A 4 de Novembro de 1974, há 48 anos, fez-se história na jornada africana dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423: foi o dia do primeiro encontro, directo e físico, olhos nos olhos, com guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELN), o braço armado da FNLA do presidente Holden Roberto - a antiga UPA.
Encontro na sanzala do Dambi Angola, entre o Quitexe e Aldeia Viçosa.
A 3 de Novembro de 1974, na véspera, o PELREC recebeu uma ordem de operação muito especial: sair às 4 da madrugada do outro dia para um possível contacto
A 3 de Novembro de 1974, na véspera, o PELREC recebeu uma ordem de operação muito especial: sair às 4 da madrugada do outro dia para um possível contacto
com guerrilheiros do FNLA.
Quem sabia dessas coisas era, naturalmente, o Gabinete de Operações, do capitão José Paulo Falcão - que tinha os seus contactos, que eu não sei contar. Disse eu ao furriel José Pires, o de Transmissões e de Bragança e que andava «mortinho» para participar numa operação.
«Queres ir amanhã?!», perguntei-lhe eu, provocador e entre duas Cuca´s, calmamente bebericadas no bar da messe de sargentos do Quitexe.
«P´ra onde?...», interrogou ele, ansioso e curioso.
«Depois sabes...! Depois sabes!... Queres ir, ou não?!», disse eu, fechando-me em copas e a «brincalhar» com o ansioso Pires de Bragança.
Eu não lhe podia dizer para onde íamos mas acrescentei-lhe: «Se quiseres ir, tens de ter autorização do capitão Falcão». Acabei por ser eu a fazer o pedido e lá foi o furriel Pires, o das transmissões. Havia outro Pires, o sapador, do Montijo.
Chegámos à sanzala,
num adro imenso !
O objectivo era a aldeia (sanzala) do Dambi Angola, na Mata do Quipemba, entre Quitexe e Aldeia Viçosa.
Quem sabia dessas coisas era, naturalmente, o Gabinete de Operações, do capitão José Paulo Falcão - que tinha os seus contactos, que eu não sei contar. Disse eu ao furriel José Pires, o de Transmissões e de Bragança e que andava «mortinho» para participar numa operação.
«Queres ir amanhã?!», perguntei-lhe eu, provocador e entre duas Cuca´s, calmamente bebericadas no bar da messe de sargentos do Quitexe.
«P´ra onde?...», interrogou ele, ansioso e curioso.
«Depois sabes...! Depois sabes!... Queres ir, ou não?!», disse eu, fechando-me em copas e a «brincalhar» com o ansioso Pires de Bragança.
Eu não lhe podia dizer para onde íamos mas acrescentei-lhe: «Se quiseres ir, tens de ter autorização do capitão Falcão». Acabei por ser eu a fazer o pedido e lá foi o furriel Pires, o das transmissões. Havia outro Pires, o sapador, do Montijo.
Os furriéis milicianos Viegas e Pires (de TRMS) no histórico encontro da sanzala Dambi Angola, há rigorosamente 48 anos |
Chegámos à sanzala,
num adro imenso !
O objectivo era a aldeia (sanzala) do Dambi Angola, na Mata do Quipemba, entre Quitexe e Aldeia Viçosa.
Lá chegámos, ao abrir do dia, ansiosos e de nervos e medos à flor da pele e da alma.
Poupando palavras, e galgando a perigosa picada uíjana, pelo caminho passámos incólumes numa vigia dos «turras» (um deles apontando-nos uma arma, de cima de uma árvore).
Cairia, a tiro nosso, caso esboçasse qualquer gesto agressivo. Não sobrem dúvidas!
O Breda, condutor-auto da primeira viatura, suava frio de ansiedades, e tremia, ao passar debaixo da árvore, conduzindo o «unimog» em que eu próprio seguia. Chegámos à sanzala, num adro imenso, e os «unimogs» pararam em posições de segurança. Em prevenção da vida de cada um de nós!
Olhámos, era eu o comandante da força, e não tive medo. Se eles lá estavam, com eles falaríamos. Era ao que íamos. Levávamos grades de cerveja e maços de tabaco, aconselhados pela Acção Psicológica. Faltava «descobrir» o inimigo, misturado e escondido entre as gentes da sanzala - crianças, adultos e idosos, todos misturados. Saltei do unimog, sem tirar as divisas do camuflado. Provocador, digamos:
«Sou o furriel Ranger!...».
