comício local de mentalização de populações».
Um comício da FNLA e certamente, admite-se no Livro da Unidade, «certamente tendente a procurar anular a influência local e de área que o MPLA possui».
A companhia comandada pelo capitão Castro Dias por lá se manteve até 24 de Abril de 1975, quando rodou para o Songo - ficando na história como a última guarnição militar portuguesa naquelas duas localidades do solo uíjano de Angola. Como já fora da épica Zalala.

domingo, 25 de novembro de 2012

1 482 - O último dia de Zalala e o acordo FNLA/UNITA

Entrada do aquartelamento da 1ª. CCAV. 8423, em Zalala  (Angola)

O dia 25 de Novembro de 1974 foi uma 2ª.-feira e dia de a 1ª. CCAV. 8423 (comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Das) dizer o adeus de vez a Zalala. De la, há exactamente 38 anos, saíram os últimos miliaters portugueses e, para trás, ficaram registos de muitos dramas e tragédias regadas a sangue de centenas (ou milhares) de vítimas da guerra - militares ou civis.
No mesmo dia, o comandante interino do BCAV. 8423 (o capitão José Paulo Falcão) visitou a 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa, onde liderava o capitão miliciano José Manuel Cruz. A visita decorreu no âmbito das que fazia às sub-unidades. 
Não sabíamos, ao tempo, mas esse mesmo dia tem história  o processo de independência de Angola já que, em Kinshasa, a UNITA (de Jonas Savimbi) e a FNLA (de Holden Roberto) chegaram a acordo quando ao futuro de Angola. Um mês antes (a 24 de Outubro), na mesma cidade, uma delegação militar portuguesa e a mesma FNLA tinham chegado a acordo para o cessar fogo - decisão que nos interessava sobremaneira, pois era na nossa zona de acção que os combatentes de Holden Roberto estava em força máxima. Pouco mais de duas semanas antes, em Tunes (a 7 de Novembro), fora a vez de Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros) e Johny Eduardo (representante da FNLA) terem analisado o processo de descolonização de Angola.
  

sábado, 24 de novembro de 2012

1 481 - O 1º. sargento Fialho Panasco de Zalala

Queirós, Rodrigues e 1º. sargento Panasco, em Vista Alegre (1975)

A noite de 24 para 25 de Novembro de 1974 foi a última da 1ª. CCAV. 8423 em Zalala. A última de uma guarnição militar portuguesa naquele mítico lugar - que dali foi para Vista Alegre e Ponte do Dange,
Era comandada pelo capitão miliciano Castro Dias e o 1º. sargento Fialho Panasco era quem por ela respondia administrativamente e de tal forma o fez que mereceu louvor, publicado na ordem de Serviço nº. 174, sublinhando-lhe «a melhor prontidão, dedicação e espírito de sacrifício, superando desse modo as dificuldades vividas».
Achei-o algumas vezes no Quitexe, onde se deslocava de Zalala ou de Vista Alegre, sendo comensal da messe e bar dos sargentos - por onde era maioria a irreverência de furriéis milicianos, pouco dados (no geral) a afinidades com a patente mais acima. Dele guardo, todavia, e é aqui justo referi-lo, a melhor das simpatias, o trato fácil e próximo e, diz o louvor, «de elevado sentido de colaboração, vincada lealdade para o comando que serviu», razão porque «tem de considerar-se ser este militar digno do conceito em que do antecedente era tido e que agora se confirmou».
- PANASCO. Alexandre Joaquim Fialho Panasco, 1º. sargento de cavalaria, responsável administrativo da 1ª. CCAV. 8423, já falecido.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

1 480 - A Escola Prática de Cavalaria, o Brejo, o Dias...



A Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, está intimamente ligada ao BCAV. 8423. Foi lá que, em recruta e especialidade, foi formada a maior parte dos quadros milicianos do batalhão - os furriéis e os alferes -, que por lá foram instruendos e cadetes. 
Eu mesmo, que seria de Operações Especiais (os Rangers, em Lamego) lá tirei a recruta, na segunda incorporação de 1973. Por lá andaram, também, o João Dias (que viria a especializar-se em transmissões) e o impagável Brejo, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa.
A recruta foi no Destacamento da EPC (actualmente a servir de esquadra local da PSP) e o João Dias era do 3º. pelotão do 4º. Esquadrão. É ele que nos vem lembrar  o Brejo. 
«Em razão da altura, nas formaturas ficava numa das extremidades, ao lado de outro pelotão que não posso precisar (seria o 2º. ou o 4º.),  onde o Brejo formava logo ao lado. Brejo que, fora das obrigações militares, andava quase sempre com outro camarada, de nome Calhau, talvez por serem oriundos da mesma zona. 
Recordo também que, de entre diferentes frases com que era mimado pelo aspirante Santos (o do meu pelotão chamava-se Coelho), ele lhe dizia, com sotaque: “Xô Brejo, olhe que as viras também xão botas”.
Isto no estrito cumprimento do rigor, disciplina  e atavio que por ali imperavam,  exigindo que toda a superfície do calçado fosse preta e com brilho, sem o barro que se lhes colava quando na “terraplanagem, nos era ministrada a GAM. 
Ocupávamos a mesma caserna, víamo-nos diariamente, tivemos algumas conversas de ocasião, sem estreito relacionamento, mas, sem dúvida que o Brejo era o que se chama «um gajo porreiro».
Aproveito para lhe enviar um abraço, acompanhado do desejo de rápidas melhoras».
- BREJO. João António Piteira Brejo, furriel miliciano atirador de cavalaria. Aposentado, natural de Montemor-o-Novo e morador na Cruz de Pau (Seixal).
- DIAS. João  Custódio Dias,  furriel miliciano de transmissões. Aposentado do Polícia Judiciária, morador em Tomar.
- GAM. Ginástica de Aplicação Militar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

