CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

2 229 - A chegada da Companhia de Comandos a Carmona

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. 
O (furriel) Matos, à esquerda, de pé. E os outros? Quem é quem?

A 31 de Julho de 1975, chegou a Carmona (e ao BC12) a Companhia de Comandos que iria  (com a de Paraquedistas) acompanhar a operação de saída dos Cavaleiros do Norte para Luanda. 
A saída, como se lê no Livro da Unidade, «não se adivinhava fácil» e não foi. Desde logo pelo comportamento, diria indisciplinado, dos Comandos. Quer na cidade, quer no quartel - onde gostaram de exibir as suas capacidades técnicas militares.   
A situação geral era tensa, até porque Silva Cardoso se tinha demitido de Alto Comissário e a FNLA avançava sobre Luanda, estando já na Estrada de Catete - como se lê no livro «Segredos da Descolonização»: «O ELNA progredia a bom ritmo e punha as FAP numa posição delicada». 
Só a  28 os paraquedistas chegaram ao Negage, para «proteger a saída dos portugueses», e a 31 os Comandos a Carmona. 
Isso fragilizava a posição portuguesa, em caso de intervenção para impedir a chegada da FNLA a Luanda. No Norte, por onde estavam os Cavaleiros do Note, poderiam retaliar os fnla´s - que, aliás, como repetidamente temos disto, não se escusavam de nos ameaçar. E até de impedir de sair de Carmona - como já acontecera.
A chegada de viaturas e tropas de reforço mais animou a presença descontraída (não é exagero) dos Cavaleiros do Norte. Que, todavia, ainda se tiveram de se haver com alguns inconvenientes provocados pelos Comandos, na cidade. E pequenos incidentes, que com maior ou menor dificuldade, lá se foram resolvendo.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

2 228 - Saída de Carmona «comunicada» à FNLA...

Um grupo de Cavaleiros do Norte do Pelotão de Sapadores. Quem identifica quem?
O Gasolinas e o Carpinteiro (falecido a 1 de Novembro de 2012) nos últimos dias de Carmona


A 30 de Julho de 1975, os comandos dos Cavaleiros do Norte reuniram com o Estado Maior Unificado e apresentaram os planos da operação de saída, que «foi comunicado ao FNLA». Soube-se que estávamos na véspera da chegada da Companhia de Comandos, uma das que (com outra de páraquedistas, que ficaria na base Aérea do Negage) iria acompanhar a coluna do batalhão para Luanda.
Era quarta-feira e o domingo, 3 de Agosto, o dia da nossa saída, estava ali já a  olhar-se no nosso horizonte. Uff, nunca mais chegava!!!
Carmona adormecia e acordava em sobressaltos e as nossas instruções continuavam as mesmas: proteger pessoas e bens! A todo o custo! As movimentações dos homens da FNLA continuavam agressivas e provocatórias. As perseguições e ameaças ensombravam a calma («fictícia», assim refere o Livro da Unidade), que se vivia na capital do Uíge.
As notícias de Luanda não eram as melhores: a FNLA, pela boca do presidente Holden Roberto, anunciava «o assalto contra capital angolana, nos próximos dias». Estavam as suas tropas a reagrupar no conquistado Caxito, a 53 quilómetros. Os seus «cerca de 8000 homens  preparavam o dispositivo de ataque» que, segundo o seu Estado Maio, os levaria à «tomada de Luanda».

Estranhamente, nada disso nos preocupava, nem sequer os inimagináveis perigos da coluna que iria galgar os 570 quilómetros de estrada - que se adivinhavam de mil perigos. De Carmona a Luanda, pelo Negage (onde se juntaria a guarnição local), Camabatela, Samba Caju, Vila Flor, Lucala, Salazar, o Dondo e Catete, até ao Grafanil.
Há 39 anos!!! - o tempo passa!!... -, uma quarta-feira, como hoje, contávamos os últimos dias da nossa jornada angolana do Uíge!!

terça-feira, 29 de julho de 2014

2 227 - Os últimos dias da jornada uíjana de Carmona

Cavaleiros do Norte em pose fotográfica. Atrás, Miguel Teixeira (o terceiro), Grácio (5º.), Messejana (7º.), alferes Ribeiro (8º. de braços cruzados) e furriel Pires (a seguir). À frente do Grácio, o Florindo. Em baixo, o Carpinteiro (meio sentado e apoiado no braço direito)  e o furriel Mosteias (atrás dele, de bigode e boina), E os outros, quem conhece e identifica? Foto de baixo, o aeroporto de Carmona

  


Os Cavaleiros do Norte, há precisamente 39 anos, preparavam a viagem para Luanda, antecipando o desejado regresso a  Lisboa e ao chão e cheios das suas terras, mas, em Carmona, mesmo já nas vésperas,  mantinham-se em guarda e prontos para o que desse e viesse.E o que estava a dar, lamentavelmente, era uma série de saques e assaltos a  residências de civis europeus, nomeadamente. Muitas vezes a tropa foi chamada, para acudir a gente que via outra gente a entrar-lhes, armada, pela casa dentro, roubando e carregando o que lhe convinha e apetecia. 
Não foi fácil, mesmo com as NT de moral relativamente alta, por saberem estar próxima a saída. Mas, naturalmente, pouco interessadas em  novas «guerras». Mais interessadas, isso sim, em antecipar o prazer alegroso de acabar a jornada angolana, sem os constrangimentos que poderia suscitar-se de qualquer envolvimento em confrontações. Tê-os-íamos, se tivéssemos de ter - e algumas vezes, nos últimos dias de Carmona, tivemos de apontar armas... -, mas sempre neutrais, civilizados e solidários com a gente que sofria na terra uíjana.
A propósito de sofrimentos, a imprensa de Lisboa, a 29 de Julho de 1975, noticiava que havia fome no Uíge. “40 pessoas morrem diariamente no distrito, no Norte de Angola, relatam viajantes chegados a Luanda”, lê-se no Diário de Lisboa desse dia.
O jornal precisava que “a escassez de alimentação tornou-se desesperada, com a chegada de mais de 300 000 angolanos que regressaram do Zaire, onde se haviam refugiado durante a guerra de independência”.

