CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

1 302 - Os dias 31 de Maio na vida dos Cavaleiros do Norte

Alferes Machado(2ª. CCAV.) e capitão Castro Dias, em Carmona (1975), furriéis 
Queirós, Mota Viana, Rodrigues e Pinto (2012) e alferes Sousa (em baixo)

O dia de hoje, 31 de Maio, pode associar-se a várias efemérides dos Cavaleiros do Norte: a CCS, em 1974, fazia o segundo dia de Angola, a 1ª. CCAV. aviava malas de Lisboa para Luanda e em Carmona (em 1975) faziam-se horas de aperto para os dramáticos incidentes que por aqui já foram memoriados.
Nem de propósito, quando hoje ao almoço fazia preparativos para sábado, a almoça(ra)r com o Francisco Neto, precisei de dar um pé de orelha ao Monteiro (por causa do power-point) e calhou-me ligar a Castro Dias, o inesquecível comandante da 1ª. CCAV., a da mítica Zalala. E qual é a coincidência Pois justamente a que acima sublinha: faz hoje 38 anos que os zalalianos voaram de Lisboa para Luanda.
Tenho memórias boas da malta de Zalala, logo do alferes Sousa de Sousa (é assim mesmo). Foi companheiro de Lamego, na formação das Operações Especiais (Rangers) e era fidalgo de bom trato e de quem perdi o rasto. Depois, o imemorável Pinto, também companheiro da jornada lamecense. E a eles se juntaram  mais próximos o Mota Viana (que também foi companheiro de Lamego), o Queiroz e o Rodrigues, o Dias e o Aldeagas, o Barata (que a morte já levou) e o Vitor Costa (que em Santarém fora, como eu, militar da recruta de cavalaria). Se esqueço alguém, que me perdõe.
A 22 de Maio, já tinham chegado a Luanda o comandante Almeida e Brito, o capitão Falcão (oficial adjunto) e o alferes Hermida (oficial de transmissões). Foram eles quem nos deu a notícia do nosso destino: o Quitexe.
O dia 31 de Maio era um sábado e nesse dia, no bairro da Cuca, localizei o conterrâneo Custódio Ferreira (agora nos Estados Unidos), ao tempo soldado sapador aquartelado no Grafanil e para quem da mãe, levava chouriços e rojões.. Já lá vão 38 anos!!!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

1 301 - A chegada a Luanda, há 38 anos!!!

A baía de Luanda nos anos 70 do século XX (foto da net)

O voo foi nocturno, a partir da meia noite de Lisboa, e pousámos em Luanda no alvor de 30 de Maio de 1974. Vagamente, lembro-me de o piloto ter dado conta, na viagem, de termos sobrevoado os céus de Bissau, de que se via a iluminação! Seria! 
Ainda dormitei e não tardou a que o avião dos TAM nos deixasse ver o esplendor da baía luandina e a cor vermelha do chão de Angola, nos mostrasse os mussseques e a cidade enorme, a espreguiçar-se e abrindo os olhos para um novo dia de trabalho.
Aquela metrópole enorme e moderna, de edifícios gigantescos e enormes avenidas a rasgar-lhe o ventre, a beleza deslumbrante da baía, a ilha que víamos encostada à cidade, todo aquele ar cosmopolita não nos parecia ser uma terra de guerra. O avião arredondou-se nos azulíssimos céus de Luanda, como quem batia a porta para dizer os bons dias, e os nossos olhos arregalavam-se de espanto. Nunca tínhamos visto mancha urbana tão grande, a  não ser oito horas antes, quando levantámos voo de Lisboa e mal espreitámos a luz da noite da capital do império que se começava a desfazer.
Blusões fora e arrumado o meu no saco TAP vermelho, lá fomos para o Grafanil - onde ficámos até 5 de Junho. Era tudo novo para nós: o chão e os cheiros, a paisagem, as gentes que nos falavam, os sotaques, até a cerveja - que comprei com angolares que já levava e senti pouco forte.  As cucas que bebemos eram leves a mais para os hábitos e paladares cervejeiros da então metrópole. 
Um sargento nos apareceu, no aquartelamento do BCAV. 8423, de pasta debaixo do braço e ar de negócio fácil: queria fazer câmbio. Trocar, com farto lucro, escudos de Portugal pelos de Angola, os angolares. Espantei-me quando, após três dedos de conversa, vim a saber, da boca dele, que teria estado na Escola Central de Sargentos, aqui em Águeda. E que, eventualmente, nos teríamos cruzado algumas vezes, no bar do café Santos - onde se comiam excelentes bolos de bacalhau e bebiam taças de vinho branco. Não foi tal coisa suficiente, porém, para que fizéssemos negócio. Mas houve quem fizesse e com o 1º. sargento a ganhar o lucro dele.
Por nós, íamos descobrir Luanda. E visitar amigos que por lá faziam pela vida, sem sofrer os medos da guerra que lá nos levava! Era uma vida nova que se abria nos nossos dias.
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terça-feira, 29 de maio de 2012

1 300 - O dia da partida para Angola, há 38 anos...

Cavaleiros do Norte da CCS, reunidos a 29 de Maio 
de 2010, em Ferreira do Zêzere


A 29 de Maio de 1974, hoje se completam 38 anos, saíram os futuros Cavaleiros do Norte (da CCS) de Santa Margarida, rumo a Lisboa e ao aeroporto, de onde voaríamos para Luanda. Foi a primeira fez que andei numa auto-estrada, entrei num aeroporto e viajei de avião. A minha e a de muitos de nós.
Chovia torrencialmente, fizemos o compasso de espera habitual dos aeroportos e lá nos acomodámos no avião dos TAM, como pudemos e com o que nos deram para comer, nas 8 horas que nos separavam do aeroporto internacional de Luanda - depois de voarmos ao largo da costa africana, já que as aeronaves portuguesas estavam impedidas de passar pelo espaço aéreo de alguns países.
Há dois anos, precisamente a 29 de Maio de 2010, fizemos a festa do dia em Ferreira do Zêzere - onde nos mostrámos para o futuro, com a imagem que aqui reproduzo. 
Hoje, ligou-me o Monteiro, que é o mordomo do encontro deste ano (marcado para sábado), dando conta das suas preocupações e entusiasmo para, em Paredes (Porto), nos fazermos rapazinhos de 21 para 22 anos e lembrarmos as travessuras e heroísmos da nossa passagem pela terra uíjana da Angola.
Já se sabe de alguns que não vão, porque não podem, e de outros que não faltam, porque não querem faltar, dê lá pelo que der. É sempre assim. De então (2010) para cá, um de nós partiu: o Carpinteiro, um dos nossos melhores! Faleceu a 1 de Novembro de 2011, subitamente.
A vida é assim e sábado a recordaremos com o melhor das nossas memórias.
Inté!
- CARPINTEIRO. Manuel Augusto da Silva Marques, 1º. cabo 
carpinteiro. Natural de Esmoriz (Ovar), onde faleceu 
a 1 de Novembro de 2011, vítima de doença súbita.
- TAM. Transportes Aéreos Militares.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