1 479 - Quitexe, norte de Angola, 21 de Novembro de 1974


Aos 21 dias de Novembro de 1974 fiz 22 anos e fiz serviço de sargento de dia na CCS do BCAV. 8423, na bem saudosa vila do Quitexe. Era a figurinha que se vê na imagem, agora reconfortada com mais uns quilitos (não muitos, para aí uns 7 ou 8!!!...) mas mais barriga e menos cabelo - bem mais farto a esse tempo uíjano e que aqui o quico aqui esconde.
O dia correu tranquilamente e a minha memória só deixava lembrar que os garbosos companheiros do PELREC tiveram direito a cerveja, no almoço do refeitório - onde também comensei. Não me lembrava, mas tive a memória refrescada pela filha do António, que, a «ditado» do pai, me veio lembrar que a minha gentileza (!!!!) se estendeu à noite, com grades de cerveja para o pelotão, na caserna que lhe era exclusiva. É muito provável que assim tenha sido!!! E se ele(a) o diz, assim foi certamente
O que tenho certo é que fui jantar ao Rocha (ou terá sido ao Pacheco ??!), interrompendo o serviço (nele substituído) por umas duas e tal horas, retomando-o lá por entre as 11 e a meia noite.
A história do dia, em termos de BCAV. 8423, reporta o início da saída da CCAÇ. 4145/72, que se aquartelava em Vista Alegre e foi de malas aviadas para Luanda. E para lá começou a rodar a 1ª. CCAV. 8423, abandonando Zalala, total e definitivamente, a 25 de Novembro seguinte.
- Furriel Viegas (eu mesmo), na avenida principal do
Quitexe (Rua de Baixo), a 21 de Novembro de 1974, 
em frente à messe de oficiais. Atrás, vê-se o bar dos praças.
À esquerda, a sala das aulas regimentais (a cobertura).

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

1 478 - Dia de anos, cá pró rapaz!!!

Viegas e Letras, a 21 de Novembro de 2012. 
Cavaleiros do Norte que o acaso fez achar em mesa de restaurante

Hoje é dia de anos cá pelo blogue e, à 1 478ª. postagem, venho dar conta dos meus 60!!! Sessenta!!!!... Dos meus 60, nem tanto, vamos lá ver! Mas dos 60 de cada um dos Cavaleiros do Norte, feitos neste ano que quase fecha portas e nos traz de esperanças mordidas pela crise. Sou quase o último, mas apanhei os outros todos!

A «coisa», devo confessar, não viria aqui a letra de blogue, não fosse uma singular coincidência: a de, sem querer, imprevistamente, me ter achado, hoje mesmo, em restaurante aqui de Águeda, com outro Cavaleiro do Norte, o Letras.
Estava eu a cavaquear em fim d´almoço, confraternizando com amigos das campanhas laborais, quando entrou aquele tipo, com um outro, à procura de mesa e lá se sentaram. Faziam-se horas para outros compromissos e lá fui eu, de passo largo pela sala fora, por razões que nada tinham a ver, até dar de trombas com ele.
«Eh pá, mas tu és o Letras!!!!», exclamei eu, surpreendido e de cara à banda.
Então não é que era mesmo o Letras???!!!  Saíra cedo de Palmela, já tinha ido a Marco de Canaveses e afiava dentes para o leitão do João da Piedade. Dispenso-me dos pormenores, do calor do abraço, da gargalhada bem sonora e rasgada, das mil e uma pequenas histórias que logo ali se soltaram, até que o apresentei ao meu grupo profissional: «Meus caros, este amigo é o Letras, um Ranger!!!».  
Bom, o resto já devem imaginar!
Agora, já à noite e quando se fazem horas de formar na «parada» cá de casa, para o desfile de virtudes (e defeitos) destes meus 60 anos de vida, quero garantir que erguerei a minha taça (como no almoço de hoje) para festejar este enorme e franco companheirismo de 38 para 39 anos, o dos Cavaleiros do Norte, que é imortal, que é vivo, que nos transcende e nos faz heróis. Lembrarei todos quantos - pelas mais diversas vias - me vieram contar que me têm como amigo. E não esquecerei os que de nós, Cavaleiros do Norte, já não são companheiros desta jornada terrena, mas moram na nossa permanente saudade.
Abraços para todos! 
- LETRAS. António Carlos Dias Letras, furriel 
miliciano de Operações Especiais (Rangers),
da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. 
Empresário, aposentado e residente em Palmela. 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

1 477 - A estrada para Camabatela e o despiste do unimog

O mês de Novembro de 1974, entre muitas coisas já por aqui faladas, foi tempo para arranjo da estrada que, do Quitexe, ia até Camabatela. Como do troço da estrada do café. entre Aldeia Viçosa e Ponte do Dange.
Os tranalhos eram efectuados por trabalhadores da JAEA e à tropa competia fazer a necessária segurança - algumas vezes sob os olhares (distantes e não vistos) de gente que, sobre o processo de descolonização em c urso, tinha as suas dúvidas. Ora sendo nativos, ora até (e surpreendentemente) de alguns colonos europeus.
A estrada (melhor dizendo, a picada) era bastate nossa conhecida pois por ela passávemos vastas vezes, a caminho de fazendas como Pumbassai, Maria Amélia, Muzecane e até para Maria Luísa e Luísa Maria, ou nas idas de médico (com o dr. Leal) às sanzalas do Tabi, do Caunda, do Catulo e outras mais.
Terá sido numa destas saídas, em escolta,(julgo lembrar-meque que numa ida para a Fazed Guerra e as outras (seguindo, em algum percurso, pela estrada/picada para Camabatela), que tivemos um  acidente de Unimog. Foi pouco deppis do Quitexe, logo à frente do Cemitério e o condutor (não me enganarei muito) era o Canhoto. A 11 de Agsitodeste ano, quando nos encontrámos na sua casa de Óbidos, falámos disso mas escapoumos a certeza do local.
Seja como for (e com quem quer que tenha sido), a verdade é que o Unimog despistou-se, saiu fora da picada, ficou meia voltado, quase capoptado, e «voou» dele um dos nossos soldados. literalmente. Teve de receber tratamento hospitalar, era do PELREC mas a memória não me ajuda para que possa recordar o seu nome.
Lembro-me, e bem,é que eu ia sentado na travessa da carroçaria, com as botas pousadas no assento da direita do condutor, saltei a tempo e não fui apanhado, rasgando, porém, o joelho do camuflado. Parece que ainda dói!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