300 000?! Não creio!
Sabia-se, por Carmona,  que estavam muitos angolanos a chegar do Zaire e a falar francês -  por isso suscitando dúvidas sobre as suas verdadeiras identidades. Mas não há ideia que fossem tantos (nem perto) e muito menos de tanta fome, como  a que o jornal reporta. Nem pouco mais ou menos.
A Carmona, por esse tempo, chegavam também muitos elementos da FNLA, fugidos  dos combates de Luanda, e as estradas, como temos lembrado, estavam bloqueadas - ora porqaue se ia de uma área da FNLA para a do MPLA, ou ao contrário.
Os abastecimentos, por isso, eram principalmente feitos por via aérea e está na nossa memória a chegada (diria diária e até mais de uma vez por dia) de aviões da Força Aérea carregados de mantimentos, ao aeroporto de Carmona.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

2 226 - Cavaleiros do Norte a preparar a saída para Luanda

Jesuíno Pinto, José Gomes, António C. Letras e Martins, Cavaleiros do Norte da 2ª. 
CCAV. 8423. Em baixo, a outra messe de sargentos do Bairro Montanha Pinto, em Carmona


Aos dias 28 de Julho de 1975, a Carmona, chegaram preocupantes notícias de Luanda - onde a FNLA atacou as NT. Os comandos dos Cavaleiros do Norte, por sua vez, reuniram uma vez mais com elementos do QG/RMA, para «montar a operação de evacuação para Luanda». E soube-se que a coluna seria protegida por uma  Companhia de Comandos e outra e Paraquedistas. Viria a ter Fiat´s e heli-canhões. 
Almeida e Brito e os seus adjuntos - os capitães José Diogo Themudo e José Paulo Falcão - e creio que que também com comandantes das três companhias operacionais, os capitães milicianos Castro Dias (1ª.), José Manuel Cruz (2ª.) e José Paulo Fernandes (3ª.), reuniram com os QG/RMA´s na ZMN e ficaram a saber de mais pormenores da operação. Que tanto nós ansiávamos!!!
Já tinham reunido a 21 e voltaram a reunir a 30!! Estava em marcha a grande operação de retirada e, ao quartel e aos militares chegavam cada vez mais pedidos, de civis, para lhes cedermos cubicagem (os famosos caixotes), para enviarem haveres para Lisboa. A mim, chegaram a oferecer um certificado de habilitações e sei de quem foi tentado com cartas de condução - para além de avultadas quantias em dinheiro.
O que chamei preocupantes notícias de Luanda tinha a ver com o fogo aberto pela FNLA sobre uma areonave DO 27, das Força Aérea Portuguesa, que fazia o reconhecimento na zona do Caxito - área ocupada pelo movimento de Holden Roberto, a 50 quilómetros de Luanda. E era dali que a FNLA preparava o assalto à capital. Morreu um 1º. cabo mecânico, da tripulação. Uma corveta da Marinha também foi alvejada e ripostou.
Ao meio dia da véspera, domingo (dia 27) recomeçaram os combates de S. Pedro da Barra, onde estavam «barricados» 600 homens da FNLA. «Rebentaram violentos combates», relatava a imprensa do Dia, referindo-se à fortaleza, que fica(va) junto ao Porto de Luanda.
Era para esta capital que iam partir os Cavaleiros do Norte! Para onde a morte se semeava como capim e os combates não poupavam vidas!

domingo, 27 de julho de 2014

2 225 - Não morrer numa guerra que não é nossa...

Nelson Rocha, Luís Pedrosa, Manuel Machado, José Lino e António Cruz, Cavaleiros 
do Norte nos últimos dias de Carmona, finais de Julho de 1975. Em baixo, coronel Santos e 
Castro e Holden Roberto, em Ambriz, por estes dias do mesmo ano


A 27 de Julho de 1975, um domingo (como hoje), soube-se em Carmona que se tinham registado graves incidentes, em Luanda, desta vez entre o MPLA e as NT, na Vila Alice. Resultado: 15 mortos e 22 feridos do MPLA. Entre as NT, dois alferes, dois furriéis e um soldado feridos. 
A noticia chegou-me via telefone (meio pouco usual ao tempo), pelo Albano Resende que, por um engano de datas, supunha que chegaria eu nesse dia a Luanda e, por isso, estava preocupado. A chegada era (seria) uma semana depois, a 3 de Agosto.
A notícia espalhou-se e, naturalmente, insatisfez a guarnição, que se sentia abandonada no Uíge imenso, esquecida pelos altos comandos militares. Uma guarnição de tropas que, como reconhecia o próprio Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, estavam, e citamos do livro «Segredos da Descolonização de Angola», «além de desmotivadas, não desejam morrer numa guerra que não consideram sua».   
Assim era, nem, precisávamos da confirmação do livro de Alexandra Marques.
Um comunicado do Alto-Comissário explicou que um grupo de militares portugueses foi interpelado na  estrada de Catete, quando seguiam em viatura militar. Foram mandados embora e atacados a tiro pelas costas, ferindo dois (um deles, gravemente). O COPLAD exigiu a entrega dos agressores, até às 8 horas da manhã. Como tal não aconteceu, duas horas depois, as NT foram ao aquartalemento de Vila Alice e o comandante da força falou com o do MPLA, na rua. Foi quando os MPLA´s dispararam. Ripostaram as NT e houve tal troca de fogo que resultou naquele número de mortos e feridos.
A 26 de Julho, o ministro Kabungu , da FNLA, anunciou em conferência de imprensa que Holden Roberto estava no Caxito, à frente da colina que expulsou o MPLA. Já Chipenda dissera em Carmona que o presidente da FNLA estava «em teritório nacional». Na véspera, dia 25, o próprio Holden afirmara estar em Angola para «libertar Luanda».
O Diário de Lisboa do dia 28 noticiava que  «um antigo oficial do exército português comanda a coluna da FNLA que ocupou o Caxito». Era o coronel Gilberto Santos e Castro, irmão do ex-Governador Geral (Fernando) - tio de Ribeiro e Castro, actual deputado do CDS/PP.

sábado, 26 de julho de 2014

2 224 - Evacuação de Carmona tratada directamente com Costa Gomes



População a fugir de Carmona, data indeterminada (foto 
de Carlos Las-Heras). Em baixo, o Alto Comissário Silva Cardoso