1 299 - Os dias de intervalo na partida para Angola

A 27 de Maio de 1974, a nossa partida para Angola foi adiada por dois dias. Era uma segunda-feira e alguns de nós voltaram a casa. Eu fiquei por lá (Santa Margarida) e por lá andei a dar umas voltas, nos dois dias do intervalo.
E, quanto a voltas, por muito lado as podia dar - mesmo sem sair do campo militar - que ainda é uma das maiores instalações militares da Europa e, seguramente, a maior instalação de Portugal, em termos de guarnição e a segunda maior em termos de área ocupada. A primeira é o Campo de Tiro de Alcochete. 
Os seus 6 400 hectares correspondem a uma área total superior ao Estado de San Marino.
- 6 400 hectares de área total ocupada
- 3 500 hectares de área de aquartelamento
- 1 avenida principal com 2,7 kms. de comprimento
- 330 edifícios
- 5 000 militares de guarnição. Ao tempo, dizia-se que poderia aquartelar 30 000
- 1 pista de aviação
- 2 heliportos
- 1 estação ferroviária
- 4 carreiras de tiro de armas ligeiras
- 1 carreira de tiro de carros de combate
- 1 carreira de lançamento de granada
- 1 pista de combate.
Recordo, no entanto, que num jipe ao serviço do BCAV. 8423 (a maioria do pessoal por lá ficou, pelo que a unidade ficou a «funcionar»), me «desenfiei» com o Rocha e o Pires (??), indo almoçar a S. Miguel de Rio Torto - onde o oficial de dia nos deixou e mandou buscar a meio da tarde de faz hoje 38 anos. 
A noite foi passada com jogo de cartas e muita conversa, no bar de sargentos do RC4  - a nossa unidade mobilizadora. Foi mais um dia/noite de vésperas de partida, sentidas com repetida ansiedade, alguma  nostalgia e seguramente muita expectativa. Onde estaríamos menos de 48 horas depois? Como seria Luanda? Como seria Angola, depois do 25 de Abril?

domingo, 27 de maio de 2012

1 298 - Os Cavaleiros do 1917 reuniram em Alenquer



O Batalhão de Cavalaria 1917 antecedeu-nos no Quitexe e reuniu-se ontem em Alenquer, como nos deu nota o Luís Patriarca, acrescentando que «uma vez mais correu bastante bem».
Pena foi (é) que, como frisou, «o número vá sendo cada vez menor», até porque «ainda por cima, há duas companhias do batalhão que organizam convívios independentemente» e noutras datas.
 Mesmo assim, «alguns voltam a este convívio» e é deste, de ontem, que damos registo fotográfico, por gentileza de Luís Patriarca.

sábado, 26 de maio de 2012

1 297 - Ai Flora, António Flora, meu velho amigo...

Viegas e Flora, a 26 de Maio de 2012, em Lisboa (em 
cima) e na passagem de ano de 1974 para 1975, no Quitexe


A vida levou-me hoje a Lisboa, a capital do acabado império, por razões que aqui não vem ao caso e me fizeram pousar no Altis. Lá me achei com o Flora, amigo nascido das«berças» do BCAV. 8423, em Santa Margarida, e de já, bem antes, da recruta da Escola Prática de Cavalaria - que em Santarém fizemos, agora se fazem 39 anos, de Abril a Junho de 1973.
O Flora foi Cavaleiro do Norte de Santa Isabel! E depois do Quitexe e de Carmona, antes do adeus a Luanda, de Agosto para Setembro de 1975. Pelo chão do Uíge, fez comissão que lhe valeu louvor, exaltando-lhe «o método de trabalho, eficácia e prontidão». Mais: «Auxiliar inestimável em qualquer circunstância, mesmo sob condições bastante desfavoráveis ou delicadas», que o tornaram «exemplo digno de seguir e, consequentemente merecedor de público louvor» - assim se lê na Ordem de Serviço nº. 174.
O Flora, o Flora que eu conheci de 1974 a 1975, era rapaz de trato simples, de sorriso de menino e quase envergonhado, diria dono de uma timidez que lhe dava nobreza ao rosto e à alma. Lembrou-me ele, hoje, uma noite de excessos  quitexanos, que o levaram, até, a consumos de coisas que não lembram ao diabo, mas se sugeriam à verdura da nossa juventude de então. 

«Nunca mais, ó Viegas?», disse-me ele hoje, no hall do Hotel Altis, com o seu mesmo sorriso de eterno menino, como que a pedir desculpa das festanças que nossa irreverência de então nos levou a fazer, numa terra que se fazia em guerra e (des)fazia em sonhos, alguns exageros e muita, muita vida.
O Flora ganhou recente batalha de saúde e dela me falou descomplexado e tranquilo. E vencedor, digo eu. E com ele falei de muitas das emoções que nos varreram a alma, na missão que nos fez servidores da Pátria. Também sem complexos. E sem nos queixarmos de dores com que outros se fizeram falsos heróis e cobardes. Não foi, meu amigo Flora?!
- FLORA. António Pires Flora, furriel miliciano atirador 
de cavalaria, da 3ª. CCAC. 8423, a de Santa Isabel. Lá 
serviu também na secretaria. É aposentado da Caixa Geral 
de Depósitos, natural de Tinalhas (Alcains) e 
morador em Famões (Odivelas).