1 476 - Tempos de formação do Batalhão no RC4 de Santa Margarida

Letras, Louro e Vitor Costa, mais o Brejo (em baixo) no RC4

Os tempos de formação do BCAV. 8423 começaram, objectivamente, a 8 de Janeiro de 1974, mas já  antes, da véspera de Natal de 1973, nos apresentáramos (eu, o Neto e o Monteiro) no RC4, em Santa Margarida, idos do CIOE de Lamego.
A malta lá foi chegando, quanto aos futuroso furriéis milicianos - a grande maioria meus antigos companheiros da recruta, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Quatro deles eras estas «peças» que a imagem retrata, qual deles o então mais «inocente» futuro combatente da guerra colonial. Dois deles, o Letras e o Victor Costa, já meus conhecidos, por razões diversas.
O Victor Manuel Moreira Gomes da Costa, da recruta da EPC e, em pormenor, da cerimónia do juramento de bandeira,a 10 de Junho de 1973. Teve ele, nesse memorável dia em plena parada de rua, enquanto se entregavam medalhas e louvores a heróis vivos e a pais, viúvas e filhos de galardoados já falecidos, um pequeno desmaio físico, sem importância, mas que não se varreu da minha memória.
O António Carlos Dias Letras foi companheiro da especialidade, em Lamego, e companheiro ficou até aos dias de hoje. gente do alto, agora aposentado mas ainda trabalhando na empresa que ele próprio criou, em Palmela. É dele esta imagem, para aqui enviada com o carinho dos que não esquecem este tempo irrepetível das nossas vidas.
O inimitável João António Piteira Brejo recompõe os ossos, como ele diz, pela Cruz de Pau, no Seixal. O José dos Santos Louro faz vida por Évora, onde trabalha - na universidade. Falta saber do Victor Costa, que morará por Lisboa ou arredores. Dão-se alvíssaras a que dele der notícias.

domingo, 18 de novembro de 2012

1 475 - O Chitas e os dias uíjanos de há 38 anos...

Letras e Chitas, furriéis milicianos da 2ª. CCAv. 8423, a de Aldeia Viçosa (em 
cima), e parte da capa do Diário de Lisboa de 16 de Novembro de 1974 (em baixo) 


A 18 de Novembro de 1974, uma segunda-feira, o capitão José Paulo Falcão, no exercício de comandante interino do BCAV. 8423, reuniu em Carmona, no BC12, com os comandantes das outras unidades do Sector do Uíge. O mesmo aconteceu nos dias 8, 13, 22 e 27 do mês. De Portugal, via(o extinto jornal)  Diário de Lisboa, chegavam ecos dos incidentes de Cabinda - já aqui reportados.
Pelo Quitexe, sabia-se que ia chegar outra companhia, para substituir a CCAÇ. 4145/72, que se aquartelava em Vista Alegre e Ponte do Dange. Assim ia o mês.
Era entre Ponte do Dange e Aldeia Viçosa (passando por Vista Alegre) que a JAEA, com protecção militar, completava  a requalificação da estrada do café e era em Aldeia Viçosa que estava a 2ª. Companhia, sob comando do capitão José Manuel Cruz. É dela, nos dias de hoje, me vem pergunta do Letras: «O que é feito do Chitas? Sabes alguma coisa?».
O Chitas era furriel miliciano de armamento pesado, bom companheiro, bom alentejano, militar de garbo e coragem, em todas as boas e más horas da jornada africana que nos levou à terra do Uíge. O que é feito dele? Morará nos arredores de Lisboa, terá voltado a Angola, em missão profissional e nada mais sei. E falo de memória, guardada de encontros anteriores. Fica aqui o apelo: alguém sabe do Chitas? Quem sabe?!

sábado, 17 de novembro de 2012

1 474 - O Ricardo faz vida por Loures....

Ricardo e Belo, dois Cavaleiros do Norte de Santa Isabel (1974)

Há dias, por aqui me interroguei sobre «o que é feito do Ricardo?», o ágil e saudavelmente irreverente furriel da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Pois, cá está o homem, já naturalmente sexiiiiigenário e explodindo de alegria quando, esta manhã, a magia telefónica me pôs a perguntar-lhe por ele próprio, de nome completo: Alcides dos Santos Fonseca Ricardo.
«Ah, ganda Viegas!!!...», soltou-se ele, apanhado na rua pelo toque do telemóvel de um número desconhecido. Fez coisa que eu não faço (atender números desconhecidos) e... atendeu.
«Ganhei o dia!!...», exultou-se o bom do Ricardo, em franca e prolongada gargalhada, deixando-me sem palavras e até deslumbrado pelo carinho, pelo afecto das suas exclamações. Que senti espontâneas e amigas.
A Ricardo, afinal, vive em Loures (e não em Odivelas) e trabalhou toda a vida num laboratório de medicamentos. Casado e bem na vida, é pai de um casal: uma rapariga (a trabalhar) e um rapaz (que é protésico e dá aulas na Universidade de Lisboa). Esta à espera da reforma.
«Não tenho ido aos encontros, pois a data coincide sempre com os meus anos», explicou ele, «danado» com este  pormenor impeditivo. Mas promete «saltar» essa barreira e participar no próximo. Tem de ser, ó Ricardo!  
- Ver «O que é feito 
do Ricardo?», AQUI

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

1 473 - Os dias de Portugal e Angola, em Novembro de 1974

Viegas e Neto no jardim do Quitexe (1974)