 A 26 de Julho de 1975, regressou a Carmona a coluna que na véspera partira para Luanda, à terceira tentativa. Com outro pessoal dos Cavaleiros do Norte, que por lá estava. Missão cumprida!!!
A véspera fora de comemoração do Dia da Cavalaria (de que não tenho memória), mas o Livro da Unidade regista que «foi celebrada missa na capela da unidade, com presença do brigadeiro e Chefe do EM do CTC», ao mesmo tempo que «a Ordem de Serviço publicou uma mensagem alusiva».
A véspera foi também tempo para o Alto Comissário Silva Cardoso, mandar mensagem ao Presidente Costa Gomes, indicando-lhe que, e cito do livro "Segredos da descolonização de Angola», de Alexandra Marques, que «logo que possível começaria a retirada de Carmona, Negage e Santo António do Zaire, sem atender às pressões da FNLA, que estava a dificultar a saída de militares e civis». Como nós, Cavaleiros do Norte, bem sabemos isso!!!!
Carmona e Negage seriam evacuadas «depois de a coluna de socorro ali estacionar algum tempo». Deu troco Silva Cardoso, a Lisboa. Evacuaria Carmona e Negage, mas sem esquecer a população europeia, «cuja saída a FNLA estava a dificultar». Bem sabíamos isso!!!! E também a população branca europeia, que se via sem destino certo - muito menos seguro... -, e, depois de nos arruaçarem muitas vezes, se aproximou da tropa, pedindo protecção e apoio. Que nunca lhe foi negado! Sem querer fazer juízos de valor, muitos deles temeriam vinganças, por actos do passado. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

2 223 - Uma Angola do Norte, com capital em carmona

Carmona, nos tempos portugueses (foto da net). Em baixo, notícia da conquista do Caxito 

As relações da FNLA com as NT, relativamente a 25 de Julho de 1975, referem que «desanuviado ligeiramente o ambiente, conseguiu realizar-se, em 25 de Julho, a desejada coluna a Salazar». É o que se lê no Livro da Unidade, mas a coluna foi até Luanda, pelo Dondo. Não se passava no Caxito.
Aqui, a escassos 50 quilómetros da capital,  verificou-se, na tarde da véspera, a sua reconquista, pelas forças da FNLA. A vila, que era (e é) um importante nó rodoviário angolano, estava ocupada pelo MPLA desde 28 de Maio e as forças de Holden Roberto, entraram com carros blindados: dois estacionados no centro e quatro à vista.  
A ocupação, segundo o Diário de Lisboa de 25 de Julho, «não significa, de maneira alguma, uma vitória militar decisiva» mas, sublinhava o jornal, «tem grande importância estratégia e moral para a FNLA, pois se trata da primeira vitória militar significativa, desde os incidentes do princípio do mês em Luanda».
Daniel Chipenda, em Carmona (afinal, continuava na capital do Uíge) e em declarações à AFP, afirmava que o ELNA «tinha recomeçado o avanço para a capital angolana, com o intuito não de negociar, mas de conquistar o poder».
«As nossas forças marcham sobre Luanda e esperamos que a sua entrada na capital se faça nos próximos dias», afirmou o secretário-geral adjunto da FNLA, afirmando-se «sem medo de «uma intervenção da aviação portuguesa» e reafirmando a presença de Holden Roberto «em território nacional angolano».
«Vamos para Luanda não para negociar, mas para dirigir», reafirmou Daniel Chipenda, que, a pergunta do jornalista da AFP, rejeitou a ideia de a FNLA criar uma Angola do Norte - por ser o norte a principal área de influência do movimento.
«Não queremos balcanizar o nosso país. A nossa capital não é Carmona nem S. Salvador. É Luanda», sublinhou Daniel Chipenda

quinta-feira, 24 de julho de 2014

2 222 - Evacuar Carmona com uma coluna militar poderosa...

Comando da Zona Militar Norte (ZMN), em cima. Em baixo, a parada do BC12



A 24 de Julho de 1975, no BC12 e outros espaços militares, ultimava-se a partida da coluna para Luanda, que sairia ao outro dia e com passagem por Salazar. Pela estrada do café - a mais directa para a capital, passando pelo Quitexe, Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange, depoís Úcua e Quibaxe - , por essa estrada era impossível, pois a FNLA estava estacionada perto do Caxito, preparando o ataque a Luanda e por lá combatia com o MPLA.
Sabe-se hoje, não no tempo, que o comandante da força seria Daniel Chipenda. «Desta marcha da FNLA sobre Luanda ainda há poucas notícias e as informações são contraditórias, Sabe-se, no entanto, que os combates prosseguem na região do Caxito, a uns 50 quilómetros da capital. Ao que se diz, Daniel Chipenda estaria à frente dessa «coluna», a qual englobaria alguns blindados», relatava o Diário de Lisboa de 24 de Julho, há 39 anos.
Voltando a Carmona e à viagem que se preparava para o dia seguinte, havia certezas: agora, era o «vai-ou-racha»!! Nada impediria as NT de avançar!!! Muitos civis, refugiados, continuavam a chegar à cidade. Refugiados da FNLA.
O livro «Segredos da Descolonização", de Alexandra Marques, dá conta de uma mensagem desse dia 24 de Julho de 1975, de Luanda para Lisboa: «Era impossível manter Santo António do Zaire a todo o custo» (...) e «era absolutamente necessário, também, e em simultâneo, evacuar a tropa e a população de Carmona e Negage, pela força, se necessário, fosse».
O Presidente Costa Gomes considerou «inaceitáveis» os «termos do ultimato relativo às condições de saída de Carmona e Negage», mas aceitava que «uma coluna militar poderosa» e «um agrupamento de tropas especiais, artilharia, blindados e todo o apoio aéreo possível evacuassem as duas cidades».
A saída dos Cavaleiros do Norte estava marcada para começar a 3 de Agosto.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

2 121 - Ameaças da FNLA aos Cavaleiros do Norte

O BC12, visto de Carmona, com o bloco habitacional (no círculo amarelo). Em baixo, Mosteias, Viegas, Bento, Cândido Pires e José Pires na varanda do mesmo edifício, há 39 anos



