A 1ª. página do jornal «A Província de Angola» |
As notícias nem sempre chegavam ao Quitexe em tempo útil, mas, a 24 de Julho de 1974, soube-se que o almirante Rosa Coutinho chegaria ao outro dia a Luanda, para exercer o cargo de presidente da Junta Governativa de Angola. O assunto (ver imagem) era, de resto, tema de caixa alta do jornal «A Província de Angola» desse dia.
O Almirante Vermelho, como veio a ser conhecido, revelou-se ideologicamente próximo do PCP e tomou decisões controversas no seu consulado angolano. Era membro da Junta de Salvação Nacional e, em Luanda, foi aguardado por angolanos e portugueses, na sua esmagadora maioria brancos e anti-comunistas. Ainda no aeroporto, anunciou que se encontrava em Luanda para tratar da independência.
«Tenho o prazer de informar, em nome do senhor primeiro-ministro, que, em breve, a província gozará de um estatuto administrativo que lhe permitirá governar-se sem ser a partir do Terreiro do Paço ou do Restelo e, portanto, satisfazendo uma ambição que Angola há muito manifesta», disse Rosa Coutinho, que também prometeu criar um banco em Angola que guardasse as reservas do país.
Já no carro, o almirante iria justificar, aos militares que o acompanhavam, as suas promessas:
«Tinha de trazer um rebuçado para esta malta para ver se acalmam. Sei que a situação está um pouco quente e estas medidas podem constituir um tónico para a incerteza que naturalmente sentem. Sabem que vão perder privilégios, mas ganham noutros campos».
Nas proximidades do aeroporto, na estrada que liga ao centro da cidade, Rosa Coutinho lia uma frase, escrita em letras garrafais e a tinta encarnada, exibida numa enorme parede:
«Fora Coutinho! Não queremos cá comunistas!»
Minutos mais tarde, uma outra manifestação, gritando as mesmas palavras de ordem, esperava-o às portas do palácio, em Luanda. Nessa mesma manhã, o jornal «A Província de Angola» saía à rua com o título: «Vem aí o «Almirante Vermelho».
Os tempos não iam ser os mais fáceis, como depois se soube.
Tropa permanente alvo de crítica
«Tinha de trazer um rebuçado para esta malta para ver se acalmam. Sei que a situação está um pouco quente e estas medidas podem constituir um tónico para a incerteza que naturalmente sentem. Sabem que vão perder privilégios, mas ganham noutros campos».
Nas proximidades do aeroporto, na estrada que liga ao centro da cidade, Rosa Coutinho lia uma frase, escrita em letras garrafais e a tinta encarnada, exibida numa enorme parede:
«Fora Coutinho! Não queremos cá comunistas!»
Minutos mais tarde, uma outra manifestação, gritando as mesmas palavras de ordem, esperava-o às portas do palácio, em Luanda. Nessa mesma manhã, o jornal «A Província de Angola» saía à rua com o título: «Vem aí o «Almirante Vermelho».
Os tempos não iam ser os mais fáceis, como depois se soube.
das populações brancas do Uíge!
Um ano depois, a 23 de Julho de 1975, aconteceram várias coisas menos boas em Carmona, por onde os Cavaleiros do Norte faziam os seus últimos dias da jornada uíjana.
Uma delas, foi a reunião, de que já ontem aqui falámos, dos comandos militares portugueses com os responsáveis da FNLA - movimento que, a 13 e 21, tinham «impedido» a saída dos MVL para Luanda - o que gerou forte sentimento de revolta entre a guarnição.
Guarnição não autorizada a reagir pela força das armas.
A coluna viria a materializar-se no dia 25, já em terceira e definitiva tentativa. A FNLA, nessa reunião de faz hoje 47 anos, anunciou imposições (querendo armas, por exemplo) que o comando português não aceitou.
Também a 23 de Julho, e já com uma data de saída marcada para Luanda (com início a 3 de Agosto), «esquematizava-se e montava-se uma operação para essa saída, que não se adivinhava fácil» e, por isso mesmo, motivou a «realização de reuniões de trabalho com elementos do QG/RMA, de modo a obter os meios necessários à execução de tal operação».
A tropa, que até aí já era «permanente alvo de crítica das populações brancas», mais de soslaio e de desconfiança passou a era olhada. Era vulgar, ao tempo e na cidade, sermos verbalmente agredidos e pouco simpaticamente olhados e comentados. Cobardes e traidores, era o mínimo que nos era chamado! Tempos amargos e perigosos, esses!
O Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala (companhia que por esse tempo aquartelava na ZMN, vinda do Songo), lembra-se bem desses amargos dias.
«Foi daqui a nossa partida para Luanda e aqui passámos muitos maus momentos, com muitas noites sem dormir e sempre à espera de ataques e preparados para a defesa da guarnição. Naqueles tempos, o ambiente era de cortar à faca, em Carmona, com o conflito entre os movimentos e a nossa tropa, como tu bem conheceste», recordou-nos ele faz alguns anos. Infelizmente, faleceu, vítima de doença, a 30 de Agosto de 2018. RIP!!!
João P. Silva |
Silva de Zalala faz 70
anos em Vila Verde!
O soldado João Pereira da Silva, Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a da Fazenda de Zalala, festeja 70 anos a 24 de Julho de 2022.
Atirador de Cavalaria de especialidade militar e por lá conhecido como João Pereira, também jornadeou por Vista Alegre/Ponte do Dange e Songo, antes de se aquartelar em Carmona, preparando a vagam para Luanda e o Grafanil.
Regressou a Portugal a 9 de Setembro de 1975, fixando-se em Assento, lugar da freguesia de Lage, em Vila Verde. Esteve alguns anos emigrado em França e agora reside em Moure, também no minhoto município vilaverdense.
Para lá e para ele vai o nosso abraço de parabéns!
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