Hoje foi dia de cavaquear com o Neto, no tradicional almoço (de de vez em quando), inevitavelmente e de novo com a tropa e o Quitexe como aperitivo, prato e sobremesa. Há 38 anos, estava ele de férias por cá e eu, por lá, fazendo o que podia com o nosso PELREC. 
«Sabes quem fez anos há dias? O Dionísio!!!», perguntei e respondi-lhe eu.
O Dionísio era soldado atirador do nosso grupo de combate, muito certinho, homem e companheiro para não criar um problema e de quem, por não mais o termos visto, diria que temos saudade mais intensa. Dele e de outros companheiros, que a voracidade da vida tirou dos logradouros do nosso dia-a-dia. Mais certo sendo dizer, de ano-ano. E já lá vão 37 desde que, no já distante 8 de Setembro de 1975, nos despedimos no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa.
O Dionísio, tanto quanto sei, faz vida por Amora, onde reside. Fez 60 anos a 14 de Novembro de 2012, anteontem. Entrou no Clube dos Sexiiiiigenários!!!
E o que, por este tempo de 1974, acontecia em Angola?
Scorro-me do blogue Abril de Novo para lembrar que, a 8 de Novembro, o MPLA abria a primeira delegação oficial em Luanda, chefiada por Lúcio Lara. E o presidente da FNLA, Holden Roberto, escrevia ao general Fontes Pereira de Melo (Chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Costa Gomes).
A 9, era a vez da UNITA abrir a sua delegação, liderada por Pasulo Tjipilica e com José Alberto Ndele e Fernando Wilson dos Santos. A partir de Lisboa, Costa Gomes dava resposta a Holden Roberto e, em Cabinda, a FLEC conquistava o morro de Salo Bendje, junto de Massabi - numa operação comandada por Jean Eugéne Kay, com desertores angolanos das tropas especiais e mercenários franceses. Morreram duas pessoas e foram aprisionados 16 militares da guarnição, 7 polícias e 6 civis.
A 10, registaram-se incidentes num comício do MPLA, em Luanda, que alastraram a várias zona da cidade e provocaram incêndios em diversos edifícios.
A 11, em Portugal, foi autorizada a venda do livro «Depoimento», de Marcelo Caetano, editado no Brasil. A 12, foi dia da célebre campanha «Um dia de salário para a Nação», que rendeu 13 000 contos
Assim se fazia o Portugal de então, connosco, Cavaleiros do Norte, a leste do que  pensavam e faziam os novos senhores do poder. Ainda hoje não sabemos, sobre quem hoje nos governam. É sina nossa!
- FLEC. Frente de Libertação do Enclave de Cabinda.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

1 472 - Manuel Dias, José Nascimento e Plácido Jorge Queirós

Dias (mecânico), Nascimento e Queirós em Zalala (1974)

A 13 de Novembro de 1974, no Quitexe, reuniu-se a Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS), que integrava autoridades civis (administração) e militares (elementos do comando do BVCAv. 8423). 
As CLCS  agiam directamente junto das populações, visando influenciá-las através da acção psicológica, para se fixarem no território e negarem apoio a elementos infiltrados.   
A esse tempo e por Zalala, faziam-se malas para a rotação para Vista Alegre e Ponte do Dange - onde a 1ª. CCAV. 8423 iria (como foi) substituir a CCAÇ. 4145/72, que por ali acabava a sua jornada e ia para Luanda - o que viria a acontecer a 21 de Novembro. 
Zalala, a mítica Zalala - a mais dura escola de guerra!!! - era onde a 1ª. CCAV. 8423 fazia jornada desde 7 de Junho. Comandada pelo capitão Castro Dias, por lá fez história que os (seus) Cavaleiros do Norte recordam, com emoção e até com saudade, com nostalgia.
Os três jovens militares da foto são de lá, qual deles o mais gaiteiro e irreverente e garboso. O Manuel Dinis Dias, mecânico, é o único de quem não sabemos o paradeiro. Era (é) de Lisboa e o que por lá fez, como furriel miliciano, levou a que fosse louvado pela «maneira eficiente e cuidada como exerceu as suas funções, garantindo, domo seu esforço e dedicação, o operacionalidade das viaturas da subunidade».
Outro louvado foi o Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queirós, que era furriel de armamento pesado, mas fez história pela «qualidade do seu trabalho» na gestão da cantina e como auxiliar do 1º. sargento Fialho Panasco. O louvor sublinha-lhe, também, «elevados dotes de camaradagem, lealdade e extrema dedicação». Mora em Braga, aposentado do comércio automóvel.
O Nascimento, que era vagomestre, faz vida no Estado do Arizona, nos Estados Unidos - para onde emigrou faz muitos anos e de onde é leitor deste «Cavaleiros do Norte».
Abraços, ó malta!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

1 471 - Passeio dos Zalala´s às Quedas do Duque de Bragança

A vida dos Cavaleiros do Norte, por terras de Angola, não foi só tempo de dores da guerra e de saudade, pelos que por cá ficaram e nos amavam. Foi também de passeio (de turismo diria...), à busca da notável paisagem africana, de tantas cores e desejos. As Quedas do Duque de Bragança, relativamente perto do Quitexe,era um dos pontos obrigatórios. Para lá se fizeram muitas romarias. 
Um destes dias, à fala com o Dias (que se aposentou ha alguns meses, após carreira na inspecção da Polícia Judiciária), veio à memória o Évora Soares, furriel atirador que a Zalala chegou em Outubro de 1974 - porventura a substituir o Mota Viana, que de lá saiu. 
«O Évora Soares, pá!!!! Não tenho a menor ideia dele!», disse eu para o Dias. «Não tens uma foto onde ele esteja?!»
O Dias tinha (tem) e mandou-me desta memória de imagem de um passeio turístico dos Zalala´s (já então em Vista Alegre) precisamente às Quedas do Duque de Bragança e a Malanje. E com o Évora Soares. Imagem de 8 de Março de 1975. 
O Dias fez o relatório «inspectivo» da imagem e cita, da esquerda para a direita e atrás, o Almiro Brasil do Reis Maciel, soldado atirador de cavalaria, natural de S. Jorge (Açores) e emigrante no Canadá. Depois, ele próprio (Dias), com um blusão de cabedal emprestado pelo Rodrigues. Seguem-se, o alferes Lains dos Santos, o furriel Évora Soares (atirador, cá está ele...), o 1º. cabo enfermeiro Carlos Moreira de Carvalho, que vive em S. Paio de Oleiros (Feira), e António Martins Lopes (o Acra), soldado condutor, conhecido por Famalicão mas que vive em Vila do Conde. 
Os Cavaleiros do Norte de baixo, de cócoras, são Carlos Alberto Santos Costa, soldado de transmissões, de Lisboa, e o Fernando Alves Silva (Mamarracho), condutor, de Portalegre. Cuida o Dias, confiando na memória, que o fotógrafo terá sido o soldado rádio-telegrafista António Henrique Nunes Lago, de Lisboa.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

1 470 - O Cruz de Aldeia Viçosa, furriel e militar louvado...