A 23 de Julho de 1975, os comandos dos Cavaleiros do Norte «realizaram reuniões de trabalho com elementos do QG/RMA, de modo a obter os meios necessários à execução da operação» de evacuação de Carmona para Luanda.
O movimento, como leio no Livro da Unidade, «começou a materializar-se a 31 de Julho» e terá sido mais ou por esta altura (dia 23, mais para trás, mais para a frente) que a classe de sargentos da CCS, até aí instalada na antiga messe de oficiais do Bairro Montanha Pinto, se mudou para o bloco residencial ao lado do BC12 - já de malas pré-prontas para Luanda 
O mesmo dia foi tempo, também na capital do Uíge, para a FNLA «fazer exigências» às NT, querendo impor a (nossa) entrega de armas.
Luanda acordou com um cessar fogo (mais um) entre MPLA e FNLA, apesar de esta continuar no Forte de S. Pedro da Barra, resistindo à «intensa batalha» do domingo anterior (dia 20). As Forças Armadas Portuguesas, neste mesmo dia, noticiava o Diário de Lisboa, «estão prontas a intervir para evitar o possível avanço das tropas da FNLA sobre Luanda, dominada pelo MPLA, desde os violentos combates do princípio do mês».
A FNLA, em Kinshasa, dava conta que ter pedido às autoridades locais, no sentido de passar para Angola o pessoal e material que tinha nas bases do Zaire. «Nenhum bando armado será capaz de bater as forças da FNLA, no seu conjunto», afirmava o comunicado, acusando Portugal de «intervir directamente ao lado do MPLA, apesar dos desmentidos oficiais».
O documento foi divulgado pela France Press, apontava o dedo às autoridades portuguesas, acusando-as de «ludíbrio», e apelava à mobilização geral do seus militantes, porque, e citamos, «o combate prosseguirá contra as tentativas neocolonialistas de Lisboa, até ao triunfo total dos ideais do povo angolano».
Noutro comunicado, anunciava que as suas tropas marchavam sobre Luanda, para «libertarem as populações da capital angolana».
Era neste contexto que os Cavaleiros do Norte resistiam às bélicas exigências da FNLA, que dominavam na terra do Uíge. As Forças Armadas Portuguesas dispostas a impedir o avanço da FNLA, para Luanda, e nós, em Carmona, cercados e ameaçados pela mesma FNLA. Não foi fácil.

terça-feira, 22 de julho de 2014

2 120 - Chipenda falou a Angola, de Carmona, para «pegar em armas"!!!

Restaurante Escape, em Carmona, a 19 de Dezembro 
de 2012 (foto de Carlos Ferreira). Daniel Chipenda (em baixo) 



Aos 22 dias de Julho de 1975 - hoje se completam 39 anos!!!... -, Daniel Chipenda, falando em Carmona e através da Emissora Oficial de Angola, anunciou que Holden Roberto, o presidente da FNLA, “já se encontra em território nacional, para conduzir as operações militares do ELNA”.
Chipenda era o secretário geral adjunto e tinha já alguns dias de estadia em Carmona, onde acompanhava a campanha da apanha do café. Falava a partir de lá, dirigindo-se “a todo o povo angolano”:
“Nós, FNLA, somos, portanto, obrigados a pegar em armas, para, uma vez mais, dizer não aos que desejam oprimir o povo. Voltamos às armas pelas mesmas razões de 1961. Queremos liberdade e terra para os angolanos”, disse Daniel Chipenda, na sua alocução radiofónica – falava a partir do Rádio Clube do Uíge, delegação local da Emissora Oficial de Angola.
Será desta data um “boato” que correu na cidade carmoniana, sobre a presença de Holden Roberto - por exemplo, numa versão que nos foi contada, com estranho secretismo, num jantar no Escape. Se era secreto, não era para contar.
Luanda continuava com combates: o MPLA, a todo custo, queria tomar de assalto a Fortaleza de S. Pedro, onde estavam “alojados” 600 militares da FNLA, e o cerco durava há já 6 dias. O Estado Maior das FAPLA emitiu um comunicado, admitindo “uma intensa escalada” contra este último reduto da FNLA, em Luanda.
Consequência prática desta situação - o cerco à Fortaleza de S. Pedro - foi a paralização da Petrangol e, a esta data, Luanda teria gasolina para 4 dias.
“Um tanque de combustível para aviões a jacto foi danificado nos violentos combates de ontem, em torno do forte, que tem sido o principal campo de treino da FNLA, desde que o ocupou, há algumas semanas”, noticiaram a Reuters e a France Press. Admitia-se mesmo que o problema poderia “prejudicar a ponte aérea em curso para Lisboa”.
No Caxito, a 50 quilómetros de Luanda, o MPLA destruiu um blindado da FNLA e impediu o avanço de uma coluna de carros de combate. Mais perto de Carmona, o caminho de ferro entre Luanda e Malanje foi cortado a 40 quilómetros Salazar (Dalatando) - cidade que, noticiava o Diário de Lisboa de 22 de Julho de 1975, “está hoje praticamente abandonada”.

- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, braço armado do MPLA.
- ESCAPE. Restaurante muito em moda, ao tempo, e muito frequentado por militares portugueses.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

2 119 - FNLA «não deixou» sair MVL para Luanda

O BC12, visto de Carmona, na estrada para o Songo. Em baixo, a Rua do 
Comércio, uma das principais da cidade, a capital do Uíge e actualmente com este nome




A 21 de Julho de 1975, uma segunda-feira como hoje, a FNLA «impediu a saída do MVL», que, de Carmona, transportaria equipamentos dos Cavaleiros do Norte. Era a segunda vez que tal acontecia. A primeira fôra no dia 13 e a situação gerou enorme desconforto na guarnição.
O que se sabia era que o COPLAD, sabe-se lá porque razões, não autorizava o uso da força, de nossa parte, e as NT, por isso, sentiam-se defraudadas, digamos. Estávamos ali para o que desse e viesse, dispostos aos sacrifícios necessários, tínhamos consciência das centenas, das milhares de vidas que salváramos e, sem mais nem ontem, estávamos amarrados a compromissos que não entendíamos. nem eram nossos!
A situação motivou uma rápida reunião com o nosso comandante, no gabinete do primeiro andar, onde também estavam alguns oficiais milicianos e os capitães Themudo (2º. comandante) e Falcão (oficial de operações). A ideia era incisiva: não mais sair de Carmona sem autorização para actuar. O mesmo que dizer: agir com as armas. 
Almeida e Brito, sem entrar em pormenores sobre as diligências que fazia com Luanda, descansou-nos quanto pôde. Estava em andamento a rotação do BCAV. 8423, a partir de 3 de Agosto de 1975. O que, de resto, já sabíamos.
- COPLAD. Comando 
Operacional de Luanda.

domingo, 20 de julho de 2014

2 118 - Os presos do quartel da PIDE/DGDS de Carmona

Rua da cidade de Carmona, em 1974, com o prédio da RIMAGA, à 
esquerda. O furriel Viegas e o capitão Domingues, em 1975 (em baixo)