sexta-feira, 25 de maio de 2012

1 296 - Um plenário de agricultores na sementeira de Abril

A 25 de Maio de 1974, antevéspera da minha saída de casa para Angola, fui de comboio até Águeda, fazer despedidas. Havia um grupo da escola e do trabalho que se juntava por lá, nas raias da feira/mercado, e se atirava ao fim da manhã a umas valentes feijoadas, e dobradas, e era mor meu dizer adeus ao grupo. Afinal, ia para a guerra...
Por lá andei, no fala com este e aquele, até que passei no (extinto) Grémio da Lavoura, onde, acaloradamente, decorria uma reunião da agricultores, com o objectivo (para mim evidente) de o extinguir. 
O 25 de Abril vinha de vésperas, a febre revolucionária levedava fartamente e demitir dirigentes de qualquer instituição ligada ao Estado Novo era «pão nosso de todos os dia». Por coincidência, três dos oradores eram conhecidos próximos (um deles, era até meu  familiar, e outro um ex-professor...) e de tal foram exaltavam argumentos, que fiquei estupefacto. Demitir a direcção e eleger outra, era objectivo primário!
Bom, deixei-me da reunião (ou plenário) e fui de passo apressado para a tasca onde fervia a dobrada, na cova funda do Café Moderno.
Já no Quitexe, fiquei a saber, por jornal de 22 de Junho, que, feitas as eleições, a direcção do Grémio continuou direcção, que, afinal e já desde 1961, havia já uma cooperativa - dona do edifício e de todas as instalações, de resto «adquiridas a expensas exclusivas dos seus sócios e os da Cooperativa, sem qualquer subsídio do Estado, não obstante ter sido solicitado». Tinha a Cooperativa «cerca de 5000 sócios» e cerca de 7000 contos de transacções anuais, dando «sempre contas dos seus actos, aos sócios, perante o conselho geral, e aos sócios da cooperativa».
E o que é que isto tem a ver com os Cavaleiros do Norte?, perguntarão. Nada. Ou tudo. Por mim, foi a forma de começar a conhecer (no plenário de mais de duas centenas de pessoas e, entre elas, muitos não agricultores infiltrados) como a democracia dava os primeiros passos. Por alguma razão nunca quis andar por essas paradas!
Foto da net.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

1 295 - O comandante Almeida e Brito...



O comandante do BCAV. 8423, tenente coronel Almeida e Brito, não era «maçarico» no Quitexe, quando por lá foi Cavaleiro do Norte, entre 6 de Junho de 1974 e 2 de Março de 1975, e então rodámos para Carmona, para o BC12, e lá ficou a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel. Já por lá fôra major de operações  - o que sabíamos, ao tempo, mas sem conhecer pormenores.
A foto, tirada do blogue de José César, mostra-o nas funções de 1968. Chegou ao Quitexe, em rendição individual, a 24 de Janeiro e de lá saiu a 17 de Dezembro, integrando o Batalhão de Cavalaria 1917. É o oficial da esquerda e note-se o imprescindível pingalim de cavalaria, como tantas vezes o vimos no Quitexe e Carmona, como antes em Santa Margarida. Ao centro, está o tenente coronel António Amaral, comandante do BCAV.1917; e, à direita, o comandante da CCAÇ. 1306. Quero acreditar que a imagem é da fazendo do Liberato, guarnição que integrava a zona de acção militar do Quitexe.
Almeida e Brito não era oficial de meias palavras, ou indecisões. Por vezes, até era excessivamente imperativo no agir, seja isso virtude ou defeito. Dúvidas, não há: era respeitado e admirado. E era justo! Dele se contavam lendas da anterior passagem pelo chão quitexano! E dele nos falavam civis locais e combatentes da FNLA, citando-o com o militar de coragem, sem tibiezas, decidido, audaz e descomprometido.
Partilhei muitos momentos com ele, depois de 1975 - quando foi 2º. comandante da Região Militar Centro, em Coimbra, onde foi adjunto do general Pires Tavares, que é de Águeda (minha terra); quando comandou a Região Militar Sul, em Évora; quando foi 2º. comandante geral da GNR e a ele recorri por uma hora menos boa de companheiro que seguiu carreira profissional nas Brigadas de Trânsito. 
Participou nos encontros da CCS e do batalhão, quando melhor conhecemos a face mais humana do militar que não teve hesitações nos duros dias dos meses finais de Carmona. Quantos de nós deveremos a vida à sua competência e capacidade de decisão?! Nunca saberemos! Mas é seguro que, nos momentos mais dramáticos e trágicos, tivemos à altura quem nos comandasse.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima 
Almeida e Brito, tenente coronel e comandante 
do BCAV. 8423. Atingiu a patente de general e 
faleceu a 20 de Junho de 2003, de morte súbita.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

1 294 - O Machado foi louvado...

Machado, Cruz e Rocha, furriéis da CCS do BCAV. 8423, em Carmona (1975)

O Machado era a irrequietude em pessoa. Não tanto pelo tamanho, mas pela alma!!! Pisassem-lhe os calos, denunciassem-lhe injustiças e tínhamos «beduíno» para agitar as massas, discutir, intervir, alegar, assumir (sem procuração, desnecessária) a defesa dos mais fracos.
O Machado era (é) rapaz de farta cultura, inteligente, vivo, perspicaz, grande amigo do seu amigo. Por alguma razão, 37 anos depois da desmobilização, mantemos afectos que se alargaram às famílias e não há Natal e dia de anos que não tenha telefones com palavra de carinho e lembrança. «Está mais velho, pá!!!...».
As berças do Machado ficam no Covelo do Gerez e por lá girandei várias vezes, até em férias, conheci-lhe avó, pais, irmãos, vizinhos, amigos, segredos. Somos amigos, pronto!
O Machado não vem aqui hoje, porém, por coisas da «lemechice» humana, do gostar ou (não) ser amigo! Vem porque foi louvado na sua comissão angolana, cuidando o capitão Oliveira de lhe sublinhar«zelo e aptidão» para as funções que por lá exerceu, «nunca se poupando a esforços para que o material da Companhia se mantivesse sempre num impecável estado de conservação e limpeza», quer na CCS que nas outras unidades. Por isso e por ter sido «militar correcto, disciplinado e disciplinador, colaborando em todos os serviços que lhe foram pedidos, granjeou a estima dos seus superiores, pelo que se torna merecedor do presente louvor», como de lê no documento.
Tudo bem!! Está louvado, está louvado!
Mas eu louvaria o Machado por outras razões: por ser um combatente da verdade e da liberdade; um soldado valente, mas da solidariedade e do querer bem! Porque era assim o Machadinho: um apóstolo do bem, um actor das coisas simples, um homem de franqueza aberta e de lealdade total.
- OLIVEIRA. António Martins de Oliveira, capitão do 
SGE e comandante da CCS do BCAV. 8423. Atingiu 
a patente de major e dirigiu o DRM de Aveiro. Morou em Ovar.
- MACHADO. Manuel Afonso Machado, furriel miliciano  
mecânico de armamento. Natural de Covelo do Gerez 
(Montalegre) e residente em Braga, onde é quadro da EDP.
Ver AQUI
E AQUI
A história dos beduínos, AQUI

terça-feira, 22 de maio de 2012

1 293 - Artilheiros do Quitexe vão encontrar-se na Penha de Guimarães

José Lapa, furriel miliciano da CCS do BART. 786, 
na rua principal do Quitexe (Natal de 1965)