O (furriel) Cruz era um dos vários Cruz(es) dos Cavaleiros do Norte. Havia, como primeiro exemplo, o capitão Cruz, comandante da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa - precisamente a dele (furriel). Na CCS, havia o alferes Cruz (das mecânicas) e o furriel Cruz (o rádio-montador). 
O Cruz de Aldeia Viçosa (o da foto) era atirador de cavalaria e «chamado a exercer interinamente o comando» do seu grupo de combate, por «falta do comandante efectivo», mereceu louvor por ter sabido «contrariar os erros encontrados (...), tornando-o num todo coeso e enquadrado no espírito da Companhia».
«Militar simples, de grande sentido de disciplina, de correcção e trato saliente, foi um precioso auxiliar da vida da companhia», refere o louvor publicado na Ordem de Serviço nº. 174. Mais, refere o documento, «chamado mais tarde à responsabilidade de todo o material da sua subunidade, nunca se furtou a sacrifícios para que esta nova missão fosse cumprida com igual acerto, para o que muitas vezes teve de se privar de horas de descanso».
Ora aí está um Cavaleiro do Norte que tal distinção mereceu, em louvor do comandante Almeida e Brito, por proposta do capitão Cruz. 
Saúde para ti, ó Cruz - furriel!!! 
Parabéns e um abraço!!!
- CRUZ. António de Oliveira Cruz, furriel miliciano 
atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Foi empresário 
do sector das madeiras (serração) e é professor de 
Moral a Escola Secundária de Vieira do Minho.
  

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

1 469 - O Belo e o Carlos Silva em Carmona

Belo e Carlos Silva, Cavaleiros do Norte de Santa Isabel

A foto tem ar de Carmona e, a ser assim, é posterior a Junho de 1975, até 4 de Agosto desse ano. Antes, pois, da epopeica retirada dos Cavaleiros do Norte da capital do Uíge, pelas terras do Negage, Samba Sajú, Vila Flor e Salazar e Dondo, até Catete, Grafanil e Luanda - onde chegaram 570 quilómetros e 58,45 horas depois, com a dores de uma coluna dessa dimensão e nas dramáticas condições em que foi feita.
A viagem «foi uma odisseia», leio no Livro da Unidade, que dá conta de odisseia ser para «milhares de civis que, à chegada a Luanda, choravam por se sentirem salvos».
A 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel (e depois Quitexe), do capitão Fernandes, foi uma das sacrificadas dessa memorável coluna - não é demais repeti-lo (e com a 2ª. CCAV. a de Aldeia Viçosa, do capitão Cruz) -, mas esta foto vem a lume para homenagear Carlos Silva, um dos animadores deste blog e que, para sua amargura, ficou sem todo o seu espólio da jornada angolana - perdido (ou roubado) no porto de Lisboa, na volta de Angola.
Não tem o Carlos Silva uma foto dessa jornada que nos casamentou pelo Uíge angolano e é por isso que, conseguida não sei já bem como, aqui a venho postar hoje. Alguém, neste circuito de mais de 3,5 anos do blogue, ma enviou e eu (perdida a informação de quem foi) cuidei de saber se era mesmo o Carlos Silva - que agora, no gozo de reforma, está de corpo um bocadinho mais avantajado (não muito) e de... bigode. Confirmou-me o Belo. É mesmo o (alferes) Carlos Silva de há mais de 37 anos! Bons tempos, apesar de difíceis e bem amargos.
- SILVA. Carlos Almeida e Silva, aferes miliciano atirador 
de cavalaria, da ª. CCAV. 8423. Aposentado das banca, vive 
em Ferreira do Zêzere. Ver AQUI
- BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano vago-mestre, 
da 3ª. CCAV. 8423. Aposentado da administração fiscal, 
vive em Retaxo (Castelo Branco).

domingo, 11 de novembro de 2012

1 468 - O Costa, o Leão e o Nascimento de Zalala

Costa, Mário Costa e Nascimento, Cavaleiros do Norte de Zalala

A 10 de Junho de 1973, jurei bandeira na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Do meu pelotão e, na parada a desfilar mesmo ao meu lado, estava o instruendo Costa. Depois furriel miliciano, que voltei a encontrar em Santa Margarida, onde se formou o Batalhão de Cavalaria 8423, a partir de Janeiro de 1974.
O Costa, na parada de juramento de bandeira de Santarém, muito demorada e com entrega solene de medalhas a heróis da guerra do ultramar - ou a viúvas e filhos (como também lá vimos), em momentos emotivos -, teve um lapso físico momentâneo, encostando-se a mim, ficando ambos atrapalhados.
Quando nos encontrávamos, lá vinha o «lapso» à baila, até que passou de moda. Veio-me agora a memória, ao olhar para a foto, encomendada» pelo Pinto e pelo Rodrigues, que com ele acamaradaram por Zalala e Vista Alegre, depois em Carmona e Luanda.
Não sei o que é feito do Costa, que era boa gente (e de família fina, também), bom camarada e que, há anos, morava na área de Lisboa.  
O Leão, recorda o Rodrigues, era também conhecido por Trombone (ou Trompete) e «um homem humilde e lutador». O Dias veio dar conta que era soldado clarim e mora em Fernão Ferro - Mário António Figueiredo Costa, de sua graça baptismal. O Nascimento faz vida pelos Estados Unidos e diz o Rodrigues que «se não tivesse nascido, tinha de ser inventado». Já por aqui falámos dele.




sábado, 10 de novembro de 2012

1 467 - Independência de Angola, há 37 anos!