Leio Livro da Unidade, procuro dados sobre 20 de Julho de 1975, estavam os Cavaleiros do Norte por Carmona e, por momentos, assalta-me à memória um domingo de Julho, em Carmona. Que poderia ter sido este 20 de Julho. Não estou certo.
Eu, o Almeida, o Marcos e o condutor Breda estávamos de PM, desde as 14/15 horas. Chegou a hora do jantar e fui deixado na messe, seguindo os companheiros para o BC12. Voltaram a buscar-me, para noite que nos esperava e nunca era fácil. Fui chamado pelo oficial de dia: tínhamos de ir ao antigo aquartelamento da DGS/Flechas, onde se instalavam as Forças Integradas. 
O objectivo era buscar três civis, que estavam presos pela FNLA - e cujos nomes não lembro. Nem sei se algum deles era meu conhecido. Tinham sido detidos às mãos e razão de uma qualquer vingança pessoal - situações que dramaticamente se repetiam por esse tempo.
Um deles, era amigo do capitão Domingues - primo de Fátima Resende, em Luanda e esposa de amigo meu. O próprio capitão Domingues (que me conhecia de visitas à Família Resende, em Luanda), me contactou na messe Poupando palavras, lá fomos nós (eu, o Almeida e o Marcos), no jipe conduzido pelo Breda - que ficou à entrada do aquartelamento, com o motor em funcionamento. Não fosse termos de «fugir».
O oficial de dia não estava (!!!!), o sargento de dia estava, mas semi-embriagado. E quanto a soltar os presos, está quieto!!! Nós nem sequer tíhnamos mandato de soltura e esgotei os meus argumentos, já dentro do aquartelamento, para que no-los entregassem, 
Às tantas, convenci o sargento a deixar-nos ver os civis detidos. Que não, que não e que não... Mas fomos! O sargento abriu a porta da cela e os três homens (ou eram quatro?) ficaram estupefactos. Mas sem uma palavra, suando frio de medos. Compreensíveis! 
«Vá lá, saiam!...». Mas eles não saíam, com medo de serem abatidos. Suponho! O sargento cambaleava e, moita-carrasco, nada de soltar os homens. «Saiam, saiam...», dizia eu, sempre de olho no sargento das Forças Integradas. Mas nada, nem se mexiam, encostados à parede da sela.

O Marcos, então e sempre mais ousado, puxou um dos detidos pelo braço e incentivou-o a sair. O sargento não reagiu e lá acabámos por sair todos.
Já fora do aquartelamento, o Breda mantinha o jipe trabalhar e, apressadamente, como calculam, atabalhoámo-nos todos por cima da viatura e ala que se faz tarde. Com os três presos civis sob nossa escolta e protecção. Nunca mais soube deles, depois de os deixarmos no BC12, seriam umas 10 horas da noite.

Ele, há dias que sã noites e nunca esquecem.

sábado, 19 de julho de 2014

2 117 - Cavaleiros do Norte à espera de Luanda....

Querido, Guedes (falecido a 16/04/1998), Fernandes, Rabiço e Belo, cinco furriéis 
milicianos da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Em baixo, notícia do Diário de 
Lisboa sobre Luanda, publicada a 19 de Julho de 1975



A segunda quinzena de Julho de 1975, em Carmona e na guarnição dos Cavaleiros do Norte (agora toda reunida, depois da chegada da 3ª. CCAV., no dia 8, deixando o Quitexe) , foi vivida com entusiasmo, sem desproteger as normas de segurança que nos cabiam e que nunca o comandante Almeida e Brito deixaria  abrandar. Uiiii..., nem pensar! Mas continuava, já em decréscimo, a hostilidade da população, à tropa, visível e sentida nas ruas da cidade, nos bares e esplanadas, restaurantes, cinemas, pavilhões desportivos, fosse onde fosse.
Sabia-se já da nossa partida para Luanda e, entre a comunidade civil, até aí muito hostil, agressiva, acusadora do nosso papel (militar), começou a perceber-se o que poderia mudar nas duas vidas. «Descrente do seu futuro e receosa de quaisquer represálias», anota o Livro da Unidade. Lá saberiam porquê.  
Daniel Chipenda, secretário-geral adjunto da FNLA, como ontem referimos, estava em Carmona, a 18 e dias seguintes de Julho de 1974. Ele e os seus colaboradores «comanda(va)m os trabalhadores dos cafezais, nas colheitas»
A Reuters, em despacho de Luanda, referindo-se a 19 de Julho de 1975, dava conta de «combates entre MPLA e FNLA», na capital, que se travavam «há mais de uma semana», e aludia a «recontros nos musseques das zonas industriais» - nomeadamente na da Petrangol e da fábrica da farinha.
Não havia falta de combustível, mas estava limitado o fornecimento de pão, com «filas de 500 metros às portas das padarias».
O MPLA cercava o forte de S. Pedro da Barra, onde estavam acantonados 600 militares da FNLA (que «algumas fontes afirmam poder atingir o milhar», com referia o DL) e a segurança do local estava a ser assegurada pelas Forças Armadas Portuguesas. Era o único ponto de Luanda onde «existia» FNLA.
A 19 de Julho de 1974, um ano antes, as Associações Económicas de Angola, reunidas em Luanda, exigiam a  descolonização. O comunicado, que respigo do Diário de Lisboa, condenava a violência dos últimos dias, nos musseques, e manifestava «discordância pela existência de um Governo local, sem a presença das correntes políticas angolanas, quase reduzido a um agrupamento tecnocrata que não pode obedecer à evolução programada pelo MFA». Deliberaram enviar uma delegação a Lisboa, para «procurar urgentes e adequadas soluções para os problemas decorrentes da situação de Angola».
Nunca chegariam a entrar no Governo. 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

2 116 - Daniel Chipenda em Carmona, a 18 de Julho de 1975!!!

Rotunda de Carmona, com o busto de Ricardo Matos Gaspar (RIMAGA), fundador da Fazenda de 
Zalala (foto de Jorge Oliveira). Seria um dos fazendeiros a que se referia Daniel Chipenda (em baixo, foto da net)