Os artilheiros do Quitexe vão reunir a 9 de Junho, na Penha de Guimarães. Foram nossos antecessores nos anos de 1965 a 1967, certamente em tempos bem mais conturbados e difíceis que os da comissão dos Cavaleiros do Norte - embora cada qual sinta e sofra as suas. Lá chegaram a 11 de Junho de 1965.
Por artilheiros, entendam os «bravos e sempre leais» rapazes-se do Batalhão de Artilharia 786, que jornadeou pelo Uíge e lá deixou cadastro de honra e de coragem. A CCS, e é esta que vai conviver na Penha de Guimarães, estava sedeada no Quitexe e dela era (é) José Lapa (foto), que por lá foi furriel miliciano e é, aliás, leitor deste blogue - no qual, de resto, também de quando em vez colabora.
Deu-me o gosto de me visitar, em Fevereiro deste ano, e o Quitexe foi tema de fartas horas de conversa, cheia de saudades e de emoções. Falou-me de correio entre nativos, um deles (um soba) dando conta de que «a tropa trata bem de nós» (deles) e sugerindo a alguém das suas relações que seria bom apresentaram-se, havendo até a garantia de que «o comandante deixa sair quem quizer vir aprezentar» e até que «todo que esta prezentado vive bem». 
A carta, curiosamente, é datada do dia dos meus 13 anos (21 de Novembro de 1965) e assegurava que «todo que vinha com doente foi tratado no espital».
A organização do encontro da Penha é de João Lopes e os artilheiros que quiserem podem contactá-lo pelo telefone 917512475
Ver texto de 
José Lapa AQUI

segunda-feira, 21 de maio de 2012

1 292 - O galopar desenfreado dos acontecimentos no Uíge...


Uíge (antiga cidade Carmona, a amarelo), o Songo 
(a vermelho) e Dange (o Quitexe, a rôxo)

O Songo era (é) a uns 40 quilómetros de Carmona (agora Uige) e era lá que estava, há 37 anos, a 1ª. CCAV. 8423, a do capitão Castro Dias - ida de Zalala, depois de Vista Alegre e Ponte do Dange.
Os crescentes e multiplicados incidentes de Carmona, por Maio fora, levaram os responsáveis militares a preparar uma nova remodelação no dispositivo militar. «O galopar desenfreado dos acontecimentos leva a admitir a necessidade de, pelo menos, fazer vir a 1ª. CCAV. para Carmona, abandonando Songo e Cachalonde, porquanto se interpretam como desnecessárias, senão inconvenientes, tais guarnições militares», lê-se no Livro da Unidade.
A rotação só viria a acontecer entre 6 e 12 de Junho, já depois dos dramáticos incidentes dos primeiros dias do mês, em, Carmona - que sucederam aos que desde há meses se multiplicavam em Luanda e outras cidades de Angola, entre as forças da FNLA e do MPLA.
Carmona respirava aparente serenidade, que as NT iam assegurando como gestores das cada vez mais visíveis diferenças entre os militantes e militares locais daqueles dois movimentos. A situação, vista 37 anos depois, ainda nos parece uma ilusão: como era possível, a tão reduzida guarnição, manter a segurança na cidade e nos itinerários de acesso? Sem dúvida, com multiplicados esforços e sacrifícios do pessoal - normalmente dia-sim-dia-não de serviço, ora interno (no BC12), ora no exterior, neste caso «mantendo permanentemente o patrulhamento nos centros urbanos e nos itinerários, especialmente em Carmona», considerada, sendo o LU, como «a área amais fulcral do distrito».
Não faltou determinação e coragem aos Cavaleiros do Norte!

domingo, 20 de maio de 2012

1 291 - A primeira operação militar em Angola, há 38 anos!

Parada do Quitexe, com a porta d´armas e o edifício do comando dentro 
do amarelo. Em primeiro plano, `esquerda, a caserna do PELREC. 
Daqui partiam os grupos de combate, para as operações militares



A 20 de Maio de 1974, o Batalhão de Cavalaria 8423 iniciou a sua primeira operação militar em terras do Uíge - a Castiço DIH, na qual participaram todas as subunidades. Hoje se completam 38 anos! «Não se viu grande compensação do esforço desenvolvido pelas NT, pois que, salvo uma emboscada sem consequências, no Tabi, só teve por reacção IN a materialização de tiros de aviso», relata o livro da Unidade.
Menos sorte teve a 41ª. Companhia de Comandos, também envolvida na operação, já que um seu soldado accionou uma mina anti-pessoal e viria a perder um pé. Tal facto, de resto, levou-a a retirar «após escassas horas de operação», quando, para ela, «envolveria 8 dias de actividade operacional».

A operação foi sentida de forma intensa e cautelosa, da nossa parte. Era a primeira vez que, em situação real, íamos exercer o que aprenderamos na instrução normal e, mais tarde, no IAO. Recordo, da parte do alferes Garcia, palavras ponderadas e incentivadoras: «Não há melhores soldados que nós e chegou a  hora de mostrarmos, na prática, as virtudes que nos pediram e que saberemos cultivar, aqui no quartel ou nos trilhos e picadas das matas que vamos conhecer». Palavras parecidas com estas, que o Garcia terminou com o grito dos «ranger´s": Yáááááááá!!!!
O Soares (na foto, comigo, em baixo), que era de nós todos provavelmente, o mais «refilão» e incontido, deixou escapar um surdo «filhos da p...., fod...-se, pretos dum car..., fod... os todos!!!», que eu mesmo lhe desvalorizei com um ríspido «esteja calado, », que o deixou fulo comigo.
«Ó furriel, pá.... o que é que nos vai acontecer?», perguntou-me, com alguma angústia. «Vamos embora», disse-lhe eu. E fomos. E voltámos! Sem problemas!
- SOARES. Fernando Manuel Soares, 1º. cabo de Reconhecimento e Informação, servindo como atirador do PELREC. Natural de Lisboa. Ver AQUI.
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sábado, 19 de maio de 2012

1 290 - O livro «Quitexe - uma tragédia anunciada»

Capa do livro de João Nogueira Garcia (em cima) 
e artigo de Fernando Pereira, do Novo Jornal (em baixo)