Angola tornou-se independente há precisamente 37 anos, com a proclamação de Agostinho Neto - o seu primeiro Presidente da Republica.
A bandeira portuguesa foi arreada pela última ao pôr do sol da véspera, no Palácio do Governo e na Fortaleza de Luanda (foto) Na manhã de 11 de Novembro, no salão nobre do Palácio, o último alto-comissário português, Leonel Cardoso, fez a declaração de despedida: “Portugal entrega a Angola aos angolanos, após quase 500 anos de presença. (…) Portugal parte sem sentimento de culpa e sem ter de que se envergonhar. (…) A única recriminação que poderá aceitar é a de ter dado provas de extrema ingenuidade política quando concordou com certas cláusulas do Acordo de Alvor”.
Angola, ao tempo, era disputada pelos três maiores grupos nacionalistas - MPLA, FNLA e UNITA - e a independência foi unilateralmente proclamada pelos três.
O MPLA controlava Luanda (a capital) e proclamou a  independência da República Popular de Angola, ás 23 horas. Ouvi o discurso de Agostinho Neto, via rádio, no quarto de minha casa, e não deixei de sentir emoção, recordado da terra de onde saíra dois meses antes - a 8 de Setembro.
Holden Roberto, líder da FNLA, proclamou, no Ambriz, a independência da República Popular e Democrática de Angola.
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, em Nova Lisboa, proclamou igualmente a independência de Angola.
O novo país entrou em guerra civil - que viria a terminar em 2002, quando Jonas Savimbi morreu em combate, depois de muitos anos de luta, cuja história não cabe neste espaço. 
O discurso de
Agostinho Neto

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

1 466 - O Brejo está a «recompor o esqueleto»...

O Brejo, estão a vê-lo? Pela altura desta foto (aí por  1974/75...) estava nos seus irreverentes e deliciosos 22 aninhos de vida e jornadeava pela Aldeia Viçosa do Uíge angolano. Agora, aos 60 (que festejou a 28 de Junho deste ano), convalesce de uma operação ao coração.
«Estou a recompor o o esqueleto!!!», diz ele, na sua imortal maneira de encarar a vida, com piada fácil e permanente boa disposição.
O Brejo fez recruta e especialidade em Santarém, na Escola Prática de Cavalaria, de onde guarda memórias do alferes Ruas, e nunca esquece os tempos d´Africa e «a grande camaradagem da malta». Mas a verdade é que  «os tempos de Santarém marcaram-me muito», diz ele, deixando-se enovelar de emoções.
O coração ia-o traindo, há pouco, e foi operado a 14 de Agosto, com «as artérias entupidas». Sacaram-lhe artéria da perna esquerda, aplicaram-lhe dois by-passes e, agora, repetindo-o, «estou a recompor o esqueleto», coisa que lhe vai demorar até Janeiro/Fevereiro de 2013. Para já, tem de andar uma hora a pé, por dia, e «tomar alguns cuidados». Por exemplo, nada de bebidas e tabaco.
Compara-se ele ao país que somos (e onde todos sofremos) e diz-nos, entre a amargura e a piada do costume, que «nem Cristo no altar está seguro». 
O Brejo não perdeu a piada e a forma, muito sugestiva e compilada, de dizer as coisas por imagens. 
Os filhos, são três: um 1º. sargento (o Rui) que nasceu no mesmo dia dele (mas em 1983), um emigrante no Canadá (o Nuno) e «um catraio de 15 anos» (o João). Reformou-se em Janeiro e faz de hortelão no aido, no seu dia a dia, para «compor o tempo e a economia da casa». 
Isso mesmo, ó Brejo!!
- BREJO. João António Piteira Brejo, furriel miliciano 
da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Aposentado, 
natural de Montemor-o-Velho e residente na Cruz de Pau (Seixal).

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

1 465 - O Costa dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa...


O Costa é o segundo, da esquerda para a direita. Está ali em leituras, com o Letras (o primeiro), o Guedes e o Gomes, todos da companhia de Aldeia Viçosa, a 2ª. CCAV. 8423, do capitão miliciano José Manuel Cruz.
Aquele gente, como se vê, está roídinha de saudades do «puto» e dos seus. Talvez, melhor dizendo, das suas, sejam elas quem forem. Ou quem fossem. Os tempos daquele tempo eram de saudades e de paixões e cada qual sabia das suas, sem que tivessem de ser confessadas.
A foto vem aqui a propósito do Costa, que, sendo lá da terra do Senhor de Matosinhos, fez vida profissional pela minha terra de Águeda e, por via disso, muitas vezes nos encontrando por cá  - nestes 27 anos que nos separam da jornada africana de Angola. Há dias, metemo-nos em conversa, regada de nostalgia e até de emoção, porque não dizer?!
O Costa é técnico de vendas da ADP Fertilizantes e correu a zona centro do país, por isso mesmo carreando-se de notas de encomenda pelas terras de Águeda, como fornecedor da Cooperativa Agrícola  - de que sou cooperante há dezenas de anos. Agora, é mercador lá mais para o norte. mas tem viagem prometida para estas banda. Não se safa dessa!
Dessa e. em, boas verdade, da de pertencer já ao Clube dos Sexiiiiiiiigenários! Nele entrou a 13 de Setembro deste 2012 que corre trágico para os portugueses mas não lhe esmoreceu a boa disposição. Que assim seja, ó Costa!!! Anos a fio e sempre!
- COSTA. José Manuel Cerqueira da Costa, furriel 
miliciano atirador de Cavalaria. Técnico de vendas 
e residente em Matosinhos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

1 464 - O que é feito do Ricardo de Santa Isabel?

Flora, Belo, Fernandes e Ricardo, furriéis de Santa Isabel (1974/75)

O Ricardo era furriel miliciano atirador de cavalaria, na 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Esguio, ágil e de boa conversa, conquistava permanentes simpatias. O mesmo, e sem favor, se diga do Flora, do Belo e do Fernandes, que lhe fazem companhia na foto - já tirada no Quitexe, quando por lá foram nossos companheiros (da CCS), entre 10 de Dezembro de 1974 e 2 de Março de 1975. Tudo boa gente!
O que o diferencia na foto é que é o único, do quarteto que aqui espairece o olhar sobre alguma coisa boa (supomos nós!), de quem não sei o pouso, admitindo que continue a viver pelos lados de Odivelas - onde fazia pela vida em meados dos anos 90.
A imagem dá... imagem da boa disposição que caracterizava o quotidiano da vida quitexana, para além dos serviços, da patrulhas e das escoltas. Ou até da protecção que, ao tempo, se fazia aos trabalhadores da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA) - que pelas estradas do chão uíjano as queriam fazer melhores e mais seguras. Ocorre-me o troço que, na nossa área, ligava o Quitexe a Camabatela. Em terra batida e pó avermelhado, que tanto nos enlameava os camuflados e o corpo.
Mas é o Ricardo que vem ao caso, neste noite de chuva fria do Portugal europeu de hoje: o que é feito dele!
Diz lá por onde andas, ó Ricardo? 
- FLORA. António Pires Flora, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Natural de Alcains e aposentado da Caixa Geral de Depósitos, mora em Odivelas
- BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano de Alimentação, natural e residente no Retaxo (Castelo Branco), aposentado da administração fiscal.
- FERNANDES. António da Costa Fernandes, furriel miliciano atirador de cavalaria, professor do ensino secundário, de Lomar (Braga).
- RICARDO. Alcides dos Santos da Fonseca Ricardo, furriel miliciano atirador de cavalaria, residente (?) em Odivelas.m Odivelas. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

