CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

terça-feira, 25 de abril de 2017

3 742 - Onde estavam os Cavaleiros do Norte no 25 de Abril?

Os furriéis milicianos Neto, Viegas, Mário Matos (que hoje faz 65  anos,
em Anadia) e Monteiro, num carro de combate junto ao pavilhão dos
sargentos  milicianos do RC4, em Abril de 1974. Há 43 anos! 

Furriéis milicianos Rodrigues (sargento de
dia na noite do 25de Abril) e Manuel Pin-
to, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala

Os Cavaleiros do Norte, no 25 de Abril de 1974, estavam aquartelados no RC4, em Santa Margarida, fazendo a chamada Instrução Altamente Opera-
cional (IAO) - o Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em vésperas de partir para Angola.
Os praças dormiam todos na enorme caserna do Destacamento, onde o então 1º. cabo miliciano (futuro furriel) Américo Rodrigues estava de sargento de dia: «Tinha-me deitado na casa da guarda, envolvi-me nos cobertores e tentei dormir, depois de ver que estava tudo em ordem. Não passou muito tempo e o cabo da guarda a acordou-me a dizer que estava ali o Comandante». O comandante ali, àquela hora?
«Vai mas é chatear o car…. », gritou-
Notícia do 25 de Abril de 1974
no jornal «República»
lhe o Rodrigues, pensando que o 1º. cabo, por estar sozinho, queria era companhia, para não adormecer e me-
lhor passar o tempo. «Tinha acabado de blasfe-
mar desta maneira e tenho à porta da casa da guarda o Comandante Almeida e Brito, muito sério. Fiquei a olhá-lo, sem saber o que dizer», recorda o Rodrigues, surpreendendo-se com as ordens do comandante: 
«Vê se tens calma, vai à caserna e manda formar toda a companhia, com o devido armamento, ime-
diatamente...», ordenou Almeida e Brito. 
«Imaginem o que foi ir acordar toda a 1ª. Compa-
nhia», ainda hoje se espanta o Rodrigues, que, quando chegou à caserna, ouviu muitas e das boas.
O jornal «A Província de Angola»
de 25 de Abril de 1974
Ninguém se mexia, de pouco valeram os gritos do Rodrigues, e o comandante, estranhando a demora, deslocou-se à caserna e aí, sim, «o pessoal tremeu todo» e, recorda o furriel Rodrigues, «o meu trabalho ficou facilitado». Entretanto, os restantes graduados começaram a chegar ao destacamento e a organizar os respectivos pelotões. Depois de variadas situações. Por exemplo, recorda o Rodrigues, «equiparmo-nos com todo o material e armamento, distribuição de munições e uma série de manobras militares»
Gerou-se até alguma momentânea confusão e incerteza nas ordens dadas, mas «assim passámos a noite e só pelas 6 horas da manhã, soubemos exactamente o que estava em marcha», recorda o Rodrigues. Ver AQUI.
O Livro da Unidade refere que o BCAV. 8423 não tinha sido contactado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), «nem tão pouco algum, ou alguns dos seus oficiais», mas que isso não foi razão, porém, para que, de imediato, a Unidade se «sentisse como parte». 
No dia seguinte, uma sexta-feira (26 de Abril de 1974) e antes de virmos de fim de semana, o comandante Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, tenente-coronel, explicou «a todo o pessoal, o que o MFA pretendia», em palestras «orientadas especificamente para oficiais, sargentos e praças»
Viegas e Ferreira, dois
furriéis Rangers em
1974 e no RC4

Marchas militares
a desfazer a barba

Por mim e no dia 25 de Abril, como habitualmente fazia, le-
vantei-me cedo e fui para os balneários do pavilhão onde dormiam os 1ºs. cabos milicianos, para a higiene pessoal. 
Estranhei que o pequeno rádio transistor só passasse marchas militares, mas continuei a desbarba e higiene matinal. Era meu hábito, como ainda hoje, levantar-me cedo e tranquilamente fazer essas tarefas, antes de chegar a balbúrdia dos mais atrasados e mais apressados. Seguia depois para a messe, onde pequeno-almoçava e caminhava para o Destacamento.
As tarefas de higiene eram sempre acompanhadas pelo pequeno transistor, para ouvir as notícias da manhã, e a estranheza da música militar só foi  interrompida pela leitura do comunicado do MFA.  
«Eh, pá!!!!..., nas o que é isto?», interroguei-me ma solidão do balneário, lembrado do 16 de Março de semanas antes - a Revolta das Cadas. Fui acordar toda a gente e contar a novidade, sobressaltando quem dormia os últimos minutos dessa manhã e se estremunharam com tal.
Ao sair do RC4, para o Destacamento, fomos impedidos à porta d´armas e ficámos pelo quartel durante toda a manhã. Ao Destacamento fomos, da parte da tarde, mas sem nada de especial se passar. Só depois, o comandante Almeida e Brito falou a todo o pessoal do Batalhão. 
Os furrieis milicianos Mário Matos (que hoje
faz 65 anos) e João Brejo, ladeando o 1º. cabo
Pampim da Silva, em Aldeia Viçosa

Furriel Mário Matos
faz 65 anos em Anadia

O furriel miliciano Mário Augusto da Silva Matos, atirador de Cavalaria da 2ª. CCAV. 8423, festeja 65 anos a 25 de Abril de 2017. Hoje mesmo e na sua terra natal de Anadia - no coração da Bairrada.
Mário Matos (2017)
Mário Matos recrutou-se e especializou-se da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Fomos companheiros na primeira fase de instrução militar, segui eu para Lamego (CIOE) e ficou ele por lá, e a mobilização juntou-nos no BCAV. 8423 e em Angola. Ele, na 1ª. CCAV., em Aldeia Viosa. Eu, na CCS, no Quitexe.
Regressou a Portugal no dia 10 de Setembro e à sua natal Avelãs de Caminho, trabalhando na área dos acessórios automóveis. Esteve emigrado nos Estados Unidos e voltou ao mercado local de traba-
lho, agora já aposentado. Vive em Anadia, onde regularmente nos encontramos (ou em Águeda), e para ele vai o nosso forte abraço de parabéns!
Jorge Pinho

1º. cabo Pinho faria
hoje 65 anos

O 1º. cabo escriturário Jorge Pinho faria hoje 65 anos. Faleceu a 19 de Abril de 1996, no Porto e vítima de doença. 
Jorge Manuel de Sousa Pinho morava na Rua dos Choupos, em Ra-
malde, freguesia da cidade do Porto, e lá regressou a 8 de Setem-
bro de 1975, depois de concluída a sua (e nossa) jornada africana de Ango-
la - entre Quitexe e Carmona, depois Luanda. Recordamo-lo com saudade! RIP!


- MFA. Comunicado lido pelo locutor Joaquim Furtado, aos
 microfones do Rádio Clube Português (pai de Catarina 
Furtado). Ouvir AQUI.
- TRANSISTOR. Pequeno rádio a pilhas, do tamanho 
de um maço de tabaco, muito usado na altura - por ser 
barato e de fácil manuseamento.

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