A 18 de Julho de 1975, em Carmona, os Cavaleiros do Norte deixaram de estar em situação de prevenção simples e, passados os sustos e temores que estas situações sempre arrastam, vivia-se a espuma da alegre notícia da nossa saída para Luanda: seria a 3 de Agosto, através de uma gigantesca e delicada operação militar que estava a ser preparada.
Quem estava em Carmona era Daniel Chipenda, ao tempo secretário geral da FNLA (depois da sua dissidência do MPLA e da «extinção» da sua Facção Chipenda). Acompanhava a apanha do café e nós próprios, Cavaleiros do Norte, algumas vezes o escoltámos a fazendas. E, por uma vez, fizemos segurança a um comício no campo de futebol - quando falou às massas locais e aos muitos fnla´s fugidos às lutas de Luanda.
Prometeu-lhe ajuda da FNLA, para o realojamento, e é desse comício um seu célebre grito: «Nós vai derrubar o estátua do branco?!!!», perguntava ele à multidão.
«Vaiiiiiiiiiiiiiiiii!!!....», gritava o povo, no estádio do Recreativo do Uíge.
«Nãããããããõoooooooo!!!!...», respondia ele. E explicava: «A estátua faz parte da nossa história....».
Anos mais tarde, tive ocasião, em Águeda, de estar com ele e de recordar este dia - de que se lembrava, embora, naturalmente, não tivesse a menor ideia da minha pessoa. Ver AQUI.
A instabilidade social do Uíge, resultante dos incidentes dos primeiros dias de Junho e das escaramuças posteriores, levou a que muitos trabalhadores do café, normalmente bailundos, fugissem e a campanha estava em risco. Chipenda andou por lá a incentivar e coordenar essas tarefas, mas não havia grandes expectativas: não mais de 40 a 50% das 220 toneladas colhidas em 1974. 
Luanda que continuava conflituosa e a viver os dramas da guerra civil, entre FNLA e MPLA. «Nas últimas 24 horas, não se registaram incidentes», relatava o Diário de Lisboa, em despacho desta data de 1975. Acrescentava que «a situação é difícil» e , categoricamente, afirmava que «o MPLA controla, de facto, a capital deste território, onde o exército da FNLA saiu completamente derrotado».
Luanda mantinha o recolher obrigatório, entre as 21 e as 6 horas da manhã, e 600 soldados da FNLA estavam barricados na fortaleza de S. Pedro da Barra - com alguns prisioneiro, não sendo expectável que fossem atacados pelo MPLA, devido à proximidade de uma refinaria da Petrangol, a 500 metros.
- DATA. A data de 18 de Julho, dia da visita de Daniel 
Chipenda, foi agora confirmada,  na reportagem do 
Diário de Lisboa deste dia de 1975. No post de 10 de Maio de 2010, 
já não dava esse mês (Maio) como certo. Ver AQUI

quinta-feira, 17 de julho de 2014

2 115 - Galões e divisas para as Forças Integradas de Angola

Militares das Forças Integradas de Angola, na parada do 
BC12. Foto de Rodolfo Tomás. Alferes Carvalho de Sousa, em baixo



A 17 de Julho de 1975, em Carmona, houve «cerimónia de entrega de galões e divisas aos graduados da subunidade», que, e cito o Livro da Unidade, iriam «ser os pilares do Exército Angolano». A ocasião foi aproveitada para «explorar os deveres militares e a responsabilidade dos chefes, em acção orientadora desses elementos que, embora desejando fazer algo por Angola, se sentem a submergir e deixar de ver a aceitação e autoridade que se pretendeu imprimir-lhe».
Palavras aprudentadas e premonitórias: tal Exército, afinal, nunca veio a ser... Exército de Angola.
Um ano antes, precisamente - hoje se comentam 40!!! - o pelotão comandado pelo alferes miliciano Carvalho de Sousa, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, chegou a Carmona, para efectuar «patrulhamentos na área suburbana da cidade», para lá deslocado «em situação de diligência» e «por consequência dos acontecimentos de Luanda», onde se registava graves tumultos (bem mais graves um ano depois, em 1975), então (1974) com pelo menos 16 mortos e 63 feridos.
O grupo de combate comandado pelo alferes Carvalho de Sousa incluía os furriéis António Chitas (actualmente a trabalhar em Angola, tanto quanto julgo saber), João Brejo (a morar na Cruz de Pau, Seixal) e José Manuel Costa (em Matosinhos).
O mesmo dia de 1974, há 40 anos, registou «o retorno à responsabilidade operacional do BCAV. 8423 da Luiza Maria e Vista Alegre». E terminou a Operação Turbilhão
* Galões e divisas das Forças Integradas
de Angola - Ver AQUI

quarta-feira, 16 de julho de 2014

2 114 - A FNLA queria armas dos Cavaleiros do Norte

Furriéis Cavaleiros do Norte: Viegas, Mosteias e Neto, na 
messe de Carmona, há 39 anos. Em, baixo,  Machado e Cruz



A 15 de Julho de 1975, a guarnição de Carmona acordou em pesadelos. Eu estive de ronda na cidade, galgando ruas, na noite, com o Marcos, o António e o Breda (que conduzia), e fervilhavam boatos sobre a entrega de material de guerra à FNLA. Na antevéspera, dia 13, no Negage, a uns poucos 40 kms., o movimento de Holden Roberto tinham exigido as armas da CCAÇ. 4741 e agora não havia canto ou esquina onde não se ouvisse o sussurro ameaçador de que tal iria acontecer em Carmona, no BC12. Queriam as armas do antigo aquartelamento da PIDE/DGS.
A história, no essencial, já AQUI foi lembrada, em postagem de 15 de Julho de 2010. Vale a pena acrescentar-lhe o que a memória refrescou. 
Chegaram os furriéis na carrinha verde, da messe do Montanha Pinto e, no café matinal do bar, o assunto ganhou fresquíssima actualidade. Que não podia ser, concluíamos todos. Que  tínhamos de fazer alguma coisa, dar armas ao inimigo é que não.
Muito impressivo, o Machado defendia uma imediata reunião com o comandante Almeida e Brito. Aplaudiram e anuíram o Neto e o Mosteias, muito determinados. Mais cautelosos, o Cruz e eu: o que íamos dizer? E fazer?
Disse o Machado, já no gabinete do comandante, que achámos a sair do bar de oficiais, mesmo ao lado, no primeiro andar do edifício do comando. E sem cautelas ou meias palavras: «O nosso comandante não lhe pode dar armas». E todos «ajudámos à missa». Que não, que não e que não senhor!!
«O nosso comandante não vai dar armas a quem nos ameaça...», disse eu, puxado a brios de honra. E todos concordavam. 
A FNLA, na antevéspera (domingo, dia 13), tinha realizado um comício ameaçador. A 14, cercara o quartel do Negage e queria armas. No mesmo dia 13, tinha impedido uma saída do MVL para Luanda, sem  tropa estar autorizada a reagir pelo fogo. Então?!!!
Descansou-nos Almeida e Brito, que, como soube anos depois (de boca dele), negociava com  os comandantes da FNLA: «Não se preocupem!!! Eu sei o que estamos a fazer...", disse o comandante. 
Sabia e fez. O lote de armas que «negociava» não tinha munições e as que havia operacionais seriam semanas mais tarde, queimadas no Grafanil. Com milhares e milhares de balas de G3, FN e FBP!
- CRUZ. António José Dias Cruz, furriel miliciano rádio-montador. 
Aposentado da Câmara de Lisboa, vive na Póvoa de Santo Adrião.
- MACHADO. Manuel Afonso Machado, furriel, miliciano mecânico 
de armamento, Quadro da EDP, reside em Braga.
- MOSTEIAS. Luís João Ramalho Mosteias, furriel miliciano sapador. 
faleceu a 5 de Fevereiro de 2013, de doença, em Vila Nova de Santo André.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de 
operações especiais (Rangers). Empresário aposentado, mora em Águeda. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

2 113 - Mais de 300 mortos em Luanda, 14 de Julho de 1975!