1 463 - O furriel Brogueira Dias da alimentação quitexana

O Dias imortalizou-se pelo Quitexe como furriel miliciano de alimentação, debitando números e inventando ementas para a boca sempre esfomeada dos Cavaleiros do Norte. «Disciplinado, humano, cuidadoso na elaboração de escrita inerente à suas funções», louva-o o comandante da CCS (capitão Oliveira), com nota em ordem de serviço, a nº. 166.
O Dias afamou-se por lá, por ser de fino e gentil trato, filho de família de estirpe alta e dela (da família e a convite dele) vim a conhecer o seu belo solar residencial, na rua Costa Cabral, no Porto e já por 1977/78. Era um companheirão, fazendo reputada parelha com o Machado. Depois se fizeram compadres, apdrinhando filhos um dos outro.
O Dias, lá pelo Quitexe e desempenhando funções de vago-mestre, teve fartas dores de cabeça. Não só nas contas (que tinha de acertar ao centavo), mas, e cito o louvor, para «tornear todas as dificuldades surgidas na ingrata missão de providenciar e orientar a alimentação do pessoal».
Com ele, com o Dias, tenho uma dívida que não sei se alguma vez pagarei: o filme da nossa chegada a Lisboa, que me  emprestou vai para 30 anos (ou mais) e eu lamentavelmente perdi de vista. Há dias, à fala com ele, veio o filme à conversa e eu já sem palavras para camuflar a minha vergonha. Ainda sonho encontrá-lo!
Tem o Dias, a quem também, por afecto, chamávamos de Brogueira (outro apelido dele) feito vida na banca e é pai de uma psicóloga, um professora de educação física e de um licenciado em som e imagem. faz dias (os da semana e do ano) para se aposentar e, até lá, sem faltar aos encontros da CCS dos Cavaleiros do Norte.
- DIAS. Francisco José Brogueira Dias, furriel miliciano 
de alimentação. Bancário, reside no Porto. A foto é de 
2009, no encontro de Águeda.
Ver AQUI


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

1 462 - O Zé Oliveira (vago-mestre) da Companhia do Liberato

O capitão miliciano Victor que comandou a CCAÇ. 209/RI 21, 
do Liberato, e o furriel Oliveira (segundo e terceiro) da CCAÇ. 209/RI 21

Liberato era lá para o fim da picada!!! Ia-se do Quitexe, cortava-se à direita (de quem ia para Aldeia Viçosa, na estrada do café), a Vamba e Santa Isabel ficavam à vista e, entre a floresta de muitos perigos, semeada de ruídos e de muitos medos, lá se chegava ao fim de algumas duas boas horinhas de unimog, encharcados de suor e pó. Por lá me «perdi» duas ou três vezes.
Nunca me perdoarei de, quando por lá passei (em passagens de médico, é bem verdade, de apenas duas ou três horas, já nem lembro bem!!!...), lá não ter achado o meu bom amigo Zé Marques, companheiro de turma na Escola Industrial e Comercial de Águeda, uns meses mais velho que eu e que por lá furrielou como vago-mestre.
Era meu costume, quando a lado novo chegava, perguntar se por lá não havia gente de Águeda. E lá fiz o mesmo. Mas não estava por lá, nas alturas, o amigo Zé Oliveira (para mim, o Zé Marques) e sendo ele do Caramulo, natural será que não o associassem à pergunta.
Acabei de falar com ele e muito me contou: «Era de Águeda, também, o alferes Sereno!!!...». E eu sem saber quem é (era). Afinal, gente de família muito conhecida daqui, filho de engenheiro dos caminhos de ferro de Benguela e que um drama familiar tornou «pai» dos irmãos. Os pais, fatidicamente, faleceram em Angola, num acidente de viação.
Do Liberato me deu conta o (furriel) Oliveira que conheceu dois comandantes: os capitães Baracho (oficial do quadro) e, depois, Victor, «um capitão que foi de alferes a tenente e depois comandou a companhia". Era muito conhecido por ser vocalista de um então famoso grupo de música, vivia no Algarve e com uma senhora holandesa (que se vê na foto deste post, logo à esquerda).
A CCAÇ. 209/RI 21 era essencialmente formada por militares angolanos e alguns quadros europeus. Que normalmente iam em rendição individual. Foi o caso de Zé Marques (o Oliveira), que ainda assim cumpriu 22 meses da sua jornada angolana, chegando à sua casa do Caramulo pelas 23 horas da noite de Natal de 1974!   
- OLIVEIRA. José Marques de Oliveira, furriel miliciano 
vago-mestre da CCAÇ. 209/RI 21, a do Liberato. Natural 
do Caramulo, aposentado da Caixa Geral de Depósitos
e residente em Águeda. 
  

domingo, 4 de novembro de 2012

1 461 - Passos do processo de independência de Angola

Almeida e Brito, tenente coronel e comandante do BCAV. 8423) e 
capitão José Paulo Falcão (oficial adjunto e de operações) - foto de 9 de Setembro de 1995