Já por aqui falámos do livro de João Nogueira Garcia  - «Quitexe, uma tragédia anunciada» - com a narrativa dos trágicos acontecimentos de 1961, que ele viveu em na primeira pessoa. Foi-me oferecido pelo filho, que não conheço mas sei residir em Coimbra e ser autor de vários blogues sobre o Quitexe.
O livro mereceu ontem oportuna e justa referência no «Novo Jornal», que se publica em Luanda, na página 9 do suplemento «Mutamba» , que reproduzimos ao lado - bastando clicar sobre a imagem, para a ampliar e poder ler.
Hoje, reli parte do livro de João Nogueira Garcia e dele tiro uma nota (quase)  final, sobre  a sua saída da vila, a 5 de Julho de 1961, onde só voltou em 1973: «Salazar e Caetano tiveram 13 anos para resolver o problema político de Angola. A guerra esta controlada, o exército era disciplinado e havia uma retaguarda de centenas de milhares de portugueses. Mas, em vez disso,  acumularam tensões políticas e sociais, que acabaram por explodir em 74/75, com a conivência e empenho das grandes potências».
Não tenho noção da presença de João Nogueira Garcia no Quitexe, aquando da passagem dos Cavaleiros do Norte por lá, onde a CCS esteve de 6 de Junho de 1974 a 2 de Março de 1975. Mas é sabido que era dele a casa ao lado esquerdo da secretaria e comando da companhia. Uma das primeiras a ser construída no Quitexe, tanto quanto julgo saber.
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sexta-feira, 18 de maio de 2012

1 289 - O «soba» da sanzala de Vista Alegre

O Rodrigues na sanzala de Vista Alegre (1975)

A 1ª. CCAV. 8423 chegou a Zalala no dia 7 de Junho de 1974 e de lá saiu a 25 de Novembro, para Vista Alegre e Ponte do Dange. A 24 de Abril de 1975, foi para o Songo e Cachalonde, de onde saiu para Carmona a 6 de Junho seguinte, instalando-se na ZMN.
O Rodrigues, que era atirador e foi feito vagomestre, chegou a Vista Alegre e por lá todos os dias pedia aos cozinheiros para fazerem uma panela com mais sopa, de modo a que sobrasse. E para quê? Para ser distribuída junto ao arame farpado, às crianças da sanzala que envolvia o quartel .
«Eles já sabiam a hora, sempre ao fim do dia, e esperavam ansiosamente com as maior variedades tipos de latas que arranjavam, para levar a sopa e aconchegar o estômago a dar horas», recorda o Rodrigues.
As crianças cumpriam, digamos, uma espécie de regime militar: quietas, caladas e em fila, até que a distribuição da sopa fosse feita, com os canecos da cozinha e através das aberturas do arame farpado, pelos cozinheiros. Distribuída a sopa, ninguém mais os via, até à hora sempre marcada do dia seguinte, para o «reabastecimento». 
Tal bondade, deu popularidade ao Rodrigues, que passou a ser visita frequente da sanzala, onde ia sozinho e sempre desarmado, pois, ele o regista, «gostava de conviver com aquela gente, para conhecer os seus costumes, condições de vida e tradições». Chegava a partilhar refeições, quando faziam grelhados, e por vezes levava-lhes uns sabonetes e perfumes, que oferecia a algumas famílias.
Tal afinidade valeu-lhe alcunha: o Soba!
Muitas vezes ia da sanzala, já de noite, sempre sem qualquer tipo de problemas, mas no quartel os companheiros sempre o aconselhavam a não ir, que um dia ainda lá iria ficar sem a cabeça. 
«Olha que o “soba” da sanzala não quer ser substituído», avisavam-me, recorda ele, à conversa com o blogue e recordando que «durante a permanência em Vista Alegre, sempre tive contactos cordiais com o a população e soba da sanzala, onde sempre circulei sozinho e plenamente à vontad.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

1 288 - Os amigos para sempre que se fizeram no Quitexe...


Casal da Fonseca, da CCS do BCAç. 3879, no jardim do Quitexe
___________
A. CASAL FONSECA
Texto

A foto acima foi tirada no jardim do Quitexe, dois dias antes de me despedir da vila. Despedida com forte nostalgia, mas também confiante de que ainda lá voltaria, quanto mais não fosse para rever bons amigos. Assim ficou conversado, mas por razões várias nunca consegui dar esse passo. Só o poderia fazer desenfiado, mas a lembrança de uma má experiência que me fez voar até Luanda, por três dias, desencorajou-me.
Fiquei-me pela correspondência, que me iam dando noticias da vila e do que mais importante se passava por lá.
Então, e não é que com esta coisa de andar aqui a escrever umas linhas no blogue, já acabei por “ir” ao Quitexe para aí meia dúzia de vezes?! A sonhar, claro está, e sempre como civil, porque os tempos em que era mobilizado quase todas as semanas, já lá vão!
Agora é diferente! Entre outros negócios, já comprei a vivenda das transmissões, onde me instalei, e, muito recentemente, comprei um café/restaurante na rua de cima, que era propriedade do meu amigo Evaristo, que hoje faz pela vida no Brasil! Ah…, e comprei também o restaurante do Rocha, que iria abrir com um amigo!
Está aqui uma coisa esperta…, logo eu que não sou nada de sociedades e muito menos de exploração de restaurantes!...
O que é mais espantoso, é que comprei tudo sem dinheiro! Cheguei ali e já está, assim sem mais nem menos e com pouca conversa!
Se não acordasse do sono dos justos, ficava com a vila toda!
Vem isto a propósito da nostalgia com que saí e recordo a vila e onde até bem há relativamente pouco tempo tive intenção de voltar, em visita!
Agora, adeus ó vindima! Ficas-te pelos sonhos, o que já não é mau, se comparado com os 16 anos em que, igualmente a sonhar, fui inúmeras vezes mobilizado e descarregado no Quitexe com mochila às costas! E sempre com os mesmos: o Aguiar e o Alvarito!
«Porra…, outras vez mobilizados para a guerra, quando há gajos que nunca cá puseram os pés!....«, resmungava eu,  sempre ali na rua de cima ao saltar da viatura!
Por coincidência, ou talvez não, deixei de ser mobilizado a partir do dia em que, em 1990, arregacei as mangas e organizei o 1º. encontro da malta!
Afinal, digo eu, tinha era saudades do pessoal, e não sabia! Melhor, saber…, sabia, mas o que eu não sabia era dos paradeiros!
E foi um grande desperdício o desencontro de grandes amigos, dos melhores amigos até aos dias de hoje, durante 16 anos! Daqueles que regularmente nos ligam para saber se tudo está a correr bem!
Amigos “nascidos” nos tempos difíceis da guerra!!
Amigos especiais, que só quem por lá andou, entende!
 ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
CCS do BCCAÇ. 3879

quarta-feira, 16 de maio de 2012

1 287 - Cavaleiros e caçadores da terra uíjana de Angola


Capitão Meneses e furriel Rodrigues, no encontro de Vila Nova de Famalicão (2012)   

