Maria Dulce, a Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte ! Separados pelo vidro «covid», estão mãe, dois filhos e dois netos! |
durante a noite de hoje, 9 de Maio de 2021, serenamente, durante o sono.
Aqui deixamos o texto que, a 20 de Janeiro de 2021,
Maria Dulce Pinheiro Estima nasceu nesse distante dia de 1921, em terras de Óis da Ribeira, freguesia de Águeda, de gente que trabalhava a terra, em casa humilde e filha de Aniceto Fernandes Estima, ex-combatente da 1ª. Grande Guerra, regedor da freguesia quando parede traiçoeira da casa que construía lhe roubou a vida.
Viúva, ficou Maria Pinheiro de Almeida, a mãe de família, a 15 de Janeiro de 1929 e irmã de José Pinheiro de Almeida - que foi revolucionário republicano e membro do grupo que, no Luso, por volta de 2008, lá se deslocou para prender D. Manuel I. Viúva e com 4 filhos/crianças para criar, o mais novo com menos de 2 meses. Era uma «escadinha» de filhos: Maria Dulce quase a fazer 8 anos, Carmen com 5, Arménio com 3 e José Valentim, o caçulinha, com menos de 2 meses.
Maria Dulce não teve vida fácil: trabalhou na terra desde os 8 anos, fez a escola primária do tempo (coisa rara...), fez praças e feiras, andou pelos teatros (reza a lenda local que era excelente actriz amadora) e casou com o conterrâneo Celestino Morais Viegas. Que a morte levou aos 50 anos, em 1972!
«Era amoroso!...», disse-nos ela hoje, de rasgado sorriso, ela que nunca foi muito dada a confissão de intimidades. «E muito meu amigo!...».
A mãe centenária dos
Cavaleiros do Norte !
O casal teve três filhos: Ana Maria (que mora em Viana do Castelo), e, em Óis da Ribeira, Maria Dulce e Celestino José - que, vá lá saber-se porquê, é chamado normalmente de Zé Celestino. É (foi) o furriel Viegas, da CCS do BCAV. 8423.
É aqui que entra a Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte!
A 23 de Agosto de 1972, enviuvou, casaram e saíram de casa as duas filhas (em Dezembro e Fevereiro seguintes) e foi o filho para a tropa, a 24 de Abril do distante 1973. Ir para a tropa, naquele tempo de há 48 anos, era ir para a guerra. O que aconteceu a 29 de Maio de 1974. Para Angola.
Maria Dulce, no espaço de 9 meses, viu uma casa cheia, de 5 pessoas, reduzida a ela mesmo.
Só, viúva e sem os 3 filhos! Doente, também, se não bastasse.
Mas resistiu a tudo, como sempre fez na vida, até aos 100 anos que hoje fez: desde a gripe espanhola (era criança), à 2ª. Grande Guerra Mundial, ao racionamento, aos medos de ter um filho na guerra colonial. À COVID-19 de agora.
João e Susana: os netos mais novo e mais velha da Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte |
Todavia, foi possível partilhar este dia maior da vida de Maria Dulce por alguns minutos, ouvir os seus deliciosos pareceres e gracejos e memórias sobre a sua longuérrima vida e, actualíssima, o «bicho que anda por aí».
Assoprou as velas dos 100 anos, sorriu de alegria farta, mandou as suas sempre oportunas piadas, viu o resto da família pelo whatsap e até gargalhou ao ouvir cantar os «parabéns a você»!
«Isso é para mim? Ora, vão mas é trabalhar...», disse Maria Dulce, com um «vão, vão..., vão pela fresca» de adeus. Até aos 101 anos!
10 de Maio de 2021, no Cemitério Velho de Óis
RIP!!!
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