O comandante Almeida e Brito veio de férias a Portugal, saindo do Quitexe a 4 de Novembro de 1974. O comando interino do BCAV. 84123 passou para o capitão Falcão - que era o oficial de operações.
A situação acarretou trabalhos dobrados, no caso do PELREC, pois o alferes Garcia passou temporariamente para o Gabinete de Operações, dando menos tempo ao pelotão que ele comandava e que desde o início da comissão estava «amputado» do (furriel) Monteiro, deslocado para a secretaria da CCS. E o (furriel) Neto saíra do Quitexe a 1 de Novembro, em férias e para Portugal. Nada tal atrapalhou e cumprimos as ordens de serviço, como mandava a lei e a obrigação.
Logo a 4 de Novembro, o capitão Falcão (já na «pele» de comandante interino dos Cavaleiros do Norte) participou numa reunião de comandantes do Comando de Sector, em Carmona - realizada no BC12, que viria a ser a nossa unidades, a partir de 2 de Março de 1975. Este tipo de contactos operacionais foi repetido a 8, 13, 18, 22 e 27 de Novembro. 
A 3 de Novembro, uma delegação da Junta Governativa e do MFA de Angola, chefiada pelo brigadeiro Silva Cardoso e incluindo Pezarat Correia e José Emílio Silva (majores) e  Soares Rodrigues (1º.-tenente) deslocou-se a Cabinda - onde, na véspera, duas companhias do Batalhão de Belize (comandadas por um capitão) e um destacamento das FAPLA (MPLA), liderado pelo comandante David Moisés Ndozi, ocuparam pontos estratégicos da cidade, com o objectivo de travar as actividades da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e prenderam o
comandante do Sector de lá (brigadeiro Themudo Barata), o seu Estado-Maior e 12 oficiais portugueses. Na sequência da visita e por decisão da Comissão nNcional de Descolonização, o coronel José Lopes Alves foi, a 4 de Novembro de 1974, nomeado governador interino de Cabinda.
No mesmo dia (hoje se completam 38 anos), Holden Roberto, presidente da FNLA, escreveu a Costa Gomes (Presidente da República), depois de, na véspera, a mesma FNLA ter anunciado a intenção de «desbloquear» o processo de independência de Angola.


sábado, 3 de novembro de 2012

1 460 - O vago-mestre Nascimento de Zalala...

O Nascimento em foto de 1974. Está
 nos Estados Unidos e foi vago-mestre de Zalala

O Nascimento foi vago-mestre em Zalala, mestre da famosa ementa de “carapau podre com arroz de tomate». Um dia veio de férias e resolveu prolongá-las. Não regressou quando acabaram, ficou doente, esteve internado no hospital militar no Porto e, segundo nos contou, o objectivo era «queimar tempo para passar o natal em Portugal».  
Por Zalala, tinha sido substituído pelo Rodrigues - que deu boa conta do mandato, com tudo em dia e a guarnição a bater pala às ementas, que melhoraram consideravelmente.
O Nascimento acabou por regressar, passados uns dois ou três meses, e reassumiu a função de vago-mestre, não se fazendo demorar o famoso «carapau podre com arroz de tomate”. Recorda o Rodrigues que «toda a gente se revoltou e nesse escasso período de tempo, houve até várias ameaças de levantamento de rancho»
O capitão Castro Dias, comandante de Zalala, apercebendo-se da situação, interveio e voltou a chamar o Rodrigues: «Disse-me que ia tomar conta da alimentação, definitivamente, e aí já fiquei mais à vontade, porque já tinha aqueles meses de «estágio» anterior, embora sem a folga do excesso herdado da gestão do Nascimento», conta o Rodrigues -  que actualmente com ele (Nascimento) contacta regularmente, de Portugal para os Estados Unidos.
O êxito da missão (e também a da gestão do Aldeagas, nas suas férias), atribui-as «a uma grande equipa, a dos especialistas da cozinha»  - os cozinheiros, naturalmente, que, recorda o Rodrigues, «mesmo nos últimos tempos de comissão, e com a escassez de alimentos a que estivemos sujeitos, sempre conseguiam  variar e inventar  pratos, de tal maneira que até me admirava».
«O mérito de se ter conseguido uma alimentação razoável deve-se muito a estes camaradas», sublinhou o Rodrigues, lembrando que «o Nascimento, já em Vista Alegre, foi colocado na cantina, por onde ficou o resto da comissão».
- NASCIMENTO. José António Moreira do Nascimento, furriel miliciano de alimentação, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Reside no Arizona, Estados Unidos da América.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala.. Aposentado, natural e residente em Vila Nova de Famalicão.
- COZINHEIROS. A equipa de cozinheiros de Zalala era formada pelos 1ºs. cabos José Manuel Temporão Campos e César Armando A. da S. Rocha (padeiro) e soldados Adérito dos Santos Reis Barros, Júlio Manuel Tavares Martinho (auxiliar) e Fernando Manuel da C. Lopes (auxiliar).



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

1 459 - O alferes Garcia morreu há 33 anos!

A morte do saudoso alferes Garcia ocorreu há precisamente 33 anos, quando, como agente da Polícia Judiciária e no exercício das suas funções, sofreu um brutal acidente de viação entre Viseu e Mangualde.
Era uma sexta-feira, como hoje, e soube do trágico acontecimento na manhã do dia seguinte, ao ler o Jornal de Notícias. Deixou viúva a sua Olga de todos os sonhos, com quem trocou juras de amor na igreja de Pombal de Ansiães (de onde eram ambos). E orfã a filha Marta, ao seu pouco mais de um ano de idade. 
A homenagem que aqui lhe deixamos - evocando o nosso  grande companheiro da jornada africana! - fica simbolicamente, em forma de papel, com o recorte da notícia do trágico acontecimento, que tanto nos enlutou e a família dos Cavaleiros do Norte não esquece, a do Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 1979.
Até um destes dias, amigo Garcia! 
Ainda hoje, ao falar com o António, nosso grande e bravo companheiro do PELREC, nos vieram as emoções da saudade. A saudade de quem se gosta e não esquece.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers), comandante do PELREC da CCS do BCAV. 8434. Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães), era agente da Polícia Judiciária (PJ) no Porto e faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente de viação (ver recorte).
- ANTÓNIO. Francisco Fernando Maria António, soldado atirador de cavalaria, do PELREC. Natural e residente em Abrançalhas (Abrantes), foi motorista de longo  curso e está aposentado.   
Clicar na imagem, para a ampliar.