A 24 de Abril de 1975 desactivou-se Vista Alegre e Ponte do Dange, onde se guarnecia a 1ª. Companhia, a de Zalala. Foi para o Songo, com um destacamento temporário em Cachalonde. 
A 12 de Maio de 2012, o furriel Rodrigues encontrou-se com o comandante da 1ª. CCAÇ. 5015, que nessa altura abandonou o Songo.
A companhia era comandada pelo capitão Meneses e esteve em Chimango, Lucunga e Songo, antes de, no regresso a Luanda, ter passado alguns (poucos) dias por Carmona - onde contemporizou com os Cavaleiros do Norte. Regressou a Portugal no dia 13 de Maio de 1975.
A 12 de Maio, realizou o seu convívio em Vila de Famalicão, terra do Rodrigues, e lá se juntaram - como se vê na foto. O capitão Meneses está a consultar o Livro da Unidade (do BCAÇ. 5015) e o Rodrigues a fazer perguntas sobre datas e acontecimentos passados por aquelas paragens da terra uíjana de Angola.
»De algumas, recordava-me eu e outras relatava-me ele», contou o furriel de Zalala.
O mais curioso - «isto nem lembraria ao diabo», sublinhou o Rodriges - é que foi agora e passados 37 anos que, em conversa com um primo, descobriu que este familiar fez parte desta Companhia de Caçadores - a que os Cavaleiros do Norte foram substituir ao Songo. 
«Nunca nos encontramos por lá! A vida tem destas coisas e, felizmente, encontrámo-nos por cá e na nossa terra, de onde somos ambos naturais», contou o Rodrigues.
- MENESES. Manuel Diamantino Tojal de Meneses, capitão 
miliciano e comandante da 1ª. CCAÇ. do BCAÇ. 5015. 
Professor doutor e investigador do Centro de Estudos 
de Língua, Comunicação e Cultura do Instituto 
Superior da Maia (ISMAI).
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, 
furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. do 
BCAV. 8423. Aposentado e residente em Vila Nova de Famalicão.

terça-feira, 15 de maio de 2012

1 286 - Viver numa ilha do mar da FNLA



Avenida de Portugal, em Carmona, no tempo dos Cavaleiros do Norte (1974)

Os dias de Maio de 1975 foram tensos, em Carmona! O Livro da Unidade, referindo-se a este tempo, dá conta de  «o Uíge, a bem ou a mal, terá que ser terra do FNLA e, consequentemente, não será bem aceite no seu solo qualquer outra opção política, donde resultam permanente quezílias entre movimentos, as quais dia a dia vão tendendo a aumentar».
O papel de arbitragem atribuído à Forças Armadas Portuguesas era regularmente posto em causa, como ppor aqui já foi dito, e muitas vezes (ou todas) sem se entender muito bem porquê. O que pareceria ser de entendimento simples, transformava-se facilmente em «enorme dificuldade». «A actuação das tropas (...) viu sempre escolhos diversos a vencer, viu e sentiu ameaças, foi alvo de vexames, mas sobretudo foi sempre apelidada de partidária e, consequentemente, viu as suas actividades mal aceites. ainda que não suscitem quaisquer dúvidas quanto à sua isenção», sublinha-se mo Livro da Unidade.
Os jovens militares do BCAV. 8423 sentiram isso bem, no corpo (por causa das permanentes missões que tínhamos de executar) e na alma - pois não era fácil circular na malha urbana de Carmona e acessos e, permanentemente, ouvir ataques verbais que nos fragilizavam emocionalmente, nos faziam o dia-a-dia tenso. Tudo, e recapitulo do Livro da Unidade, levou a publicamente afirmar-se que os Cavaleiros do Norte estão «a viver uma ilha do mar da FNLA, com todas as inconveniências que daí advém».
Os movimentos não se entendiam e eram os Cavaleiros do Norte a «pagar as favas», nos dias tensos e agitados de Maio de 1975.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

1 285 - Encontro dos Caçadores (3879) do Quitexe

Os Caçadores da CCS do BCAç. 3879 vão encontrar-se a 19 de Maio, em Mangualde. É já sábado.
A rapaziada andou pelo Quitexe antes dos Cavaleiros do Norte, em 1972 e 1973. De lá partiu para Ambrizete, onde acabou a comissão e de onde regressou a Portugal. No Quitexe e sua zona de acção, foi substituída pelo BCAÇ. 4211, que o BCAV. 8423 rendeu a 6 de Junho de 1974. 
O batalhão foi formado no Campo Militar de Santa Margarida e mobilizado para Angola - para onde partiu de  de avião em 1972, seguindo rumo ao norte  e aquartelando no Quitexe, onde permaneceu o primeiro ano da passagem angolana. No segundo, o Batalhão mudou-se para Ambrizete, onde foi rendido pelo BCAÇ. 4913, terminou a comissão e de lá seguiu ara Luanda, de onde regressou a Lisboa em Junho de 1974.
A foto e do encontro de 2011, na Lourinhã.

domingo, 13 de maio de 2012

1 284 - Promessas de Fátima, para peregrinações apeadas...

A 13 de Maio de 1974, uma segunda-feira e a duas semanas do dia marcado para o embarque para Angola, andei eu em actividades hortícolas, numa propriedade que é hoje minha mas, ao tempo, era uma das que minha mãe trabalhava ao longo do ano, na agricultura de subsistência que caracterizava os anos 70.
Era dia de Fátima e veio à baila as muitas promessas que se faziam, de ir em peregrinação apeada ao santuário, cumprir as promessas de os militares regressarem sãos e salvos. A minha família é católica e estaria na mente de minha mãe tal promessa fazer por mim (pela minha ida para Angola e para a guerra).
«Olhe que se fizer promessa, é para ir você a pé!...»,. disse-lhe eu, enquanto semeávamos feijão e plantávamos couves, na horta do Subalo - com a capela de Santo António ali a 30 metros.
Se disse uma heresia (e julgo que tal terá pensado minha mãe, sem, porém, fazer quaisquer comentários sobre o pormenor), adiantou-me, todavia, que a questão era dela e eu o seu filho. Portanto, faria ela o que bem entendesse e lhe ordenasse a sua fé. 
«Não foi essa a educação que te dei...», afirmou-me cheia de convicção e, naturalmente, condenando a minha dispensa da promessa.
Argumentei-lhe que havia a moda de prometer irem terceiros a pé (os beneficiados) e não só quem prometia e que isso era errado. Devia ir a pé quem prometesse. Só quem prometesse ir a pé. 
A minha mãe arrumou a conversa, com um seco «esse problema é meu...», mandou-me calar, acabámos as tarefas da horta e viemos embora. Ontem, passámos por lá e falámos do assunto, recordado por mim. 
«Nessas coisas sempre foste um bruto. Mas olha que rezei todos os dias por ti...», disse-me ela, sem me pôr os olhos em cima e do alto da autoridade dos seus 91 anos! 
Não prometeu e também não foi em peregrinação apeada a Fátima. Nem ela, nem eu, nem ninguém. Mas, além das suas orações (e sei lá mais o quê...), manteve uma vela acesa em lamparina de azeite, durante todos os 15 meses da minha comissão angolana.