Manias!! Nem falar!!! E avancei, passo a passo, de mãos tensas, caídas nas ancas, a direita segurando a G3.
«Posso levar um tiro..., morro aqui!..., aqui mesmo!...», sentia eu, expectante e regado de suores frios. Do cinturão, penduravam-se granadas defensivas, prontas a estourar. A G3, de resto, estava armada com o dilagrama, para o que desse e viesse e seria letal, mortalíssimo; dilagrama que eu dispararia, em qualquer caso. Um passo meu, em frente, era um passo atrás dos populares do Dambi Angola, misturados de guerrilheiros da FNLA, como viemos a confirmar.
«Boa tarde, somos amigos, vamos falar...», gritei eu, embora de bons modos e tenso, convidando-os a conversa. Eram essas as instruções. E voltei a falar bem alto, mais um passo e outro, em frente! Confesso que meio a medo.
Os «turras» angolanos e
o jantar de camarão!
Confraternizámos fartamente nesse dia que se atirou para a tarde. Tarde em que o grupo de combatentes da FNLA soube, pela nossa voz, que tinha havido uma revolução em Lisboa - sete meses antes.
Beberam os «fnla´s» cerveja da que levávamos, depois de nós próprios bebermos - ante a desconfança deles. Fumaram os «CT» depois de alguns de nós. E tirámos fotografias.
Dizia o Pires, no regresso:
«Estes é que são os turras?!».
Eram. Eu (Viegas), era tratado por Veigas. Senti-me amedrontado! Eh, pá... afinal eles sabiam quem eu era.
Guardo do Pires, o seu desabafo no jantar de camarão e cerveja à farta, que ele pagou nessa noite, no restaurante do Rocha, no Quitexe. Mais ou menos isto:
«Como é que saltaste do Unimog, com aquela calma?!!!... Já sabias que eles eram turras?!».
É evidente que, ao momento, ele não sabia disso. E nas várias vezes que falámos sobre este momento, nestes 47 anos que entretanto se passaram, sempre nos divertimos com a história. Que poderia ter sido uma tragédia!!! Não foi, se calhar, porque fomos todos, começando por mim, levianamente e generosamente irresponsáveis, embora cumpridores da missão de que estávamos incumbidos. Algum tempo depois, no Quitexe, disse-me um dos angolanos desse princípio de tarde de 4 de Novembro de 1974:
«Nós espensou c´os furrié ias matá a gente...».
Eu sei que nunca matei ninguém!
Os homens do FNLA que nesse dia «achámos» estavam armados de armas de fabrico checo e chinês, com uma bala na câmara e mais meia dúzia delas num saco de plástico pendurado na cinta, feita de um cordão improvisado de arbustos secos. Há 48 anos!
70 anos em Gondomar !
O soldado Joaquim da Rocha Soares, da 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz, festeja 70 anos a 4 de Novembro de 2022.
Atirador de Cavalaria de especialidade militar, foi Cavaleiro do Norte de Aldeia Viçosa, e também passou por Carmona e pelo BC12. Regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, no final da sua comissão de serviço por aquelas terras do norte de Angola, pelo Uíge profundo, e fixou-se em Valbom, no concelho de Gondomar, de onde é originário.
O Breda, condutor-auto da primeira viatura, suava frio de ansiedades, e tremia, ao passar debaixo da árvore, conduzindo o «unimog» em que eu próprio seguia. Chegámos à sanzala, num adro imenso, e os «unimogs» pararam em posições de segurança. Em prevenção da vida de cada um de nós!
Olhámos, era eu o comandante da força, e não tive medo. Se eles lá estavam, com eles falaríamos. Era ao que íamos. Levávamos grades de cerveja e maços de tabaco, aconselhados pela Acção Psicológica. Faltava «descobrir» o inimigo, misturado e escondido entre as gentes da sanzala - crianças, adultos e idosos, todos misturados. Saltei do unimog, sem tirar as divisas do camuflado. Provocador, digamos:
«Sou o furriel Ranger!...».
Manias!! Nem falar!!! E avancei, passo a passo, de mãos tensas, caídas nas ancas, a direita segurando a G3.
«Posso levar um tiro..., morro aqui!..., aqui mesmo!...», sentia eu, expectante e regado de suores frios. Do cinturão, penduravam-se granadas defensivas, prontas a estourar. A G3, de resto, estava armada com o dilagrama, para o que desse e viesse e seria letal, mortalíssimo; dilagrama que eu dispararia, em qualquer caso. Um passo meu, em frente, era um passo atrás dos populares do Dambi Angola, misturados de guerrilheiros da FNLA, como viemos a confirmar.
