CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 3 de julho de 2022

5 852 - Uma santidade, mas só aparente, há 47 anos!!!... - Aquilo vai ser uma instabilidade f....!

 

A messe de sargentos da CCS do BCAV. 8423, no Bairro Montanha Pinto, em Carmona.
A 25 de Setembro de 1975, quando por lá passou o furriel Viegas

Os milicianos furriéis Nelson Rocha, Manuel Machado, José
 Lino e António Cruz, com o alferes Pedrosa de Oliveira (à
civil),  na piscina de Carmona e há 47 anos


Há 47 anos e já em Carmona desde 2 de Março, o que se fazia por lá, na guarnição e no dia 3 de Julho de 1975? 
A resposta vem-me na carta de Alberto Ferreira, que fazia comissão na Base Aérea de Luanda e se aprontava para regressar a Portugal, enquanto os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 iriam continuar a espera de ir para Luanda e depois, loguinho, loguinho..., para Lisboa e as nossas casas e famílias! 
É isso, pelo menos, o que deduzo da epístola dele, datada da véspera, que agora releio e na qual me dava conta que por Luanda «isto está uma santidade, mas só aparente».
Dias antes, a 16 de Junho, narrava que «isto por cá, está mais calmo, deve ser por pouco tempo mas enfim..., temos que aguentar a «m...», que nos impõem».
Emociono-me, ao reler isso. O Alberto era amigo íntimo, companheiro de escola e das noitadas de Luanda, onde quantas vezes nos fizemos passar por irmãos gémeos, engendrando histórias que nos aproximavam dos nossos objectivos mais lúdicos e ciosos! 
Prazerosos, dir-se-ia agora! 
E já faleceu, quando era vereador de Câmara Municipal de Águeda, vítima de doença!
O Alberto dava-me conta de estar surpreendido com o meu silêncio - não o deveria contactar há algum tempo (não me lembro) - e perguntava-me, com preocupação que fazia notar na carta:
«Essa «m...» por aí, está melhor ou quê?!». Com ponto de exclamação! Não estava, ainda já por aqui muitas vezes falámos disso. Não vale a pena repetir agora.
Outra nota de Alberto, sobra a situação política nacional: «Hoje, na rádio, ouvi uma boca do c..... No noticiário de Lisboa, numa entrevista, o oficial que acompanha Spínola disse aos jornalistas que hoje falam com o ex-general, mas amanhã falam com o Presidente da República Portuguesa».
Uma carta d´amigo: a nº. 44 e do 1º. cabo
especialista Alberto Ferreira, de Luanda
para Carmona e o BC12

Aquilo vai ser uma instabilidade f....

Spínola, ao tempo, estava fugido de Portugal, depois da sua (dada como certa) envolvência no golpe de Estado de 11 de Março de 1975. 
Tinha sido presidente da Junta de Salvação Nacional e Presidente da República  pós- 25 de Abril, cargo de que se demitira a 30 de Setembro de 1974, com um dramático discurso que nós ouvíramos em Luanda, via rádio, e na qual se manifestou com o rumo de Portugal, com a viragem à esquerda. 
Era dado como líder do ELP e, em Março de 1975, fugira para Espanha e depois para o Brasil. As suas declarações eram entendidas como uma ameaça de regresso a Portugal. 
«Aquilo vai ser uma instabilidade f...., o homem tem muitos adeptos e há muita malta lá no puto anda descontente...», dizia-me o Alberto Ferreira
Li isto na messe do Bairro Montanha Pinto e o tema foi alvo de farta conversa entre a «furrielada» da CCS do BCAV. 8423. 
«Ainda vamos ter uma guerra civil...», prenunciou o Machado, talvez o mais politizado de nós e que, de Portugal, tinha emoções recentes (das férias que por cá gozou). E este ano, o de 2022, é o organizador do encontro da CCS, a 10 de Setembro e em Braga.
- FERREIRA: Alberto Fernando Dias Ferreira, 1º. cabo especialista da Força Aérea, de Fermentelos (Águeda). Foi quadro superior da Segurança Social, licenciou-se em economia e exerceu funções superiores na administração fiscal. Já falecido, foi vereador e candidato a presidente da Câmara de Águeda.
- ELP: Exército de Libertação de Portugal, organização acusada de ser de teor terrorista e de extrema-direita, liderada por António de Spínola, que foi autor do livro «Portugal e o futuro» e morreu aos 86 anos, a 13 de Agosto de 1996.
- PUTO. Forma de chamar Portugal, na gíria militar e angolana.
- CARTA. Carta de Alberto Ferreira, recebida a 3 de Julho de 1975. Tem o nº. 44. Eu numerava o correio que recebia e pelo número se pode ver da regularidade da nossa correspondência: 44 cartas (ou aerogramas) em 12 meses.


Imagem captada por um Cavaleiro do Norte da 2ª.
CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, a de um ataque a
madeireiros, em data desconhecida. Lá os foram
socorrer os Cavaleiros do Norte



Comandante Almeida e Briro na PSPA !

O comandante Carlos Almeida e Brito esteve em visita de trabalho à 2ª. Companhia da Polícia de Segurança Pública de Angola / Guarda Rural (PSPA/GR) do Quitexe, no âmbito do plano de «estabelecimento de contactos operacionais».
A Companhia, recordemos, passara à dependência operacional do BCAV. 8423 no princípio do mês de há 48 anos: «Pode dizer-se que o mês começou com a atribuição da responsabilidade operacional da OPVDCA do Dange e das 3ª. e 4ª. Companhias da PSPA/GR, respectivamente sediadas em Quitexe e Vista Alegre», reporta o livro «História da Unidade», acrescentando que «mercê de determinações superiores, estas forças «passaram ao comando operacional das forças militares em Subsector».
Os Cavaleiros do Norte continuavam a sua adaptação aos chãos de guerra do norte de Angola, galgando picadas e trilhos de perigos, «dentro do espírito pretendido», o de «conseguir liberdade de acção na Zona de Acção».
«Fizeram-
se rotações dos destacamentos, o que permitiu obter maior número de disponibilidade de forças, para a realização da actividade operacional», reporta o «História da Unidade».


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