FNLA. Delegação da Estrada de Catete, vista do lado do Grafanil (net). Em 
baixo, a primeira página do Diário de Lisboa de há 39 anos, 14 de Julho de 1975



A 14 de Julho de 1975,  Luanda acordou em mais mais uma madrugada de rebentamentos de armas pesadas, a partir das 5,30 e e por mais de duas horas. A acalmia da véspera, resultou, leio no Diário de Lisboa, «num tipo de violência nunca visto». Os resultados foram dramáticos. Mais de 300 mortos!!! Provavelmente muitos mais.
Ainda citando o Diário de Lisboa, «várias delegações da FNLA foram destruídas e ocupadas pelo MPLA». Uma delas, a da Estrada de Catete (foto), na saída de Luanda para o Grafanil, considerada a mais forte do movimento de Holden Roberto, e com a qual estariam relacionados mais de 3000 soldados. E também as do Prenda e da Ilha de Luanda. A base naval terá recebido mais de 2000 pessoas afectas à FNLA, em fuga ao fogo do MPLA.
Os Cavaleiros do Norte, em Carmona, expectavam a sua próxima partida para esta capital a ferro e fogo, sangue e morte, e, bem perto, sabiam do cerco ao quartel NT do Negage - que ocorrera na véspera, dia 13 de Julho. A FNLA queria as armas da CCAÇ. 4741, adida aos Cavaleiros do Norte.
A guarnição carmoniana, recordemos, estava em prevenção simples, desde o dia 12 - que se prolongaria até 18 -, e as notícias que nos chegavam eram muito difusas. E dramáticas! Em Carmona, entretanto e num comício da véspera, um domingo, dirigentes da FNLA e comandantes do ELNA tinham feito declarações que importava ter em atenção. A cidade começou a receber, leio no Livro da Unidade, «constante afluxo de refugiados da FNLA».
Iam amargos e dramáticos os nossos últimos dias da capital do Uíge.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional 
de Angola, braço armado da FNLA.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

2 112 - O (furriel) Farinhas faleceu há 9 anos...

Costa, dos Morteiros, e Farinhas, dos sapadores (em cima). Em baixo, 
o Farinhas, o Neto e o Viegas, com o inesquecível Papelino, no Quitexe, em 1974




O nosso amigo Farinhas faleceu há 9 anos, a 14 de Julho de 2005, na sua terra de Amarante, vítima de doença. Foi companheiro da jornada africana, depois do IAO de Santa Margarida,  até que o Março de 1975 o afastou de nós, por razões que não vem ao caso.
O Farinhas era politicamente evoluído, com ideias muitas vezes debatidas e contraditadas nas imensas e saudosas sabatinas que eram travadas na messe e bar dos sargentos do Quitexe. Pelas ideias, se afirmou e se penalizou, quiçá por não saber ouvir para além do seu beirado. Era assim o Farinhas.
Falei com ele em 1974 (ou 1975), quando, ao telefone, o quis aliciar para um dos encontros de Águeda.  Que não, que não e não..., que a tropa não lhe dizia nada!! O seu murmúrio era o mesmo dos tempos do Quitexe, quando o víamos meditabundo, algo surombático, revoltado, mas sempre solidário e partilhante, com troco permanente para qualquer desafio de palavra ou de acto, que lhe fosse posto na terra saudosa do Quitexe,
Estou em crer que o acidente que sofreu, num unimog em que eu também seguia e  de despistou perto do cemitério do Quitexe, pouco depois da nossa chegada, o terá profundamente marcado. Engessou o braço direiro, por semanas a fio, e isso, o que sei eu??, isso marcou-o.
Recordo-o hoje, com muita saudade!

domingo, 13 de julho de 2014

2 111 - Dias de Julho, no Quitexe, a esclarecer o povo...

O Clube do Quitexe, mais ou menos no nosso tempo. 
Um anúncio publicitário da Casa Morais (em baixo)




A 13 de Julho de 1974, um sábado, o comandante Almeida e Brito reuniu, no Clube do Quitexe, com as autoridades tradicionais da ZA, em mais «uma acção de «mentalização». Também com «os comerciantes e elevado número de fazendeiros».
Comerciantes na vida do Quitexe, havia muitos e de diversos ramos de actividade. Para nós, militares, sobressaíam os bares e restaurantes - não nos sendo estranhos, mesmo 40 anos depois, nomes como Pacheco, Rocha e o Topete (muito frequentados), o bar do Morais (um conterrâneo de Águeda), a Geladinha do Quitexe. E o Clube do Quitexe, onde vimos vários filmes e era espaço do social local. E os Talhos dos Guerreiros e do Pimenta (onde afreguesávamos boas encomendas, para as petiscadas).
Boa parte destes (e outros) comerciantes tinham pequenas fazendas nos arredores do Quitexe, nas quais permaneciam boa parte da da semana. As mais conhecidas, e falo de memória e desconhecendo o nome dos proprietários, eram as dos Guerras, Buzinaria, Quinta das Arcas, Luísa Maria (oncde estava um Destacamento dos Cavaleiros do Norte) e Maria Amélia, Pumbassai, José Guerra, Pacheco, Isabel Maria, Vamba, José Bastos, Pumbaloge (onde fomos muitas vezes), Cacuaco, Boaventura, Alegria, sem esquecer as de Zalala (onde estava a 1ª. CCAV.8423) e a de Santa Isabel (aquartelamento da 3ª. CCAV.). E a do Liberato, da CCAÇ. 209/RI 21.