«Boa tarde, somos amigos, vamos falar...», gritei eu, embora de bons modos e tenso, convidando-os a conversa. Eram essas as instruções. E voltei a falar bem alto, mais um passo e outro, em frente! Confesso que meio a medo.
O Viegas no Dambi Angola a 25 de Setembro de 2019 |
Os «turras» angolanos e
o jantar de camarão!
Confraternizámos fartamente nesse dia que se atirou para a tarde. Tarde em que o grupo de combatentes da FNLA soube, pela nossa voz, que tinha havido uma revolução em Lisboa - sete meses antes.
Beberam os «fnla´s» cerveja da que levávamos, depois de nós próprios bebermos - ante a desconfança deles. Fumaram os «CT» depois de alguns de nós. E tirámos fotografias.
Dizia o Pires, no regresso:
«Estes é que são os turras?!».
Eram. Eu (Viegas), era tratado por Veigas. Senti-me amedrontado! Eh, pá... afinal eles sabiam quem eu era.
Guardo do Pires, o seu desabafo no jantar de camarão e cerveja à farta, que ele pagou nessa noite, no restaurante do Rocha, no Quitexe. Mais ou menos isto:
«Como é que saltaste do Unimog, com aquela calma?!!!... Já sabias que eles eram turras?!».
É evidente que, ao momento, ele não sabia disso. E nas várias vezes que falámos sobre este momento, nestes 47 anos que entretanto se passaram, sempre nos divertimos com a história. Que poderia ter sido uma tragédia!!! Não foi, se calhar, porque fomos todos, começando por mim, levianamente e generosamente irresponsáveis, embora cumpridores da missão de que estávamos incumbidos. Algum tempo depois, no Quitexe, disse-me um dos angolanos desse princípio de tarde de 4 de Novembro de 1974:
«Nós espensou c´os furrié ias matá a gente...».
Eu sei que nunca matei ninguém!
Os homens do FNLA que nesse dia «achámos» estavam armados de armas de fabrico checo e chinês, com uma bala na câmara e mais meia dúzia delas num saco de plástico pendurado na cinta, feita de um cordão improvisado de arbustos secos. Há 48 anos!
70 anos em Gondomar !
O soldado Joaquim da Rocha Soares, da 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz, festeja 70 anos a 4 de Novembro de 2022.
Atirador de Cavalaria de especialidade militar, foi Cavaleiro do Norte de Aldeia Viçosa, e também passou por Carmona e pelo BC12. Regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, no final da sua comissão de serviço por aquelas terras do norte de Angola, pelo Uíge profundo, e fixou-se em Valbom, no concelho de Gondomar, de onde é originário.
Sabemos que por lá continua a viver (agora na Rua Miguel Bombarda) e para lá vai o nosso abraço de parabéns!
a ara nascer!
Parracho de Zalala, 70 anos
em Figueiró dos Vinhos!
Aurélio Parracho e o furriel João Dias (TRMS) |
Parracho de Zalala, 70 anos
em Figueiró dos Vinhos!
O soldado Aurélio Patrício Parracho, da 1ª. CCAV. 8423, a da mítica Fazenda Maria João, a de Zalala e do capitão miliciano Davide Castro Dias, está amanhã em festa, 4 de Novembro de 2022, dia em que comemora 70 anos de vida!
Cavaleiro do Norte atirador de Cavalaria de especialidade militar, integrou o 4º. Grupo de Combate, comandado pelo alferes miliciano Lais dos Santos - com os furriéis Plácido Queirós e os já falecidos Jorge Barata e Américo Rodrigues. Também passou por Vista Alegre/Ponte do dange, Songo e Carmona.
Cavaleiro do Norte atirador de Cavalaria de especialidade militar, integrou o 4º. Grupo de Combate, comandado pelo alferes miliciano Lais dos Santos - com os furriéis Plácido Queirós e os já falecidos Jorge Barata e Américo Rodrigues. Também passou por Vista Alegre/Ponte do dange, Songo e Carmona.
Regressou a Portugal a 9 de Setembro de 1975, no final da sua jornada angolana e à sua terra da Praia de Pedrogão, da freguesia de Coimbrão, em Leiria. É participante dos encontros anuais dos «zalalas» e mora em Figueiró dos Vinhos, para onde, e para le vai o nosso abraço de parabéns!
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