sábado, 12 de maio de 2012

1 283 - Gente do Quitexe que se vai encontrar


As próximas semanas serão tempo de encontros de militares que passaram pelo Quitexe.
A CCS do BCAV. 8423, reúne em Paredes, com organização do (furriel) Monteiro. Pode ser contactado pelos telefones 255776765, 912730350 e 966724685, por email (josemonteiro_@hotmail.com), ou pelo correio (Rua de Balmontes, 103 - Madalena - 4580-278 Paredes).
Dia 9, em Azeitão, encontrar-se-á a 3ª. CCAV, a de Santa Isabel. Organizam o Pavanito (telefones 211816775  e  963057134) e o Moço (telemóvel 916707784).
Outra gente do Quitexe se vai reunir por estes fins de semana:
- Dia 19 de Maio: Companhia de Cavalaria 1706, que andou por Zalala. Almoço de convívio, em Alcochete, na Casa de Malta. Os contactos devem ser feitos para o Helder Assumpção
- Dia 20 de Maio, encontro da CCAV. 1705, no restaurante Milénio, em Mira. Os contactos devem ser feitos para António Fonseca, pelos telefones 234621262 e 967163635.
- Dia 26 de Maio: CCS do CCAV.1917, em Alenquer. Trata-se do 20º. encontro e está a ser organizado por Alfredo Baptista, que pode ser contactado pelos telefones 966363725 e 261942072.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

1 282 - A queda do Zacarias, no slide, de 30 metros de altura...

O Zacarias esteve hoje a falar comigo, ao telefone! Foi companheiro de Lamego, no 2º. curso de Operações Especiais, e por lá ficou para o terceiro. Ele, como instrutor e eu, mais afidalgado e com menos infortúnio, fazendo dias entre a messe de Almacave o quartel-sede do CIOE.
O Zacarias teve 13,40 de média final do curso e, com o aspirante Pinto, ambos instrutores do 3º. curso, protaganizou um quiproquo danado, chegando a apontar G3´s um ao outro. Levou 5 dias de detenção o 1º. cabo-miliciano e seguiu para a Guiné o futuro alferes, para lá já antes mobilizado.
O Zacaria, todavia, não vem aqui hoje por nada disso, mas por uma brutal queda de cerca de 30 metros de altura, quando se partiu o carreto da roldana do slide e o corpo foi de tal forma projectado que partiu a corda de segurança. Caiu dessa altura, o Zacarias!
Mas a sorte, meu Deus!!! A sorte e o saber!!!
O corpo do Zacarias, em queda vertical, projectou-se na diagonal contra o rio Balsemão, caiu de pés e de pés galgou o charco de lama, subindo a margem, sempre em passo de corrida, até que caiu. E caiu, onde? Entre dois pedrugulhos bem afiados, que lhe assinariam a morte, se sobre eles tivesse caído.
«Ainda hoje acredito na santa que me lembrou naquele rápido momento!...», disse-me o Zacarias.
Levado para o hospital militar, por lá ficou 7 meses, com «rachadelas» na cabeça e um braço deslocado, para além de outros ferimentos mais ligeiros. «Ainda tenho as marcas», disse-me hoje.
Eu entro na história porque, estando na messe de Almacave, fui chamado para o ir substituir na instrução e tive de repetir o exercício que o vitimara, para ensinar os instruendos. Lembrar isto, hoje, parece até brincadeira. Mas confesso que ainda parece que estou a sentir os cabelos em pé, só de me lembrar do que tive de fazer, depois da queda do Zacarias: embalar-me no slide, descê-lo a dezenas de quilómetros por hora, mostrar como se faz (para instruendo ver) e não dar um arzinho de medo que fosse.
- ZACARIAS DO ROSÁRIO RAMOS. Furriel miliciano de 
Operações Especiais. Esteve mobilizado para a Guiné, 
mas acabou a tropa, em Setembro de 1975, em Estremoz, 
na sua unidade de mobilização - depois da alta hospitalar. 
Reformado da CP, mora em Ovar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

1 281 - Os lateiros da messe da Santa Margarida...

Monteiro, Neto e Viegas na messe do RC4, em 
Santa Margarida (10 de Maio de 1974) 

Aposto dobrado contra singelo em como esta foto foi tirada faz hoje precisamente 38 anos. Nem mais nem menos! 
O dia era o último do IAO, uma sexta-feira, e nós estávamos todos mortinhos para dar às vila de diogo, dando o fora de Santa Margarida, para o fim de semana. A sorte é que o Neto lá tinha o seu impecável e insubstituível SIMCA 1100!!
Não errarei na narrativa do dia: fim do IAO, lá para o final da manhã, passaportes assinados e recebidos e cada qual a abrir alas para as suas santas terrinhas. E nós a encher a barriga, antes da partida. 
O dia de embarque já se conhecia: 27 de Maio. Viria a ser 29! Portanto, o que cada um dos Cavaleiros do Norte mais queria era seguir para as suas casas de família, para os últimos respiros dantes da partida para a guerra! E que ninguém se choque, era mesmo partir para a guerra que nós íamos.
O trio «furrielzeiro» era o do PELREC, todos de Operações Especiais (os Rangers!!!...), e qual deles o mais atrevido para as ousadias e irreverências do dia-a-dia da guarnição. Mais precavido o Monteiro e, pudera,: estagiava na secretaria com o 1º. sargento Luzia e o cargo não era para botar fora. Ora aguenta aí, Monteiral! Tínhamos o Neto, sempre mais interveniente e exuberante e sempre solidário. E eu, de quem não falo!
A duas semanas e poucos dias do embarque para Luanda, estou em crer que nos deram esses dias de férias e só tivemos de voltar a Santa Margarida a 27 de Maio, uma 2ª. feira - que seria o dia do embarque!
Fosse o que fosse, parece certo que esta foto é mesmo de 10 de Maio de 1974. De há precisamente 38 anos!!! E agora reparem bem na terrina!! Mas que grandes lateiros!!! 

terça-feira, 8 de maio de 2012

1 279 - O mordomo Monteiro prepara o 2 de Junho...

