CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

4 844 - O fim de operações militares na mata uíjana! Combates entre movimentos!

Quitexe: o quartel do BCAV. 8423, zona de casernas, oficinas, balneários, parada, cozinha e refeitório.
Ali funciona, agora (a foto é de 24 de Setembro de 2019)~, uma escola, instalada nos pavilhões junto ao
 adro da Igreja de Santa Maria de Deus (ao fundo)
O furriel miliciano Viegas, da CCS do BCAV. 8423, e João
Nogueira, condutor da CCAÇ. 209/RI 21, a Companhia da
Fazenda do Liberato, a 100 quilómetros a antiga Carmona,
agora cidade do Uíge. A 60 da saudosa vila do Quitexe



O 16 de Outubro de 1974 foi quarta-feira e dia de receber correio de Portugal, de minha mãe, agora a caminho dos seus provectos 99 anos: «Fala-se por cá que vocês vem embora, mas tu não me dizes nada, nunca dizes nada. O filho da Nilzalina e o Dinis da Cidalina já vieram da Guiné e tu...»», apontava e 
Estudantes da escola que funciona no espaço 
do antigo quartel do BCAV. 8423, no Quitexe
perguntava minha mãe, evidentemente preocupada com o que passava com o filho, por quem, dizia, «rezo todos os dias».
O António (da Nilzalina, entretanto falecido, vai para dois anos) e o Dinis eram rapazes do meu ano, mobilizados eles para a Guiné. Outro, era o Custódio, sapador em Angola e colocado no Batalhão de Engenharia de Luanda, com quem me encontrava sempre que ia à capital angolana.
«Tu não dizes nada, não sei o que passa contigo...», lamuriava-se minha mãe, ao tempo de luto muito recente pela morte de meu pai, no aerograma que agora releio, nele achando memórias desse tempo de há 45 anos.
E que lhe poderia contar eu? Que ela percebesse e não a preocupasse?
Pouca coisa, quase nada.
O Uíge por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte continuava expectante, nomeadamente depois do anúncio de cessar-fogo da FNLA. Continuava a «intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para a obtenção de liberdade de itinerários»
O quartel ficava à esquerda, visto da Igreja. Ao cimo
 e ao fundo, a Administração, um edifício com excelente
aspecto exterior (clicar na imagem, para ampliar)

O fim de operações
na mata uíjana !

A paragem de hostilidades pouco alterou o ritmo operacional dos Cavaleiros do Norte do  BCAV. 8423. 
A grande, a mais profunda e importante  alteração (e convenhamos que não era coisa pouca...) tinha sido o fim das operações na mata - sempre semeadas de perigos, ora nos trilhos tantas vezes ensaguentados das emboscadas, das minas e das armadilhas, ora nas picadas e nos medos das matas cerradas, onde a cada sítio ou momento poderia surgir um ataque. 
O dia, em Luanda, confirmava a chegada de delegações da FNLA (liderada por Endrick Vaal Neto) e do Zaire (por Bula Matamba, conselheiro do presidente Mobutu Sese Seko), para conversações com a Junta Governativa de Angola, principalmente sobre o processo de descolonização e independência e, em particular, sobre a formação de um Governo de Coligação, com «representantes dos vários movimentos de libertação e outras facções políticas».
Notícia do Diário de Lisboa de 16 de Outubro
 de 1975, sobre a situação militar em Angola

Importantes combates
entre movimentos rivais

Um ano depois, precisamente, esperava-se a chegada da Comissão de Conciliação da OUA a Carmona, dominada pela FNLA - depois de já  ter estado em Luanda (controlada pelo MPLA) e Nova Lisboa (pela UNITA). Mantinham-se as diferenças do MPLA relativamente aos dois outros movimentos. 
«Afiguram-se remotas as possibilidade de conciliação», relatava o Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1975. A própria Missão da OUA tal considerava improvável que aceitasse negociar com os dois rivais. E o presidente Agostinho Neto considerava-os «movimentos fantoches, dirigidos do exterior do país».
A 26 dias da independência «trav(av)am-se importantes combates entre os movimentos rivais, nas frente de Luanda, do centro e do sul». Relativamente à capital, «a luta caracteriza-se por uma ofensiva desencadeada pela FNLA na zona do Caxito, decorrendo os combates no triângulo Porto Quitiri/Libongos e Caxito». No centro, o MPLA «após renhidos combates com tropas da UNITA, libertou a localidade de Quibala, no eixo rodoviário Nova Lisboa/Lobito/Novo Redondo/Luanda, avançando agora sobre Cela, importante centro agrícola de que depende Nova Lisboa».
A norte, a zona dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 (entre outras do Uíge e do Zaire), «não havia notícias pormenorizadas, sabendo-se apenas que o MPLA avança(va) na zona dos Dembos».
Assim ia a Angola de há 44 anos, a 26 dias do dia maior, o da declaração da independência: 11 de Novembro de 1975!

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