CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 26 de março de 2017

3 712 - Patrulhamentos mistos na Carmona capital do Uíge!

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa: furriéis milicianos António Artur Guedes, José Gomes, António
Carlos Letras e Jesuíno Pinto. Em baixo, os soldados Leonel Sebastião (mecânico) e Manuel Joaquim
Oliveira (cozinheiro), de cigarro na boca e todos em momento de boa disposição, no S. Martinho de 1974


Cavaleiros do Norte da CCS e 3ª. CCAV., todos furriéis
 milicianos: Fernandes, Cardoso, Querido, um combatente
  da FNLA e Rocha. Em baixo, Carvalho, Monteiro e Belo
O 1º. cabo Carlos Ferreira, da 1ª. CCAV. 8423, junto de
uma avioneta, na pista da Fazenda de Zalala e em 1974
A noite de 26 para 27 de Março de 1975 foi a de «estreia» dos patrulhamentos mistos na cidade de Carmona, envol-vendo forças portuguesas, da FNLA (o ELNA), do MPLA (as FAPLA) e da UNITA (o ELNA). «Deste modo, ensaiando-se os primeiros passos de actividade operacional em Exército integrado com os movimentos emancipalistas, a seu pedido e porque se verificou um deteriorar da situação, nomeadamente nos distritos de Salazar e Luanda, iniciaram-se patrulhamentos mistos do Exército Português, ELNA, FAPLA e FALA», relata o Livro da Unidade - o BCAV. 8423. Aqui já se contou que «esta actividade militar já havia sido experimentada em 15 de Março, aquando das comemorações do feriado da FNLA e exclusivamente em serviço de segurança dos locais aonde iriam celebrar-se as comemorações»Experiência uíjana que, de resto e continuando a citar o Livro da Unidade, se «mostrou proveitosa, que teve a maior receptividade por parte das forças militares dos movimentos e que, por parte dos nossos soldados foi bem compreendida e aceite, com certa expectativa inicial mas sem problemas de execução»Repetível, por isso. E assim foi durante várias semanas, por Março fora e Abril de 1975 adentro, até à sangrenta e dramática primeira semana de Junho - a dos incidentes de Carmona. A experiência dos Cavaleiros do Norte, aliás, viria a ser «imitada» noutras cidades do território angolano. 
«Tem-se verificado boa aceitação das medidas militares tomadas, o que tem sido a origem do clima de paz que se vive no distrito», sublinha o Livro de Unidade. Por distrito (ou província como também às vezes era denominado), entenda-se o Uíge, de que Carmona era a capital. 

Granadas no jardim do Palácio do Governador 

As «coisas» iam assim por Carmona e Uíge, mas não tão pacíficas por Luanda, onde os acordos entre o movimentos valiam o que valiam. na mesma noite em que a capita do Uíge «inaugurava» patrulhamentos mistos, «a situação voltou a piorar» na capital do Estado (futuro país).
«Duas granadas explodiram nos jardins do Palácio do Governador, não se tendo registado vítimas», reportava a imprensa, acrescentando que «soldados da FNLA ocuparam posições no como de alguns prédios» e que «ouviram-se também tiros de armas pesadas durante a noite, embora se de desconheçam os autores dos disparos».
A população dos bairros urbanos «continua(va) preocupada» pois, destacava a imprensa, «há elementos da FNLA que procedem a autenticas rusgas contra da vontade dos populares», apesar das directiva dos seus comandos, no sentido de não abandonarem os seus aquartelamentos». 
O ministro Lopo do Nascimento «apresentou já um plano para normalizar totalmente a situação», na altura a ser apreciado pelo Alto Comissário (o general Silva Cardoso) e o Conselho de Defesa Nacional.
Ao mesmo tempo (e dia, o 26), o ELNA (da FNLA) convidava a população «a participar no funeral dos soldados que morreram durante os recontros que recentemente ocorreram nesta capital» - a cidade de Luanda - e o comandante Vassoura Timóteo ordenou «a todos os soldados que se mantenham nos respectivos aquartelamentos», frisando que «o mínimo gesto que se verificar contra os militantes e simpatizantes da FNLA, ou contra o ELNA, será considerado desafio aos inimigos do povo».
«A guerra é uma profissão. A morte é um destino. Liberdade e Terra», proclamou o comandante Vassoura Timóteo.
Os furriéis milicianos Viegas e Cruz na avenida
 do Quitexe e no ano de 1974. Atrás, a messe de
 oficiais (à es
querda) e a casa dos furriéis

Vésperas de férias 
na imensa Angola

O tempo destes dias de Março há 42 anos foi tempo de véspera de férias para vários Cavaleiros do Norte. Particularmente dos furriéis milicianos Cruz e Viegas, que tinham «aprontado» um circuito por várias cidades, de norte a sul de Angola.
Viegas e Cruz em 2014, 39 anos depois,
em Lisboa e nos jardins da Estufa Fria
Iam, não iam? A situação militar permitiria que fossem? Permitiu, mas o descanso emocional só ficou garantido depois de uma conversa formal com o comandante da CCS (o capitão António Oliveira) e, depois desta, com o capitão José Paulo Falcão (o oficial de operações). «Tudo indica que sim, que podem ir...», disse-nos este oficial do BCAV. 8423. «Depois logo se vê...», acrescentou com um «aviso», porém: «Vocês tem de estar sempre localizados. Tratem disso...».
Felizmente, pudemos gozar as férias sem nenhuma «chamada» e começámos-las pela Luanda, que fervilhava e se dramatizava em combates fratricidas e onde, como acima se historia, até granadas eram atiradas para os jardins do Palácio do Governador.

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