sábado, 12 de julho de 2014

2 110 - Reflexos, em Carmona, da Batalha de Luanda

A sede da FNLA na estrada de Catete, nos dias sangrentos de Julho de 1975

Os incidentes de Luanda, com sangrentos combates entre MPLA e FNLA, tiveram reflexos noutras cidades do país que estava para nascer. Chegaram, por exemplo, a Salazar e Malange, já muito perto das barbas de Carmona, por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte. 
A reacção das NT não se fez esperar. O comandante Almeida e Brito «decretou», a 12 de Julho de 1975 - hoje se fazem 30 anos sobre a data!!! -, «permanente situação de prevenção simples». «Houve que aguentar a provável ressaca da FNLA, face aos desaires em Luanda, Salazar e Malange», lê-se no Livro da Unidade, que acabo de consultar. A prevenção prolongou-se por uma semana, até ao dia 18 de Julho.
O Livro do general Silva Cardoso, Alto Comissário em Angola ao tempo, dá conta das «imensas dificuldades» que se viveram e que «ainda sob o estrondo das granadas ou o crepitar das armas automáticas, foi possível reunir de emergência à CND sem a presença de representantes do MPLA».
O General Silva Cardoso, transcrevo, «teve que ouvir e, frequentemente, interromper, chamando à razão, o Ministro Ngola Kabangu (FNLA), exaltadíssimo e atacando tudo e todos, profundamente afectado, melhor dizendo, destroçado pela virulência dos combates e seu desfecho, este traduzido numa esmagadora derrota militar do seu Movimento na batalha iniciada, e ainda não terminada em Luanda».
A FNLA, acrescenta o documento, «revelara-se um tigre de papel e claudicara irremediavelmente em três ou quatro dias de luta armada, mau grado a jactância do seu poderio militar e as ameaças de, se necessário, tudo desfazer».
 Ver AQUI

sexta-feira, 11 de julho de 2014

2 109 - Incidentes em Luanda e aulas regimentais no Quitexe

Cruz e Viegas na avenida do Quitexe. Atrás, o bar dos praças e o telheiro onde 
eram dadas as aulas regimentais. O Livro de Leitura da 4ª. classe das aulas regimentais



A noite de 10 para 11 de Julho de 1974, há 40 anos!!!,  registou tumultos em Luanda, nos bairros periféricos, dos quais poucos ecos nos chegaram ao Quitexe. Tardios e pouco circunstanciados. E não eram os melhores: lançaram o pânico entre a população e, dias depois, chegaram os números: 12 mortos e 60 feridos.
O comandante Almeida e Brito, na véspera, esteve reunido com os povos do Quitoque e Quimassai, que ficavam na estrada de Carmona.
Começam as aulas regimentais, com, pelo menos, os professores Cruz (o nosso mais velho), Viegas e Neto - que, sob o telheiro da foto, ensinaram a alguns Cavaleiros do Norte da CCS o bê-à-bá suficiente para fazerem a sua 4ª. classe.
Recordo o carinho muito especial que dedicámos ao Cabrita, o soldado básico da CCS e companheiro sempre disponível por toda a nossa jornada africana de Angola. Ter a 4ª. classe era a sua maior ambição, para conseguir ter carta de barco, ser patrão de pesca. Era pescador, filho de pescador e ainda hoje, em Cascais, se dedica à pesca de mar, em situação de pré-reforma que o levou já a vender o barco próprio (o Dulce Marina), que tantas vezes vi ancorado na baía. Mas ainda vai ao mar, todas noites! Abençoadas aulas regimentais do Quitexe!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

2 108 - Os reforços, há 40 anos, dos Cavaleiros do Norte...

Alferes milicianos Garcia e Almeida. Atrás, os 1ºs. sargentos Barata e Aires, 
no Quitexe de há 40 anos.O 1º. cabo clarim Manteigas, em 2014 (em baixo)


A meados de Julho de 1974, há 40 precisamente anos, os Cavaleiros do Norte receberam três reforços: o alferes miliciano José Alberto Almeida, o 1º. cabo Rodrigo Manteigas e o soldado atirador Manuel Júnior. Cada qual para o seu destino: oficial de reabastecimentos, Almeida para o Comando do Batalhão; clarim, Manteigas para Zalala (1ª. Companhia); atirador e dos grupos de mesclagem, oriundo do RI 20, Júnior para Aldeia Viçosa (a 2ª. CCAV. 8423).
O alferes Almeida foi preencher um lugar vago desde o nosso embarque para Angola, ainda dos tempos do IAO de Santa Margarida, no RC4. Outro alferes miliciano, de nome Gaspar José F. Carmo Reis, era quem estava mobilizado, mas foi dado com «incapaz para o serviço militar». Não tenho a menor memória dele mas, sorte de uns, destino de outros: lá foi ter ao Quitexe o companheiro Almeida. Um bom e grande companheiro, até aos dias de hoje.
Ao tempo - e como depressa passaram 40 anos!!!! -, com mês e meio de comissão, os Cavaleiros do Norte já faziam «rotações dos Destacamentos», o que, segundo leio no Livro da Unidade, «permitiu obter o maior número de disponibilidade de forças para a realização da actividade operacional».
Estávamos uns «maçaricos» muito activos, na nossa ZA!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

2 107 - Incidentes, há 39 anos, na cidade de Carmona

Carmona, actual Uíge, Rua do Comércio, com o Hotel Apolo destacado. Na foto de 
baixo, a mesma rua e o mesmo hotel, em foto do tempo, mas vista do lado oposto


Os dias de Carmona, há 39 anos (Julho de 1975), iam correndo, todos eles com um e outro incidentes, normalmente projectados sobre a tropa portuguesa - a que patrulhava a cidade e os itinerários. Dentro da malha urbana, a hostilidade era evidente e agravou-se a partir da altura em que fazíamos patrulhamentos mistos - as NT com militares dos movimentos (FNLA e UNITA), que integravam as Forças Mistas. 
Uma noite, no cruzamento do Hotel Apolo, à Rua do Comércio, ia-se chegando a vias de facto, por causa de bocas mandadas, no caso aos homens das ditas Forças. Um deles, virou a arma a um grupo hostil (de civis) e não fôra a pronta intervenção do Almeida e do Marcos, em cima do Unimog, e sabe-se lá o que poderia ter acontecido. O caso já foi narrado neste blogue, AQUI.
As NT, ao tempo, eram «permanente alvo de críticas das populações brancas», que, e cito o Livro da Unidade, «sentiam-se marginalizadas e sem receberem quaisquer apoios, ou segurança, daqueles que ainda são, como afirmam, os lídimos representantes da Autoridade Portuguesa».
O que era, tal opinião, uma profunda injustiça, relativamente à tropa. Muitos de nós, todos os operacionais e alguns de Cavaleiros do Norte de outras especialidades, passámos centenas de horas em guarda da segurança das pessoas e bens da gente uíjana. Arriscando a vida, ninguém tenha dúvidas.    
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador 
de Cavalaria, do PELREC. Natural de Penamacor, faleceu a 28 de 
Fevereiro de 2008, vítima de doença. Teria agora 64 anos.
-MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de 
Cavalaria, do PELREC. Mora no Pêgo (Abrantes).
- NT. Nossas Tropas.