Monteiro e Viegas no jardim das traseiras da messe de Carmona (1975)

O Monteiro é o mordomo do encontro de 2012 e está a preparar a logística para a procissão de saudades dos Cavaleiros do Norte da CCS: dia 2 de Junho, na Quinta da Vessada, em Paredes (Porto). 
A coisa vai ser simples: Diz ele que «chegando à bonita cidade de Paredes, não faltarão sinais de trânsito a indicar o parque da cidade». Aí se juntará a malta, a partir das 10,30 horas e para os dois dedos de conversa sobre o que aconteceu desde Ferreira do Zêzere, a 29 de Maio de 2009. Depois, alará que se fará tarde e a «galope» seguirão os Cavaleiros do Norte para a Quinta da Vessada.
E quem é o Monteiro?
O nosso «avôzinho» é rapaz sexagenário deste ano e malhou com o cabedal em Lamego, no CIOE, para se fazer «Ranger». Foi quinto classificado do curso de sargentos milicianos, com a média final de 16,05, ficando-me eu pelos 15,33 (em 16º. lugar) e o Neto em 26º. (14,60). O Garcia, que viria a ser «o nosso alferes»,  comandante do PELREC, foi  26º. do curso de cadetes (oficiais), com média final de 14,70. 
Os três futuros furriéis apresentaram-se apresentaram-se em véspera de Natal no RC4, mobilizados para Angola, e  de lá se «evadiram» no mesmo fim de dia. E lá fomos nós, a 29 de Maio de 1974, para Angola. Por lá nos fizemos maiores e voltámos à vida civil.
Os anos de 1994 e 1995 foram de encontro em Águeda. Em 1996, passámos para abaixo de Pombal. Em 1997, foi a vez do Monteiro, em Penafiel. Agora, é ele de novo!| Fica-lhe bem e ele gosta!
Não é difícil contactá-lo, ora pelo telefone (255776765, 912730350 e 966724685), ora por email (josemonteiro_@hotmail.com), ora pelo correio (Rua de Balmontes, 103 - Madalena - 4580-278 Paredes).
Inté, ó Zé! 
Zé Monteiro, o furriel.
- MONTEIRO: José Augusto Guedes Monteiro, furriel 
miliciano de Operações Especiais (Rangers). Aposentado 
dos STCP e empresário da construção civil. Natural de 
Vila Boa de Quires (Marco de Canaveses) e 
residente em Paredes (Porto).



segunda-feira, 7 de maio de 2012

1 278 - A rajada do soldado Neves...

Bar dos soldados (cantina) na avenida de baixo (a principal)


Dou conta, nos arquivos da missão angolana, de um castigo ao Neves, soldado do PELREC, com problemas de epilepsia, que nos levavam a dispensá-lo de operações, escoltas, patrulhamentos, ou qualquer serviço que envolvesse armas. Apanhou ele 10 dias de detenção, em Abril de 1975, não faço ideia da razão.
O Neves, que sei morar para os lados de Sintra (mas nunca mais vi), era daqueles que não deveriam ser mobilizados e muito menos como atirador. Mas foi! E por lá andou, desejoso de ir numa operação, de ser tropa a sério.
Uma noite ainda no Quitexe, dormia ele na arrecadação que ficava no edifício do bar dos praças,  acordou todo o mundo aos tiros, numa rajada imprevidente, que poderia ter causado danos enormes, uma enorme tragédia. 
Como foi e como não foi?
Pois o Neves teria estado a limpar a arma e, com a inexperíência de uso que todos lhe sabíamos, acabou por introduzir bala na câmara e, de carregador cheio, dar ao gatilho. Foi um estradalhaço!!! E um susto enorme para os rapazes que, por aquele princípio de noite, por ali acasernavam. Mas com tanta sorte, tanta sorte que, vejam lá, nem os ricochetes fizeram danos a ninguém. A sorte estava do seu lado

NEVES. José Coutinho das Neves, 
soldado atirador de cavalaria, do PELREC, 
da CCS do BCAV. 8423.Mora na área de Sintra.

domingo, 6 de maio de 2012

1 277 - O Nascimento anda pelas Américas...


Furriéis de Zalala, o Rodrigues, o Barata, o Louro,
o Nascimento, o Eusébio, o Dias, o Velez e o Vitor Costa


O Nascimento, lembram-se dele? E das suas imortais ementas da mítica e saudosa Zalala? Era furriel miliciano de alimentação e agora faz vida pelos Estados Unidos, afirmando-se, assim, como homem de vários continentes - da Europa, da África e das Américas.
O Nascimento como que «desapareceu» do mapa, seguindo os caminhos da sua vida. Como todos nós e cada qual como melhor pôde. E já lá vão 37 anos!!! É assim a vida!
Descobriu-nos nesta onda global da net e, em nota que nos chegou, afirma-se «feliz de ter encontrado o pessoal que andou comigo por Angola».
O Nascimento reside no Estado do Arizona, no deserto de Sonora, nos Estados Unidos da América, depois de ter cirandado por muitos outros lugares do imenso país norte-americano. 
«Acabei por me estabilizar por aqui, na terra do calor e do bom tempo 300 dias por ano, de céu azul e sol a brilhar, no deserto de Sonora mas com água, graças aos rios do deserto», conta o Nascimento - morrendo de saudades dos tampos zalalianos, mas agora por terras de Jerónimo, o apache County.
Por lá, o Nascimento trabalha na indústria têxtil e é chefe da manutenção da fabrica de colchões Serta. 
O Nascimento, aquele homem grande dos tempos missionários de Zalala, Vista Alegre, Ponte do Dange e Carmona, é agora responsável pela maquinaria de fabricação, pelas máquinas de acolchoar, de costura e de empacotar e tudo o que está relacionado com esta indústria.
De Angola aos Estados Unidos, passaram-se 37 anos! Mas não passou a saudade de quem, irmão de missão, irmão ficou para toda a vida. Grande abraço!
- NASCIMENTO. José António Moreira do 
Nascimento, furriel miliciano de alimentação, 
da 1ª. CCAV. 8423 (Zalala). Natural do Porto e residente 
no Arizona (Estados Unidos).