CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

5 651 - A noite de Natal de 1974, no chão de Angola, lembrada 47 anos depois!

Natal de 1974, consoada no Quitexe: furriel Reino, comandante Almeida e Brito,
 clarim Armando e capitão Falcão. De costas, o capitão Oliveira, comandante da CCS.
Um Natal com ementa confecionada pelas Amazonas da CCS do BCAV. 8423
Amazonas do Quitexe, mães natais da consoada de 1974: Margarida
Cruz, Graciete Hermida, a esposa e filha do capitão Oliveira e esposa
do tenente Mora. Ao colo, está Ricardo, filho do alferes Cruz


O inimitável e inesquecível Pires, o furriel Cândido dos Sapadores da CCS, acabou de nos ligar, saudando o Natal de amanhã e fazendo memória da noite de consoada de 1974, no Quitexe.
«Aquilo é que foi uma noite, pá...», lembrou-se. E acrescentou: «No fim, já todos mito bem tratados..., 
Natal do Quitexe, em 1974. Na fila de trás e à direita, o Gaiteiro
 (o primeiro, de bigode), Serra, de NN (boina no ombro) e do
Aurélio (Barbeiro). A olhar, de frente e de bigode, em baixo,
o Monteiro (Gasolinas) e a seguir o Cabrita, o Calçada e o
Coelho (sapador)? O sétimo é o Florêncio. E os outros,
quem ajuda a identificar?
ainda fomos beber e dançar com malta daquela família cabo-verdiana da avenida, em frente à messe».
O que não nos espantou nada!
A consoada natalícia de há 47 anos, por terras quitexanas do Uíge angolano - a nossa primeira única em tempos de guerra... -, teve participação activa das esposas e família dos oficiais da CCS, com a sua arte e saberes de cozinha, que surpreendeu toda a gente. E de que maneira!!!
As compridas mesas do refeitório encheram-se de regalos gastronómicos, saciando o apetite devorador dos jovens Cavaleiros do Norte da CCS (a do Quitexe) e da 3ª. CCAV. 8423 (a de Santa Isabel), então na força da sua juventude e ali
emocionados e cúmplices de momentos muito especiais.
A ementa foi carinhosamente tratada pelas Amazonas do Norte e doces e aletrias, rabanadas, mexidos e sopas, frutos secos, queijos, arroz-doce, leite creme e outros acepipes, tantos outros acepipes..., não faltaram na farta mesa do refeitório do Quitexe - onde comungaram, em partilha solidária, cúmplice e amiga, oficias, sargentos e praças das duas companhias, sem distinção..., todos irmãos da noite tão especial como aquela. Noite que nunca tínhamos vivido foram das nossas lareiras e do conforto e intimidade das nossas famílias.
As bebidas foram para todos os gostos, sem abusos, muito embora os bravos e emocionados, diríamos que nostálgicos Cavaleiros do Norte não se tenham feito rogados a... mais um gole. E, vamos lá, até um ou outro tenham abusado. Nada de mal ou execessivamente a mais. Ou talvez não!
Noite de Natal no Quitexe, em 1974. Do canto esquerdo para a direita,
 os furriéis milicianos Rocha (de bigode), Fonseca (a fumar), Viegas,
Belo (de óculos), Ribeiro e...? Da direita, Monteiro, Cândido Pires (de
 bigode retorcido),  Machado (de cigarro) e Costa (dos Morteiros, a rir).
Entre ele e o Machado, está o Lajes, o barman do bar dos sargentos


Noite de emoções
e lágrimas de saudade

Os alferes milicianos Jaime Ribeiro e António Albano Cruz recordam-se bem dessa saudosa e sentida noite de Natal de há 47 anos e lembram que «era tanta a quantidade e a variedade» de comidas e de... bebidas, que «alguns até entraram de gatas nas suas casernas e quartos». 
«Acho que isto tudo, esta vivência muito particular, afinal, até nos ajudou a criar a nossa personalidade, a nossa maneira de ser e estar e a ter forças nos momentos difíceis que por lá atravessámos, tanto jeito ou falta nos faziam», comentou o alferes Cruz, que teve a mulher, a dra. Margarida, médica,  como um das cozinheiras.

José Alberto Almeida, o alferes miliciano de reabastecimentos, recorda ter encontrado o alferes Manuel Garcia, de Operações Especiais (os Rangers), recolhido no canto do bar de oficiais, em momento de choradas saudades da família, enquanto no refeitório o «povo» do BCAV. 8423 continuava a festejar a data e fartava a fome das ementas de época, bem regadas a cerveja e também vinho - que vinho houve, sem faltas..., nessa nossa consoada de há 47 anos!!! Vinho e mimos, muitos mimos..., que nos encheram o corpo e o espírito! E parece que tudo isso foi ontem à noite!!!

Os furriéis milicianos Monteiro, Viegas e Neto
apresentaram-se no RC4 na véspera do Natal de 1974

Três furriéis «Ranger´s» da
CCS e apresentados no RC4!

Um ano antes, precisamente, a uma segunda-feira de véspera de Natal de 1973, apresentaram-se em Santa Margarida e no RC4, os três futuros furriéis milicianos de Operações Especiais (Rangers) da CCS do BCAV. 8423.
A Ordem de Serviço nº. 301, do RC4, de 26 de Dezembro de 1974, dá conta que a 24 de Dezembro (desse ano), às 11 hora, se apresentaram, «vindos do CIOE, 
Ordem de Serviço do RC4, de 26/12/1973,
 com a apresentação, no RC4, dos futuros
furriéis Neto, Monteiro e Viegas,
por terem sido nomeados para servir no ultramar, com destino às companhias que se indicam, do BCAV. 8423/73/RC4/RMA».
E lá estão os nomes: Neto, Monteiro e Viegas,  «pagos até 22 de Dezembro e abonados de alimentação até 23 de Dezembro, portadores da relação modelo 9 de fardamento e aumentados ao Regimento e ao BCAV. 8423». Nem mais! O oficial de dia ainda «brincou» connosco - teríamos de «entrar de serviço às 14 horas», o que significava lá passarmos a noite de Natal. O Neto, porém, logo «sentenciou» o nosso destino próximo: «Vamos embora, castigo maior que o de ir para Angola, já não nos pode acontecer».
Saímos do RC4, no SIMCA 1100 dele, chegámos a Águeda e o Monteiro telefonou para Fornos, em Marco de Canaveses, para um irmão o ir buscar ao Porto. Em Águeda, ainda chegou a tempo de apanhar a carreira para a capital do norte e foi passar a noite de Natal a casa.
* Noite de Natal de1974, ver AQUI

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